pesassem mais do que deveria. Clarice olhava para Clarck e Loren, esperando que algum deles dissesse algo, mas ninguém parecia disposto a quebrar aquele momento carregado.Depois de alguns instantes, Clarck suspirou pesadamente e fez um gesto sutil para que Clarice e Loren o seguissem para o lado de fora. O ar frio da noite os envolveu imediatamente, trazendo uma sensação de clareza após a atmosfera carregada do interior da cabana.— Bom... isso foi inesperado. — Loren foi a primeira a falar, cruzando os braços e encarando Clarck. — Então eles são a sua antiga alcateia? Eu realmente não esperava por isso… Ela achou que iria apenas ajudá-los a encontrar o assentamento, mas agora estava metida numa grande confusão sobre uma antiga alcateia que esperava uma alfa.Clarck passou a mão pelos cabelos escuros, respirando fundo.— Eu não sei. — Sua voz era grave, carregada de dúvidas. — Essa história toda... essa tal deusa que nunca ouvimos falar protegendo essa matilha... É como se estivesse
A noite estava fria e úmida quando Gael levou Clarice para a floresta. Era uma noite sem lua, o céu estava coberto por estrelas, mas o astro-mãe que regia a vida dos lobos não estava presente. O som das folhas secas estalando sob seus passos ecoava entre as árvores imponentes, enquanto o vento sussurrava segredos antigos entre os galhos.Clarice sentia o coração acelerado, sem saber ao certo o motivo daquela caminhada noturna. Gael estava sério, mais do que o normal, e seu olhar carregava um peso que ela não conseguia decifrar. Ele a guiava com firmeza, mas sem pressa, como se cada passo fosse um prelúdio para algo grandioso – ou terrível.Era estranho descobrir que tinha um parente de sangue vivo, e parecia ainda mais estranho saber que esse único parente estava esperando-a há tanto tempo. Tudo era muito confuso, e a cada momento, Clarice se sentia mais próxima de algo que mudaria tudo. Mas será que aguentava mais mudanças? Tudo o que queria era salvar seu filho.Quando chegaram a u
A noite com um céu cheio de estrelas logo deu lugar a um céu nublado e uma chuva fina e fria, que parecia querer, sem sucesso, lavar as angústias e os conflitos internos que assolavam o coração de Clarice. Ela caminhava ao lado de Gael, cujos olhos estavam imersos em um silêncio carregado de significado. As estrelas haviam sumido, as nuvens negras e carregadas anunciavam que, em breve, a chuva fina se transformaria numa tempestade.Gael, com a voz embargada por um misto de preocupação e resignação, parou diante de Clarice. Seu olhar se fez profundo, como se buscasse nela a coragem para enfrentar a tempestade emocional que se abatia sobre ambos.— Clarice, eu… — começou ele, hesitante, enquanto seus olhos se perdiam por um instante no horizonte enevoado. — Acho que preciso te dar um tempo para pensar.As palavras ecoaram no ar úmido, fazendo com que Clarice se sentisse repentinamente pequena, como se o mundo ao redor tivesse se reduzido àquele breve instante de silêncio e dor. Ela sabi
Clarck segurou suas mãos com delicadeza, seus dedos quentes tentando transmitir a força necessária para enfrentar aquele turbilhão de emoções.— Calma, meu amor — respondeu ele com voz suave, mas firme. — Há momentos na vida em que precisamos de um tempo para nos reencontrarmos com nós mesmos. Vamos descansar, respirar um pouco, esse dia deu muito para pensarmos, muito para você pensar. Só não pode esquecer que você não está sozinha, meu amor, estou aqui para você e com você. O olhar de Clarice se encheu de dúvidas e inquietações. Ela sentia que cada palavra de Clarck era um bálsamo para suas feridas, mas também uma lembrança de que a verdade, por mais dolorosa que fosse, não podia ser ignorada. Enquanto o alfa tentava tornar o momento mais fácil para a mulher que amava, parte de seu coração estava apertado afinal, ele mesmo estava guardando algo que havia descoberto naquele dia – as palavras de Ravier, que revelavam que o filho deles era, de fato, um lycan, não resultado da maldiç
Clarice sentiu um arrepio percorrer sua espinha com a profundidade daquele olhar, e, num sussurro, respondeu:— Só nós dois, amor…E assim, imersos na água morna, eles se deixaram levar pelo amor que, mesmo diante das sombras do passado e dos segredos que permaneciam ocultos, brilhava com a força de um farol na escuridão. A intimidade compartilhada naquela banheira era um refúgio, um breve interlúdio onde o drama do mundo lá fora era suspenso, dando lugar à pura essência de dois corações que se encontravam em comunhão.Após longos minutos que pareceram eternos, o silêncio se fez novamente presente, mas agora carregado de uma calma que somente o amor sincero pode proporcionar. Lentamente, os lábios se separaram, e os olhares se fixaram, cada um guardando em si a promessa de um novo começo, de uma renovação que só o afeto verdadeiro poderia oferecer.Enquanto a água começava a esfriar, Clarck, ainda com o brilho da paixão em seus olhos, vestiu Clarice com delicadeza, como se o simples a
“Mãe… Mãe, por favor! Acorda, mãe!”Clarice abriu os olhos, apoiando a mão no peito, ofegante. O quarto ainda estava escuro, uma leve luz entrava pelas cortinas, a luz prateada da lua cheia. A madrugada ia alta e ela deveria estar descansando para pegar seu voo para Pinewood cedo no dia seguinte, mas fazia muito tempo que não conseguia dormir bem.Ela se levantou, os pés descalços tocando o chão frio. Suas cisas já estavam encaixotadas, não pretendia levar muito para sua nova “antiga” casa, apenas o essencial. A única coisa que ainda estava fora das poucas caixas era o porta-retrato que estava repousando ao lado do seu travesseiro. Uma foto da sua mãe, Elaina.As memórias do acidente que havia acontecido há somente um mês a assombravam todos os dias, e a culpa também. As últimas palavras de sua mãe para ela ainda estavam martelando em sua cabeça, ela jamais esqueceria e jamais deixaria de se culpar, afinal, Clarice quem estava na direção, ela quem perdeu o controle do carro. Em teor
A viagem de carro foi, de fasto, muito mais rápida. No caminho, Clarice descobriu que o nome do senhor era Jorge, e soube ainda que ele conhecia sua mãe desde que ela era uma pré-adolescente. Jorge ficou sentido pela notícia do falecimento de Elaina e afirmou que ele e sua esposa estariam disponíveis para ajudá-la na adaptação, já que a casa onde Clarice ficaria era bem afastada da zona principal da cidade. Levaram cerca de duas horas para chegar até Pinewood, e, assim que cruzaram a única avenida do lugar, Clarice notou como a cidade ainda era exatamente a mesma. Algumas lojas com fachada reformada, uma e outra lojinha mais recende, mas quase nada havia mudado, ainda era o mesmo lugarzinho frio e meio vazio de sempre, mas com pessoas acolhedoras. Seguiram pela avenida até cruzar a cidade, saindo da zona mais populada até a estrada que lavava a grande indústria de tecnologia e sustentabilidade que empregava boa parte das pessoas da região. Mas não chegaram tão perto dela, pararam v
O som dos móveis sendo arrastados ecoava pela casa, misturado ao ritmo suave da música que tocava do celular de Clarice. Ela havia aberto todas as janelas, permitindo que o ar fresco e o cheiro úmido da floresta entrassem, e a luz do fim da tarde iluminasse o ambiente.— Pronto — suspirou, limpando uma gota de suor da testa. — Último móvel.O cansaço começava a pesar em seus ombros, mas Clarice sabia que a sensação de estar naquela casa era tudo o que precisava para continuar. Já fazia horas que estava de pé, limpando cada canto, cada móvel coberto de poeira. Colocar tudo em ordem era a forma dela de lidar com as memórias e a saudade. O sofá da sala, onde ela e sua mãe costumavam passar as noites juntas assistindo séries de TV, estava agora limpo e convidativo. As cortinas brancas balançavam suavemente ao vento, trazendo uma sensação de paz que ela não sentia há muito tempo.“Parece que estou mais perto de você agora, mãe”, pensou, sentindo uma pontada de tristeza no peito. A música