Olivia
Duas semanas depois “Você sabe que não vai conseguir ninguém melhor que eu, Olivia ”, aquela frase do meu ex-namorado ecoava na minha mente, enquanto eu arrumava minhas coisas em uma mala. Ele adorava me dizer isso e aquela frase que, certo dia, me fez despertar da inércia que mantive por anos. Eu adorava ser desafiada, então encarei isso como um desafio. Aquele era o tipo de coisa que ele adorava fazer; destruir minha auto estima, ferrar com a minha mente e depois colar os pedacinhos, só para quebrar de novo. Era o tipo de comportamento narcisista que demorei a entender. Quando entendi, já estava em uma teia enorme que custou cinco anos para sair. Passei cinco anos me sabotando e destruindo meu psicológico, porque eu achava que era culpada por ele não me amar, por não sentir desejo e me trair com qualquer coisa que se mexesse. Quando cai na real, descobri que não o amava, só era emocionalmente dependente. Como uma droga em meu sistema. E então demorei meses para vir aqui e pegar minhas coisas. E, se não fosse pela insistência da Hannah, eu nem viria. Mas agora acabou. Quando você desperta, você só consegue ver os defeitos. Eu não gostava do seu toque, seu cheiro, seu cabelo que só vivia oleoso. Ele cheirava sempre a erva e sabonete. Às vezes um suor peculiar, que no começo até gostava, mas depois começou a me incomodar. Sem contar que às vezes ele era abusivo e despertava o meu pior lado. Quando finalizei, notei que havia deixado uma mala de coisas no apartamento dele. Isso era coisa demais para deixar na casa do namorado. Também passava tempo demais lá, como em um maldito casamento. Olhei para a porta do quarto e o Miles estava lá, vestido na sua calça ridícula tribal, que ele sempre vestia sem cueca e sempre dava para notar quando ele andava. Odiava tanto aquela calça, mas odiava mais como ele virou a droga de um hippie ao longo dos anos. Olhei em volta da casa, e era exatamente a casa de um surfista hippie. Uma prancha de surfe na sala, um violão decorado com arte de rua, cortina de miçangas e um baita cheiro de incenso. Meu Deus, como eu odeio incenso. E, claro, não podemos esquecer o enorme narguilé na mesa da sala. — Para onde você vai? — sim, ele ainda tinha coragem de perguntar. — Para casa! Nós terminamos, lembra? — Eu pensei que você iria reconsiderar, Olivia. Eu já conversei com você. Por conversar, ele quer dizer que me humilhou me falando como serei inútil sem ele. Enfio o resto das coisas na mala e forço para ela fechar. — Que merda é essa agora, Olivia? Você nunca foi assim. Qual o seu problema, é aquela sua amiga colocando coisas na sua cabeça? — Por que nunca é você, Miles? — E qual o meu problema? Eu não tenho culpa de você ter dificuldade de se relacionar. — O olho furiosa. Queria esganá-lo, mas penso que talvez ele realmente tivesse uma séria dificuldade em assumir suas falhas. — Está bem, vamos supor que seja eu. Então encare isso como algo bom. Você está se livrando de mim. — Arrasto minha mala até a porta. — Não podemos só dar um tempo? — Já demos várias vezes e não deu certo. — Mas você sabe que te amo, gatinha. Somos bons juntos. Não podemos tentar mais um pouco e fazer aquela viagem para o Havaí? — Com o dinheiro dos seus pais? — Isso é sobre o trabalho? Porque eu posso arrumar um emprego. — Isso é sobre o conjunto da obra, Miles. Olha para você. Seu nome é Miles, mas parece mais que se chama Bem, Jasper ou Indra. — Não estou entendendo — ele aperta os olhos, confuso. — Exatamente. Você não consegue entender meus trocadilhos com nomes de Hippies, nem as minhas piadas. Nós não temos conexão nenhuma. Eu me arrumo toda para sair e você vai de shorts, chinelo, ou com essa calça tribal horrorosa. — Você não gosta da minha calça? — ele me olha chocado com a recente descoberta. — Não é sobre a calça, é o conjunto da obra. Nós não somos compatíveis. É isso! — solto o ar com um bufo ruidoso. Eu me sinto aliviada, essa é a verdade — Se é isso que você quer, tudo bem, gata. Mas vou ser sincero, você não vai arrumar ninguém melhor do que eu. Naquele momento, tive que decidir entre esculachar o meu ex-namorado até a última geração dele, ou sair de fininho, sem ferir ainda mais o ego de um homem de calça tribal. Optei por evitar o conflito mais uma vez. Estava fazendo muito ultimamente.Olivia Deixo as coisas no meu apartamento e vou direto para a empresa. Estávamos em processo de mudança de nome chefia, já que o CEO da empresa foi demitido no ato da venda. A Johnson Designer era uma das maiores empresas de arquitetura de Nova York e foi vendida para um magnata de negócios que, com certeza, não entendia nada de arquitetura. O homem estava no ramo de hotelaria, inclusive estava trabalhando no projeto do novo hotel dele. Ainda não conhecia o meu novo chefe e dono da empresa. Quando ele visitou a empresa uma semana atrás, estava de licença médica por uma virose, e acabei perdendo o grande evento. Só consegui uma foto dele de costas enviada Hannah com o título: “O novo chefe é uma delícia. Você perdeu.”. Até pesquisei Ethan Wolfe na internet, mas o homem parecia um fantasma. Por outro lado, Hannah, com todo seu potencial em ser a maior fofoqueira de todas, descobriu que o cara comprou a empresa do padrasto dele, o senhor Johnson. Eles tinham alguma briga de eg
EthanReleio o último e-mail daquele projeto de arquiteta sênior. Eu definitivamente iria demiti-la, mas gostaria de fazer pessoalmente, olhando-a nos olhos. Mas antes, eu iria oferecer dinheiro para fazê-la minha secretária. Se ela aceitasse, iria fazê-la desistir em menos de 24 horas após humilhar até a sua última geração. Ela tinha aflorado todos os meus sentidos mais macabros com um só e-mail. Ninguém nunca me deixava esperando, tinha o que eu queria, exatamente como eu queria. Nenhuma mulher ia me colocar em um cabresto novamente. Nunca mais.Observo o currículo da garota na tela do meu computador. Ela tinha grandes feitos. Muito jovem para o cargo dela. Vinte e três anos de pura arrogância. Bolsista em uma ótima universidade, ótimas notas, melhor aluna da classe. Ela também é brasileira, o que é bem interessante. Fico pensando porque o Johnson deu tanta credibilidade a ela. Será que eles tiveram um caso? Não, Ethan, não leve sua mente para isso.Mas de toda forma, vou ter que
EthanPassadoSenti um beijo molhado em minhas bochechas e uma mão acariciar meu rosto levemente. Abri os olhos e estava escuro, mas tinha uma fresta de luz saindo da porta, que me permitiu ver o rosto da minha mãe.— Oi, querido. A mamãe veio te dar um beijo de boa noite.— Mas a senhora já fez antes de eu dormir, lembra?— Sim… — ela engoliu a saliva, sua voz parecia embargada, mas como estava escuro, eu não conseguia ver seu rosto. — Mas a mamãe vai precisar fazer uma viagem.— Uma viagem? Para onde? Espere, que eu vou me arrumar em um minutinho e vou com você. — Coloquei os pés para fora da cama, mas ela me segurou.— Não, querido. Hoje a mamãe não vai poder te levar. Você vai ficar com o seu pai.— Ele não é meu pai, mamãe. Ele é o meu padrasto. — Franzi a testa, com raiva.— Ele quem te criou, e é o único pai que você tem, Ethan. Ele te deu um nome. Lembra do que eu te falei? Você precisa se comportar e ser um bom menino, entendeu?— Até quando eu preciso ser um bom menino? Quan
Olivia Presente Um furacão em forma de homem entrou na empresa em que trabalho. Ela esbarrou em mim e quase me levou ao chão. Não vi seu rosto, apenas um vislumbre de seu corpo; ombros largos, corpo bem torneado em um terno caro de três peças. Ele sequer se desculpou, apenas passou por mim e entrou na sala do presidente da empresa. E foi lá que tudo desmoronou. O furacão de um metro e noventa fez o dono da empresa proferir palavrões que eu nem sabia que existiam no inglês. Por mais que tentasse, não consegui ver o rosto dele. Ele se enfiou na sala e todo o drama começou. — Você não sabe o que aconteceu — a minha amiga Hannah fala ofegante. Ela estava rondando pela empresa tentando saber a fofoca. — Só me conte se for uma boa notícia. — Isso eu não sei ao certo. Eu só sei que o homem veio e acabou com tudo. — Como assim acabou com tudo? — A empresa. Foi vendida ou tomada eu não sei ao certo. Mas agora tudo vai mudar. — O que exatamente vai mudar? — Eu não sei, O
EthanNo alto da minha cobertura, apenas sinto o cheiro do poder que eu mesmo exalava. Finalmente o momento que ansiava havia chegado, o momento que planejei por anos; o momento em que Johnson estaria nas minhas mãos como um rato. Usei meu dinheiro para desarticular as empresas dele durante anos, afundar ao ponto que ele teria que vender. Era um bom negócio, uma boa empresa de arquitetura. Eu posso salvá-la agora que está nas minhas mãos e não nas dele. O prazer que tive por ter sido eu a dar a notícia, a expressão em seu rosto. Foi inigualável. Eu me sentia vitorioso. E não era apenas um terno caro, um relógio ou um carro de algumas milhões, era a minha mentalidade e atitude. Consegui o que poucos conseguiram mesmo vivendo uma infância traumática, porque eu tive força para correr atrás dos meus sonhos. Força e um empurrãozinho do meu lado vingativo.Peguei o pequeno negócio do meu padrasto e transformei em um império, tudo porque ele disse que eu era um bastardo miserável, incapaz