Zafir? Engulo em seco.
Com o coração acelerado, abro a porta até onde a corrente de segurança permite. Ele ainda usa as mesmas roupas da escola: calça preta, camiseta preta e botas de cano curto.
— Zafir? Aconteceu alguma coisa?
— Preciso falar com você.
Não consigo evitar uma risada nervosa, pois a frase combina com ele.
— Meus pais não estão em casa, e eles não permitiriam sua entrada.
— Quer fazer o favor de abrir essa porta direito? — Ele diz, impaciente.
Fecho a porta, retiro a corrente de segurança e a abro por completo. Agora estamos frente a frente.
— Bem melhor. Eu não vou entrar. Podemos nos sentar aqui e ter essa conversa. — Ele aponta o banco em frente ao jardim, ao lado da porta.
—Amanhã iremos para a casa do tio Amir. —Mamãe me diz enquanto guarda as compras.—Amanhã? —Tento reprimir a minha decepção.—Por que, tem algum compromisso? —Meu pai pergunta amargo, enquanto ajuda minha mãe.—Não. Pai... —Eu faço uma pausa. Meu pai sempre foi uma pessoa calma, maravilhosa. Por que ele anda tão nervoso? — Pai, aconteceu alguma coisa com o tio?Sinto meu pai agitado.—Não. Vamos apenas visitá-lo.—O senhor se importa se eu não for. —Pergunto. Torcendo para não ir. Quando Zafir viesse no horário combinado. Ficaríamos juntos, seria até uma forma de nos conhecermos melhor.—Por que não quer ir? —Meu pai pergunta mais calmo.Eu respiro fundo, o coração martelando no peito.—Pai. Quero ficar no meu canto. E o senhor volta no mesmo dia, não volta? Sei que não gosta de dormir lá.—Tudo bem. Mas eu vou marcar a quilometragem do carro. E você está proibida de sair e fazer ligação.Eu forço um sorriso.—Qual é a novidade disso? Obrigada pai.Ele me estuda com os olhos.—Jade? O
Como é que uma mulher relaxa perto de um homem como ele?—Estou relaxada. —Eu asseguro, mas sei que é uma mentira.—Não parece. Você está um pouco dura.—Não estou. —Minto.Ele solta o ar e passa os braços ao meu redor. Seus olhos são hipnóticos. Quero parar de olhar para ele, mas não consigo. Não consigo parar de desejá-lo. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Ele está completamente à vontade olhando para mim.—Fale-me de você. Quem é Jade? —Ele pede. Seus dedos passando pelos meus cabelos, ternamente.Eu respiro fundo.—Sou nova na cidade, como sabe. Eu vivia em Miami. Morei lá desde que nasci, com a mudança de emprego de meu pai, nos mudamos. Mas sinceramente, não sei se ele veio para cá propositalmente. Porque esse bairro, como você mesmo disse, é um bairro árabe. Talvez seu intento seja me afastar das más influências, más companhias e me arrumar um casamento.Zafir me olha com estranheza.—Ninguém muda de uma cidade assim, por causa disso.Eu respiro fundo.—Porque você não co
Um aperto toma conta do meu coração. Um eco dizendo “Isso não está certo, isso é errado” começa no meu cérebro, mas sua boca no meu seio, e me tocando em todos os lugares certos, silencia os meus temores e me faz voltar para a nossa bolha. Fecho meus olhos, suspirando. Cravando os meus dedos em seus ombros. Ele dá um gemido de prazer. Um som possessivo sai da sua boca isso me faz beijá-lo. Agarro-me a ele enquanto ergo as minhas pernas em volta de sua cintura.Pouso as minhas mãos em seu cabelo enquanto ele se cola em mim. Mais do que tudo, quero ser possuída por esse homem. Não apenas fisicamente. Desejo pertencer a ele, tanto quanto quero que ele me pertença.Aperto os braços ao seu redor, enquanto ofego contra a sua pele. Ele se move sobre mim, movendo suas musculosas pernas e as deslizando entre as minhas coxas. Sim, eu queria ser preenchida por ele. Latejo de desejo. Ele parece que lê os meus pensamentos. Mas não é como eu esperava, dói. Eu não sabia que doía e o afasto com med
No dia seguinte o sol já está alto quando desperto. A lembrança da noite passada me faz envolver-me com meus braços, enquanto sinto uma grande felicidade no coração. Levanto-me da cama me sentindo leve. Depois de tomar café, ajudo minha mãe em algumas tarefas. O dia acaba se arrastando, o Domingo passa longo e interminável, mas o tempo todo eu me pego sorrindo sozinha com as lembranças de tudo que eu vivi com Zafir na minha sala em frente a lareira. Suspiro. Sempre fui muito reprimida, poupada. Meus pais não me contam nada, não me passam nenhum tipo de problema. Impedem laços de amizades com pessoas que não seguem nossos costumes. Desde que saí da escola árabe, sempre tive colegas, não amigas. Eles sempre me tratando como uma criança. A minha percepção mudou. Hoje entendo que muitas vezes tive até atitudes infantis. Muito timidez. Medos desnecessários. Allah! Por isso sinto-me abençoada por ter conhecido Zafir. Eu sinto como se eu não fosse mais a mais a mesma pesso
— Linda. — Ele sussurra para mim. Em resposta dou um sorriso triste. — Dia difícil?— Sim. — Eu suspiro, acenando um sim para ele com os lábios apertados.—O que foi?Seus olhos negros transbordavam preocupação, e eu reviro os olhos.—Por enquanto nada.Ele fica sério.—Seja honesta. Eu gosto disso em uma mulher.—Minha mãe está resistente em te conhecer. Disse que meu pai tem planos para ... Tomando minha mão, ele me puxa. Molda seus lábios nos meus e me dá um beijo profundo. Um beijo quente e bom. Bom não, ótimo.Ele me solta. Nos encaramos por um momento, ofegantes.—Lembra que eu te perguntei a respeito disso? Você os enfrentaria por mim? Sairá de suas algemas?—Sim. —Eu digo, rouca.Ele sorri.—Então é isso que importa. Posso entrar?—Claro! Entra. —Eu afasto meu corpo.Quando Zafir passa, eu fecho a porta e vou atrás dele. Minha mãe está na sala. Eles então se encaram em silêncio.— Masa el-kheir! ,senhora Nurab. Etsharafna .Sou Zafir...Ela o interrompe, nervosa.—Onde conhec
No Sábado acordo nove horas. Abro as cortinas e vejo Zafir molhando as plantas de seu jardim que fica do outro lado. Nos fundos, lateralmente a sua casa.Suspiro infeliz. Resolvo descer e ir aos fundos da minha casa tomar um pouco de sol. Quem sabe os raios solares me dariam um novo ânimo? Sempre ouvi que ele é ótimo para pessoas que sofrem de insônia e depressão.Desço as escadas. A casa está silenciosa. Passo os olhos por tudo, procurando todos e encontro um bilhete na mesa. Meu coração se agita em antecipação.Jade,Fomos ao mercado, vamos demorar.O almoço está pronto, dentro da geladeira.Mamãe.Com certeza eu estou trancada em casa. Eles levaram a chave do carro. E se eu fizer alguma ligação, eles saberão, pois todo mês meu pai checa as ligações telefônicas. Mas eu tenho um trunfo e que eles nem desconfiam. Zafir é meu vizinho. Aliás, eles nem deram a oportunidade de ele se apresentar direito. Pois é. A ignorância deles em não querer saber nada dele e dispensá-lo, abriu uma br
Ele se vira e se ergue, pairando sobre mim. Ele passa a mão pelo meu rosto.— Eu encontrei a foto dela por acaso, dentro de um livro. Com raiva, a rasguei.—O ódio está muito perto do amor. Você ainda a ama? Está tentando esquecê-la?Zafir se inclina e me beija gentilmente nos lábios.—Você acha que estou sofrendo por um amor perdido? —Ele ri. —Eu a rasguei para não ter nada do passado no meu presente. E por que estamos tendo essa conversa? Isso passou. Eu jamais senti por ela o que sinto por você, essa é a realidade. Você entrou na minha corrente sanguínea como uma droga.Eu lhe dou um sorriso feliz.—Verdade? —Mas a insegurança me faz perguntar. —E o que te faz pensar que o que sente por mim não é algum tipo de luxúria?Ele segura meu rosto. Seu rosto sério, os olhos bem fixos nos meus fazem meu coração acelerar e tudo se congela. O mundo fica em silêncio.— Eu não admiro somente seu corpo, seus cabelos, seu rosto. Eu consigo ler sua alma. Eu me apaixonei por esse seu jeito estabana
Os dias que se seguiram não foram fáceis. Eu ali presa, jogando beijos no ar para Zafir. Às vezes me comunicando do jeito que dava. Sinais e mensagens escritas.Depois de três dias nessa vida ridícula, meus pais saíram novamente. Acordei com o bilhete de mamãe em cima da mesa. Jade, Fomos ao parque com Yasmin. Vamos demorar. Como sei de sua resistência em fazer qualquer coisa a não ser pensar em como somos injustos e maus, não te chamamos. O almoço está pronto, dentro da geladeira. Mamãe.Eu abro um sorriso. Nervosa, vou até o lavabo e me olho no espelho. Checo meus cabelos, meu kaftan preto e vermelho.Tudo parece ok.Logo estou na casa de Zafir, o encontro na sala com um livro entre as mãos e uma música suave instrumental, saindo do som ligado. Quando ele me vê, abre um sorriso. A casa cheira crepe. Vejo o prato ao lado dele com dois e dou um sorriso. —Hum.—Vem, habibi. Acabei de fazer. Sente-se aqui que pego um prato para você. Ou prefere comer na mesa?Eu lhe dou um sorriso