Olivia
Presente Um furacão em forma de homem entrou na empresa em que trabalho. Ela esbarrou em mim e quase me levou ao chão. Não vi seu rosto, apenas um vislumbre de seu corpo; ombros largos, corpo bem torneado em um terno caro de três peças. Ele sequer se desculpou, apenas passou por mim e entrou na sala do presidente da empresa. E foi lá que tudo desmoronou. O furacão de um metro e noventa fez o dono da empresa proferir palavrões que eu nem sabia que existiam no inglês. Por mais que tentasse, não consegui ver o rosto dele. Ele se enfiou na sala e todo o drama começou. — Você não sabe o que aconteceu — a minha amiga Hannah fala ofegante. Ela estava rondando pela empresa tentando saber a fofoca. — Só me conte se for uma boa notícia. — Isso eu não sei ao certo. Eu só sei que o homem veio e acabou com tudo. — Como assim acabou com tudo? — A empresa. Foi vendida ou tomada eu não sei ao certo. Mas agora tudo vai mudar. — O que exatamente vai mudar? — Eu não sei, Ollie. O cara comprou a empresa e expulsou o senhor Johnson. Eu acho que eles são arqui-inimigos ou algo do tipo. Ah meu Deus, eu não posso perder o meu emprego. Foram anos como estagiária, enquanto fazia das tripas coração para me manter na faculdade. Sem contar que sou imigrante, sem esse emprego toda a minha vida vai desmoronar. — Você precisa se acalmar. Você está suando. — Se eu perder esse emprego, eu estou completamente ferrada. Eu não posso perder o meu visto e voltar para o Brasil. — Calma, ele não deve demitir ninguém. — Ele acabou de expulsar o dono da empresa como um cachorro. Imagine o que ele vai fazer com a gente. — Se acalma. Não precisa ficar tão nervosa. Você é uma ótima funcionária, acabou de se formar e conseguiu um ótimo cargo como arquiteta sênior. Eles não iriam demitir uma boa funcionária. — Deus te ouça. E como ele é? — Ele quem? — O homem que quase me derrubou na entrada. Não deu para ver o rosto dele. — Gostoso. Forte, alto, lindo e com os olhos da cor de uma esmeralda. Mas ele também tem cara de ser um crápula. Você deveria ver como ele tratou o senhor Johnson. — Como ele se chama? — Isso eu não sei, mas vou apurar. Eu confiava na minha amiga para isso. Se tem uma coisa que ela faz melhor que trabalhar, é descobrir fofocas quentes do dia. O que eu mais temia aconteceu, a empresa foi vendida ou tomada, não tinha como saber ao certo. Eu só sei que o senhor Johnson não lideraria mais. Nós fomos comprados pelo grupo Wolfe, uma gigante da hoteleira. O que era muito estranho, porque eu estava exatamente trabalhando em um projeto da sua rede de hotéis. Por que um homem tão rico iria comprar uma empresa de arquitetura? Nós nem éramos os melhores do mercado. — Você precisa se acalmar, Olivia. Estou conseguindo ouvir sua respiração a metros de distância. — Theo, um dos supervisores da empresa fala. — Que tal uma bebida depois do expediente? Abriu um novo clube na marina. Eu pensei que finalmente te animaria a aceitar o meu convite. O Theo me chama para sair desde que cheguei aqui, mas eu sempre estive namorando ou brigando e voltando com o meu namorado narcisista. Isso quando eu não estava totalmente depressiva por causa do mesmo. — Talvez outra hora? Theo murcha mas assente. Seu rosto perdendo o brilho enquanto ele se afasta. — Você deveria parar com isso — a Hannah fala se aproximando. — Com isso o quê? — Parar de ferir os sentimentos do Theo. Ele é um cara legal. — E você deveria se declarar para ele. Quem sabe ele não saia do meu pé. — Eu jamais iria querer alguém que está apaixonado pela minha melhor amiga. Quem você acha que sou? — Ele não está apaixonado por mim, é só algum desejo estranho que ele colocou na cabeça. Talvez se você se declarasse… — Não. Isso não vai acontecer. E eu nem gosto tanto dele assim. Esqueça isso. Me diga, você vai pegar as coisas na casa do seu ex hoje? Oh, céus. Ainda tinha essa missão terrivelmente dolorosa. — Eu pensei que talvez eu devesse deixar isso para lá. — Não. Você não vai deixar seu carro para aquele canalha, muito menos as suas coisas de valor. Aquele maldito narcisista não merece. Você vai lá, vai pegar suas coisas e dar um chute na bunda daquele maldito. Depois nós vamos beber e encher a cara no novo clube da cidade, arrumar um cara bonito e transar a noite toda. — Sexo casual não é minha praia, Hannah. Você sabe que eu preciso sentir uma conexão. — E o que você sentiu com seu ex exatamente? Que conexão você sente com quem te traí? Vamos, Ollie. Você precisa se divertir, conhecer novos caras. Você só teve um relacionamento na vida. Você não sabe nem o que você gosta. A Hannah tem razão. Eu cheguei aos Estados Unidos apaixonada pelo Miles. Ele me conquistou com sua ascendência francesa e sua fala mansa, mas depois tudo desmoronou. Anos de relacionamento abusivo que me destruíram como mulher. Eu nunca estive com outro homem, nem quando ele mereceu um belo par de chifres. Muito menos quando ela me humilhava me possuindo depois se virado para me descartar. Eu nem ao menos sei se é possível sentir prazer com um homem, se é algo em mim ou se é apenas com o meu ex. — Tudo bem. Mas só vamos tomar alguns drinques e eu só vou sair com alguém se me sentir bem. — Fechado. — A Hannah sorri satisfeita.EthanNo alto da minha cobertura, apenas sinto o cheiro do poder que eu mesmo exalava. Finalmente o momento que ansiava havia chegado, o momento que planejei por anos; o momento em que Johnson estaria nas minhas mãos como um rato. Usei meu dinheiro para desarticular as empresas dele durante anos, afundar ao ponto que ele teria que vender. Era um bom negócio, uma boa empresa de arquitetura. Eu posso salvá-la agora que está nas minhas mãos e não nas dele. O prazer que tive por ter sido eu a dar a notícia, a expressão em seu rosto. Foi inigualável. Eu me sentia vitorioso. E não era apenas um terno caro, um relógio ou um carro de algumas milhões, era a minha mentalidade e atitude. Consegui o que poucos conseguiram mesmo vivendo uma infância traumática, porque eu tive força para correr atrás dos meus sonhos. Força e um empurrãozinho do meu lado vingativo.Peguei o pequeno negócio do meu padrasto e transformei em um império, tudo porque ele disse que eu era um bastardo miserável, incapaz
Olivia Duas semanas depois “Você sabe que não vai conseguir ninguém melhor que eu, Olivia ”, aquela frase do meu ex-namorado ecoava na minha mente, enquanto eu arrumava minhas coisas em uma mala. Ele adorava me dizer isso e aquela frase que, certo dia, me fez despertar da inércia que mantive por anos. Eu adorava ser desafiada, então encarei isso como um desafio. Aquele era o tipo de coisa que ele adorava fazer; destruir minha auto estima, ferrar com a minha mente e depois colar os pedacinhos, só para quebrar de novo. Era o tipo de comportamento narcisista que demorei a entender. Quando entendi, já estava em uma teia enorme que custou cinco anos para sair. Passei cinco anos me sabotando e destruindo meu psicológico, porque eu achava que era culpada por ele não me amar, por não sentir desejo e me trair com qualquer coisa que se mexesse. Quando cai na real, descobri que não o amava, só era emocionalmente dependente. Como uma droga em meu sistema.E então demorei meses para vir a
Olivia Deixo as coisas no meu apartamento e vou direto para a empresa. Estávamos em processo de mudança de nome chefia, já que o CEO da empresa foi demitido no ato da venda. A Johnson Designer era uma das maiores empresas de arquitetura de Nova York e foi vendida para um magnata de negócios que, com certeza, não entendia nada de arquitetura. O homem estava no ramo de hotelaria, inclusive estava trabalhando no projeto do novo hotel dele. Ainda não conhecia o meu novo chefe e dono da empresa. Quando ele visitou a empresa uma semana atrás, estava de licença médica por uma virose, e acabei perdendo o grande evento. Só consegui uma foto dele de costas enviada Hannah com o título: “O novo chefe é uma delícia. Você perdeu.”. Até pesquisei Ethan Wolfe na internet, mas o homem parecia um fantasma. Por outro lado, Hannah, com todo seu potencial em ser a maior fofoqueira de todas, descobriu que o cara comprou a empresa do padrasto dele, o senhor Johnson. Eles tinham alguma briga de eg
EthanReleio o último e-mail daquele projeto de arquiteta sênior. Eu definitivamente iria demiti-la, mas gostaria de fazer pessoalmente, olhando-a nos olhos. Mas antes, eu iria oferecer dinheiro para fazê-la minha secretária. Se ela aceitasse, iria fazê-la desistir em menos de 24 horas após humilhar até a sua última geração. Ela tinha aflorado todos os meus sentidos mais macabros com um só e-mail. Ninguém nunca me deixava esperando, tinha o que eu queria, exatamente como eu queria. Nenhuma mulher ia me colocar em um cabresto novamente. Nunca mais.Observo o currículo da garota na tela do meu computador. Ela tinha grandes feitos. Muito jovem para o cargo dela. Vinte e três anos de pura arrogância. Bolsista em uma ótima universidade, ótimas notas, melhor aluna da classe. Ela também é brasileira, o que é bem interessante. Fico pensando porque o Johnson deu tanta credibilidade a ela. Será que eles tiveram um caso? Não, Ethan, não leve sua mente para isso.Mas de toda forma, vou ter que
EthanPassadoSenti um beijo molhado em minhas bochechas e uma mão acariciar meu rosto levemente. Abri os olhos e estava escuro, mas tinha uma fresta de luz saindo da porta, que me permitiu ver o rosto da minha mãe.— Oi, querido. A mamãe veio te dar um beijo de boa noite.— Mas a senhora já fez antes de eu dormir, lembra?— Sim… — ela engoliu a saliva, sua voz parecia embargada, mas como estava escuro, eu não conseguia ver seu rosto. — Mas a mamãe vai precisar fazer uma viagem.— Uma viagem? Para onde? Espere, que eu vou me arrumar em um minutinho e vou com você. — Coloquei os pés para fora da cama, mas ela me segurou.— Não, querido. Hoje a mamãe não vai poder te levar. Você vai ficar com o seu pai.— Ele não é meu pai, mamãe. Ele é o meu padrasto. — Franzi a testa, com raiva.— Ele quem te criou, e é o único pai que você tem, Ethan. Ele te deu um nome. Lembra do que eu te falei? Você precisa se comportar e ser um bom menino, entendeu?— Até quando eu preciso ser um bom menino? Quan