Alguém está observando? | Jenna Morgan Não consigo dormir. Não mesmo. O problema nunca foi o medo — não o medo dos filmes, pelo menos. Cresci assistindo a tudo que era considerado "pesado demais para uma criança" e acabei transformando isso em profissão. Sei diferenciar ficção da realidade. Sei que monstros são feitos de maquiagem e efeitos especiais. Sei que o sangue cenográfico é só xarope de milho com corante. Mas isso aqui? Isso não tem maquiagem e nem a porra de um roteiro. É real. Reviro os olhos e me sento na cama, soltando um suspiro longo. O quarto está iluminado apenas pelo o abajur ao lado da minha cama. Olho para o teto, contando as pequenas rachaduras invisíveis na pintura, esperando que o sono venha. Mas não vem. Desisto. Jogo as cobertas para o lado e caminho descalça até a cozinha. O chão frio arrepia minha pele, mas não me importo. Abro a geladeira e pego a garrafa de leite, despejando um pouco na panela para aquecer. Se o leite quente não funcionar,
Pertinho de você | Jenna Morgan Mesmo em meio às câmeras, aos refletores e ao burburinho da equipe ajustando os cenários, minha mente ainda está presa nele. No olhar atento, na voz, na confiança que me fez estremecer. "Nos vemos de novo, Jenna Morgan." Me levanto, cruzando o set com passos apressados. Se ele trabalha aqui, alguém deve conhecê-lo. Não sou a única que viu aquele homem. Não posso ser. — Ei, você viu o cara que estava comigo agora há pouco? — pergunto para um dos assistentes de câmera, que ajeita o equipamento sem sequer desviar o olhar para mim. — Que cara? — Alto, pele clara, calça jeans, bota preta. Veio até mim com um café. — franzo a testa, inquieta. — Ninguém estranho passou por aqui, não que eu saiba. — ele finalmente me encara, confuso. A resposta me faz hesitar por um instante, mas respiro fundo e caminho até uma das maquiadoras. — May, aquele cara que falou comigo agora há pouco... Você viu de onde ele veio? — Que cara? — ela pisca algumas vezes, com
Obsessão a flor da pele | Jenna Morgan — Então? Vai continuar falando todas essas abobrinhas? — largo a taça na pia, sem paciência pra essa palhaçada.— Acredite em mim, eu quero que entenda que eu não estou aqui pra te machucar, Jenna. A última coisa que eu faria seria isso. Mas eu quero te mostrar quem eu realmente sou... se você permitir. — ele coloca a outra taça na pia, me encarando como se eu devesse simplesmente aceitar essa merda de proposta.Eu rio. — Gentileza não combina com você sabia? Você aparece do nada no meu trabalho com um café, depois aparece na porta da minha casa como se tivesse esse direito e ainda bebe do meu vinho. Não acho que você seja muito convincente. — dou a volta na bancada, criando espaço entre nós, porque alguma coisa nele me faz querer estar do lado oposto da sala.Ele fica quieto por um momento. Ainda de costas.— É isso que eu sou pra você? Nada convincente? Um homem incapaz de ser gentil? Mas eu disse que era isso? Em algum momento eu disse que
Mentiras Matinais | Jenna Morgan Acordo atordoada quando escuto o toque do meu celular. "Tubular Bells", do filme "O Exorcista", levanto a cabeça rápido demais e percebo que foi um erro enorme. Minha visão escurece por um segundo, e a tontura me acerta como um soco no estômago, minha cabeça lateja como se tivesse alguém batendo um martelo dentro dela. Pisco várias vezes, e tento fazer meus olhos funcionarem direito. Tudo ainda está meio borrado, mas logo consigo enxergar os estragos da noite passada. Meu corpo parece pesar toneladas, minha boca está seca, junto com o gosto amargo de vinho e arrependimento grudado na minha língua. Olho ao redor e vejo o carpete manchado de vermelho. Pelo menos, eu espero que seja vinho. Já que a garrafa está caída no chão ao meu lado. Mas considerando tudo o que aquele lunático me disse ontem à noite, não me surpreenderia se houvesse sangue de verdade misturado nesse vinho. Não me lembro de ter bebido tanto. Não lembro de ter acabado com a garraf
PASSANDO DOS LIMITES | JENNA MORGANComo assim "pode ir dormir"? Como assim "vou cuidar do nosso filhotinho"? Quem esse cara acha que é pra simplesmente sequestrar meu gato? E mais—como diabos ele entrou aqui sem ser visto, sem arrombar nada? Isso é o que me deixa realmente puta.Respiro fundo. Pego o celular e tento digitar sem esmagar a tela. Preciso manter a calma, porque se eu surtar agora, eu juro que vou acabar precisando da polícia… mas pra me prender depois que eu der um fim nesse lunático.Jenna: Olha só, Matteo, eu não faço a menor ideia do que se passa nessa tua cabecinha doente, não mesmo. E não importa o que você acha que significa pra mim ou quem você pensa que é. Apenas devolve o meu gato AGORA, SEU MALUCO PSICOPATA!!!Envio. E espero. Mas, a essa altura, já sei que esperar não vai adiantar porra nenhuma.Fico andando de um lado para o outro porque é a única coisa que me resta fazer. Ele visualizou a mensagem e não respondeu. Como se me ignorar depois de chamá-lo de psi
O Jogo de Matteo | Jenna Morgan.Saio do banho e o vapor quente não faz nada para aliviar o peso do cansaço grudado nos meus ossos. Me sinto exausta, como se tivesse vivido uns cinquenta anos em uma única noite. E, de certa forma, eu vivi. Não consegui dormir direito, cada vez que fechava os olhos, meu cérebro me lembrava de um único detalhe: Matteo está com o meu gato.Maldito Matteo. Maldito stalker psicopata que decidiu transformar minha vida num inferno e, como se não bastasse, agora resolveu sequestrar Dizie. Quem faz isso? Quem rouba o gato de alguém?Com os nervos em frangalhos, entro no closet e puxo qualquer roupa que pareça minimamente apresentável. Escolho um vestido preto justo, de alças finas, e um par de scarpins nude, porque não tenho energia para pensar em combinações sofisticadas. Pego uma lingerie de renda preta, delicada, completamente inútil diante do caos da minha mente.Me visto no automático e sigo até a penteadeira. Passo os dedos pelos fios loiros, tentando d
Matteo irritante| Jenna Morgan Nove e meia. O set está mais silencioso agora, algumas luzes ainda piscam enquanto a equipe desmonta os equipamentos, conversas baixas vão preenchendo os espaços entre um passo e outro. Respiro fundo, sentindo o peso do dia nos ombros. Matteo se foi há horas, e eu foquei no que precisava ser feito. No que sempre precisa ser feito.Seguro o roteiro contra o peito por um momento antes de entregá-lo a um assistente. O último take foi encerrado, e agora tudo que resta é a pós-produção. Caminho pelo corredor estreito do estúdio, com os saltos ecoando no chão. Puxo o celular do bolso, sem mensagens novas. Melhor assim. O estacionamento está quase vazio. Meu carro me espera logo a frente sob a luz amarelada de um poste. Destravo as portas, deslizo para dentro e solto um suspiro longo. Finalmente.— Ei, Jenna! — ouço uma voz feminina me chamando.Olho pelo retrovisor e vejo Elena correndo na minha direção. Ótimo. Exatamente o que eu precisava para encerrar a n