Um conselho amigo. O teto do quarto é branco, assim como as paredes. Minha cama é um colchão que o vizinho da Ana doou, e minhas roupas estão numa caixa de papelão que peguei na loja de conveniência. Ainda assim, é a primeira vez que me sinto verdadeiramente feliz. A vida está longe de ser perfeita, e tenho muito o que conquistar, mas, pela primeira vez, não sou dominada pelo medo. A luz da lua cheia entra pela janela aberta, e meus pensamentos insistem em trazer Malachi para a realidade. Depois de Trevor, não achei que voltaria a sentir atração por alguém tão cedo, mas há uma força enigmática que o impregnou na minha mente. Ele é lindo, com um corpo forte, uma estrutura poderosa e olhos negros misteriosos. O presente que ele enviou está perto da caixa com minhas roupas, como se me desafiasse a devolvê-lo. Desde que me seguiu após o trabalho, não o vi mais, e quero distância de Davie. Nunca mais vou ignorar sinais claros para me afastar de quem pode me fazer mal. Não sei qual é a i
Kiran e um conselho. — Ela disse isso? Que você queria comprá-la como uma prostituta particular? — Kiran ri, a voz ecoando em minha mente enquanto percorremos a floresta em nossa forma de lobo. Como Alfa, tenho o poder de me conectar à mente da minha alcateia enquanto estivermos transformados. Posso escolher a quem me conectar, e agora, apenas Kiran compartilha essa conversa mental. — Sim, ela disse. — repito, seco. — Aposto que isso balançou seu ego. — provoca, desviando quando tento mordê-lo, mas ele escapa no último segundo. — Duvido que tenha passado despercebido. — Nunca ouvi reclamações. Sei muito bem como agradar uma mulher. — retruco, irritado, sentindo minha paciência se desgastar. — Na cama, talvez. — Kiran dispara, rindo. — Mas fora dela… um verdadeiro desastre, irmão. — Sua risada irônica ecoa em minha mente. — O vilarejo está em alvoroço com as mudanças. Alguns estão até animados com a chance de encontrar seus predestinados entre os humanos. — Oliveira deve estar em
Uma decisão. É surpreendente. Sinto exatamente quando Malachi entra na taverna. O ar pesa de repente, meu corpo se arrepia inteiro, e nem sei o motivo, mas parece que tenho reagido cada vez mais a ele. É como se fosse um imã me atraindo de um jeito que foge da razão. Continuo servindo as bebidas, fingindo prestar atenção no que Eddie diz sobre a nova remessa de cerveja amanteigada que chegou hoje. Mesmo assim, não consigo evitar a tentação de buscá-lo com os olhos. Pergunto a mim mesma se seria tão ruim dar uma chance a ele. Conhecê-lo sem as comparações de sempre. Quero entender quem sou, me reerguer, mas também quero descobrir como é amar de verdade. Sentir o amor e ser amada. E nunca vou saber se deixar Trevor continuar me assombrando. Já deixei meu passado e até meu verdadeiro nome para trás. Talvez esteja na hora de libertar meu coração também. Nossos olhares se encontram quando ele se senta no balcão, os braços fortes apoiados ali, sem pressa. — O que vai querer? — pergu
Um encontro. — Já decidiu aonde vai levá-la? — Aiden pergunta, sentado na cadeira em frente à mesa do meu escritório. Levanto o olhar dos papéis em minhas mãos e o encaro. — Estou pensando sobre isso. — respondo e não contenho o sorriso. Elise finalmente aceitou, e o lobo dentro de mim está exalando satisfação. Vi o quanto ela lutou internamente, ponderando se deveria ou não aceitar meu convite, até que me surpreendeu ao dizer sim. Consigo sentir que ela guarda muito dentro de si, como se erguesse barreiras a cada tentativa minha de me aproximar. A curiosidade sobre minha parceira só cresce, assim como o frenesi que me domina sempre que a vejo. Tudo em mim se rebela na sua presença. Quero marcar sua pele da maneira mais profana possível, levá-la à loucura com minha boca e língua até que me confesse seus segredos. — E quando vai contar a ela que não é um homem comum? Suspiro. Não há uma resposta simples para sua pergunta, e, sinceramente, nem sei como Elise ainda não ouviu
Encontro com Malachi Olho meu reflexo no espelho, tentando me reconhecer. Apesar da raiz do cabelo estar crescendo — precisarei retocá-la em breve — sinto-me diferente. Bonita. Ana me emprestou um vestido preto e sandálias de salto baixo. Fiz um coque com alguns fios soltos, passei rímel nos cílios e finalizei com um batom vermelho. Não é muito, mas o brilho nos meus olhos transforma completamente o visual. Estou ansiosa para o encontro com Malachi. Depois que aceitei, ele me acompanhou até em casa. Não conversamos, e ele respeitou meu silêncio. Assim que entrei no prédio, ele se afastou sem dizer nada. Agora, quatro dias depois, estou prestes a vê-lo novamente. Eddie me deu uma noite de folga, garantindo que não me demitiria por tirar um tempo para mim. Ele tem sido um bom chefe e, desde que inesperadamente aumentou meu salário, as coisas melhoraram. Não preciso mais contar cada centavo para pagar o aluguel ou comprar mantimentos. Ainda uso meu dinheiro com cautela, mas cons
Encontro ll É indescritível o que sinto ao ver Elise sair do prédio onde mora. Algo incomum toma conta do meu peito, e a certeza de que ela me pertence se impregna em todo o meu ser. Seu perfume, o corpo pequeno, que parece ter sido feito sob medida para se encaixar no meu, os olhos que refletem a dúvida que carrega dentro de si, os lábios vermelhos e sensuais que se entreabrem quando nossos olhares se cruzam. Ela usa um vestido preto justo, destacando seu corpo magnífico, sua pele pálida e de aparência macia, e os cabelos presos, deixando à mostra seu rosto lindo e perfeitamente delineado. Conforme se aproxima, noto a raiz dos cabelos mais escura, sugerindo que seu loiro não é natural, o que atiça minha imaginação para descobrir a cor verdadeira. — Malachi — cumprimenta com um breve sorriso. Encurto a distância entre nós e me abaixo, beijando seu rosto. O contato é rápido, mas ainda assim um ronronar escapa do meu peito, o lobo dentro de mim clamando por mais. — Está linda, E
Por um instante, jurei ter visto os olhos de Malachi brilharem em vermelho. Seu rosto ficou tomado pela fúria, e, ao mesmo tempo em que senti um calor estranho pela sua defesa, me arrependi de ter falado sobre o meu passado. Sinto-me inibida de me abrir com esse homem que mal conheço. Estar ao seu lado me deixa confortável, como se eu o conhecesse há anos. É estranho, porque raramente confio em alguém depois de tudo o que aconteceu. Na verdade, desde que conheci Trevor, convivi com poucas pessoas, e nenhuma delas era alguém decente. Me pergunto constantemente como pude ser tão idiota. Talvez eu tenha me deixado levar pela falta de afeto que marcou toda a minha vida. Crescer em um orfanato molda uma criança, revolta um adolescente e j**a um adulto ferrado e inseguro no mundo. É complicado. Há momentos em que sinto que não sei nada sobre a vida, nem sobre a humanidade. O garçom deixa a comida sobre a mesa, e meus olhos se arregalam. É... diferente. Tem sashimis de salmão, algo que
— Você parece feliz, menina. — Eddie comenta ao parar ao meu lado, secando uma caneca com o pano jogado sobre o ombro.Dou um sorriso e dou de ombros.— A folga que você me deu pode ou não ter sido bem aproveitada. — respondo, arrancando uma gargalhada dele.— Bom pra você! — Ele dá um tapinha leve no meu braço. — Resolveu dar uma chance para o alf... — Ele se interrompe, pigarreia e corrige. — Para o Malachi?— Como sabe disso? — Estreito os olhos para ele.— Todo mundo aqui percebe a tensão entre vocês quando conversam. — Desconversa, desviando o olhar.Um cliente interrompe a conversa, e deixo pra lá. Malachi é um frequentador assíduo da Taverna, então não é surpresa que tenham notado algo enquanto conversávamos. Pelo que percebi, muita gente o respeita — seja lá o motivo.Depois que saímos do restaurante, conversamos sobre coisas banais até ele me levar para casa. Não houve grandes gestos, e sua relutância era evidente. Malachi está me deixando ir no meu ritmo, respeitando