Jeff
Eu dirigia ansioso por uma bebida, o trânsito não estava ajudando nem um pouco e parecia mais lento que o comum. Enquanto acompanhava os carros, me lembrei da despedida de solteiro de Frank e do lugar que havíamos ido, senti uma súbita vontade de dirigir até lá e não entendia o motivo, não costumava gostar de lugares como aquele, mas talvez um lugar onde ninguém me conhecesse seria perfeito para me afogar no álcool sem me preocupar em acordar no dia seguinte com uma foto estampada em algum tabloide de fofoca com uma matéria insinuando que estava tendo problemas com o álcool. Peguei meu celular e busquei a localização do lugar que não era tão longe de onde estava.Logo que estacionei vi que o lugar parecia bem mais vazio que me lembrava, talvez por ser meio de semana. Entrei e vi que era um dos primeiros clientes, ainda não haviam garotas dançando como na última vez.Procurei uma mesa no canto mais escuro e afastado e me sentei, uma garçonete se aproximou e pedi que trouxesse uma garrafa fechada de whisky, ela saiu depois me perguntar em Torno de quatro vezes se eu tinha certeza do pedido e foi quando notei que mais alguns clientes estavam chegando.A jovem voltou com a garrafa, um copo e com sorriso amarelo no rosto, perguntou se precisava de mais alguma coisa e se afastou após eu negar.Enquanto me livrava da minha gravata, vi que algumas garotas se aproximavam das barras de pole dance e começavam a dançar, entre elas estava a garota de azul, seu corpo parecia se moldar barra mesmo com ela mostrasse certa insegurança em seus passos. Sua pele branca contrastava com as luzes coloridas do lugar, suas curvas eram chamativas e desviei o meu olhar antes que começasse a pensar alguma besteira, ela era o tipo de mulher que eu jamais me envolveria.Após finalizar minha segunda dose e me servir da terceira, meu olhar se voltar novamente para a garota que agora parecia ainda mais tensa ao dançar, percebi que havia um homem muito próximo do palco e aquela cena prendeu minha atenção. Após alguns minutos ela desceu da barra e nesse momento vi sua perna sendo puxada pelo homem que a assistia fazendo-a cair sentada, ela foi puxada até ficar de pé de frente para aquele sujeito. Uma das luzes dos refletores iluminou o rosto do homem é foi quando vi que o conhecia.HectorSlawgard era filho de um magnata de uma rede de transportadoras, meu pai já fez negócios com eles. Logo que assumi a presidência cortei qualquer tipo de relação com eles, de acordo com algumas informações que obtive, soube que estavam enterrados até o pescoço em negócios ilícitos.A garota tentou se soltar, mas aparentemente Hector a segurava ainda mais forte. Olhei ao redor e compreendi que ninguém iria ajudá-la, pois ele provavelmente causava medo na maioria das pessoas que estavam ali. Fiquei surpreso ao ver a garota desferir um soco em seu nariz, o que pareceu deixá-lo ainda mais furioso e foi naquele momento que eu soube que teria que fazer algo.Caminhei o mais rápido que pude.— Acho que seria interessante que o senhor soltasse a garota — falei com firmeza.Olhei em direção a garota que me encarava com olhos arregalados e o corpo trêmulo.— Olha só quem temos aqui — disse dando uma risada de escárnio — Desde quando Sparting salva donzelas em perigo? — empurrou a garota fazendo com que ela caísse no chão.— Hector, deixe a garota em paz — mantive os olhos na garota que tentava se levantar do chão.— E se eu não quiser? Você vai fazer o que? — Se aproximou ficando cara a cara comigo.— Não quero confusão — E realmente não queria. A única coisa que queria naquela noite era beber até perder os sentidos e não me lembrar de como cheguei ao meu apartamento.— Então você não está no seu dia de sorte — Após ouvi-lo pronunciar essas palavras, senti a pancada da cabeça de Hector sobre a minha testa me deixando atordoado, minha única reação foi lhe desferir um soco no nariz que ainda sangrava pelo soco da garota. Para minha sorte ele cambaleou e teria caído se não fosse amparado por um homem grande e corpulento junto do mesmo segurança de traços orientais da despedida de solteiro de Frank.— Dê o fora daqui — gritou o homem.Aquilo só me fez ter certeza do que eu já imaginava, Hector tinha carta branca para fazer o que quisesse naquele local.— Vocês não viram o que esse cara fez? — gritei fora de mim — Ele praticamente agrediu uma de suas funcionárias — apontei para a garota que olhava para tudo horrorizada.— Pega as suas coisas e suma daqui. Eu te disse para tratar um dos meus melhores clientes bem e olha o que você fez!— Mas Philip...— A garota tentou argumentar com a voz embargada pelo choro.— Saia daqui. Você era uma merda como dançarina, não sei onde estava com a cabeça quando permiti que você trabalhasse aqui — gritou e a garota tremeu.— O que você ainda está fazendo aqui, playboy? Eu mandei você dar o fora!Olhei para a garota que abaixou a cabeça e saiu, percebi que ela foi amparada por uma mulher loira que a abraçou. Peguei algumas notas que estava na minha carteira e coloquei sobre a mesa pagando pela garrafa de whisky.Olhei mais uma vez para Hector e vi que uma das dançarinas colocava gelo em seu nariz.Ele deu um sorriso maléfico e esbravejou.— Isso não vai ficar assim, Sparting.Sai daquele lugar no mesmo instante que uma tempestade torrencial começou a cair. Corri até o meu carro, tirei meu blazer molhado e joguei no banco traseiro. Ao acionar a partida e ligar o limpador de para-brisa, me deparei com a visão da garota sendo jogada no chão por um dos seguranças da boate. Ela estava furiosa, proferiu inúmeros palavrões enquanto guardava os seus pertences que caíram de sua bolsa na queda.Pude ver que seus cabelos eram pretos e algumas mechas estavam grudadas em seu rosto devido à chuva. Assim que terminou de juntar tudo, ela permaneceu de joelhos e levou as mãos em direção ao rosto enquanto seus ombros tremiam pelo choro.Foi invadido por um sentimento de culpa, mas se não tivesse me levantando e a ajudado a se livrar de Hector, quem sabe em que estado ela estaria agora? Lembrei de uma notícia antiga na qual Hector foi acusado de agredir sua ex-namorada e deixá-la em coma.Por um momento me senti responsável por aquela garota e sabia que iria me arrepender amargamente do que eu estava prestes a fazer.JeffDesci do carro e para minha sorte a chuva havia diminuído. Ela percebeu minha aproximação e se levantou rapidamente, passou a mão pelo rosto para esconder as lágrimas e borrou ainda mais a maquiagem carregada que usava.— Fica longe de mim — falou com a voz trêmula e raivosa.— Ei, fica tranquila, só quero conversar. — disse tentando acalmá-la.— Não tenho nada para conversar com você — respondeu grosseiramente. Foi quando mais uma vez tive o deslumbre dos seus olhos, eles tinham uma cor indecifrável, castanhos com alguns tons esverdeados que no momento faiscavam.— Qual o seu nome? — perguntei.— Blue — respondeu cruzando os braços e cobrindo a estampa engraçada da sua blusa amarela que não consegui decifrar.— Seu nome de verdade. Acho que ninguém se chame Blue — falei coçando a nuca e tentando ser descontraído.— A filha da Beyoncé se chama Blue — cruzou os braços — Cara, o que você quer comigo?— No momento, só saber o seu nome.— Olha, se você quer que eu te agradeça por ter
KathyEu tentava processar tudo o que aconteceu em poucas horas. Jeff me defendeu de Hector e fui jogada para fora da boate como se fosse lixo. Certamente aquela seria a noite mais movimentada da minha vida! Queria que Judith pudesse me ver agora, ela sempre dizia que eu era careta e ficaria surpresa em saber o quão movimentada a minha vida estava, não nos falávamos há dois meses, ela mudou o número do telefone, também visualizava meus directs no Instagram, não respondia e eu dizia a mim mesma que ela só estava ocupada demais com a faculdade.Agora eu estava parada perto da porta de saída do Burger King tentando digerir novamente tudo aquilo o que Jeff falou. Por que um homem como ele queria me contratar para fingir ser sua namorada? Ele só podia ser maluco e o melhor que eu tinha a fazer era ir para casa.— EU PAGO 100 MIL DÓLARES! — Ele gritou, me fazendo paralisar no lugar — Ele só podia estar brincando! Ouvi o barulho ensurdecedor de uma bandeja de metal que um dos atendentes der
Kathy— Você mora aqui? — Ele perguntou olhando mais uma vez para o meu prédio antes de estacionar.— Sim, foi endereço que te dei, não foi? Algum problema?— Problema nenhum, só parece um pouco perigoso — respondeu sem graça. Eu sabia muito bem o quanto meu bairro era perigoso e como meu prédio era horroroso.— Eu disse que não precisava me trazer — tirei o cinto de segurança e abri a porta para sair dali ao perceber que tinha me equivocado ao pensar que ele fosse um cara legal, mesmo possuindo muito dinheiro — Se quiser, pode desistir do combinado, percebi que você está desconfortável — disse assim que sai.— NÃO! — Ele quase gritou, me assustando — Não é o que está pensando, é que é um lugar um pouco perigoso.— É o que posso pagar. Tenho que ir, estou exausta.— Tudo bem, não deixe de me contatar amanhã, nossa primeira aparição juntos vai ser daqui três dias — falou segurando firme a direção do carro.— Tudo bem, dois dias, já passou da meia noite — senti um frio na barriga.— Iss
Jeff Eu estava esperando uma mensagem ou ligação de Katherine desde o momento que acordei depois de três horas de sono naquela manhã com a Maddie berrando, estava começando a odiar aquela coisa que todos diziam ser revolucionária. Me levantei e caminhei como um zumbi para o banheiro, não estava com ânimo nenhum para a academia e certamente Patrick me ligaria para falar o quanto estava sendo irresponsável com meu corpo. Eu estava arrependido de passar boa parte da madrugada pensando se meu plano de deixar Bervely com ciúmes daria certo.Entre uma reunião e outra, olhava meu celular na esperança de que Katherine tivesse me contatado, mas nenhuma das chamadas e mensagens de números desconhecidos pertenciam a ela. Acreditei que poderia ligar para o telefone fixo, e toda vez que minha secretária me contatava para passar uma ligação, sentia um frio na barriga. Ela não poderia ter desistido, eram 100 mil dólares em jogo e depois de ver o lugar que ela morava, tive plena certeza de que pre
KathyEu pensava em Jeff enquanto voltava para casa e em como ele era estranho. Não um estranho ruim, mas um estranho que o fazia diferente da maioria dos homens. Jamais imaginaria que qualquer outro homem fosse capaz de contratar alguém para fazer ciúmes na ex-mulher para que ela desistisse de se casar com outro, ainda mais um homem que poderia conseguir qualquer mulher sem ter que gastar um centavo por isso. E lá estava eu mais uma vez lembrando do quanto Jeff era bonito.Toda vez que o pensamento sobre a beleza dele vinha a minha mente, eu automaticamente afirmava a mim mesma um sonoro não. Mesmo que ele fosse o homem mais bonito e charmoso do universo, eu jamais me interessaria.Cheguei no meu prédio e subi as escadas correndo, ansiosa por um tempinho com as pessoas que mais amava no mundo.— Kathy, você veio cedo. Eba! — gritou empolgada e tentou se levantar do sofá, lugar onde ela vivia maior parte do tempo depois que consegui assinar Netflix com o dinheiro extra da boate. Sei q
KathyHavia chegado cedo na lanchonete. Organizei alguns pratos e fiz alguns cafés, o movimento estava muito baixo e David estava preocupado com a diminuição de clientes no decorrer dos últimos dias, os únicos horários em que ficava cheio era no almoço.As gorjetas estavam cada vez menores e procurava não reclamar, não estava sendo fácil para ninguém, aparentemente a crise financeira estava batendo na porta de todo mundo. Eu só conseguia pensar nos remédios de Maddie e com o aluguel, pois só com o meu salário não conseguiria arcar com tudo. Por um momento me senti tentada a ir pelo caminho mais fácil, voltar até a boate e implorar pelo meu emprego de volta ou até me mesmo ligar para Jeff e dizer que iria fazer parte daquele plano ridículo, mesmo que o plano fosse apenas para me humilhar.Eu estava a uma meia hora espirrando e como o movimento estava fraco, David pediu para que organizasse o depósito, este que parecia que tinha uma década que ninguém o limpava. Peguei alguns materiais
JeffEsperava Katherine encostado no meu carro e estava esperançoso. Ela saiu do lugar pisando duro. Agora sem o uniforme, usava uma calça jeans que parecia dois números maior do que deveria usar e uma camiseta preta com um alienígena estampado, qualquer pessoa do meu convívio que me visse com alguém vestido daquela maneira acreditaria que eu havia surtado de vez.— Você vai ficar parado aí me olhando ou vai me levar para casa? — alfinetou, me olhando com os olhos faiscantes.— Vamos — fui em direção a porta do passageiro, abri para que ela entrasse e realmente não entendi o porquê de ter feito isso.— Tão cavalheiro — revirou os olhos debochando e preferi ignorar.— É um hábito.Enquanto dirigia, Katherine permaneceu calada e estava começando a ficar tenso.— Me diga Katherine, quais são suas exigências? — perguntei curioso.— Não sei como dizer isso, mas se você quer que eu finja ser sua namorada, vamos ter que fazer isso direito, porque minha mãe vai começar a me questionar quando
KathySubi as escadas rapidamente. Assim que abri a porta, dei de frente com minha mãe com os braços cruzados e uma feição de poucos amigos.— Oi mamãe — fui em sua direção lhe abraçar.— Não me venha com “Oi mamãe”, Katherine, quem te trouxe? — Me perguntou e se afastou.— Mamãe!— Nada de mamãe, quem era o grã-fino que te trouxe, Katherine? Eu posso ser burra, mas sei que aquele carro daria vinte apartamentos desse. Vi pela janela quando você desceu daquele carro. Pode começar a falar — torceu o nariz e fez um semblante assustador.Eu teria que contar para minha mãe sobre Jeff , ou melhor, mentir sobre esse namoro. Estava planejando contar no dia seguinte durante o café da manhã, porém, a curiosidade da dona Teresa fez meu plano ir por água abaixo.— Então mamãe, conheci uma pessoa.— Katherine, você não está fazendo coisa errada? Pelo amor de Deus! — Se jogou no sofá com as mãos na cabeça.— Não mamãe! Conheci o Jeff na lanchonete e nos apaixonamos.— Jeff é o nome do homem que tro