— Bruxa? — Alice tinha todos os nomes na boca dele, mas bruxa era a primeira vez.
Will ergueu os olhos do livro e me encarou, parecendo incerto pela primeira vez desde que entrei pela porta.
— É modo de dizer, porque ela te manipula de um jeito que parece até feitiço. — ele bufou largando o livro ao seu lado e tirando os óculos para me encarar. — Será que você não vê? Ela não faz bem pra você!
Minha mãe sempre adorou Alice, eu não era uma garota de muitas amigas, mas desde que me conheço por gente ela sempre esteve lá comigo.
— Mamãe era amiga de Agnes antes mesmo de eu nascer e ela nunca viu mal na nossa amizade.
— Sua mãe não está aqui para ver tudo o que essa garota está causando na sua vida. — ele suspirou e se levantou do sofá, indo em direção a cozinha. —Você vai ver que só quero seu bem, vou te tirar da cidade e vai me agradecer por isso.
— Eu não vou! — gritei, mas ele apenas me ignorou continuando seu caminho. — Já tenho vinte anos, posso me virar sozinha. Se quiser ir é problema seu, mas eu não vou sair de Salem!
Will não se virou e discutiu como esperei que ele fizesse, apenas sumiu na cozinha me deixando plantada na sala.
Mas eu tinha dito a verdade, não iria, tia Agnes com certeza me deixaria morar com elas e eu arrumaria um emprego. Não precisava dele pra nada!
Corri para o meu quarto e me tranquei lá, não querendo surtar, apenas me deitei na cama e inspirei fundo. Foi inevitável não ficar embriagada com o perfume que subia da jaqueta, e não consegui evitar ser tomada pelas lembranças da noite passada.
Eu sei que era idiota ficar sonhando com um homem que tinha visto uma vez só na vida, mas ali estava eu, tentando imaginar o que ele estaria fazendo.
Me perdi em pensamentos e acabei pegando em um sono profundo, onde aqueles olhos dourados me atraiam para uma mata fechada.
Eu o seguia atravessando as árvores, rompendo o breu da noite, me arranhando nos galhos afiados até que cheguei em uma clareira e tudo o que havia lá era um lobo.
Um lobo enorme e assustador, ele abriu a boca, mostrando as presas aterrorizantes. Ele parecia ter mais de três metros e quando ergueu a cabeça para o céu parecia ainda maior.
Seu uivo me ensurdeceu e eu cai no chão, tampando os ouvidos tentando aplacar o som com as mãos, mas era inútil.
O uivo se tornou triste e doído, como se o grande lobo estivesse ferido e eu ergui meus olhos a tempo de vê-lo ir ao chão.
Eu deveria aproveitar que ele uivava machucado e correr para longe, fugir para qualquer lugar ou voltar pelo mesmo caminho que tinha feito.
Mas em um impulso eu me aproximei do animal e encarei seus olhos cheios de lágrimas, enquanto ele lutava tentando soltar suas patas das armadilhas que atravessavam o osso de suas pernas.
Me voltei para os olhos sofridos e não sei como aquilo podia ser verdade, mas olhando nos olhos dourados eu tive a certeza que era Parker ali, preso naquela armadilha, sofrendo com as patas dilaceradas pelos dentes de ferro.
— Esse é o seu destino. — uma voz amarga e sombria soou por entre as árvores, me virei procurando o dono da voz, mas não encontrei ninguém. — E essa vai ser sua morte!
Um poste de madeira, rodeado por fogo surgiu no centro da clareira e eu me lembrei das visões que tinha de uma mulher morrendo queimada na fogueira.
Me coloquei de pé e tentei dar um passo, mas meus pés estavam amarrados com correntes de ferro.
Eu não conseguia me mover com o peso delas, não conseguia sair do lugar.
Um vento impetuoso tomou conta da clareira e eu fui arrastada para a pilha de madeira, que agora queimava com o fogo alto.
O lobo uivou mais uma vez, como se chorasse por mim e eu gritei por socorro, para qualquer um que pudesse me ajudar.
Eu me debatia tentando me soltar daquela força invisível e Parker, ou o lobo, rosnava e uivava para os céus, como se esperasse que alguém nos ajudaria.
Quando o calor do fogo tomou meu corpo eu acordei sobressaltada. A luz do sol entrava pela janela do meu quarto e acertava meu rosto, quase me queimando.
— Você está bem? — Will estava parado na porta do quarto. — Não parava de gritar.
Eu podia jurar que tinha trancado a porta com chave. Esfreguei os olhos confusa encarando a figura ali parada.
— Foi só um pesadelo. — murmurei sem muita vontade e ele acenou com a cabeça.
Eu nunca deixava a porta aberta, como ele podia ter entrado ali?
— O almoço está na mesa! — um sorriso largo apareceu nos seus lábios. Como se não tivéssemos brigado há algumas horas.
Ele poderia querer fingir que esquecemos de tudo, mas eu não ia esquecer e deixar que ele me arrastasse para outra cidade.
— Desço em um minuto.
Assim que ele fechou a porta atrás de si eu me levantei de pressa e peguei meu celular.
Tinha algumas mensagens de Alice como já era de se esperar, perguntando como as coisas tinham ido.
Bri: Ele enlouqueceu, disse que vai mudar de cidade para me manter longe de você.
Ali: O que??? Ele não pode, você não pode sair de Salem!!!
Bri: Eu sei, já disse isso pra ele amiga.
Bri: Outra coisa, sabe como sempre tenho aqueles sonhos malucos com a mulher pegando fogo. Só que dessa vez eu ia parar na fogueira e um lobo gigante me assistia morrer.
Ali: Quando teve esse sonho?
Bri: Agora de tarde. Eu já disse que os olhos do lobo eram idênticos aos do Parker, o cara da outra noite.
Ali: Onde você tá?
Bri: Maluco o sonho, não é? Devíamos ir ver sua tia, aquela que faz interpretação de sonho maluco.
— Filha, vem logo o almoço está esfriando!
Bri: Vou almoçar. Will está agindo como se nada tivesse acontecido, sei que vai tentar me convencer mais tarde.
Joguei o celular na cama e desci as escadas correndo. A última coisa que eu precisava era ele dizendo que Alice também era culpada do meu atraso na mesa.
— Fiz a macarronada que você adora. — Will já estava sentado na mesa e meu prato já estava pronto, como de costume. — Sabe que detesto quando brigamos.
Me sentei ao seu lado e estendi a mão para ele. Esse era o jeito dele de pedir desculpas, fazendo comida.
— Também odeio brigas. — dei meu melhor sorriso e ataquei a comida.
Desde que tinha vindo morar conosco Will era o único que cozinhava aqui em casa, ele tinha realmente mãos de fada para isso, não tinha um prato que não ficasse maravilhoso quando ele fazia.
Comi como se fosse minha primeira refeição em dias, não tinha me dado conta da fome que estava até o momento.
— Quando terminar de lavar a louça podemos ir no centro, dar uma volta, ver algum filme. O que acha?
— Acho ótimo. Só vou... — minha cabeça rodou no mesmo segundo e eu me equilibrei no batente da pia. — Só vou tomar um banho antes. — consegui resmungar.
Passei minha mão molhada na nuca, senti minha pressão baixar e meu estômago queimar. Uma onda de ânsia me tomou e eu tirei um minuto para respirar fundo e tampar a boca para não vomitar.
Só o que faltava eu ficar ruim do estômago logo agora.
Demorei mais do que o normal para terminar a pouca louça do almoço e subi para o meu quarto aos tropeços. Não queria que Will me visse mal, ou a culpa recairia em Alice.
Minha visão ficou escura quando finalmente alcancei meu quarto e eu tive tempo de chegar até a cama e desbloquear meu celular.
A mensagem de Alice foi a primeira coisa que consegui focar.
Ali: Não confie nele! Eu e minha mãe estamos indo aí!
Ali: Estamos chegando Bridget, não coma nada que ele te der!
Ali: Amiga???
O que tinha dado em todo mundo? Will xingando Alice mais do que o normal e agora ela me dizendo para não confiar, justo no homem que me criou.
— Alice, acho que algo que bebemos ontem me fez mal. Estou achando que vou desmaiar e vomitar as tripas ao mesmo tempo. — engoli a bile, não me importando se estava ainda gravando o áudio. — Will não pode saber que estou mal, amiga.
Uma figura vestida de preto apareceu na minha porta, eu forcei meus olhos a focarem melhor, mas não conseguia distinguir os olhos.
Que merda estava acontecendo comigo? Porque eu sentia que meu estômago estava em brasas e que todo meu corpo queria expelir algo, me forçando a vomitar.
— Will! Will! — juntei minhas últimas forças e gritei por ajuda.
— Calma minha criança. — Sua voz parecia tão próxima, mas porque ele deixaria uma pessoa estranha dentro do meu quarto? — Tudo vai se resolver rápido, só respire fundo e feche os olhos.
A figura de preto se aproximou da cama e nem assim eu conseguia entender seus traços. Apenas via a pele leitosa, branca de mais para parecer com alguém que eu conhecia. Dava a aparência de alguém que não via o sol há muitos anos.
Uma mão gelada tocou em meus cabelos e eu estremeci dos pés a cabeça. Meu corpo todo se retesou com o contato estranho e repugnante e eu fui tomada pela escuridão.
Acordei com um canto de pássaros, o cheiro de flores no ar e o calor aconchegante dos lençóis quase me deram vontade de não abrir os olhos.Mas eu precisa saber o que tinha acontecido comigo, onde eu estava e quem diabos era aquele homem de preto no meu quarto.Abri meus olhos e quase fiquei cega com a claridade. Pisquei várias vezes até que meus olhos conseguissem ficar abertos sem doer e encarei as paredes confusas. Ao invés de estar cercada pelas habituais paredes verde-claro do quarto que eu tanto amava, eu estava encarando paredes rosa bebê coberta por flores.Eu já tinha visto esse quarto antes, só não conseguia me lembrar onde. Quem morava ali? E o mais importante, porque eu estava ali?Ergui meu tronco da cama e o quarto todo girou, me fazendo cair contra os travesseiros macios novamente. Que merda estava acontecendo comigo?— Ei, vamos com calma. Você passou por maus bocados nos últimos dias. — uma mulher loira entrou no quarto já falando.Sua voz era quase um cantarolar dos
Eu acordei de um sono com sonhos estranhos, não era novidade, como também não era novidade eu estar no quarto das flores na casa da vovó Blanca.Ultimamente vinha sonhando com bebês de olhos dourados e cabelos de fogo como o meu, ou com meus olhos verdes e a pele morena e os cabelos longos do pai.Também como não sonharia com isso, se desde que descobri a gravidez tenho passado o tempo todo pensando nisso, pensando nessa vida que está sendo gerada dentro de mim.Eu precisava tomar uma atitude, precisava ir atrás de providências, resolver como faria para cuidar desse filho, se deveria contar ao pai ou não. Eram tantas dúvidas e tudo só aumentava com meu confinamento.Eu estava proibida de sair daqui, não deveria deixar o quarto por nada, pois segundo Agnes, Will poderia voltar.Alice insistia que deveríamos ir atrás de Parker, contar pra ele a verdade e pedir abrigo. Ela estava confiante que ele cuidaria de mim e da criança. Eu já não sabia o que pensar, eram tantas preocupações.Me er
— Contos de fadas são reais, ao menos os que tem lobisomens, bruxas e os malditos dos vampiros. Existimos desde antes de Cristo, o mundo sempre foi cheio de criaturas mágicas.Eu encarava Alice como se ela fosse um alien.— De onde tirou essas coisas...— Você quer saber a verdade, não é? Então escute até o fim sem interrupções.Me limitei a acenar com a cabeça concordando, se ela queria silêncio para inventar uma história fantasiosa qualquer, eu lhe daria.— Você descende de uma linha de poderosas bruxas, assim como eu venho de uma longa linhagem de lobisomens — dessa vez foi Flora que continuou.— Seu nome é Bridget Bishop, em homenagem a sua tataravó, a primeira bruxa a ser julgada e condenada no ataque às bruxas de Salem. — Agnes tomou a frente, , enchendo o peito e falando com orgulho. — Ela ficou famosa e com as suas cinzas que sobraram, nós conseguimos canalizar ainda mais poder para nosso clã.— Eu o que?— Sua mãe também era uma bruxa, mas ela nunca te contou nada, não achava
Não demorou para que todas começassem a empacotar as coisas que levaríamos, só o necessário, a viagem ia ser de carro e não queríamos chamar a atenção na estrada. Infelizmente a casa da vovó Blanca ficava muito mais longe do centro de Salem, levaríamos quatro horas para chegar a boate, se déssemos sorte e não tivesse nenhum imprevisto na estrada. — Fica tranquila, vai dar tudo certo. — Alice tentou me tranquilizar quando se enfiou no banco de trás, entre Flora e eu. — Peta vai estar esperando por nós, não se preocupe. — Flora explicou. Eu queria perguntar por que Peta estaria esperando e não Parker? O que ele tinha com Alice? E até onde ele estava envolvido nesse plano de me levar até lá? Mesmo que ela não assumisse que tudo não passou de uma armação, eu tinha certeza que nossa noite tinha sido orquestrada desde o começo. Nunca acreditei em destino e não ia começar agora, especialmente quando existia uma força do mal que queria impedir isso. Deitei minha cabeça contra o banco e e
Passei por meu irmão, ignorando sua cara de poucos amigos, se ele queria bajular a bruxa mentirosa era um problema dele, eu não iria compactuar com isso.Meu povo estava feliz, não tinha como negar, finalmente poderíamos viver como uma alcateia unida novamente, como tinha sido há anos atrás. O exílio havia acabado.Mas a que custo?Eu tinha aceite do que nunca a maldição nunca seria quebrada por mim, eu jurei nunca tocar em uma mulher virgem. Por isso tinha ido pelo caminho oposto, fui contra tudo e contra todos para nunca chegar perto de uma garota inocente.Abri a boate para me assegurar que ficaria o mais distante o possível, minha cama era frequentada pelas mulheres mais quentes, desinibidas e confiantes que conhecia.Por isso eu não conseguia deixar de me perguntar: o que diabos tinha me dado para levar Bridget para a cama?Parte e mim continua a dizer que a encenação dela, com o magrelo do começo da noite, foi o que me levou a pensar que ela era meu tipo.Mas quando ela me enfre
Eu não consegui chegar perto de Flora, eles a levaram para algum lugar, mas me garantiram que ela ficaria bem.De acordo com Seth, lobisomens tem mesmo um organismo que se cura super rápido.Seth, era um cara legal e tinha sido simpático até de mais comigo. Eu acreditava que parte disso poderia ser porque eu estava carregando o bebê da profecia, mas talvez estivesse errada, ele poderia apenar estar sendo ele mesmo.— Está tudo bem por aqui? — a voz de Peta me tirou dos meus pensamentos e eu larguei o paninho sujo de sangue e especiarias que eu usava para limpar a ferida de Seth.— Tudo sim.— Tudo perfeito, chefe. — Seth aprumou a postura e deu um aceno com a cabeça.— Que bom. Seth pode ir pra casa, garoto.Encarei Peta, que dava a ordem tranquilo e falava com Seth como se ele fosse um adolescente. Mas então me lembrei que ele provavelmente tinha minha idade, e todos ali em volta eram mais velhos que nós.— Sim senhor. Obrigado por cuidar de mim, Senhora do fogo.Eu sorri com aquele
Porra, porra, porra! Aquilo só podia ser um feitiço, era a única explicação para eu perder o juízo quando me aproximava daquela garota.Inferno de mulher! Por sorte Denah tinha chegado na hora certa, me tirando de lá antes que eu rasgasse aquela calça fina e me enterrasse dentro dela.O cheiro do seu desejo era fascinante, mas o do seu gozo me deixava ainda mais fora de mim. A última coisa que eu precisava agora era o maldito cheiro de seu gozo impregnando em mim.— O que queria comigo, Denah? — rosnei tentando não pensar nela.Naquelas bochechas vermelhas depois de gozar, pintadas com suas sardas, a boca carnuda se abrindo e gemendo meu nome.Porra de garota!— A boate está aberta e seu irmão está na porta, proibindo qualquer um de entrar.Tinha que ser ele, o estraga prazeres. Já não bastasse ter enfiado essa bruxa maldita na minha cama, ainda queria me impedir de viver.— Vamos acabar com isso, quero começar a me divertir logo!— Pensei que já estivesse fazendo isso chefe, com a ru
Eu não conseguia acreditar no que tinha visto, meu cérebro se recusava a crer que ele estava mesmo fazendo aquilo.Mas era ele, não tinha como negar, era Quanah ali no corredor, com uma mulher ajoelhada chupando seu pau, enquanto ele agarrava outra, beijando seu pescoço.Não fazia nem duas horas que ele tinha me imprensado contra aquela mesma parede, e me fez gozar chamando seu nome.E agora ele estava praticamente transando com duas mulheres, no mesmo lugar.Entrei no quarto e fui direto para o banheiro, não queria que Peta me visse assim, na verdade não queria que ninguém me visse daquele jeito.Já era patético de mais que eu tivesse me deixado levar pelo desejo uma segunda vez.Agora ficar visivelmente afetada por ele era o fim da minha dignidade, se é que tinha me sobrado alguma.Abri a torneira e enchi as mãos com água, jogando no meu rosto e tentando sumir com aquela confusão de sentimentos.Eu estava com raiva, com nojo dele, com ódio de mim mesma. Queria quebrar a cara dele e