Nas horas que se seguiram, o quarto permaneceu mergulhado em uma estranha dualidade. O medo do desconhecido se misturava com uma determinação fervorosa de buscar respostas. Sarah, com os olhos marejados, recolheu cuidadosamente as cartas e as guardou numa caixa de madeira antiga, cujo interior era forrado com tecido de veludo escuro. Cada carta ali guardada era um testemunho de seus inúmeros encontros com o sobrenatural, mas jamais aquela leitura fora tão intensa e reveladora.Ao se levantar devagar, sentiu o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ela sabia que o caminho que se abria diante dela estava repleto de perigos, mas também de verdades que poderiam salvar o que ela amava. Determinado a encontrar um sinal, Sarah se dirigiu à pequena janela do quarto, de onde podia ver o céu noturno salpicado de estrelas. O luar banhava o ambiente com uma luz prateada que tornava cada objeto familiar em algo quase etéreo. Ela fechou os olhos por um momento, tentando ouvir o sussurro do ve
— Não sei, Guillaume. Enquanto fazia uma leitura, algo... algo incomum aconteceu. As cartas revelaram presságios sobre Clarice, e ouvi uma voz, uma voz poderosa que me ordenava a parar de buscar respostas. Mas uma das cartas, a Sacerdotisa, caiu sozinha, como se quisesse que eu prosseguisse. — confessou Sarah, os olhos marejados pela tensão e pela revelação.Guillaume assentiu lentamente, compreendendo a profundidade do que Sarah enfrentava. A mulher, conhecida por sua sabedoria ancestral, já havia presenciado sinais semelhantes em tempos remotos.— As mensagens dos deuses e das forças ocultas são sempre enigmáticas. Talvez Celeste esteja te mostrando que ela é o caminho e você deveria seguir ela, ou talvez esteja protegendo algo que não deve ser perturbado. Mas a presença da Sacerdotisa... isso indica que o caminho para a verdade está sendo aberto, mas com alguma outra entidade. Talvez seja melhor parar de correr atrás. O olhar de Sarah se fixou e por um instante, ambos compartilhar
Com a determinação renovada, Sarah pegou seu caderno e começou a escrever, traçando planos e registrando cada detalhe daquela revelação. Ela sabia que o caminho seria árduo, que enfrentaria não apenas os perigos do mundo material, mas também as sombras que habitavam os recantos mais profundos do plano astral. No entanto, a promessa de que a verdade libertaria a todos a impulsionava adiante, como uma chama que jamais se extinguiria.Enquanto o dia se transformava em uma tarde fria e silenciosa, Sarah saiu da casa para recolher algumas ervas que utilizaria no feitiço de projeção astral.Os dias seguintes passaram em um turbilhão de preparativos e consultas espirituais, enquanto Sarah continuava a aprofundar seus estudos sobre os presságios. Cada leitura, cada consulta com os antigos grimórios, a fazia perceber que o destino estava traçando um caminho inescapável. A deusa Celeste, com sua voz imponente e ordenadora, parecia querer interromper os estudos, mas também a testava, exigindo qu
O dia despontava preguiçoso, tingindo o céu com tons suaves de laranja e rosa. No interior da casa que servia de refúgio, Clarck e Clarice encontravam um raro momento de intimidade na calmaria da manhã. Sentados à mesa de café, os dois desfrutavam de uma refeição simples e nutritiva. O aroma do café recém-passado misturava-se ao perfume de ervas e flores que Clarice, sempre atenta aos detalhes, usava para temperar o ambiente.— Você sabe, Clarice, tenho refletido bastante sobre o que discutimos na última reunião – começou Clarck, com a voz mansa, enquanto tomava um gole do café quente que parecia aquecer não só o corpo, mas também a alma. Seus olhos, de um âmbar penetrante, encontravam os de Clarice com uma intimidade silenciosa.Clarice, que sempre fora sensível às nuances das conversas, inclinou a cabeça, fazendo com que a luz matinal ressaltasse os traços delicados de seu rosto.— Sim, Clarck. Integrar os lobos do assentamento à nossa alcateia pode ser exatamente o que precisamos –
Naquele instante, num dos recantos mais tranquilos da casa, Clarice e Clarck encontraram um raro momento de calma. Sentados lado a lado em uma pedra que dava para a floresta, eles compartilharam um café fresco e conversaram sobre os sentimentos que os uniam e os desafios que se apresentavam.— Às vezes, sinto que nosso amor é o único farol em meio à escuridão que nos cerca – confidenciou Clarice, seus olhos refletindo tanto o calor do sol da manhã quanto a vulnerabilidade de seu coração. — Sei que o caminho à nossa frente está repleto de perigos, mas, se conseguirmos unir nossas forças e superar a maldição que assola nosso filho, nada poderá nos deter.Clarck, tocado pela sinceridade de suas palavras, apertou as mãos dela com firmeza e respondeu:— Minha querida, nosso amor sempre foi nossa maior força. Mesmo que as sombras se adentrem, sei que juntos encontraremos a luz. E quanto à integração com os lobos do assentamento, tenho certeza de que essa união trará uma nova era para a Garr
A reunião havia chegado a um ponto crucial. Clarck, Clarice, Gael e Ravier estavam reunidos em torno de uma mesa de madeira com uma ponta quebrada, cuja superfície exibia entalhes que mostravam o sinal do tempo e de batalhas travadas. As luzes suaves dos candelabros lançavam sombras dançantes sobre os rostos tensos dos presentes, enquanto o ar carregava a tensão de decisões que poderiam mudar o rumo da história.Após longas discussões sobre a integração dos lobos do assentamento à Garra Sangrenta e os riscos representados pela maldição que afligia o filho de Clarice e Clarck, finalmente chegaram a um consenso. A união dos dois grupos seria feita assim que o grupo saísse em busca do irmão, com Ravier comandando a grande massa de lobos até a matilha de Garra Sangrenta, apresentando uma carta a punho de seu líder, Clarck, enviada diretamente para John.Enquanto Gael delineava os detalhes finais da missão com voz firme e grave, Clarice escutava com o olhar fixo e um misto de determinação
O céu estrelado ao redor começou a mudar. As constelações, antes cintilantes, foram gradualmente engolidas por uma escuridão profunda e inquietante. Foi nesse instante que a atmosfera se encheu de uma tensão sobrenatural, e outra figura começou a emergir das sombras que se formavam. Com uma elegância ameaçadora, uma mulher de pele completamente negra, cabelos negros como a noite sem luar e olhos prateados cintilantes apareceu diante de Clarice e Celeste. Seu vestido, que se confundia com sua pele escura, era pontilhado por minúsculas estrelas, como se ela carregasse consigo a noite em si.Essa nova deusa, conhecida como Sidônia, a deusa da Umbra, observou a cena com um olhar feroz e determinado. Seus lábios se curvaram em um meio sorriso, mas seu semblante denunciava uma fúria contida. Dirigiu-se a Celeste com voz cortante:– Irmã, chega! – gritou Sidônia, aproximando-se com passos firmes e quase imperiais. – Você ousa manipular o destino de Clarice, tentando forçá-la a abandonar seu
– Eu... eu vi a deusa de Gael. Eu vi sua divindade, sua essência. E ela me olhou com tanta compaixão que, por um breve instante, senti que, talvez, houvesse esperança para nós. Mas, ao mesmo tempo, o que presenciei com Celeste e Sidônia... isso mudou tudo. Eu preciso compreender o que significa. Preciso entender como posso deixar o passado para trás e, assim, ajudar a quebrar essa maldição que nos aflige.Clarck, com lágrimas contidas, beijou novamente sua amada e disse:– Não fique assim, Clarice. Juntos encontraremos as respostas. Se há uma deusa nova, então também há poder para nos guiar e curar. Você é forte e foi escolhida para enfrentar este desafio. Prometo que ficarei ao seu lado em cada passo dessa jornada.Gael assentiu, e com um olhar profundo, completou:– A visão que você teve é um sinal. Celeste e Sidônia travaram uma batalha que reflete os conflitos internos de nosso destino. Mas, acima de tudo, sua experiência é um chamado para que possamos reavaliar nossos laços, noss