Um ousado problema.
Giro a caneta entre os dedos enquanto a lembrança de Elise rindo com a amiga, enquanto passeava pela cidade, se repete na minha cabeça. Senti sua presença antes mesmo que me notasse, e me divertiu a forma como ficou apressada ao me ver. Já aceitei que pressioná-la não vai funcionar. Conquistar sua atenção vai levar tempo, e, embora isso me irrite, terei que ter paciência. No escritório da vila, termino de revisar os últimos pedidos e contratos da madeireira. A disputa pelos serviços está acirrada, e isso infla meu ego. Tenho dado duro para levar esse negócio onde está hoje. Meu pai foi bom administrador, mas não chega perto do que estou fazendo agora. A alcateia e a vila nunca mais terão problemas com dinheiro. A porta se abre de repente, e nem me surpreendo ao ver Kiran entrando como se fosse o dono do lugar. Esse garoto não tem um pingo de educação. Meus pais estavam ocupados demais o mimando para se importarem com mais nada. Minha mãe é uma ômega gentil e amorosa, e, apesar de o casamento deles não ter sido por amor, esse sentimento acabou surgindo com o tempo. Eu nasci por obrigação. Kiran, de surpresa. O resultado? Uma criança mimada que não mudou muito, mesmo sendo homem agora. — Nosso pai ligou outra vez — Informa, e eu suspiro. — Vou falar com ele mais tarde — Resmungo. — Está com medo? — Provoca, e solta um riso irritante. — Não era você o valentão? — Ainda falando, Kiran? Só veio aqui pra encher o saco? — Tá irritado porque a humana não caiu nos seus encantos, né? — gargalha. — Primeira vez que vejo um alfa sendo rejeitado. E por uma humana ainda! Solto um grunhido baixo. — Elise ainda não me conhece. Na primeira oportunidade, vou conquistá-la. — Retruco. — Bom, é melhor fazer isso antes que outro faça. — Ele ri mais alto, e o pensamento de outro homem se aproximando dela me dá vontade de cometer um assassinato. — Ninguém ousaria... — Começo, mas ele me corta. — Ah, ousar, ousam! Ontem mesmo ela estava toda animada conversando com um cliente da taverna. Outro humano. Justo no dia que você decidiu dar espaço pra ela. — O tom debochado dele só aumenta minha raiva. Levanto-me furioso. Talvez tenha sido um erro tentar ser paciente. — Vai atrás dela? — Kiran pergunta, me seguindo enquanto saio do escritório. — Cala a boca, Kiran! — Ordeno. — Pare de perder tempo e resolva seus problemas. Pai estava falando de Lisa outra vez. — Ele avisa, e minha têmpora começa a latejar. Que merda fodida! Kiran finalmente me deixa em paz quando um beta o chama. Aproveito e sigo para minha casa na vila. O escritório fica perto do salão comunitário, é pequeno, mas ideal pra trabalhar tranquilo. Cumprimento algumas pessoas rapidamente e vou direto para casa. Assim que abro a porta, sou atingido por um cheiro floral enjoativo. A raiva aumenta quando sigo o odor e encontro Lisa deitada na minha cama. NA. PORRA. DA. MINHA. CAMA! — Que merda é essa?! — Rosno, e a m*****a abre as pernas, me encarando com um olhar sedutor. — Alfa, fiquei te esperando. — Diz, melosa, enquanto enfia os dedos na buceta. Quando os retira, estão molhados. — Pensei em como podemos nos dar bem, Malachi. Que tal tirar essa roupa e me foder agora? Aposto que seu pau grande vai deslizar fácil dentro de mim. Fora de mim, arranco o lençol e ela quase cai no chão. Jogo o tecido em cima dela. — Quem você pensa que é pra invadir minha casa e fazer essa cena?! — Grito, as veias saltando. — O q-quê... — Gagueja, cobrindo o corpo rapidamente, o rosto vermelho. Em dois passos, seguro o braço dela e a ponho de pé. — Saia da minha casa agora! E se repetir isso, não serei tão benevolente. — Malachi... alfa! Meu pai e o seu falaram sobre nossa união. Ele quer que eu seja sua ômega! — Chora, tentando apelar. — Pelo que eu saiba, o alfa aqui sou eu! Se meu pai acha que ainda manda, pode muito bem voltar pra liderar. Caso contrário, vai ter que me respeitar. — Explodo. — Agora, vaza, caralho! Ela tropeça, saindo só com o lençol. Respiro fundo, esfregando as mãos no rosto, tentando me acalmar. Meu lobo se agita por dentro, a ofensa inflamando o desejo de marcar Elise. Ela, no entanto, não sabe de nada. Nem que posso me transformar numa besta selvagem. — Merda do caralho! Tranco a porta com força. Lisa não teve essa ideia sozinha; meu pai está tentando se meter na minha vida há tempos. Vou ter que acabar com isso antes do fim do ano. Pego o celular no bolso e faço a chamada.A decisão de um Alfa.— Filho, finalmente me ligou. Às vezes penso que se esqueceu de seus pais. Um alfa também precisa ter um tempo para a família…— O que está pensando alimentando as fantasias de Lisa? Nunca concordei em tomá-la como minha ômega! — Esbravejo, e meu pai suspira. — Ela invadiu minha casa e se deitou na minha cama sem um convite. Sabe que eu poderia puni-la publicamente por isso, certo?— Não faça isso, Malachi. Lisa foi influenciada pela conversa que tive com o pai dela. Tenho insistido há anos para arrumar uma esposa, uma ômega da nossa alcateia, mas você sempre dá uma desculpa.— E você insiste em desrespeitar minha decisão.— Precisa de um herdeiro. — Insiste, frustrado.— Encontrei minha parceira. — Solto de uma vez.— Não seja teimoso… O quê?Sinto vontade de gargalhar pelo choque evidente em sua voz.— Minha parceira predestinada… eu a encontrei. — Repito, e ele exala audivelmente.— É de outra alcateia? — Questiona, e me sento em minha cama, temeroso.— Ela se
Uma dor e um cartão misterioso. O barulho de alguém batendo na porta da frente me desperta. Eddie tinha me dispensado depois que contei sobre minha cólica. O mais surpreendente foi ele pedir para eu voltar só quando meu período acabasse. Nem tive como discutir, por mais que quisesse. Ele parecia constrangido ao dizer aquilo, e eu preferi não piorar uma situação que já estava longe de ser boa. Ana está no trabalho, como sempre. Estou preocupada com as diárias que estou perdendo. Sem conseguir um segundo emprego, ficar sem pagamento é uma merda. Levanto com o estômago se revirando. Essa cólica tá diferente de todas as outras. Mais intensa, mais cruel. No primeiro dia, cheguei a considerar ir pro hospital. A dor me deixava à beira de desmaiar. Só apaguei depois de tomar três analgésicos e, graças a isso, consegui ignorar o tormento por algumas horas enquanto dormia. Arrasto os pés até a porta, com o corpo sensível e dolorido. — Senhorita Elise? Entrega para você. — Um rapaz ruivo me
Black Card e problemas. “Não quero nada de você, seu maldito! Vou devolver tudo, e se não aceitar, jogo essa merda no lixo! Tá achando o quê? Que vai me comprar com isso? Não achei minha buceta no lixo, porra! Me deixe em paz!” As palavras furiosas se repetem em minha mente. — Não diga nada! — Aviso a Kiran, que sorri e já abre a boca. — Eu preciso dizer, ou vou sufocar e morrer. — Então morra. — Rosno, irritado. — Irmão, você realmente achou que mandar um black card pra ela seria um bom primeiro passo? — Solta, e só não arremesso algo na cabeça dele porque seria perda de tempo. — Ela deve estar pensando que você tá chamando ela de prostituta. — Só quero cuidar dela! — Digo, frustrado. — Depois do que Eddie disse, não pensei muito, só agi. — Bem, você se lascou. Agora vai ter que voltar à estaca zero. Ah, não, espera... você nunca saiu dela! — Provoca, gargalhando. Elise definitivamente foi de me ignorar pra me odiar. Não imaginei que ela levaria o presente como uma ofensa tão
O Recomeço.Reviro os olhos para o segundo bêbado da noite que derruba a caneca parcialmente cheia no chão. O barulho ensurdecedor das vozes misturado ao cheiro forte de álcool e cigarro não me incomoda, mas cada olhar dos homens ao redor, como se eu fosse um pedaço de carne, me faz querer sacar o pequeno canivete preso ao meu tornozelo.O que diabos há com esses caras?Não é a primeira vez que me faço essa pergunta hoje. Minha primeira noite no novo emprego, nessa cidade estranha, tem sido... peculiar. Ana havia me alertado que havia algo de diferente nesse lugar, mas ainda não tinha descoberto o quê.Eu sinto essa diferença no ar. Algo indefinível, mas presente. Até eu, com minha percepção pouco aguçada, consigo notar a estranheza que parece impregnar o ambiente.— Mais uma! — Berra outro bêbado, batendo a caneca vazia no balcão. Eu sei o que ele quer sem precisar perguntar, e me viro para servir, ignorando o jeito nojento com que ele percorre meu corpo com os olhos.Todo homem
Humana.Nem mesmo nos meus piores pesadelos imaginei que minha parceira predestinada poderia ser uma humana.Duas noites atrás, quando entrei na taverna de Eddie — um beta —, fui invadido pelo cheiro mais doce e um sentimento avassalador. Procurei pelo recinto até que meus olhos a encontraram.Alta, esbelta e loira. Seus olhos verdes marcantes, boca sensual repuxada em desgosto, parecendo querer estar em qualquer lugar, menos ali, servindo um bando de brutamontes bêbados. E o detalhe mais importante: totalmente humana.Seu cheiro não escondia isso, mesmo que diferente dos outros humanos, já que seu aroma doce me parece tão malditamente atraente.— Pare de encarar. — Kiran rosna ao meu lado. Estamos sentados no fundo da taverna.— Não consigo. — Retruco, irritado.Desde que entrei aqui novamente, recebendo um olhar de desdém de Elise, meus olhos se recusam a desviar. Ela é hipnotizante, movendo-se com eficiência atrás do balcão, servindo bebida atrás de bebida.Cerro os punhos q
O nome do homem rude.Ele está aqui outra vez. Caminha até o balcão com uma expressão indecifrável, mas os olhos brilham de um jeito perigoso.Aquele puxão que senti na primeira vez que o vi parece ainda mais forte. Irritante e impossível de ignorar.Quero dar as costas e fingir que ele não existe, que nem mesmo o conheço, mas não consigo esquecer como foi rude na primeira vez.Meu turno está chegando ao fim, e hoje não vou ficar até tarde, nem que me obriguem. Meu ciclo está por vir, e o desconforto da cólica já começa a se manifestar.Eddie percebe minha expressão desgostosa, mas o atende, enchendo as canecas. Ainda assim, ele não vai embora.— É nova na cidade? — Ouço a pergunta e quase admiro a falta de vergonha dele.Primeiro, me humilha. Agora, quer saber da minha vida.— Se não me responder, perguntarei a Eddie — pressiona.— É assim que manipula as pessoas para conseguir o que quer? Parece coisa de valentão.— Estou tentando conversar com você — se defende, e eu solto
Uma mão amiga. É sexta-feira, e Eddie me deu o dia de folga. Coincidentemente, Ana também está em casa. — Então, ele foi um babaca ao te conhecer e, depois, quis puxar assunto? — Ana pergunta, tentando entender. Apenas confirmo com a cabeça. — Homens nascem com uma falha de comunicação e uma inclinação para desvio de caráter, mas isso a gente já sabe. — Ah, sim. Não me surpreende. A maior parte do tempo, ignoro. Todo mundo me encara como se eu fosse um pedaço de carne. Ele é só... Insistente. — Você disse que o nome dele é Malachi Fenrir? — Pergunta, enquanto olha a tela do celular. — Foi o que ele disse — Respondo, bebendo o café forte na minha xícara, apreciando o sabor que desliza pela minha língua. — Caramba, ele é o dono da madeireira da cidade. Um dos homens mais ricos daqui. — Ana me mostra a tela do celular, exibindo a foto do mesmo homem que vi duas vezes na Taverna. — Bonito, gostoso e rico. O sonho de muitas mulheres. — Acrescente arrogante, prepotente e baba