Capítulo 2

Ethan

No alto da minha cobertura, apenas sinto o cheiro do poder que eu mesmo exalava. Finalmente o momento que ansiava havia chegado, o momento que planejei por anos; o momento em que Johnson estaria nas minhas mãos como um rato.

Usei meu dinheiro para desarticular as empresas dele durante anos, afundar ao ponto que ele teria que vender. Era um bom negócio, uma boa empresa de arquitetura. Eu posso salvá-la agora que está nas minhas mãos e não nas dele.

O prazer que tive por ter sido eu a dar a notícia, a expressão em seu rosto. Foi inigualável.

Eu me sentia vitorioso. E não era apenas um terno caro, um relógio ou um carro de algumas milhões, era a minha mentalidade e atitude. Consegui o que poucos conseguiram mesmo vivendo uma infância traumática, porque eu tive força para correr atrás dos meus sonhos. Força e um empurrãozinho do meu lado vingativo.

Peguei o pequeno negócio do meu padrasto e transformei em um império, tudo porque ele disse que eu era um bastardo miserável, incapaz de conseguir qualquer coisa na vida. Eu o provei que o bastardo era, sim, competente. Agora, depois de comprar a última fatia da sua empresa, só preciso de paciência até que ele não tenha mais nada e dependa da minha compaixão.

O império Wolfe surgiu de um desejo de vingança e se transformou em uma gigante do império da hotelaria e arquitetura.

— O que você pretende fazer agora, Ethan? — meu amigo e advogado, Matt, questiona em tom apático, terminando de preparar os papéis que preciso para me livrar da última pedra no meu sapato.

É uma loucura pensar na merda que fiz em aceitar Ava na minha vida.

— Só me dê os papéis para que ela assine. Eu saberei o que fazer depois.

— Os papéis tudo bem, mas a segunda parte é um pouco… desumano. — ele insiste.

— Desumano foi o que ela fez, Matt. Ela traiu a minha confiança. Eu entreguei para ela o que nunca entreguei a ninguém, e o que ela fez?

— Ser traído não te dar direito de fazer o que quer, Ethan. Nós estamos lidando com duas vidas aqui.

— Me poupe da sua palestra, Matt. Já terminou os papéis?

Ele ergue as mãos em rendição e me entrega os papéis.

Quase que instantaneamente Ava aparece na escada, arrastando uma mala, uma expressão chorosa dominando suas feições.

Eu a odeio agora. Mal consigo pensar que algum dia sentir algum sentimento por ela além do ódio.

Matt se despede, me deixando sozinho com Ava.

Caminho até ela e jogo os papéis em seus braços.

— Assine.

— V-você é cruel, Ethan — ela fala chorosa.

— Se diz isso é porque me conhece bem, Ava — estendo uma caneta para ela. — Vamos, assine. Quanto mais rápido darmos início aos trâmites, melhor.

Ela solta a mala e pega a caneta, indo até uma parede e assinando os papéis. Tento não olhar para ela e focar naquele ponto específico do seu corpo que me causa ânsia.

— O que acontece agora?

— Você vai para o chalé. E vai ficar até lá até… — olho para sua barriga. — Até acontecer… — meu Deus, sequer consigo pronunciar. — Faremos o exame logo em seguida.

— Se você acreditasse na minha palavra.

— Suas palavras não valem de nada, Ava. Desde o dia que você dormiu com o meu melhor amigo.

Ela me lança um olhar horrorizado, voltando a chorar em seguida. Tenciono meu maxilar, o barulho dela chorando me deixando ainda mais furioso. Precisei de todo meu autocontrole para não cometer um ato hostil. Afinal, ela ainda tinha meu sobrenome.

— Por que eu faria isso? Por que eu procuraria outro homem igual a você, igual ao homem que está destruindo a minha vida?

— Você me traiu — grito furioso. — com o meu melhor amigo. Com um homem que eu considerava meu irmão. Você tirou algo de mim e eu vou tirar algo de você. É assim que funciona. Então é bom você rezar para que esse teste não seja favorável a mim, porque se for, eu vou tirá-lo de você. Você nunca mais vai vê-lo.

Ela abraça o corpo, agarrando aquela m*****a protuberância em sua barriga. Eu não consigo sequer olhar. Dou as costas para ela.

— Ethan, por favor... — ela choraminga.

— Suma daqui, antes que eu cometa uma atrocidade, Ava. O segurança está te esperando lá embaixo para levá-la.

Passam segundos e eu ainda consigo sentir a presença dela atrás de mim. Então ela fala:

— Entendo a sua raiva, e eu sinto muito. Eu não queria... — ela funga.

— Você não queria? Você tem certeza? Porque olhando para você gemendo debaixo do meu melhor amigo, parecia muito que você queria.

— Ethan, foi um erro você descobrir assim. Eu ia te contar.

— É mesmo? E o que você esperava que eu fizesse após saber? Que sorrisse e dissesse que está tudo bem você foder com o meu amigo? Afinal, somos todos amigos, não é?

— Nós nos apaixonamos.

— Vai se foder, Ava.

— Mas você nunca vai saber o que é isso, porque você é malvado, rancoroso. Sem coração.

Eu me viro, indo até ela e me inclinando sobre seu corpo pequeno. Ela se envolve.

— E para mim, você é pior do que uma vadia. Uma prostituta seria melhor em seu lugar. Pelo menos, eu teria uma boa noite de diversão e não uma mulher chata e sem graça como você — ela chora, soluçando igual uma rainha do drama. Isso ela sabia fazer muito bem. Mas desta vez, ela não iria me convencer. — Vá, suma da minha vida. — A seguro pelo braço, a arrastando até a porta. — Você tem sorte que estou fazendo isso. Eu deveria te jogar na porta dos seus pais da mesma forma que eles te enfiaram na minha vida. Eu sabia que essa ideia de casamento era uma droga.

— Me solta! — Ela puxa o braço. — Você não tem o direito de me julgar. Você não foi um marido exemplar para me dar lição de moral. — Pelo menos eu não fodi com sua melhor amiga.

— Você nunca me amou, Ethan. Você está feliz por estar se livrando de mim. — Nisso ela tinha razão.

No fundo, eu estava feliz de me livrar daquele casamento de fachada. Eu não estava apaixonado por Ava. Eu achei que conseguia amá-la, mas provavelmente sou incapaz de amar alguém.

Conheci Ava há anos, ela era bonita e seria uma esposa exemplar diante da sociedade. Exemplar demais, eu diria. Sempre organizando tudo do seu jeito e vivendo em suas regras. Ela era chata, tediosa e nós não conseguimos nos conectar. Então nós fomos nos apagando com o tempo. Mas eu nunca a traí. Eu odiava traição.

A questão é que o casamento estraga tudo, até uma amizade em potencial. E esse casamento me custou dois amigos. A Ava e o Daniel, meu melhor amigo de infância. Eu sempre imaginei que ele tinha uma queda pela Ava, mas não a ponto de fazer o que fez. Eu o teria matado, se não vivesse na filosofia de que todo mal tem o seu bem.

Acesso para meu segurança pessoal, que mostra a Ava a saída. O sentimento é de alívio apesar de todos que pesares.

Vou até o meu closet, agora metade vazio. Escolho uma boa roupa para sair. Na minha primeira noite de volta à liberdade, visto o meu melhor terno e minha melhor gravata, para curtir como um homem livre e desimpedido.

Mas ainda não posso deixar de pensar no que a Ava tinha dito. Será que eu nunca amei ninguém? Será que tudo o que eu tinha era um vazio que eu tentava preencher com poder, dinheiro e sexo? Eu sempre acreditei que o amor era uma fraqueza, algo que as pessoas usavam para se enfraquecerem e se atrelarem a outra pessoa. Mas será que eu estava errado?

Enquanto descia as escadas, as vozes do meu passado ecoaram em minha mente. O meu padrasto me batia e me chamava de bastardo, a Ava me chamava de frio e insensível, e o Daniel me chamava de egoísta e arrogante. Será que eles estavam certos? Será que eu sou um monstro, incapaz de amar?

Tinha tudo o que queria e era dono do meu destino. Mas algo dentro de mim ainda se perguntava se era isso o que eu realmente queria. Será que o amor era a única coisa que me faltava para ser realmente feliz? Ou será que eu estava destinado a viver sozinho, em um mundo de poder e luxúria, para sempre?

Não, isso é só bobagem que aquela mulher colocou na minha mente.

Empurro a dúvida para o fundo da minha mente e saio da cobertura, pronto para aproveitar a minha nova liberdade.

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