Eu acordei de um sono com sonhos estranhos, não era novidade, como também não era novidade eu estar no quarto das flores na casa da vovó Blanca.
Ultimamente vinha sonhando com bebês de olhos dourados e cabelos de fogo como o meu, ou com meus olhos verdes e a pele morena e os cabelos longos do pai.
Também como não sonharia com isso, se desde que descobri a gravidez tenho passado o tempo todo pensando nisso, pensando nessa vida que está sendo gerada dentro de mim.
Eu precisava tomar uma atitude, precisava ir atrás de providências, resolver como faria para cuidar desse filho, se deveria contar ao pai ou não. Eram tantas dúvidas e tudo só aumentava com meu confinamento.
Eu estava proibida de sair daqui, não deveria deixar o quarto por nada, pois segundo Agnes, Will poderia voltar.
Alice insistia que deveríamos ir atrás de Parker, contar pra ele a verdade e pedir abrigo. Ela estava confiante que ele cuidaria de mim e da criança. Eu já não sabia o que pensar, eram tantas preocupações.
Me ergui da cama e estranhei que Flora não tivesse por aqui, ela tinha virado minha sombra, quando não estava atrás de mim com algum chá, estava cantarolando canções em uma língua que eu desconhecia.
Andei até a janela e não ouvi nada além do sol, os pássaros e as árvores e flores chacoalhando. Me voltei para a porta e andei a passos lentos, não queria atrair a atenção de ninguém, se me deixaram sozinha é porque tinham algo sério a resolver, pois em todos esses dias nunca me deixaram sem supervisão.
Atravessei o corredor e ouvi as vozes vindo do andar de baixo, cochichos alterados.
Desci o primeiro degrau, torcendo para que a madeira velha não rangesse sob meus pés, me entregando antes que pudesse ouvir alguma coisa.
— Ela precisa saber! — ouvi Alice dizer.
— Fale baixo! Quer acordá-la? — foi a voz de Agnes a primeira que ouvi. —Já tem sido difícil mantê-la com sono o tempo todo para evitar que saia do quarto.
O que? Arfei assustada com as palavras dela, mas me contive para não entregar minha localização. Elas estavam me dopando?
— Eu já disse que isso é perigoso, não vão poder manter a garota presa em sono o tempo todo. — era fácil de reconhecer a doce voz de Flora depois de todos os dias juntas. — Porque não levam ela de uma vez para o Alfa? Ele vai saber cuidar dela.
— Você não tem certeza disso, até onde sabemos Quanah nunca quis cumprir seu papel!
— Não interessa o que ele quer ou não, todos precisamos cumprir nosso papel agora, a criança já foi concebida, os Lycans e nós bruxas, já fomos libertados da maldição! — Alice quase esbravejou.
Engoli em seco e fechei os olhos com força. Eu estava presa em outro sonho maluco, mas o que eu faria para despertar?
Dei mais alguns passos, agora não me importando mais se faria barulho ou não, era só um sonho e não teria problema, nada iria acontecer.
— Mesmo assim Alice, Quanah pode rejeitar ela e o filho...
— Ele jamais faria isso! — Flora interveio e eu finalmente cheguei ao último degrau. — Sabe que seria uma ofensa contra nossos costumes, ele pode não querer Bridget como esposa, mas o filho dele ele jamais rejeitaria.
De onde eu estava podia vê-las conversando em volta da mesa da cozinha. Vovó Blanca se levantou dando a volta na mesa. Parecia que a conversa era na verdade um embate, de um lado Alice e Flora, do outro Agnes e vó Blanca.
— Querida, sabemos que veio apenas porque Peta te enviou, ele queria se certificar de que o sobrinho estava bem. — Blanca falou. — Desde o começo ele tem sido mais Alfa do que o irmão, se não fosse por ele e Alice nada aconteceria, eles dois nunca teriam se conhecido. O que acha que vai acontecer quando Quanah Parker descobrir que tudo não passou de uma armadilha?
Quanah Parker? O mesmo Parker que eu... Não podia ser eu precisava acordar, precisava urgente! Estava ficando mais louco a cada dia e talvez até mais real.
— Bri está resguardada pelo povo, não é só Peta que estava cansado de esperar essa profecia se cumprir e a maldição ser quebrada. — Alice parecia furiosa e eu quase acreditei no circo todo, esse era o sonho mais convincente que eu já tive em toda minha vida. — Todos os Lycans estão do lado dela, assim como os bruxos e bruxas!
— Como eu faço pra acordar! — gritei e todas me olharam assustadas. — Eu não deveria poder gritar isso dentro de um sonho. Merda fica cada vez mais estranho.
— Bri querida, há quanto tempo está ouvindo? — Agnes se mostrou preocupada e se aproximou de mim.
— Eu só quero acordar, essa história toda de lobos e bruxas, maldição, não me lembro de ter lido ou assistido algo assim antes de dormir. — passei por Agnes ignorando seu toque e fui direto para a porta da cozinha.
O sol do fim de tarde que atravessava a porta de vidro aqueceu a minha pele, parecendo real, o cheiro das flores, o pólen no ar.
— Alice, você precisa sentar e vamos conversar.
— Não mamãe, chega de tentar colocar panos quentes e adiar a situação! Ela precisa saber!
Eu precisava acordar, cada hora ficava ainda mais estranho. Um beliscão deveria resolver, não é? Belisquei meu braço e nada aconteceu, eu apenas senti a dor, mas não acordei.
— Amiga, o que você está fazendo?
Acertei um tapa forte em meu rosto e foi a mesma coisa. Era possível que eu não acordasse? Será que estava em coma? Tudo poderia ser um sonho, todas essas semanas deitada naquela cama, eu poderia estar em um hospital entubada agora mesmo.
— Bri, sente-se aqui e vamos conversar! — Flora pediu com a voz doce e olhando para ela eu só conseguia pensar nas palavras que ouvi ainda pouco.
— Eu só preciso acordar! — gritei e me virei para elas e encarei os olhares me julgando, com pena de mim. Eu não estava louca, não podia estar. — Eu só preciso acordar! — peguei a faca que vi na mesa e em um ato de desespero cortei meu braço.
A dor se espalhou pelo meu corpo, mas eu estava em choque de mais para reagir e gritar ou chorar com a dor, eu só fiquei olhando o sangue escorrer quente e pingar no chão e em minha roupa.
Alice correu com um pano, amarrando em meu antebraço e o ergueu para evitar que jorrasse ainda sangue.
— Viram o que fizeram com ela? Vocês enlouqueceram a cabeça dessa menina! — Flora chegou se colocou a correr pela cozinha, pegando ervas e colocando dentro de um pote de pedra.
— É para o bem dela, não fizemos por mal. — vovó Blanca se aproximou e eu ouvi um rosnando crescer dentro do espaço. O que vi no segundo seguinte foi Flora estava ao meu lado.
Uma ainda segurava o pote com ervas e com a outra ela afastou vó Blanca. Ela estava na minha frente como um escudo e Alice estava do meu lado.
— Não ouse tocar nela outra vez! Vocês mexeram com a cabeça dela colocando-a para dormir todo esse tempo.
— Você não manda aqui mocinha, pode ser uma Lycan curandeira, mas você está na minha casa e vai me obedecer. — eu encarei Blanca se erguer e falar com uma voz autoritária que eu nunca ouvi antes.
— Já chega! Flora está certa, nós insistimos em contar a verdade desde o primeiro dia, mas continuamos aceitando a vontade de vocês e deixamos isso ir longe de mais. — Alice puxou uma cadeira e me ajudou a sentar. — Flora vai cuidar da sua ferida e nós vamos te contar toda a verdade.
— Contos de fadas são reais, ao menos os que tem lobisomens, bruxas e os malditos dos vampiros. Existimos desde antes de Cristo, o mundo sempre foi cheio de criaturas mágicas.Eu encarava Alice como se ela fosse um alien.— De onde tirou essas coisas...— Você quer saber a verdade, não é? Então escute até o fim sem interrupções.Me limitei a acenar com a cabeça concordando, se ela queria silêncio para inventar uma história fantasiosa qualquer, eu lhe daria.— Você descende de uma linha de poderosas bruxas, assim como eu venho de uma longa linhagem de lobisomens — dessa vez foi Flora que continuou.— Seu nome é Bridget Bishop, em homenagem a sua tataravó, a primeira bruxa a ser julgada e condenada no ataque às bruxas de Salem. — Agnes tomou a frente, , enchendo o peito e falando com orgulho. — Ela ficou famosa e com as suas cinzas que sobraram, nós conseguimos canalizar ainda mais poder para nosso clã.— Eu o que?— Sua mãe também era uma bruxa, mas ela nunca te contou nada, não achava
Não demorou para que todas começassem a empacotar as coisas que levaríamos, só o necessário, a viagem ia ser de carro e não queríamos chamar a atenção na estrada. Infelizmente a casa da vovó Blanca ficava muito mais longe do centro de Salem, levaríamos quatro horas para chegar a boate, se déssemos sorte e não tivesse nenhum imprevisto na estrada. — Fica tranquila, vai dar tudo certo. — Alice tentou me tranquilizar quando se enfiou no banco de trás, entre Flora e eu. — Peta vai estar esperando por nós, não se preocupe. — Flora explicou. Eu queria perguntar por que Peta estaria esperando e não Parker? O que ele tinha com Alice? E até onde ele estava envolvido nesse plano de me levar até lá? Mesmo que ela não assumisse que tudo não passou de uma armação, eu tinha certeza que nossa noite tinha sido orquestrada desde o começo. Nunca acreditei em destino e não ia começar agora, especialmente quando existia uma força do mal que queria impedir isso. Deitei minha cabeça contra o banco e e
Passei por meu irmão, ignorando sua cara de poucos amigos, se ele queria bajular a bruxa mentirosa era um problema dele, eu não iria compactuar com isso.Meu povo estava feliz, não tinha como negar, finalmente poderíamos viver como uma alcateia unida novamente, como tinha sido há anos atrás. O exílio havia acabado.Mas a que custo?Eu tinha aceite do que nunca a maldição nunca seria quebrada por mim, eu jurei nunca tocar em uma mulher virgem. Por isso tinha ido pelo caminho oposto, fui contra tudo e contra todos para nunca chegar perto de uma garota inocente.Abri a boate para me assegurar que ficaria o mais distante o possível, minha cama era frequentada pelas mulheres mais quentes, desinibidas e confiantes que conhecia.Por isso eu não conseguia deixar de me perguntar: o que diabos tinha me dado para levar Bridget para a cama?Parte e mim continua a dizer que a encenação dela, com o magrelo do começo da noite, foi o que me levou a pensar que ela era meu tipo.Mas quando ela me enfre
Eu não consegui chegar perto de Flora, eles a levaram para algum lugar, mas me garantiram que ela ficaria bem.De acordo com Seth, lobisomens tem mesmo um organismo que se cura super rápido.Seth, era um cara legal e tinha sido simpático até de mais comigo. Eu acreditava que parte disso poderia ser porque eu estava carregando o bebê da profecia, mas talvez estivesse errada, ele poderia apenar estar sendo ele mesmo.— Está tudo bem por aqui? — a voz de Peta me tirou dos meus pensamentos e eu larguei o paninho sujo de sangue e especiarias que eu usava para limpar a ferida de Seth.— Tudo sim.— Tudo perfeito, chefe. — Seth aprumou a postura e deu um aceno com a cabeça.— Que bom. Seth pode ir pra casa, garoto.Encarei Peta, que dava a ordem tranquilo e falava com Seth como se ele fosse um adolescente. Mas então me lembrei que ele provavelmente tinha minha idade, e todos ali em volta eram mais velhos que nós.— Sim senhor. Obrigado por cuidar de mim, Senhora do fogo.Eu sorri com aquele
Porra, porra, porra! Aquilo só podia ser um feitiço, era a única explicação para eu perder o juízo quando me aproximava daquela garota.Inferno de mulher! Por sorte Denah tinha chegado na hora certa, me tirando de lá antes que eu rasgasse aquela calça fina e me enterrasse dentro dela.O cheiro do seu desejo era fascinante, mas o do seu gozo me deixava ainda mais fora de mim. A última coisa que eu precisava agora era o maldito cheiro de seu gozo impregnando em mim.— O que queria comigo, Denah? — rosnei tentando não pensar nela.Naquelas bochechas vermelhas depois de gozar, pintadas com suas sardas, a boca carnuda se abrindo e gemendo meu nome.Porra de garota!— A boate está aberta e seu irmão está na porta, proibindo qualquer um de entrar.Tinha que ser ele, o estraga prazeres. Já não bastasse ter enfiado essa bruxa maldita na minha cama, ainda queria me impedir de viver.— Vamos acabar com isso, quero começar a me divertir logo!— Pensei que já estivesse fazendo isso chefe, com a ru
Eu não conseguia acreditar no que tinha visto, meu cérebro se recusava a crer que ele estava mesmo fazendo aquilo.Mas era ele, não tinha como negar, era Quanah ali no corredor, com uma mulher ajoelhada chupando seu pau, enquanto ele agarrava outra, beijando seu pescoço.Não fazia nem duas horas que ele tinha me imprensado contra aquela mesma parede, e me fez gozar chamando seu nome.E agora ele estava praticamente transando com duas mulheres, no mesmo lugar.Entrei no quarto e fui direto para o banheiro, não queria que Peta me visse assim, na verdade não queria que ninguém me visse daquele jeito.Já era patético de mais que eu tivesse me deixado levar pelo desejo uma segunda vez.Agora ficar visivelmente afetada por ele era o fim da minha dignidade, se é que tinha me sobrado alguma.Abri a torneira e enchi as mãos com água, jogando no meu rosto e tentando sumir com aquela confusão de sentimentos.Eu estava com raiva, com nojo dele, com ódio de mim mesma. Queria quebrar a cara dele e
Eu me sentei na cama, tentando controlar a respiração. Não me importei se minhas mãos estavam sangrando, se eu ainda tinha gosma daquela coisa em meu cabelo e em minha roupa.Meu coração parecia prestes a sair pela boca e um enjoou sem tamanho me tomou, a bile subiu por minha garganta e eu trinquei os dentes tentando enviar o vômito para qualquer outro lugar.— Que porra você estava pensando? Viu só o que causou? — a voz inconfundível de Peta retumbou através da porta e eu me concentrei nele. — Abra a porta agora, já vimos que não podemos confiar em você para mantê-la segura.— Já disse pra se afastar dessa porta! Ninguém vai entrar aí até que eu tenha a certeza que qualquer ameaça tenha sido devidamente morta.— Você não pode deixar a garota sozinha e trancada, especialmente depois de toda a merda que a fez passar. — Peta soava nenhum pouco amigável.Eu só conseguia imaginar o que ele tinha passado paralisado no chão, impotente, sem poder fazer nada, nem mesmo se defender.— É o melh
A porta se fechou atrás de mim e eu encarei a madeira por alguns segundosSabia que ninguém entraria ali, o feitiço me garantia que somente quem eu liberasse a entrada no quarto teria acesso.Peta tinha me dado nos nervos, como eu precisava soca-lo sem dó. Eu conseguia ver em seus olhos toda a reprovação, e aquilo não me surpreendia, pois eu me sentia do mesmo jeito.Eu tinha causado aquilo, tinha trazido as sereias do submundo até aqui.Desci as escadas com pressa, saber que ele estava lá com ela deveria tranquilizar meu coração.Mas não era assim que eu me sentia.Ele não tinha sido capaz de protegê-la antes, quem me garante que seria capaz agora?Meu irmão não era um fraco, mas se não tinha acabado com duas sereias, como poderia confiar com algo pior?— Quero saber como está a situação? — gritei assim que o elevador abriu a porta.A bagunça na boate tinha sido contida, as pessoas, seres humanos comuns, já tinham deixado o lugar.— Vazamento de gás, foi o que falamos para o pessoal