Jeff
Definitivamente aquele não era o meu dia. Um dos nossos maiores sócios resolveu romper com a empresa de forma repentina e coube a mim dar a notícia do rompimento ao meu pai, ele ficou possesso de raiva e fez questão de mais uma vez me culpar.Após a morte prematura de minha irmã, meu pai se tornou um homem amargo que vivia em função do trabalho e tínhamos uma péssima relação. Ele me tratava de uma forma que parecia que eu era o culpado pela morte da minha irmã, sequer imaginava o quanto sofria todos os dias com a perca de Marianne.Recentemente minha mãe o obrigou a se aposentar após anos se dedicando a construtora. Mesmo assim ele não abriu de estar a par de tudo que acontecia dentro da empresa e eu era apenas uma marionete nas suas mãos.Para piorar ainda mais o mau humor, estava faltando três dias para o jantar de noivado de Bervely com Edgard e eu não poderia fazer nada para impedir. Meu pai fazia questão de esfregar na minha cara o fracasso do meu casamento e em como ele e mamãe tinham o casamento perfeito.Meu celular tocou a tarde toda, mas estava impaciente demais para falar com quem quer que fosse. Ouvi a batida na porta e Sophie, minha secretária, abriu a porta que separava a minha sala da dela com um certo receio.— Senhor Sparting, com licença. Só queria avisar que sua mãe acabou de passar pela recepção e está subindo — deu um sorriso amarelo. A última coisa que eu precisava era de uma visita da minha mãe, que com certeza vinha apaziguar a minha discussão com meu pai.— Certo, Sophie — soltei uma lufada de ar.Relaxei o corpo sobre a cadeira, fiz um breve exercício de respiração que minha terapeuta havia me passado para momentos como esses e logo ouvi a voz da minha mãe cumprimentando Sophie.— Não precisa me anunciar Sophie — abriu a porta com um enorme sorriso no rosto.— Mamãe, que surpresa mais... agradável — fui ao seu encontro.— Jeff , querido — ficou na ponta dos pés para depositar um beijo em minha bochecha — Por que não atendeu as minhas ligações?— Eu... — pensei inventar algo, porém sabia que dona Rose Lauren Sparting era mestre em descobrir quando eu estava mentindo.— Nem pense em me dizer que estava ocupado, porque liguei para Sophie mais cedo e ela disse que você cancelou todos os seus compromissos — retrucou se sentando no sofá que geralmente usava para descanso no meu escritório e jogando a bolsa e o seu enorme óculos de sol ao seu lado.— Acho que preciso ter um conversinha com Sophie, não acho nada legal esse compartilhamento de informações com você e papai — Sophie estava na empresa a pelo menos quinze anos, entrou como secretária do meu pai e acabei a herdando junto com a cadeira da diretoria.— Não fique irritado, filho. Ela fez isso porque estava preocupada com você.— Não tem com o que se preocupar. Estou ótimo, mamãe, não está vendo? — falei enquanto abria meu frigobar em busca de algo para umedecer minha garganta.— Jeff , seu pai não te culpou, querido. Ele falou aquilo porque estava nervoso, mas ele já se acalmou e está envergonhado.— Claro, mamãe. Papai nunca iria me culpar. Sabe o que é mais engraçado?— Filho...— O engraçado é que estou mantendo a nossa empresa como uma das maiores dos pais e talvez ela entre para um ranking mundial, só essa semana fechei três contratos no valor de 6 bilhões e sabe o que o papai me disse? — respirei fundo para não gritar, pois minha mãe era muito sensível e não tinha culpa dos atos de meu pai — Ele não disse nada, porém, quando um de seus clientes idiotas rompe a porra de um contrato que não gera faturamento algum para empresa, ele acha que foi um erro ter me passando a diretoria — Me sentei, abri a garrafa de água com gás e levei a boca enquanto minha mãe me encarava com os olhos arregalados.— Querido, seu pai pode parecer duro as vezes, mas por favor, tente entendê-lo.— Pode ter certeza, mamãe, que se há algo que tenho feito é tentado entendê-lo. As vezes penso que ele queria que eu tivesse morrido ao invés de Marianne.— Nunca mais diga isso Jeff ! Nunca mais! — Quase gritou com os olhos marejados de lágrimas.— Me desculpe, mamãe. Não devia ter dito isso.— Escute bem, Jeff . Seu pai te ama, não duvide disse. Nunca mais repita essa sandice.— Podemos mudar de assunto? Não quero mais falar sobre o papai — falo me levantando.— Tudo bem, filho. Sei que você tem passado por momentos difíceis, ainda mais agora com o noivado de Bervely e Edgard.— Estou ótimo. Não me importo com esse noivado — dei mais um gole na minha água — Porque sei que Bervely não o ama, isso é só mais um de seus caprichos.— Filho, você sabe que adoro Bervely e sofri muito quando soube da notícia do relacionamento dela com Edgard — caminhou até o sofá e se sentou novamente — Mas você precisa seguir sua vida e conhecer uma garota legal que queira me dar netos.— Mamãe, eu não quero ter filhos, a senhora sabe muito bem disso.— Você realmente não quer ou Bervely fez você acreditar que não queria? — Logo que terminou de falar seu celular tocou me livrando de responder a sua pergunta.— Querido, estou com Jeff no escritório, mas já estou indo para casa — disse assim que atendeu e eu soube que ela estava falando com meu pai, ela era totalmente devota a aquele homem assim como ele a ela, sempre quis ter um casamento como o deles. Mesmo meu pai sendo um homem duro, ele a amava e nunca deixou de demonstrar para todos ao seu redor. Meu pai também me amava, entretanto, o seu jeito de demonstrar isso era diferente, as vezes acreditava que ele queria que eu fosse uma cópia exata dele.— Filho, tenho que ir, iremos jantar com alguns amigos. Você pretende ir ao jantar de noivado de Bervely? — perguntou enquanto ajeitava a sua roupa e pegava a bolsa e o óculos de sol.— Ainda não sei — Realmente não sabia se era uma boa ideia, mesmo que tenha decidido que iria em um primeiro momento, talvez ainda tivesse esperança de que ela desistisse.— Acho que deveria, porque não leva uma amiga para ir com você? Sheron está solteira. Por que não a convida?— Eu não sairia com Sheron nem se ela fosse a última mulher da face da terra — Sheron era ex-namorada de Rick e era o tipo de mulher que jamais me envolveria. A última vez que soube por alto a seu respeito foi que havia sido promovida no seu emprego dentro da CIA e dado uma surra no seu namorado ao pegá-lo na cama com uma de suas melhores amigas. Sheron era encrenca e jamais sairia com a ex do meu primo e melhor amigo — Você não tem que ir?— Sim, querido — balançou a cabeça negativamente por saber que aquela conversa não teria nenhum resultado — Se precisar de algo não deixe de me ligar — Me deu um beijo na bochecha.Respirei aliviado logo que ela saiu da sala.Olhei para o relógio e já eram quase seis da tarde, o prédio ficaria vazio e eu não tinha a mínima vontade de ir para casa. Peguei meu celular e vi que havia mensagens de Rick e uma de Frank com uma foto sua e de Sarah curtindo a lua de mel nas Maldivas. Estava feliz por todos meus amigos terem encontrado alguém para dividir a vida, mas ao mesmo tempo me sentia um fracassado por ter perdido uma mulher como Bervely.JeffEu dirigia ansioso por uma bebida, o trânsito não estava ajudando nem um pouco e parecia mais lento que o comum. Enquanto acompanhava os carros, me lembrei da despedida de solteiro de Frank e do lugar que havíamos ido, senti uma súbita vontade de dirigir até lá e não entendia o motivo, não costumava gostar de lugares como aquele, mas talvez um lugar onde ninguém me conhecesse seria perfeito para me afogar no álcool sem me preocupar em acordar no dia seguinte com uma foto estampada em algum tabloide de fofoca com uma matéria insinuando que estava tendo problemas com o álcool. Peguei meu celular e busquei a localização do lugar que não era tão longe de onde estava.Logo que estacionei vi que o lugar parecia bem mais vazio que me lembrava, talvez por ser meio de semana. Entrei e vi que era um dos primeiros clientes, ainda não haviam garotas dançando como na última vez. Procurei uma mesa no canto mais escuro e afastado e me sentei, uma garçonete se aproximou e pedi que trouxesse uma
JeffDesci do carro e para minha sorte a chuva havia diminuído. Ela percebeu minha aproximação e se levantou rapidamente, passou a mão pelo rosto para esconder as lágrimas e borrou ainda mais a maquiagem carregada que usava.— Fica longe de mim — falou com a voz trêmula e raivosa.— Ei, fica tranquila, só quero conversar. — disse tentando acalmá-la.— Não tenho nada para conversar com você — respondeu grosseiramente. Foi quando mais uma vez tive o deslumbre dos seus olhos, eles tinham uma cor indecifrável, castanhos com alguns tons esverdeados que no momento faiscavam.— Qual o seu nome? — perguntei.— Blue — respondeu cruzando os braços e cobrindo a estampa engraçada da sua blusa amarela que não consegui decifrar.— Seu nome de verdade. Acho que ninguém se chame Blue — falei coçando a nuca e tentando ser descontraído.— A filha da Beyoncé se chama Blue — cruzou os braços — Cara, o que você quer comigo?— No momento, só saber o seu nome.— Olha, se você quer que eu te agradeça por ter
KathyEu tentava processar tudo o que aconteceu em poucas horas. Jeff me defendeu de Hector e fui jogada para fora da boate como se fosse lixo. Certamente aquela seria a noite mais movimentada da minha vida! Queria que Judith pudesse me ver agora, ela sempre dizia que eu era careta e ficaria surpresa em saber o quão movimentada a minha vida estava, não nos falávamos há dois meses, ela mudou o número do telefone, também visualizava meus directs no Instagram, não respondia e eu dizia a mim mesma que ela só estava ocupada demais com a faculdade.Agora eu estava parada perto da porta de saída do Burger King tentando digerir novamente tudo aquilo o que Jeff falou. Por que um homem como ele queria me contratar para fingir ser sua namorada? Ele só podia ser maluco e o melhor que eu tinha a fazer era ir para casa.— EU PAGO 100 MIL DÓLARES! — Ele gritou, me fazendo paralisar no lugar — Ele só podia estar brincando! Ouvi o barulho ensurdecedor de uma bandeja de metal que um dos atendentes der
Kathy— Você mora aqui? — Ele perguntou olhando mais uma vez para o meu prédio antes de estacionar.— Sim, foi endereço que te dei, não foi? Algum problema?— Problema nenhum, só parece um pouco perigoso — respondeu sem graça. Eu sabia muito bem o quanto meu bairro era perigoso e como meu prédio era horroroso.— Eu disse que não precisava me trazer — tirei o cinto de segurança e abri a porta para sair dali ao perceber que tinha me equivocado ao pensar que ele fosse um cara legal, mesmo possuindo muito dinheiro — Se quiser, pode desistir do combinado, percebi que você está desconfortável — disse assim que sai.— NÃO! — Ele quase gritou, me assustando — Não é o que está pensando, é que é um lugar um pouco perigoso.— É o que posso pagar. Tenho que ir, estou exausta.— Tudo bem, não deixe de me contatar amanhã, nossa primeira aparição juntos vai ser daqui três dias — falou segurando firme a direção do carro.— Tudo bem, dois dias, já passou da meia noite — senti um frio na barriga.— Iss
Jeff Eu estava esperando uma mensagem ou ligação de Katherine desde o momento que acordei depois de três horas de sono naquela manhã com a Maddie berrando, estava começando a odiar aquela coisa que todos diziam ser revolucionária. Me levantei e caminhei como um zumbi para o banheiro, não estava com ânimo nenhum para a academia e certamente Patrick me ligaria para falar o quanto estava sendo irresponsável com meu corpo. Eu estava arrependido de passar boa parte da madrugada pensando se meu plano de deixar Bervely com ciúmes daria certo.Entre uma reunião e outra, olhava meu celular na esperança de que Katherine tivesse me contatado, mas nenhuma das chamadas e mensagens de números desconhecidos pertenciam a ela. Acreditei que poderia ligar para o telefone fixo, e toda vez que minha secretária me contatava para passar uma ligação, sentia um frio na barriga. Ela não poderia ter desistido, eram 100 mil dólares em jogo e depois de ver o lugar que ela morava, tive plena certeza de que pre
KathyEu pensava em Jeff enquanto voltava para casa e em como ele era estranho. Não um estranho ruim, mas um estranho que o fazia diferente da maioria dos homens. Jamais imaginaria que qualquer outro homem fosse capaz de contratar alguém para fazer ciúmes na ex-mulher para que ela desistisse de se casar com outro, ainda mais um homem que poderia conseguir qualquer mulher sem ter que gastar um centavo por isso. E lá estava eu mais uma vez lembrando do quanto Jeff era bonito.Toda vez que o pensamento sobre a beleza dele vinha a minha mente, eu automaticamente afirmava a mim mesma um sonoro não. Mesmo que ele fosse o homem mais bonito e charmoso do universo, eu jamais me interessaria.Cheguei no meu prédio e subi as escadas correndo, ansiosa por um tempinho com as pessoas que mais amava no mundo.— Kathy, você veio cedo. Eba! — gritou empolgada e tentou se levantar do sofá, lugar onde ela vivia maior parte do tempo depois que consegui assinar Netflix com o dinheiro extra da boate. Sei q
KathyHavia chegado cedo na lanchonete. Organizei alguns pratos e fiz alguns cafés, o movimento estava muito baixo e David estava preocupado com a diminuição de clientes no decorrer dos últimos dias, os únicos horários em que ficava cheio era no almoço.As gorjetas estavam cada vez menores e procurava não reclamar, não estava sendo fácil para ninguém, aparentemente a crise financeira estava batendo na porta de todo mundo. Eu só conseguia pensar nos remédios de Maddie e com o aluguel, pois só com o meu salário não conseguiria arcar com tudo. Por um momento me senti tentada a ir pelo caminho mais fácil, voltar até a boate e implorar pelo meu emprego de volta ou até me mesmo ligar para Jeff e dizer que iria fazer parte daquele plano ridículo, mesmo que o plano fosse apenas para me humilhar.Eu estava a uma meia hora espirrando e como o movimento estava fraco, David pediu para que organizasse o depósito, este que parecia que tinha uma década que ninguém o limpava. Peguei alguns materiais
JeffEsperava Katherine encostado no meu carro e estava esperançoso. Ela saiu do lugar pisando duro. Agora sem o uniforme, usava uma calça jeans que parecia dois números maior do que deveria usar e uma camiseta preta com um alienígena estampado, qualquer pessoa do meu convívio que me visse com alguém vestido daquela maneira acreditaria que eu havia surtado de vez.— Você vai ficar parado aí me olhando ou vai me levar para casa? — alfinetou, me olhando com os olhos faiscantes.— Vamos — fui em direção a porta do passageiro, abri para que ela entrasse e realmente não entendi o porquê de ter feito isso.— Tão cavalheiro — revirou os olhos debochando e preferi ignorar.— É um hábito.Enquanto dirigia, Katherine permaneceu calada e estava começando a ficar tenso.— Me diga Katherine, quais são suas exigências? — perguntei curioso.— Não sei como dizer isso, mas se você quer que eu finja ser sua namorada, vamos ter que fazer isso direito, porque minha mãe vai começar a me questionar quando