Prefácio
Ah se ela tivesse a coragem de morrer de amor
E tudo ficou bagunçado aqui dentro de novo.
Eu me organizo, finjo não enlouquecer, fujo...
Mas aí vem seu sorriso e brilha em meu coração
Como o maior raio do paraíso.
E minha memória falha em não lembrar
E meu coração falha em escapar
E fica tudo a tona, intenso novamente
E me vejo perdido de novo, em você.
A vida sempre nós dá escolhas
Não podemos nos arrepender
Só daquilo que não fizemos por medo
Pois os momentos duram eternamente.
Ou te amo e busco-te até o fim
Mesmo que isso custe minha sanidade
Orgulho, respeito, valor, poesia...
Ou esqueço-te e isso custará
Minha razão, pensamento, futuro, poesia...
E aquele sentimento de milagre
Transformado em poesia
Que decifro em seu sorriso
Escorre pelos meus dedos
E ofuscado pelo tempo
Deixa-me como uma sombra vazia.
E perco-me buscando novamente
Tudo aquilo que senti
Que projetei quando te conheci
Mas vejo que nada dura eternamente
E essa minha loucura
De ser e ter essa mania de acreditar
Que um dia eu vou te conquistar
Ludibria-me e me embriaga de esperança
Que é deveras inspirador, mas também triste
Pois o mundo é grande e perder o momento
O dia por não estar com você e não poder
Falar-te tudo que sinto é como me deixar
Desfalecer e minha pessoa com a poesia
No vento desaparecer...
O mundo parece me conhecer
Eu encontro anjos que confio e posso
Pensar e sentir e dizer...
Tudo que me faz viver e sofrer.
E todas as outras pessoas que me conhecem
E complementam experiências e penso...
Tu és feliz sem mim... É? Sim.
Tu não me conheces ou não queres me conhecer...
E eu preso no milagre que me mudou
Transformou e me ergueu e conquistou.
Embriagou-me de fé, bondade, responsabilidade, e o que restou?
Uma rebelde alma solitária e romântica com o sol na palma da mão
Que entende pelos sinais da vida a missão e o coração
A literatura, arte música e diversão, alegria fuga e refúgio da solidão.
O amor que me salva é o que me deixa sem chão.
É você.
Meu paraíso platônico.
Que vou seguindo nessa estrada de paixão
Onde a escada para o céu é a minha barganha de loucura amor e poesia.
É o que me resta... Morrer de amor.
Pois o dia a dia me mostra sempre a grandeza da vida e seu valor.
I
Era um radiante e ensolarado domingo solitário, no terceiro dia do mês quarto do vigésimo sexto ano do século vinte e um.
Aqui estava eu deitado na cama, nesse minúsculo quarto apenas com minha gata Charlotte.
Assistindo seriados norte-americanos de moto-clubes e prisioneiras lésbicas ou filmes de prostitutas brasileiras...
O raio de sol forte rasgava o meu quarto, estava de samba-canção preto e uma camisa social cinza com as mangas rasgadas, cigarros e isqueiro no bolso da camisa, o mundo lá fora acontecia,
Tudo girava,
Tudo se perdia...
Tudo estava se rasgando,
O lobo no meu braço uivava por uma cerveja,
Meu coração sempre teve essa certeza.
Será que seremos sempre escravos de nós mesmos no segundo passado desse instante presente?
Ou será que somos senhores de nosso destino a cada manhã presente?
Será que seremos lembrados além?
Levantei-me e me troquei,
Sai rua afora, caminhando em busca de um santuário...
Minha vizinha, a senhora esposa do Senhor Rogerius me informara sobre o mercado da dona Cora, subindo o morro de nossa rua...
Peregrinei no sol ardente da bela tarde que me consumia, pelos vales fundos e ruas findas e sujas, igrejas abertas gritantes, bares com seus televisores e futebol, o porco vencia...
Comunidades religiosas por todo canto,
Parques com pessoas felizes tomando sorvete e jogando bola na quadra, casais passeando e seus cães rolando na grama...
Adentrei as favelas do Santo André, da minha vila de vidro,
Onde a justiça é blindada.
Encontrei uns chapas caminhando também em busca de cerveja, levaram-me até lá na santa cora, comprei sete latas da cerveja mais barata por quatorze paus, desci a imensa escadaria, já estava novamente próximo a minha caverna, acendi um cigarro, meu cabelo preso, ventava pouco e a cerveja me congelava por dentro e me guiava...
Regressei, casa vazia, ocupada apenas pela luz, me despi e dando aquele alívio que o espírito chora,
O gato miava, tirei o macarrão frio da geladeira, coloquei as cervejas no gelo. Peguei alguns ovos, quando quebrei o primeiro na pia ele rapidamente escorreu pelo ralo e fiquei olhando aquilo com cara de burro...
Tocava Zakk Wylde no computador, o ventilador estralava, quebrei mais alguns, fiz ovos mexidos. Comi junto com o macarrão, é sempre assim... Quase todo dia, Macarrão gelado e galinha...
Após a morte da fome,
Outra fome sempre consumia,
Seja da bebida ou do amor ou da esperança, da fé ou poesia...
Olhei o céu azul com uma sensação que antes me embrulharia o estômago me brilhou os olhos...
Lavei a louça, lavei as minhas memórias que são como fotografias cinzentas,
Jogadas ao léu como papel sendo consumido por chamas irreparáveis...
Vi a gata amaciando o cobertor de lã do meu colchão com as unhas
Deitando-se me esperando e depois lambendo o rabo...
Acendi um cigarro e voltei a me deitar para assistir novamente vídeos inúteis ou as séries de prisioneiras lésbicas e moto-clubes da Califórnia...
Encarei minha máquina de escrever,
Pensando que além do vazio interior,
Além da família,
Além dos amigos,
Dos amores perdidos,
Do grande amor da minha vida,
Além é sempre a cerveja que vem até mim,
No final fica tudo bem, dá tudo certo e a cerveja está comigo,
Posso estar fodido, sem dinheiro ou sem mulher,
A cerveja está lá, os deuses a joga lá de cima...
Sempre parece haver uma conspiração divina, isso eu não posso reclamar,
E quando isso acontece no final de tudo eu me recordo á Ela...
Minha doce menina bagunçada eu te amarei até o fim das cervejas do mundo...
E toda vez que eu bebo o sorriso dela me resgata e o se fosse o último dia da Terra me faz acreditar que a terei, além do vazio interior, eu ali sozinho, o domingo se esvaindo, as cervejas gelando e se consumindo e se eu pudesse manteria em seu rosto aquele lindo sorriso para sempre, como toda da manhã de domingo ela vem, limpando os cinzentos céus do meu coração e me faz recordar toda a bondade do mundo e de todas suas palavras...
II
Enquanto isso, alguns amigos trabalham outros também estão em suas casas e suas mulheres ou também com suas cervejas...
E o meu velho está lá na praia do pássaro, com seu bigode branco, seus suspensórios, olhar forte, voz grossa, o leão da razão, criando galinhas e passarinhos com minha sobrinha doce e os cães pulando na piscina para se refrescarem, e meu irmão trabalhando duro dia e noite também e minha cunhada dando longas aulas, e eu aqui, esse sonhador enferrujado e solitário, esse rebelde criador de casos pensando em todas as oportunidades passadas, afogadas no arrependimento e culpa que vai ao vento,
Terminando mais uma cerveja, consumido por amor e saudade,
(Acho que irei assistir a nova série do fazendeiro viajante...)
A noite chega, o quarto fica escuro,
O ecrã do computador dá o ar da graça das palavras e pensamentos,
Fumo um cigarro, a brisa do vento se torna suave...
Jamais deixe de dizer o que sente ou pensa...
Palavras não ditas também jamais poderão ser ditas novamente naquele tempo certo assim como as ações...
Esqueça o orgulho, o ego ou medo...
(‘’ Dessa vez será diferente... ’’)
Isso tudo sempre se ecoa dentro de mim e rasga,
Além do meu esforço,
Além da minha compreensão,
Além do meu coração, além do vazio interior...
Se até hoje tive a coragem de enfrentar qualquer coisa, tudo que
fosse para Demonstrar-te meu amor por ti.
Isso não será difícil, eu espero...
Pois escrever sempre foi minha vida e minha paixão.
Até que você apareceu no meu mundo de letras perdidas.
E agora estou aqui sozinho em quarto branco e preto,
de luzes fracas e letras escritas por toda parte.
Talvez assim você perceba quanto escrever é difícil para mim.
Coisa que não deveria ser, pois estou a escrever com e para a
maior paixão de minha vida...
E como dificilmente haja uma maneira fácil de dizer isso... mas vou
Acreditar em minhas chances...
Eu encontrei alguém sabe?
Alguém com quem eu possa ser alguém...
Alguém totalmente novo e ao mesmo tempo ser eu mesmo.
Alguém que me faça sentir-me como alguém totalmente perdido
E ao mesmo tempo como alguém que me faça ser alguém completo e com valor.
Alguém que me faça acreditar e que me mostre o caminho das escadas do céu.
Esse alguém que mudou a minha vida, antes que eu fosse alguém perdido
Antes que eu fosse alguém, que eu nem sabia quem, talvez um ninguém.
Um ninguém contador de histórias, agora sou alguém do amor.
Alguém que busca luz, esperança, alguém com arte.
Alguém que ama a vida, e quem é a responsável por me transformar
Assim como um milagre em quem sou hoje...
Esse alguém é você minha princesa.
E antes o gosto da melancolia
que eu sentia,no café...
E também pela manhã
Hoje sinto um calor com alegria.
O gosto do tempo só me dói se saber
que estais longe e distante,mas isso irei
mudar...mas para isso também existe o gosto da esperança.
'' Enquanto livres sonhos vagam lentamente,flutuam sob a cama
Martelando a minha mente...''
A elaboração deste trabalho baseou-se, em princípio, na inocência das classes menos favorecidas e na hipossuficiência das camadas mais pobres, juntamente com a sua fragilidade em se deixar corromper, aceitando trabalhos ilícitos em troca de dinheiro fácil. Esta mistura, temperada com os vícios, viciados e drogas fazem todo o descrito em cada uma das páginas deste compêndio.
Tudo nelas contido retratam a mais dura e cruel realidade imposta nas ruas, morros e cidades em qualquer canto deste e de outros países espalhados pelo mundo. Suas personagens, embora fictícias, misturam-se e confunde-se com milhares de Madalenas, Artur, Gabriel...
Na mais ampla pureza de intenções, sem cunho político ou religioso, buscou-se sempre mostrar os caminhos da realidade do nosso tempo e, com toda certeza, a conscientização do mal que causa, principalmente aos jovens e às crianças, tentando-se assim a sua erradicação.
Orientar para o bem é coisa que pode ser escrita e falada em qualquer idioma, mesmo naquele idioma imaginário que transporta qualquer indivíduo pelo campo espiritual e até mesmo lírico, construindo cada passo da história de forma agradável, ao mesmo tempo em que ilustrativa.
Entretanto, a intenção primeira deste compêndio é a de alertar, de instruir e mostrar as diversas maneiras de que dispõem os malfeitores donos do mundo e do vício, assim como dos viciados, na constante busca por um contingente cada vez maior de dependentes drogados desde as mais tenras idades.
Utópico, tal e qual a sociedade Platônica, seria querer que um dia se pudesse terminar em definitivo com todo esse mal, todo esse vício e tudo aquilo que não condiz com a natureza do ser humano. Somos sabedores que ele nasce sempre voltado para o bem e para si, o que deveria se manifestar em todo o percurso da sua existência. Todavia, esse bem às vezes sofre algum tipo de acidente de percurso e volta-se contra os seus semelhantes nas mais diversas formas e atitudes por ele próprio outrora rejeitadas. A droga é uma dessas maneiras e entender o porquê do seu uso é um enorme passo para a sua rejeição.
Qual o caminho, então, que poderíamos usar para isso? Qual deles nos apontaria uma solução mais próxima da definitiva? Essa incógnita pode ser respondida, não aqui, pelo autor, mas sim, pela reflexão do próprio leitor que, sabendo os passos que dará, certamente encontrará suas respostas.
O autor
Um festival de fogos de artifícios iluminou toda a madrugada no alto do morro. Com um barulho ensurdecedor, desenhava no céu figuras com os mais diversos coloridos e clarões dourados e prateados riscavam a noite como cometas, acordando todo aquele povo simples e humilde. Os cães procuravam abrigo em todos os becos e os gatos sumiam desesperados dos telhados. Muitos dos cidadãos, cujo horário de trabalho satisfazia o período noturno, foram pegos de surpresa. Apesar de já terem assistido a cenas semelhantes por várias vezes, não estavam aguardando para agora uma nova distribuição de drogas, coisa previamente alertada pelos traficantes. Desta vez, porém, o prévio aviso não veio e daí a
A Lua já adentrava na sua morada oposta e os primeiros raios de sol começavam a refletir sobre os tetos de zinco dos barracos e nas pedras formando imagem de espelho a mostrar ao morro o começo de um novo dia. Mais um estafante e incerto dia aonde muitos, sem dúvidas, não chegariam ao seu fim. Mais um dia no morro tão corriqueiro como qualquer outro, de raras e pequenas alegrias, de tráfico, tiros, dor, drogas e sangue. O foguetório lançado na madrugada avisava aos moradores da cidade, desenvolta sobre um manto plano aos pés do morro estendendo-se até o mar, que os senhores traficantes donos do mundo estavam prontos para mais uma farta distribuição de cocaína, maconha, êxtase e uma infinidade de outras drogas, sendo o craque a mais procurada e consumida entre os
O dia aos poucos vai desabrochando, mas ainda é cedo e escuro no morro. A madrugada mal se havia afastado e Madalena preparava-se para mais um dia de trabalho. Às pressas sorvia um gole de ralo café com uma fatia de pão amanhecido. Teriam que descer, ela e a barriga, aqueles perigosos degraus até atingir o asfalto. Na mente tinha a certeza de ter que enfrentar todo aquele bando de androides famigerados caminhando em sentido contrário na busca pelas drogas. Estando ela próxima ao final do sétimo mês de gravidez, tornava-se cada dia mais difícil subir e descer aquelas escadas e ladeiras. Hoje, especialmente, todo cuidado era pouco, haja vista a insensatez e a pressa do contingente extra para a aquisição do produto tão desejado. M
O “cipó”, como sempre, estava lotado. Madalena não conseguiu ir além do primeiro degrau da porta. Pensava consigo mesma; - Não sei se é pior aqui ou nos degraus do morro. Procurando uma posição mais segura, sempre protegendo a enorme barriga, tentava chegar até o trocador. Ninguém lhe oferecia lugar e com muita dificuldade passou pela roleta pagando a passagem. Segurando-se da melhor forma que podia, tentava chegar o mais perto possível da porta de saída, a fim de facilitar seu desembarque que não estava muito longe. De repente sentiu que alguém a segurava suavemente pelo braço. Virou o rosto um tanto quanto assustada e reconheceu Artur, um jovem com mais ou menos dezessete anos que lhe sorria timidamente. O sorriso por fim alargou-se e ele lhe perguntou:
Enquanto isso no morro as cenas ainda eram as mesmas, porém com menor intensidade. O vai e vem das pessoas em busca das drogas estava diminuindo. Não mais havia aquela correria nos degraus e ribanceiras e até mesmo os “meninos” que faziam a segurança estavam mais descontraídos, afrouxando um pouco a vigilância. Mas das armas não largavam nunca e a qualquer barulho ou movimento estranho a empunhavam. Podia-se ver alguns deles nas biroscas da favela bebendo cerveja, mas sempre com as metralhadoras e fuzis nos ombros. Na casa de Madalena, sua mãe, lavadeira, há muito já havia partido para o trabalho e o padrasto, servente de pedreiro e as vezes tido como meia boca ao arriscar fazer algum serviço mais avançado para os seus parcos conhecimentos, desde muito cedo carre
Ainda um tanto longe dali, Madalena olhava encantada para o pacote com as roupinhas de criança que acabara de comprar na loja da dona Beta. Ela lhe dividiu os pagamentos em três parcelas e ainda a presenteou com um pacote de fraldas descartáveis. Pensava em como era gentil a dona Beta e sorria ao lembrar-se da brincadeira desta dizendo que o bebê tinha que ficar com o pipi muito sequinho. Não era para deixar o xixi vazar e assar o pipi dele. Com muito carinho ostentava o pacote de fraldas e o embrulho com as roupinhas novas, pensando no dia que ele a usaria. Mas era hora de voltar para casa. Chegou mesmo a aborrecer-se enquanto aguardava o coletivo, ao pensar que dali a algum tempo estaria novamente nas escadas do morro e agora teria que subir todos aqueles deg
Numa rua tranquila, em confortável e arejada casa, cercada por jardins com diversas e coloridas flores, o jovem Artur recolhia na caixa postal os matutinos em busca de notícias sobre o comício do pai no dia anterior. Queria ver ainda a evolução da sua candidatura e a mais recente posição nas pesquisas eleitorais que hoje seria divulgada. Desdobrando o primeiro jornal deparou com a manchete de primeira página. Com letras garrafais “MAIS UMA VERGONHA ACONTECE NO MORRO”, o matutino divulgava a guerra do dia anterior. Reconheceu sendo este o mesmo morro que morava sua amiga Madalena. Virou-se para o assessor do seu pai que o ajudava com os jornais e disse-lhe; - Puxa! Aqui mora uma amiga minha. Eu a vi ainda ontem. Será que ela está bem. Será que ela está bem? Te