Capítulo 5

Jeff

Desci do carro e para minha sorte a chuva havia diminuído. Ela percebeu minha aproximação e se levantou rapidamente, passou a mão pelo rosto para esconder as lágrimas e borrou ainda mais a maquiagem carregada que usava.

— Fica longe de mim — falou com a voz trêmula e raivosa.

— Ei, fica tranquila, só quero conversar. — disse tentando acalmá-la.

— Não tenho nada para conversar com você — respondeu grosseiramente. Foi quando mais uma vez tive o deslumbre dos seus olhos, eles tinham uma cor indecifrável, castanhos com alguns tons esverdeados que no momento faiscavam.

— Qual o seu nome? — perguntei.

— Blue — respondeu cruzando os braços e cobrindo a estampa engraçada da sua blusa amarela que não consegui decifrar.

— Seu nome de verdade. Acho que ninguém se chame Blue — falei coçando a nuca e tentando ser descontraído.

— A filha da Beyoncé se chama Blue — cruzou os braços — Cara, o que você quer comigo?

— No momento, só saber o seu nome.

— Olha, se você quer que eu te agradeça por ter me defendido lá dentro, já te digo que não vai rolar — Ela abriu a bolsa e começou a procurar por algo.

— Mas se eu não tivesse impedido...

— Toda essa confusão me fez perder o emprego e tenho uma mãe e uma irmã doente para cuidar. Então, se você não tivesse se metido, eu ainda teria o meu emprego.

— Garota, aquele imbecil estava te machucando, só quis te ajudar — tentei argumentar.

— Que bela ajuda, não é mesmo? — deu uma risada debochada.

— Podemos conversar em outro lugar? Acho que posso te ajudar.

— Eu não vou a lugar algum com você — empinou o nariz.

— Acho que você deve ter percebido que não tenho intenção alguma de te fazer mal. Poderia me dar um voto de confiança pelo menos? — senti a chuva antes fina começar a engrossar — Vamos conversar em outro lugar, te garanto que você está segura comigo. Meu nome é Jeff Sparting, pode pesquisar sobre mim no G****e, te garanto que vai estar segura comigo.

— Podemos conversar aqui. O que você quer? — A chuva se intensificou.

— Aqui? Você tem certeza? Vamos acabar pegando um resfriado.

— Certo, vou com você — disse passando por mim e batendo seu ombro contra meu braço — Mas vou deixar uma coisa bem claro... — Se virou para mim — Eu não vou transar com você.

Não pude conter o riso. A última coisa que queria com aquela garota era sexo. As palavras de Rick e mamãe sobre levar alguém para mostrar para Bervely que estava bem havia entrado na minha mente e eu estava prestes a pagar aquela garota para que ela fingisse ser minha namorada. O objetivo real não era só mostrar para Bervely que eu estava bem com outra pessoa, era fazer com que ela sentisse ciúmes e percebesse o quanto ainda me amava.

— Pode confiar em mim, aquele é o meu carro, pode tirar foto da placa e enviar para alguém de confiança — apontei para o meu Porsche.

Ela me olhou desconfiada, mas caminhou comigo até o carro.

— Entre — falei após destravar o carro e ela me olhou desconfiada mais uma vez.

— Só posso estar ficando louca — bufou, abriu a porta e entrou.

Ela se encolheu no banco e era perceptível o seu desconforto.

— Pode confiar em mim, não vou te fazer mal — comentei na esperança de que ela relaxasse.

— Katherine — murmurou.

— O que? — questionei.

— Meu nome é Katherine, mas pode me chamar de Kath, meu nome é grande demais — disse sem me olhar e colocou o cinto de segurança em seguida.

— Muito prazer, Katherine. Sabe de algum lugar aqui perto que podemos conversar? — perguntei dando partida e manobrando para sair dali. Fiquei satisfeito por ela ter me dito o seu nome, era sinal de que estava se sentindo um pouco mais segura na minha presença.

Ela deu de ombros, pegou o celular e começou digitar.

— Pode ser no Burger King que fica logo no final da outra rua. Estou com fome.

Assim que descemos no restaurante, percebi que ela tremia de frio, pensei em lhe dar o meu blazer, porém, me lembrei que ele estava ensopado devido à chuva que tomei ao sair da boate.

— Podemos sentar ali? — perguntou apontando para um canto mal iluminado da lanchonete.

— Podemos sim, claro.

— Você vai comer? — me encarou e pude ver melhor o seu rosto devido a iluminação do local que não era muito boa, mas em comparação com as luzes da boate, estava ótimo.

Era uma garota bonita, tinha um olhar marcante que casava perfeitamente com seu rosto fino simétrico e sua boca rosada delineada naturalmente. E mesmo com a maquiagem borrada, ela ainda chamaria a atenção por onde quer que passasse. Percebi que minha ideia não seria tão ruim, com certeza Bervely ficaria incomodada com a beleza da garota e surtaria de ciúmes.

— Ei cara, te perguntei se você vai comer — disse me dando um tapa seco no braço.

— Não, eu não estou com fome — passei a mão por cima de onde ela me acertou, a garota tinha uma mão pesada.

— Certo, então você pode sentar lá e guardar o meu lugar — falou entrando já fila onde havia apenas um garoto de uns quinze anos na sua frente.

— Pegue, é só aproximar da máquina de cartão — saquei o meu cartão da carteira para que ela pudesse pagar pelo o que comprasse.

— O que isso? — questionou.

— É o meu cartão para você pagar — estendi em sua direção novamente.

— Ficou doido? Eu posso pagar pelo meu lanche! Vai se sentar antes que alguém pegue o lugar!

Achei melhor não discutir, caminhei até a mesa indicada e me sentei sobre a cadeira de plástico. Não me recordava de como era uma rede de fast-food, a última vez que frequentei um lugar como aquele eu ainda era um adolescente.

Esperei por alguns minutos até ela surgir com uma bandeja com batatas fritas, um hambúrguer de tamanho generoso e uma pepsi. Sem cerimônia alguma ela pegou o hambúrguer e deu uma mordida satisfatória.

— Você pode me falar a sua idade? — perguntei fazendo uma prece aos céus para que ela fosse maior de idade

— Tenho 19, quase 20. Por que? — respondeu com a boca cheia e eu quase sorri aliviado.

— Apenas fiquei curioso.

— Sei, e você? Qual sua idade?

— Tenho 35.

Ela me fitou com os olhos arregalados enquanto mastigava, pensei que ela fosse dizer algo pela reação, contudo, ela deu outra mordida no hambúrguer.

— Então Katherine, você pode me falar um pouco mais da sua mãe e irmã? — Quis quebrar o gelo.

— O que quer saber? — deu um gole no refrigerante.

— Você disse que elas estão doentes. O que elas têm?

— Minha mãe tem "ELA" Esclerose lateral amiotrófica e minha irmã tem leucemia. Com o dinheiro que eu ganhava trabalhando na Ange, ia conseguir custear o tratamento das duas.

— Você gostava de trabalhar naquele lugar? — perguntei curioso pela sua resposta.

— Na Ange? — soltou uma risada melodiosa — Não, nem um pouco, mas as gorjetas eram ótimas, não sei o que vou fazer agora — abaixou o olhar.

— Sinto muito — Foi a única coisa que consegui dizer. No fundo, acho que ter perdido aquele emprego foi a melhor coisa que aconteceu. Era visível a sua infelicidade em estar dançando na frente de homens que a viam como uma mercadoria.

— Sabe, o dinheiro não está fácil, minha mãe não pode trabalhar mais por causa das dores — molhou uma batata no catchup — Ela era uma ótima costureira, antes não sobrava dinheiro para os remédios, porque ela dizia que os de Maddie eram prioridade, mas no último mês consegui comprar todos com o que ganhei dançando.

— Maddie? É a sua irmã? Que idade ela tem? — perguntei sentindo um aperto no peito, ela não era só uma garota como qualquer outra. Katherine certamente já havia passado por coisas que nenhuma outra da sua idade sequer pensou em passar.

— Ela tem oito e é muito inteligente. Você quer? — Me ofereceu a metade do sanduíche mordido ainda com a boca cheia. Sua irmã tem a idade que Marianne tinha quando partiu, saber disso fez com que eu ficasse ainda mais interessado em ajudá-la.

— Não, obrigado. Estou tentando não comer carne — respondi e ela voltou a comer.

— Eu tentei ser vegana uma vez, mas desmaiei no segundo dia — limpou o resquício de molho no seu rosto com um guardanapo de papel — Você disse que poderia me ajudar. Como?

— Tenho uma proposta para te fazer.

— Eu disse que não vou transar com você — fechou a cara e fez menção de se levantar.

— Calma, Katherine — toquei seu braço — Minha proposta não envolve sexo. Eu quero contratar você para um tipo diferente de trabalho.

— Não estou gostando disso.

— Me deixe terminar, por favor — praticamente implorei — Quero contratar você para que finja ser minha namorada e me acompanhe em alguns eventos.

— Você é maluco — balançou a cabeça e gargalhou.

A encarei seriamente.

— Você está falando sério?

Balancei a cabeça positivamente.

— Você já se olhou no espelho? É o tipo de cara que não precisa pagar ninguém para fingir ser sua namorada, você pode conseguir uma namorada num estalar de dedos.

— Não quero uma namorada de verdade, quero alguém que finja.

— Acho que tem álcool nesse refrigerante — olhou para o copo.

Respirei fundo e contei toda minha história com Bervely, falei do quando ainda amava minha ex-mulher, do quanto estava arrasado por ela estar noiva de outro e que precisava de alguém para fazê-la sentir ciúmes.

Ela ouviu tudo com uma expressão enigmática e parecia se segurar para não rir em alguns momentos.

— Não seria mais fácil você ir atrás da sua ex-mulher e pedir para ela não se casar? — levantou a sobrancelhas como se estivesse dizendo o óbvio.

— Eu tentei. Você é a minha última esperança, Katherine.

— Olha, valeu pela conversa e por ter me defendido, mas acho melhor você contratar uma modelo ou uma atriz, tenha uma boa noite — pegou a sua bolsa e se levantou.

— EU PAGO 100 MIL DÓLARES! — falei a plenos pulmões e ouvi o barulho de algo caindo no chão. Vi que um dos atendentes havia deixado uma bandeja cair no chão ao se assustar com o meu momento de insanidade.

Olhei na direção de Katherine e vi que ela me encarava com uma expressão indecifrável.

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