NOS BASTIDORES
NOS BASTIDORES
Por: Kah
Capítulo 01

O início de tudo | Jenna Morgan

Eu ainda me lembro do momento exato em que me apaixonei por filmes de terror. Eu era pequena demais para entender, mal sabia falar direito. Mas quando assisti O Exorcista e vi Regan, com os olhos vidrados, a pele doente e a voz demoníaca, girando a cabeça em um ângulo impossível, eu não chorei, não corri para os braços da minha mãe. Eu apenas assisti. Cada detalhe, cada segundo e não me arrependo de nada.

Minha mãe odiava filmes de terror e sempre dizia que não eram coisa pra mim, mas no fim, sempre cedia à minha teimosia. No começo, tentava tampar meus olhos nas cenas mais pesadas, mas logo desistia, porque eu sempre dava um jeito de assistir. No fundo, ela não segurava minha mão pra me proteger… era porque ela tinha medo.

Já meu pai, dormia o filme inteiro e depois fingia que tinha assistido, soltando comentários sem sentido. Eu nunca corrigi, nunca disse nada, só ficava concordando, e rindo.

Mas a nossa vida não tem cortes dramáticos nem aviso antes das cenas mais pesadas. Ela simplesmente acontece.

Eu era só uma adolescente quando perdi os dois. Uma batida de carro e, de uma hora pra outra, tudo foi pelos ares. E eu poderia ter desmoronado, mas me mantive firme. Estudei, trabalhei, fiz faculdade. Ralei muito pra chegar até aqui. Cada seguidor que conquistei, cada fã, cada reconhecimento… foi tudo fruto do meu esforço. E eu lutei muito por isso.

E agora, depois de tudo, aqui estou eu, prestes a lançar meu primeiro filme de terror.

O set de filmagem que estamos filmando é enorme, iluminado pelos refletores que projetam sombras nas paredes do cenário. "Crimson Hollow" é o meu primeiro grande projeto como diretora, depois de anos escrevendo histórias e contando lendas assustadoras nas minhas redes sociais. Com quatro milhões de seguidores, muita gente está esperando ansiosamente por esse filme.

Na cena que estamos gravando agora, Elena Vasquez, a protagonista, explora uma casa abandonada. O chão range debaixo de seus pés, e as paredes estão cobertas de símbolos desenhados com sangue falso. No fundo do cenário, Damian Crawford, um dos maiores nomes de filmes de terror, interpreta o vilão — um assassino mascarado que persegue suas vítimas até elas perderem qualquer esperança de fuga.

Eu tenho que observar cada detalhe com atenção, com o fone de ouvido ajustado e os olhos grudados no monitor. O take está ficando perfeito e Elena treme, encostada contra a parede, enquanto Damian surge das sombras, de máscara que reflete uma luz fraca. Ele ergue a mão ensanguentada e roça os dedos no rosto dela.

Seguro a respiração.

— CORTA! — minha voz ecoa pelo set.

A equipe técnica entra para ajustar as câmeras e a maquiagem. Tiro o fone e passo as mãos pelo rosto, sentindo o cansaço pesar nos ombros. Estamos aqui desde as 8h da manhã.

— Por hoje, encerramos aqui — anuncio, esticando os braços. — Amanhã retomamos com a cena do porão.

Depois de uma gravação intensa, todos querem ir pra casa. Alguns começam a guardar os equipamentos, outros conversam animados sobre a cena. E eu fico para trás, ajudando a fechar o set. Afinal ele é enorme, e depois de horas de filmagem, o silêncio que fica até dói no peito.

Pego minha bolsa e saio do set, decidindo voltar para casa a pé. Depois de um dia inteiro cercada por câmeras, gritos ensaiados e sangue cenográfico, eu só quero sentir a brisa da noite e esvaziar um pouco a mente.

Abro minha bolsa e pego o celular. 20h30. Tarde demais para uma mulher de 30 anos andar sozinha pelas ruas quase desertas? Com certeza. Mas eu me importo? Nem um pouco.

Mas tenho que dizer, eu sempre sinto a sensação de "corre", arrepiando minha pele e passando por todo o meu corpo. Afinal, o mundo não vai parar só porque uma mulher está andando sozinha à noite, com as ruas vazias e o trânsito praticamente inexistente. Ainda assim, continuo no meu ritmo.

Meu apartamento fica perto do set de filmagem, então muitas vezes deixo o carro estacionado na frente do prédio. Caminhar me faz bem, ajuda meu cérebro a processar novas ideias, mesmo que o roteiro já esteja muito bem estruturado.

Os sons dos meus Louboutin pretos ecoam pela calçada, combinando perfeitamente com o meu vestido preto ajustado, de mangas longas e gola alta. Minha bolsa Prada preta balança de leve no meu ombro enquanto caminho, e meus olhos se prendem ao movimento rítmico dos saltos tocando o chão antes de eu levantar a cabeça e avistar meu prédio a poucos passos.

Moro em uma cobertura na Upper East Side. Eu poderia ter uma casa própria, talvez até uma mansão, mas gosto da sensação de ter pessoas por perto, de cruzar com vizinhos nos elevadores ou ver o porteiro de sempre no saguão.

Passo pela entrada e dou um sorriso discreto para o porteiro antes de seguir para o elevador. Assim que entro, solto um suspiro cansado, aperto o botão do último andar e me encosto na parede metálica.

Desbloqueio o celular e vejo milhares de curtidas e comentários na minha última postagem. Hoje, postei uma foto dos bastidores de Crimson Hollow — Damian de costas, segurando a faca cenográfica coberta de sangue falso, enquanto Elena se encolhia em um canto, com os olhos arregalados de medo.

Com a legenda: "Vocês teriam coragem de encarar esse olhar de perto?"

Abro os comentários e dou uma olhada nos primeiros. São muitos, impossível responder todos, mas eu sempre tento dar atenção ao máximo de fãs possível. Gosto dessa interação, dessa sensação de proximidade, mesmo que através de uma tela.

Comentários:

@loversofhorror: Dropei tudo pra ver isso! Vai ser o filme do ano!

@jennaofficial: Hahaha, espero que sim! Vou me esforçar pra entregar algo digno!

@nightmarefanatic: Jenna, pelo amor de Deus, lança logo!

@jennaofficial: Se dependesse de mim, já estaria nos cinemas! Mas paciência, pesadelos levam tempo para serem criados!

@darkqueen: Damian como vilão? EU VIVO PRA ISSO!

@jennaofficial: Ele nasceu pra isso! E acredite… vocês ainda não viram NADA!

@horrormaster666: Se eu encontrasse ele no escuro, sairia correndo na hora!

@jennaofficial: Se correr, o bicho pega. Se ficar, ele brinca um pouco antes!

@you_killer: Você não sairia correndo… Eu vi você hoje andando pela rua sozinha.

Meu dedo paira sobre esse último comentário por mais tempo do que deveria. You_killer. O nome não me soa familiar. A foto de perfil é um pôster do filme Halloween, nada que pareça estranho à primeira vista. Provavelmente só um fã tentando chamar minha atenção.

@jennaofficial: Viu? Onde? Haha

Respondo sem pensar muito e bloqueio o celular quando o elevador chega ao meu andar. As portas se abrem com um ding, e enquanto caminho até a porta do meu apartamento, começo a vasculhar minha bolsa atrás das chaves. O chaveiro enorme do Ghostface balança entre meus dedos assim que encontro o molho de chaves.

Antes que eu possa destrancar a porta, tropeço em algo.

— Que merda! — resmungo, olhando para baixo.

Uma caixa pequena, mas surpreendentemente pesada, repousa na frente da minha porta. Franzo a testa. O porteiro não me avisou sobre nenhuma entrega hoje. Ajeito minha bolsa no ombro, pego a caixa e finalmente destranco a porta, desconfiada.

Estranho.

Olho para a caixa sobre a mesa. Pequena, mas estranhamente pesada. O porteiro não mencionou nenhuma entrega, e eu não estava esperando nada.

Meus instintos gritam que abrir isso pode ser uma péssima ideia. Eu sei que tenho haters, e brincadeiras de mau gosto são comuns quando se tem visibilidade na internet. Mas ignorar e simplesmente jogar fora? Não sei se consigo.

Respiro fundo e puxo a tampa. Assim que vejo o conteúdo, meu corpo se afasta num reflexo rápido, como se esperasse algo sair e me atacar. Mas não há nada grotesco. Nem ameaçador. Apenas um pequeno pedaço de papel e um objeto de metal pesado.

Engulo em seco antes de pegar o bilhete. Meus olhos percorrem as palavras rabiscadas à mão.

"Pare de andar por aí sozinha. Essa cidade não é segura."

Meu coração erra uma batida, e um arrepio sobe pela minha nuca. O primeiro nome que me vem à mente? You_killer.

Com as mãos trêmulas, pego o celular e volto para o meu último post. Rolo os comentários até encontrar aquele nome. Clico no perfil. A conta é privada. E ele só segue uma única pessoa.

"Eu."

Meus dedos param sobre a tela. Tento respirar devagar, mas minha mente está girando. Isso é uma coincidência? Ou algo muito, muito pior? Vasculho os comentários em posts antigos. Meus olhos correm pelas palavras, e de repente, tudo se encaixa.

"Você ficou linda com a jaqueta de couro ontem à noite."

(Foto postada dois dias atrás, na minha varanda.)

"Você gosta de café sem açúcar, né? Sempre pede o mesmo."

(Post no set de filmagem, segurando um copo descartável.)

"Não adianta trancar a porta se você se esquece de fechar a janela."

(Post do meu gato na sala.)

Minha boca fica seca. Minhas mãos apertam o celular com força. Algumas dessas coisas… só pessoas próximas deveria saber. Meus dedos digitam antes que eu possa repensar.

@jennaofficial: Como você sabe disso?

Espero.

Nada.

Jogo o celular no sofá e começo a andar de um lado para o outro. Isso não faz sentido. Pode ser um fã obcecado? Alguém que trabalha no prédio? Ou… O celular vibra e eu paro com as especulações. Meu corpo fica tenso, e com um nó no estômago, desbloqueio a tela.

@you_killer: Eu vejo você em todos os lugares, Jenna Morgan.. I see you.

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