No Sábado acordo nove horas. Abro as cortinas e vejo Zafir molhando as plantas de seu jardim que fica do outro lado. Nos fundos, lateralmente a sua casa.Suspiro infeliz. Resolvo descer e ir aos fundos da minha casa tomar um pouco de sol. Quem sabe os raios solares me dariam um novo ânimo? Sempre ouvi que ele é ótimo para pessoas que sofrem de insônia e depressão.Desço as escadas. A casa está silenciosa. Passo os olhos por tudo, procurando todos e encontro um bilhete na mesa. Meu coração se agita em antecipação.Jade,Fomos ao mercado, vamos demorar.O almoço está pronto, dentro da geladeira.Mamãe.Com certeza eu estou trancada em casa. Eles levaram a chave do carro. E se eu fizer alguma ligação, eles saberão, pois todo mês meu pai checa as ligações telefônicas. Mas eu tenho um trunfo e que eles nem desconfiam. Zafir é meu vizinho. Aliás, eles nem deram a oportunidade de ele se apresentar direito. Pois é. A ignorância deles em não querer saber nada dele e dispensá-lo, abriu uma br
Ele se vira e se ergue, pairando sobre mim. Ele passa a mão pelo meu rosto.— Eu encontrei a foto dela por acaso, dentro de um livro. Com raiva, a rasguei.—O ódio está muito perto do amor. Você ainda a ama? Está tentando esquecê-la?Zafir se inclina e me beija gentilmente nos lábios.—Você acha que estou sofrendo por um amor perdido? —Ele ri. —Eu a rasguei para não ter nada do passado no meu presente. E por que estamos tendo essa conversa? Isso passou. Eu jamais senti por ela o que sinto por você, essa é a realidade. Você entrou na minha corrente sanguínea como uma droga.Eu lhe dou um sorriso feliz.—Verdade? —Mas a insegurança me faz perguntar. —E o que te faz pensar que o que sente por mim não é algum tipo de luxúria?Ele segura meu rosto. Seu rosto sério, os olhos bem fixos nos meus fazem meu coração acelerar e tudo se congela. O mundo fica em silêncio.— Eu não admiro somente seu corpo, seus cabelos, seu rosto. Eu consigo ler sua alma. Eu me apaixonei por esse seu jeito estabana
Os dias que se seguiram não foram fáceis. Eu ali presa, jogando beijos no ar para Zafir. Às vezes me comunicando do jeito que dava. Sinais e mensagens escritas.Depois de três dias nessa vida ridícula, meus pais saíram novamente. Acordei com o bilhete de mamãe em cima da mesa. Jade, Fomos ao parque com Yasmin. Vamos demorar. Como sei de sua resistência em fazer qualquer coisa a não ser pensar em como somos injustos e maus, não te chamamos. O almoço está pronto, dentro da geladeira. Mamãe.Eu abro um sorriso. Nervosa, vou até o lavabo e me olho no espelho. Checo meus cabelos, meu kaftan preto e vermelho.Tudo parece ok.Logo estou na casa de Zafir, o encontro na sala com um livro entre as mãos e uma música suave instrumental, saindo do som ligado. Quando ele me vê, abre um sorriso. A casa cheira crepe. Vejo o prato ao lado dele com dois e dou um sorriso. —Hum.—Vem, habibi. Acabei de fazer. Sente-se aqui que pego um prato para você. Ou prefere comer na mesa?Eu lhe dou um sorriso
Seu pedido vem com um desejo implícito. Concordei com a cabeça. Ele agarrou minha mão e atravessamos a sala, subimos as escadas, logo estávamos no seu quarto. Meu coração se acelera em antecipação quando ele olha para mim.— Te desejo com loucura. Você não sabe como é difícil te ver da minha janela e me manter afastado.Senti meu estremecimento quando vejo sua aproximação, e me derreto quando ele me envolve com seus braços. Ele é absurdamente lindo. Seu cabelo negro está um pouco bagunçado. Seus olhos negros são intensos e deslumbrantes e tudo isso causa um efeito arrebatador em mim.—Jade... — Ele diz antes de colar seus lábios nos meus. Allah! Meu nome na boca dele é sexy demais. Penso enquanto sou devorada por seus lábios. Meu coração se agita mais e sinto um desejo quente e borbulhante invadindo meu corpo, penetrando minha mente, me roubando a sanidade.—Tire a roupa. —Ele pede rouco no meu ouvido e se afasta para me ver.Eu puxo o meu vestido para cima e o jogo no chão. Fico de
Na parte da tarde fomos, eu, mãe e Yasmin numa feira de artesanatos. Agora eu estou numa barraca de plantas. Lanço um olhar para elas e as vejo na barraca ao lado. Elas estão escolhendo panos de enxugar pratos. Alguns, entre as muitas variedades. Daqui dá para ver que será difícil escolher. Eles são lindos.Eu volto a minha atenção para um vaso de violetas. Lindo. Ele está carregado de pequenas flores mescladas de rosa e branco. Eu resolvo comprá-lo para colocá-lo na escrivaninha do meu quarto, no lugar onde deveria estar meu notebook. Sim, vida ao invés de frustração. Esperança no lugar da tristeza. Sinto-me confiante para buscar o que desejo. Estou dando adeus aquela garota entediada com sua própria vida. Que enfrenta dias ruins e fica se perguntando por que tinha que viver numa família libanesa. Ou me perguntando qual a razão de viver nesse planeta.Quero mover-me para o próximo capítulo de minha vida, ao qual eu mesma escreverei meu destino. Não sou mais aquela garota que os pais
Olho mais uma vez a janela. A casa dele está escura e a tarde está sendo engolida pela noite. Eu me afasto e vou até o banheiro enquanto derramo grossas e salgadas lágrimas. Meus olhos estão vermelhos e doloridos. Nada me conforta. Nada. Nem as lembranças me confortam, elas apenas me dizem quanto fui idiota. Já procurei ler os jornais velhos com a data do dia seguinte do seu sumiço, mas não encontrei nada que me desse uma luz a respeito. Inclusive até eu já tinha ido à casa dele, mas tudo permanece trancado, abandonado. Lavo o rosto e volto para o quarto. Allah!As luzes do quarto de Zafir estão acesas. Imediatamente corro para a minha janela com os olhos grudados lá. Uma senhora está com uma vassoura na mão e está varrendo o quarto. Pisco sem entender. Tudo isso é muito confuso. Mas é a minha oportunidade de tirar isso a limpo. Tremendo, com fraqueza nas pernas, desço as escadas devagar sem ser notada por meus pais. Eles estão assistindo televisão de costas para mim. Yasmin está
Com um olhar de esguelha, eu me atrevo a analisar o rosto dos dois. Meu pai me está me estudando pensativo, minha mãe está com cara de choro.—Yasmin, já lavou a mão para jantar? —Meu pai pergunta quebrando o silêncio.—Não. Vou lavar agora. —Yasmin fala e sai correndo.Eu estico meus lábios, e dou um sorriso.—Eu não vou jantar. Com licença. —Eu digo rápido para sair da presença deles. Meus nervos me oprimem. Aliás, tudo me oprime ultimamente.Subo as escadas de dois em dois degraus, passo como um foguete pelo corredor e entro no meu quarto. Deito-me na cama petrificada.A lembrança de um cara na faculdade tentando me beijar me trouxe aquele sentimento de ojeriza. E, de repente, senti meu coração disparar e a adrenalina percorrer meu corpo.E agora? Como eu lutaria contra isso tudo? Meu pai poderia ser preso!A vontade de chorar é grande. Eu me sinto sozinha em minha angústia. Oh papai! O que o senhor fez!Fico ali deitada no escuro, como morta. Sentindo-me impotente.Zafir, onde est
Ela me abraça por um momento e me encara aliviada. —Obrigada, Jade. Seu pai ficará alivi.... Feliz—Ela corrigiu. — Com sua aceitação. Eu estava até conversando com ele sobre isso. Você é uma caixinha de surpresa. Quando menos esperamos, você vem com ideias, mudanças ou descobrimos algo. Eu nunca sei o que esperar de você. Mesmo assim, achei que seria mais difícil falar com você. Mas agora vejo o quanto eu estava enganada, você está bem mais receptiva. —Muito... —Digo aflorando meu humor-negro, resignada a aceitar meu destino. Ela se levanta. —Bem, é isso. Arrume suas malas, teu pai te levará até o aeroporto. Eu engasgo. —Como? Hoje? —Sim. Pestanejo. —E se eu me negasse a ir? Vocês combinaram tudo sem me consultar? Ela solta um suspiro. —Não querida. Só estávamos esperando sua confirmação. Seu pai ficou de ligar confirmando sua ida hoje. Embora esteja bem frio, eu estremeço com suas palavras. São elas que me abalam. —Tudo bem. Pode ligar. —Suspirei. —É longe daqui? —Em M