Capítulo 6

Kathy

Eu tentava processar tudo o que aconteceu em poucas horas.

Jeff me defendeu de Hector e fui jogada para fora da boate como se fosse lixo. Certamente aquela seria a noite mais movimentada da minha vida! Queria que Judith pudesse me ver agora, ela sempre dizia que eu era careta e ficaria surpresa em saber o quão movimentada a minha vida estava, não nos falávamos há dois meses, ela mudou o número do telefone, também visualizava meus directs no I*******m, não respondia e eu dizia a mim mesma que ela só estava ocupada demais com a faculdade.

Agora eu estava parada perto da porta de saída do Burger King tentando digerir novamente tudo aquilo o que Jeff falou. Por que um homem como ele queria me contratar para fingir ser sua namorada? Ele só podia ser maluco e o melhor que eu tinha a fazer era ir para casa.

— EU PAGO 100 MIL DÓLARES! — Ele gritou, me fazendo paralisar no lugar — Ele só podia estar brincando! Ouvi o barulho ensurdecedor de uma bandeja de metal que um dos atendentes derrubou no chão ao se assustar com o grito do meu novo “amigo”.

Respirei fundo e caminhei até a mesa onde permanecia sentado, ele estava pálido e percebeu a merda que tinha feito.

— Você é muito discreto, Jeff . 100 mil dólares? Onde estão as câmeras escondidas? — falei ao me sentar. Aquilo só podia ser pegadinha, nunca em meus 19 anos de vida ninguém, além dos meus pais e Judith, foi capaz de fazer qualquer coisa por mim, ainda mais algo como entrar em uma briga com um homem completamente alterado para me defender como se eu fosse importante. Não que não fosse, mas Jeff nem sabia o meu nome antes de fazer aquilo e agora vem com essa história de me contratar para ser sua namorada por toda essa grana. Era surreal demais até para mim, que sempre acreditou em coisas como abdução alienígena e dimensões paralelas.

— Katherine, minha proposta é séria, eu pago os 100 mil — disse quase sussurrando.

Com toda a certeza Jeff é muito rico, só carro valia mais que 100 mil dólares, mas eu não conseguia compreender porque fez essa proposta a mim. Passei os olhos sobre ele pela décima vez e confirmei mais uma vez o quanto era bonito, ele não precisava de mim. Com esse dinheiro, poderia contratar uma modelo ou atriz muito mais interessante que uma simples garçonete.

Senti minha boca seca e me levantei deixando minha bolsa sobre a cadeira. fui até o balcão e pedi um refrigerante pequeno. Precisava de algo para me ajudar a engolir tudo aquilo. Olhei para a mesa e Jeff me olhava com os olhos suplicantes, peguei a pepsi e voltei para a mesa.

— Katherine, isso é bem mais do que você conseguiria trabalhado em um ano naquela boate. Pelo que percebi, você não estava feliz com o seu trabalho — Eu gostei de ouvi-lo pronunciar o meu nome, era tão comum pedir para me chamarem de Kath logo que me apresentava, porém, gostei do tom de sua voz quando dizia Katherine.

— Você não sabe nada sobre mim.

— Você disse que precisava do dinheiro que ganhava lá para ajudar sua mãe e irmã, em nenhum momento disse que estava trabalhando por que gostava — O filho da mãe era observador, eu realmente não gostava daquele lugar, o que me fazia continuar era o dinheiro. E só de pensar em Hectore no que ele poderia ter feito se Jeff não tivesse o confrontado, sinto calafrios.

Estava grata por ele ter feito algo que nenhum dos babacas dos seguranças da boate foi capaz de fazer, não que eu esperasse, até porque Hectortinha carta branca naquele lugar. Aquele dinheiro seria a solução dos meus problemas, poderia pagar o tratamento de Maddie e os remédios de mamãe, me mudar para um lugar mais confortável e pensar nas duas pessoas que eu mais amava nesse mundo fez com que me sentisse tentada em aceitar a proposta de Jeff .

— Suponhamos que aceite. Como isso vai funcionar? — levei o canudo do refrigerante a boca e suguei quase todo o conteúdo do copo

— Podemos estipular um prazo, acredito que quatro meses seja o suficiente. Se as suposições estiverem certas, Bervely irá se casar dentro desse prazo, então é tempo suficiente para que ela desista dessa sandice — soltou um longo suspiro e pude notar a tristeza em seu olhar. Ele realmente amava aquela mulher e me perguntei se algum dia encontraria alguém que me amasse com tanto fervor.

— Você começaria a fingir no sábado, é o jantar de noivado dela com o imbecil e chegar nele acompanhado será uma surpresa para Bervely e seus convidados.

— Quem em sã consciência chama o ex-marido para o seu noivado? — cruzei os braços.

— Nos Tornamos grandes amigos após a separação — justificou.

— Eu ainda acho que você está maluco. Sabia que isso não é saudável?

— Você precisaria apenas me acompanhar e agir como apaixonada, pagarei 50 mil no sábado e 50 mil assim que eu e Bervely voltarmos. Tenho plena certeza que será antes de quatro meses.

— O que seria agir como apaixonada? — questionei.

Ele ficou calado por alguns segundos como se estivesse formulando uma resposta.

— Bem, você pode sorrir para mim o tempo todo, ser carinhosa e... talvez... — Ele fez uma pausa e coçou a nuca — Precisaremos nos beijar quando ela ou algum conhecido nosso estiver por perto — sussurrou.

— Sem chance, nada de beijos — falei. Soube que minha recusa não ia dar em nada, se realmente quiséssemos que aquilo funcionasse, eu teria que beijá-lo, e pensando bem, não seria um sacrifício tão grande devido aos seus atributos físicos.

— Não precisa ser um beijo de cinema. No máximo alguns selinhos, eu não ficaria confortável com a língua de alguém na minha boca em público — senti minhas bochechas arderem, sentia que estava ruborizada.

— E se você se apaixonar por mim? — perguntei tentando ser engraçada para disfarçar meu embaraço, mas me arrependi no segundo que falei, peguei o copo de refrigerante, levei o canudo na boca e suguei o resto de refrigerante.

Ele deu um sorriso ao ouvir o barulho constrangedor que indicava que o refrigerante acabou.

— Fique tranquila, Katherine. Eu jamais me interessaria por você, além do mais, estamos fazendo isso porque amo a minha mulher — Não sei o motivo, mas senti um pequeno desconforto com aquelas palavras. Balancei a cabeça em negação auto afirmando que aquilo era apenas o meu ego me cutucando.

Eu precisava muito daquele dinheiro e não seria difícil fingir ser a namorada de alguém. Por mais bizarro que aquilo possa ser, por um momento me senti como a garota do filme Namorada de aluguel, a única diferença é que o homem sentando na minha frente era muito mais gato que o Patrick Dempsey.

— Ok, vamos fazer isso — falei rapidamente como se estivesse arrancando um band-aid de um machucado.

— Tenho certeza que logo estará liberada da sua função. Estou feliz que tenha aceitado, vai poder ajudar a sua mãe e irmã sem correr nenhum risco — falou empolgado enquanto pegava algo no bolso.

— Esse é o meu cartão, pode me ligar ou me mandar uma mensagem para combinarmos tudo com mais calma — estendeu um cartão de visita com seu nome e telefone.

— Certo, eu te ligo. Agora preciso ir — estava ficando tarde e estava esgotada demais para encarar ônibus e o metrô, peguei minha bolsa e lhe dei um sorriso amarelo.

— Eu te levo em casa — ofereceu e se levantou. Claro que me levaria, ele deveria ter alguma síndrome de salvador ou algo do tipo.

— Não precisa, vou pedir um Uber — falei enquanto caminhava até a porta.

— Isso não está em discussão — Me seguiu insistindo.

— Se entrar com esse carro no meu bairro, você corre o risco de ficar sem ele — dei uma risada. Dado o bairro que eu morava, isso era possível de acontecer.

— Vou correr o risco, tenho mais alguns carros — deu uma piscadela que fez com que sentisse um frio na barriga — Vamos — falou, abrindo a porta do carro para que eu entrasse.

Entrei e me sentei no banco de couro mega confortável enquanto o observava entrar no carro. A forma como ele se movimentava parecia que havia saído de algum filme do 007, seu charme e elegância era semelhante à do charmoso espião. Procurei meu celular na bolsa para ter algo para prender minha atenção que não fosse o mister testosterona dirigindo ao meu lado e para o meu azar, ele estava sem bateria.

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