Capítulo 04

Obsessão a flor da pele | Jenna Morgan

— Então? Vai continuar falando todas essas abobrinhas? — largo a taça na pia, sem paciência pra essa palhaçada.

— Acredite em mim, eu quero que entenda que eu não estou aqui pra te machucar, Jenna. A última coisa que eu faria seria isso. Mas eu quero te mostrar quem eu realmente sou... se você permitir. — ele coloca a outra taça na pia, me encarando como se eu devesse simplesmente aceitar essa merda de proposta.

Eu rio.

— Gentileza não combina com você sabia? Você aparece do nada no meu trabalho com um café, depois aparece na porta da minha casa como se tivesse esse direito e ainda bebe do meu vinho. Não acho que você seja muito convincente. — dou a volta na bancada, criando espaço entre nós, porque alguma coisa nele me faz querer estar do lado oposto da sala.

Ele fica quieto por um momento. Ainda de costas.

— É isso que eu sou pra você? Nada convincente? Um homem incapaz de ser gentil? Mas eu disse que era isso? Em algum momento eu disse que sou um cara bonzinho? — a voz dele é calma, mas tem alguma coisa errada nela.

Quero entender o que se passa na cabeça de um cara como ele. Quero de verdade. Terror nunca me assustou. Nunca. Mas não significa que, em algum momento, eu não sinta medo. Eu não sou feita de aço. Ainda sou humana. Ainda sou forçada a sentir essa porcaria de coisa chamada instinto de sobrevivência.

O problema é que ele não parece alguém normal. Ele não age como alguém normal. Ele é completamente pirado. E eu sou ainda pior por ter deixado essa maldita porta aberta por causa da adrenalina que ainda queima no meu sangue. Agora, com a mente mais clara, tudo que eu vejo é um cara que pode ser um psicopata, um assassino ou alguma merda pior.

— E como diabos eu poderia conhecer você? — pergunto, sem paciência, sem fingir que essa situação faz algum sentido.

— Se ficar aqui, eu posso te mostrar. — ele se vira devagar.

— E como vai fazer isso? — cruzo os braços, claramente frustrada.

— Espere e verá, Jenna. — ele sorrir confiante, um sorriso que me faz querer quebrar um copo na cabeça dele.

Ele começa a andar em direção à porta.

— O que vai fazer? Vai sair pra pegar uma arma e voltar pra me matar? — pergunto, sarcástica.

Ele nem sequer olha para trás.

— Eu não vou te machucar, apenas espere... eu já volto. — ele desaparece pela porta, me deixando sozinha com essa sensação fodida de que eu acabei de ferrar minha própria vida.

A porta ainda está aberta, vulnerável, igual a porra da minha vida. Meu instinto grita pra eu fechar antes que qualquer coisa pior aconteça. Antes que ele volte. Antes que eu cometa um erro maior do que já cometi. Então, movo um pé depois do outro em direção à porta, pronta pra trancar tudo e fingir que nada disso aconteceu.

Mas no meio do caminho, meu cérebro me para.

Droga.

Eu não postei nada hoje.

Minhas redes sociais estão um caos agora, certeza. DMs lotadas, gente perguntando se eu morri, se fui sequestrada, se tô em um relacionamento secreto, se briguei com alguém. Já devem ter uns 100 posts no T*****r dizendo que eu sumi e outros dez marcando meu nome com teorias idiotas como da última vez. A internet não perdoa ausência, e eu simplesmente esqueci.

Pego o celular e abro os stories e então digito qualquer coisa.

"Oi, gente. Hoje foi um dia bastante corrido, prometo que posto novidades amanhã."

Levanto os olhos da tela, e ele está parado na porta. Com um notebook nas mãos.. Me observando. O olhar dele é confuso, como se minha reação não fosse a que ele esperava.

— Não se preocupe — digo, levantando o celular como prova. — Não chamei a polícia, eu só postei um story.

Ele não responde. Apenas entra. Cruza a sala em passos lentos, sem desviar o olhar de mim, até que sua mão agarra meu braço. O toque não é forte, mas é firme o suficiente pra deixar claro que eu não tenho escolha. Ele me puxa, e me faz sentar no sofá. Depois, coloca o notebook no meu colo.

— Olhe.

A tela ilumina meu rosto.

E eu travo.

Fotos, muitas fotos. Não selfies, não eventos, não nada que eu tenha postado. São imagens que nunca deveriam existir. Lugares onde alguém como ele não deveria ter me visto. Momentos que eram só meus. E isso me dá um arrepio na espinha, fazendo com que eu aperte a borda do notebook com força.

— O que é tudo isso?

— Isso, Jenna… é o que eu sou. — ele se inclina, com os olhos ainda fixos em mim. — Esse sou eu, Jenna.

— O quê? — minha pele arrepia de novo.

Ele aponta pro notebook, como se fosse óbvio.

— Esse sou eu, o cara que te admira, que te acompanha há anos, que vê você além do que todo mundo vê. Você acha que é só mais uma celebridade na internet? Não, você é muito mais do que isso e isso me deixa completamente fascinado.

Minha cabeça manda meu corpo reagir, manda eu fazer alguma coisa, gritar, correr, pegar qualquer objeto pesado e enfiar na cara dele. Mas eu fico parada, completamente travada.

— Você tá me perseguindo — minha voz sai sem emoção, mas por dentro minha mente tá um turbilhão. — Você tá me observando há quanto tempo?

— Você tem que decidir, Jenna. Você quer me conhecer ou não? — ele suspira, como se estivesse esperando essa reação.

O jeito que ele fala faz alguma coisa dentro de mim gelar.

Porque eu sei a resposta.

Todas as vezes que senti um arrepio na espinha do nada. Todas as vezes que tive aquela sensação incômoda de estar sendo observada. Todos os momentos em que, no fundo, alguma coisa dentro de mim sabia que tinha alguém ali.

Era ele.

Sempre foi ele.

Eu preciso respirar fundo pra manter o controle. Meus dedos deslizam sobre o teclado do notebook, como se tocando aquelas imagens pudesse tornar isso menos real. Mas não torna.

Eu levanto os olhos, e ele ainda está me observando.

Minha mente berra pra eu fazer alguma coisa, qualquer coisa. Então eu faço.

— Você acha que isso é normal? — me inclino ligeiramente pra frente, encaro ele com os olhos mais frios que consigo.

— Jenna, eu — ele pisca, confuso.

— Você acha que é normal seguir alguém, invadir a vida de alguém, colecionar fotos que não deveria ter? — mantenho a voz firme, mesmo que por dentro eu esteja uma porra de um caos. — Você acha que isso não assusta?

Ele me encara por um segundo a mais. Depois, sem aviso, pega o notebook do meu colo e fecha com um estalo seco. A força que ele coloca nisso me faz piscar.

— Isso é o que eu sou, Jenna. — ele diz sem hesitação. — Você quer ou não quer?

— O quê? — pergunto, enquanto meu coração falha uma batida.

— Eu. — ele diz sem hesitar.

— Eu não posso mudar quem eu sou. Não posso mudar o que fiz, o que faço ou o que ainda vou fazer. Mas tem uma coisa que você precisa entender... — ele se inclina, com os olhos fixos nos meus, e por um segundo sinto um impulso primitivo de recuar, mas me forço a ficar firme. — Tudo o que eu faço, Jenna... é por você.

— O quê?! — sinto minha respiração travar.

— Eu cuido de você, e eu protejo você.

— Você me persegue, é diferente. — uma risada curta e incrédula escapa dos meus lábios.

— Eu te guardo. — a convicção na voz dele é tão absurda que eu nem sei o que responder. — Você não entende... Eu venero você, Jenna. Eu mataria por você, e faria qualquer coisa por você

As palavras dele são ditas com uma facilidade, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como se fosse óbvio.

Mas não é.

Nada disso é normal.

— Você é maluco — sussurro.

— E você está aqui, me ouvindo — ele rebate.

Não sei o que é pior.

O fato de ele ter razão.

Ou o fato de que, por alguma razão doentia e inexplicável... eu ainda não mandei ele embora.

Eu deveria dizer alguma coisa. Gritar, xingar, mandar ele sair da minha casa. Mas minha boca não obedece, minha mente tá em curto-circuito. Porque ele tá certo. Eu tô aqui. Eu tô ouvindo. E o pior? Eu quero entender.

— Você tá dizendo isso como se fosse normal.

— Pra mim, é. — ele dá de ombros.

— Você tem fotos minhas que nem eu sabia que existiam. E você ainda tem a cara de pau de dizer que faz isso pra me proteger?

— Sim. — ele não desvia o olhar nem por um segundo.

Minha pele arrepia.

— Você tem noção do quão errado isso soa?

— Tenho.

Isso me desarma por um momento. Ele não nega, não tenta justificar e não se esconde atrás de desculpas esfarrapadas. Ele simplesmente aceita que ele é isso mesmo.

— Então por quê? — pergunto, incrédula.

— Porque eu não me importo com o que é certo ou errado. Só me importo com você. — ele fala como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Como se não houvesse outra opção além de me perseguir. — Jenna, eu não tô interessado no seu passado, nos seus fantasmas, no que você já passou. Nada disso me afeta, oque importa é o agora. E que eu faria qualquer coisa por você.

Um nó se forma no meu estômago.

Ele diz isso com tanta firmeza que me dá um calafrio. Meu corpo quer reagir, quer gritar que isso é loucura. Mas tem uma parte de mim, bem no fundo, que tá presa nas palavras dele. Porque ninguém nunca falou desse jeito sobre mim. Ninguém nunca olhou pra mim como ele olha.

E talvez seja isso que me assuste mais do que qualquer outra coisa.

— Você não entende o que tá dizendo — murmuro, tentando ignorar o arrepio que sobe pela minha espinha.

— Entendo mais do que você imagina. — ele não hesita, não demonstra dúvida, não parece nem um pouco arrependido do que acabou de falar.

— Você acha que isso é normal? Acha que pode simplesmente me perseguir, invadir a minha vida, me observar e chamar isso de proteção?

— Eu nunca disse que era normal, Jenna. Eu disse que era real. — ele dá um passo em minha direção, e meu corpo inteiro trava.

— Você não tem noção do quão assustador isso é.

— Tenho. — ele fala isso com uma calma absurda, como se já esperasse essa resposta, como se já soubesse exatamente como eu reagiria.. como se tivesse pensando em todas as respostas e perguntas que sairiam da minha boca.

— Então por que continua?

— Porque você é minha.

Minha respiração falha.

— Eu não sou sua, Matteo.

— Não ainda, Jenna.

O olhar dele é tão intenso que me faz estremecer. Eu preciso sair de perto dele, preciso mandar ele embora, mas minhas mãos estão trêmulas, e minha mente, fodida.

— Isso não faz sentido.

Ele sorri de canto, mas não tem nada de divertido na expressão dele.

— Faz, sim. Você só ainda não percebeu.

— Sai da minha casa. — digo, me levantando rápido.

Mas ele não se move.

Ele só fica, parado, me olhando. Analisando cada centímetro de mim como se estivessem me dissecando, como se pudessem enxergar algo dentro de mim que nem eu mesma vejo.

E eu odeio isso.

— Eu falei pra sair, porra!

Minha voz soa alta, meu peito sobe e desce rápido, e eu percebo que tô respirando mais forte do que deveria. Mas foda-se. Eu quero esse maluco longe de mim.

— Você tem certeza? — ele pergunta, com a voz baixa e calma.

Eu solto uma risada curta e completamente incrédula.

— Que tipo de pergunta é essa? Claro que eu tenho certeza! Eu não quero te ver, não quero saber de nada disso! Você é um maluco!

Ele pisca devagar, e por um momento, e mais uma vez não está surpreso. Como se já soubesse que eu reagiria assim. Como se estivesse esperando por isso.

— Tá bem.

Só isso?.

Ele diz essas duas palavras, sem emoção nenhuma, e simplesmente se vira. Caminha até a porta sem pressa, sem hesitação, sem parecer nem um pouco abalado.

E isso me dá um arrepio fodido.

Porque alguém normal teria ficado puto. Alguém normal teria insistido, discutido, tentado se justificar. Mas ele não. Ele age como se tivesse tudo sob controle. Como se soubesse que isso não é um adeus. Como se soubesse que, mais cedo ou mais tarde, eu ainda vou olhar pra ele de um jeito diferente.

E isso, por algum motivo, é mais assustador do que qualquer ameaça.

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