Relâmpagos cruzavam o céu incessantemente seguidos de seus trovões. Cada rajada de eletricidade acompanhava quase que em sincronia o movimento entre as espadas que se chocavam. A noite densa, a garoa fina, as folhas das árvores guiadas pelo vento desigual, que não tinha direção, imitando os outros seres que ali batalhavam também, entre fugas e quedas, cortes e mortes. Mas o confronto mais longo se destacava sob a luz inconstante do luar que se escondia e aparência. As técnicas eram perfeitas dos dois lados, apesar de diferentes. Os movimentos das pernas de um contracenava diretamente com os dos braços do outro. O primeiro com duas espadas curtas e o segundo com uma espada longa. A velocidade e a força. A leveza e a fúria. Na dança da luta, no impacto de cada golpe, eles foram aos poucos se afastando do ponto onde começaram aquele embate, embaixo das copas das árvores, atravessando algumas zonas de lama que não eram suficientes para dar vantagem ou desvantagem a qualquer um deles, até chegarem numa clareira, um grande trecho descoberto de vegetação, com apenas uma grama rasa. A chuva que tinha ficado mais forte, agora praticamente parara. A luz da lua agora refletia a calvície de um deles e não restava dúvidas: era o General Hantake, líder supremo de batalha do exército Corace. O adversário sabia bem quem enfrentava. Móretar buscava naquele confronto mais do que a defesa de seu povo, vingança pela morte de sua família, dizimada por um ataque impiedoso do General. Mas os outros ainda não tinham reconhecido quem estava ali, até então. Agora, pelo impacto que causavam os golpes, que chegavam a criar rajadas de vento, que pareciam mais golpes de energia estática, quem estava por perto desistia de seus confrontos para olhar a cena central. Blocos de rivais se dividiam e aos poucos criavam lados delimitando o confronto. Hantake era um gigante, já Móretar era pequeno e franzino e seus lindos e longos cabelos pareciam flutuar como ele próprio quando saltava ou desviava.
Quando, inesperadamente, o General pegou impulso e desferiu um golpe que mesmo defendido por Móretar, o jogou longe. Com excessiva confiança, Hantake, então começou a movimentar as mãos para lançar um feitiço Corace. Móretar, assim como Hantake, era fada de grau três e conhecia aquela técnica. Como todo feitiço de fadas, é preciso um alto grau de concentração, existe um bom consumo de energia e leva-se algum tempo para ser executado. Mais que rapidamente, o pequeno se apoiou com a lateral de uma das mãos ao chão, tocou com a espada do outro lado da grama em uma pedra, apenas para recuperar o equilíbrio e ganhar impulso e saltou sobre o inimigo. O gigante utilizou um dos pés para chutar Móretar de volta pra longe e continuar seu feitiço com as mãos. A apreensão começava a rondar os dois lados das tropas que já não sabiam se deviam intervir. Móretar parou por um momento e então, começou a correr. General Hantake começou a rir e correr atrás dele, assim como as duas tropas, incrédulas, que agora voltavam a se confrontar como que em provocação e resposta, sem deixar de atacar e correr, pra ver o desfecho do embate.Perto de Hantake terminar de conjurar o feitiço, Móretar parou e se virou em direção do que parecia ser sua morte. O sorriso de satisfação do general estava acompanhado do deboche do restante de seu exército que a essa altura eram os únicos que haviam chegado até ali. Os companheiros de Móretar já ficavam pra trás, vencidos ou desacreditados a respeito de uma vitória àquela altura.Quando as mãos de Hantake se levantaram lançando o feitiço de congelamento dos movimentos, as de Móretar também se levantaram lançando um feitiço de manipulação de água. Ele estava sobre uma plataforma, acima de um riacho, e fez da água se levantando a sua frente, espelhos, que refletiram e multiplicaram o feitiço, devolvendo-o para todo o exército adversário.Após a queda da água de volta para seu leito, todos estavam congelados a frente de Móretar que clamou pelo restante dos guerreiros Salvitares, que não podiam acreditar no que viam, quando se aproximavam. Assumindo o papel de líder, que tradicionalmente no povo Salvitar só surge no decorrer de uma guerra e não antes, ele ordena com um grito que todos matem os Coraces e os golpes de espadas simultâneos deflagram a vitória esmagadora de seu povo, que havia entrado naquela guerra com a expectativa de serem dizimados com honra.Os urros de comemoração vieram logo em seguida do som das cabeças sendo arrancadas pelas espadas. Os guerreiros Salvitares recolhiam dos corpos dos inimigos itens, relíquias, armas e se preparavam para retornar ao povoado, iniciando seus cânticos tradicionais. Móretar ficou imóvel. Via seu povo tomando o caminho de casa e decidiu ir para o outro lado. Não sabia direito o motivo. Talvez não quisesse a glória, a festividade. Sua vingança era seu objetivo concretizado, não trouxe alegria, nem sua família de volta. Estava aliviado pela paz, mesmo que temporária de seu povo, mas não sentia que era um líder. Seu destino parecia estar em algum outro lugar. Informou aos que lhe chamavam que não ia voltar. As tropas aceitaram a decisão, mas não sem entoar uma nova cantiga de um herói que salvou seu povo, criada ali, naquele momento, que contaria a história da continuidade de seu povo salvo por um pequeno herói improvável.Móretar seguiu o caminho da floresta, sem objetivos, sem lugar pra chegar, rumo ao desconhecido. Entre pesca e caça, poupando recursos e energia, foi passando os dias pensando em desistir do que nem sabia que fazia e seguir para o leste, voltar pra casa e assumir seu papel de vitorioso do qual abriu mão. Em sua jornada, até então, não tinha encontrado ninguém, nem fada, nem elfo, por isso ficou muito surpreso quando percebeu alguém a beira de um rio. Decidiu não cruzar o caminho daquela pessoa, mas essa pessoa tomou a decisão contrária. Na verdade, parecia que esperava por Móretar. Sem se virar para ele, já tendo percebido sua presença, o homem começou a pronunciar palavras que não faziam sentido. Elas eram de seu idioma, mas não diziam nada. Móretar se aproximou, perguntou o que ele dizia, se estava bem. Notou que se tratava de um homem bem idoso, o que não era nada comum nos reinos próximos. Na verdade, no mundo todo, não era comum encontrar pessoas mais velhas. Um idoso numa densa floresta não povoada, parecia algo extremamente absurdo. Chegou a acreditar que podia ser uma alucinação, o que também não fazia sentido, já que nunca, mesmo nas piores condições que ele já tinha enfrentado em sua vida, muito piores do que estar sozinho numa floresta, ele jamais havia tido algum tipo de alucinação, algo que também era extremamente raro em fadas com poderes.- Desculpe, você não vai entender muita coisa, mas direto vou ser, sua irmã está viva ainda! - Aquele senhor falou, deixando Móretar incrédulo.- Como você sabe disso? Como ousa falar bobagens assim? - Móretar respondeu ainda confuso, mas acreditando que aquilo podia ser alguma armadilha, algum truque.- Muitas perguntas que não posso dar respostas agora. Sua irmã não foi morta, na verdade, um sequestro aconteceu, não pelos inimigos que você conhece, mas por quem acredita serem amigos. - Continuava o ancião.De repente, um relâmpago cortou o céu parecia ter o atingido. Na verdade, o lampejo de luz abriu algo que parecia um portal na frente dele.- Algo impossível aconteceu, queria dar mais detalhes, mas preciso ir. Tentarei voltar. Boa sorte!Móretar viu o velho pular em direção daquele lampejo de luz e sem pensar muito bem, saltou, agarrando a perna do idoso no ar e com ele atravessou o portal.Por um momento era como se estivesse sendo massacrado por apedrejamento. Seu corpo sofria pressões de fora pra dentro e de dentro pra fora, ele não conseguia se mexer. Até que se sentiu completamente entorpecido. Conseguia ver alguns flashes de imagens. Viajava pelo espaço, flutuava por entre luzes de estrelas coloridas em alta velocidade. Tudo ficava escuro, breu total, depois luz intensa. E, então, nenhum dos seus sentidos mais existia.Começou a ouvir vozes.- Apagamos a memória dele, devolvemos ele pro seu planeta e pronto. - Dizia uma das vozes.- Não é tão simples assim, não sabemos como ele sobreviveu, nem se conseguiria sobreviver a um retorno. - Outra voz respo
Aquele que parecia ser Vaes se aproximou de Móretar.-Acho que temos um pouco sobre o que conversar nesse meio tempo. - Ele se aproximou de Móretar e continuou andando em direção ao que parecia ser a saída, por onde os outros já tinham passado. Móretar seguiu. Ao passarem por aquela entrada, uma espécie de porta automática de onde não vinha luz do outro lado, saiu num deserto e atrás dele não tinha mais porta, não tinha casa, não tinha mais ninguém. - Isso não é bem um teletransporte, mas uma ilusão. Nesse mundo, nós 12 aprendemos a controlar facilmente a matéria, conseguimos fazer algo parecer uma coisa ou outra. Manipulamos os elementos, a luz, o ar, o que quer que seja. Temos alguma dificuldade de manipular seres vivos e não conseguimos definitivamente afetar uns aos outros aqui.
Móretar realmente tinha os tais dos desejosque Dafa procurava, mas também tinha os pudores. E sentimentos! Para ele não era assim que as coisas funcionavam.- Isso também faz parte de algum treinamento? Ou estamos apenas perdendo tempo? - Foi a resposta do rapaz, num misto de firmeza e gagueira bem disfarçada que precedeu um riso espalhafatoso de Vaes e uma rápida atitude de recuo de Dafa.- Incrível que possamos percorrer praticamente todo o Universo, possamos viver tantas vidas e mesmo assim, quando procuramos alguma diversão, é tão difícil de se encontrar. - Dafa parecia agora o oposto de antes, bem menos confiante, incorporando um semblante desesperançoso.- Onde estão os outros? - Perguntou, Vaes para Dafa, que num simples movimento com o corpo fez roupas se materializarem junto a seu corpo: um lindo e longo vestido preto b
Móretar acorda sobressaltado no susto. Precisa ser seguro por Zeon. Estão todos ali novamente reunidos: os quatorze. Dois dos que o literalmente atacaram estavam nos cantos, num processo que parecia ser o de recuperação de energia. Duas das componentes do grupo, que Móretar ainda não estava familiarizado com os nomes estendiam as mãos por sobre Juper e Dafa e uma espécie de brilho os irradiava.- É, meu caro, foi um bom início, realmente. Parabéns! - Dizia, o velho Hagar se dirigindo para Móretar. - O estrago que essa equipe fez em você naquela floresta foi bastante considerável.- Bom, na verdade eu gastei mais energia retendo poder de fogo e construindo aquele lugar do que atacando, mas tudo bem, qualquer um no seu lugar, no seu nível, ou até mesmo superior, precisaria ter sido salvo antes do fim. Não foi
Móretar era dedicado, continuava exaustivamente tentando. Mas sua insistência ou resultava nos mesmos erros e em resultados parecidos ou nem chegava a produzir qualquer resultado que fosse.- Você está se concentrando demais, agora. Você pensa em controlar o ar, você pensa em controlar o fogo, você pensa em controlar a água. Esforça sua mente em cada um desses processos e não consegue mantê-los. Isso é evidente, ninguém consegue fazer isso. - Vaes falava e Móretar ficava mais confuso. - Veja, tente apenas sentir os elementos. Sinta tudo acontecendo ao mesmo tempo. Tudo é uma coisa só.Móretar tentou fazer o que Vaes disse, mas era muito difícil. Da forma como ele aconselhou, ele não conseguia nem controlar nada. Nenhum dos elementos. Dafa deu alguns passos em direção a Móretar, abriu
Dafa agarrada em Móretar, voando num Pégaso, sob a luz de um luar que era tão admirável quanto não via a tanto tempo. O ar muito puro e o cheiro do rapaz confundiam a boa sensação que ela tinha.- Móretar! Móretar! Volte agora! - Gritou, Dafa.Móretar não entendeu mas deu meia volta com Kingzar. Pousaram e Dafa correu para dentro da pequena cabana que tinha ali. Móretar correu atrás preocupado. Na penumbra, Dafa agarrou o rapaz o beijou intensamente e começou a tirar a roupa dele.- O que aconteceu? - Ainda perguntou, Móretar.- Podemos viajar pela manhã. Mas agora o que eu mais queria era por pra fora tudo que você está me fazendo sentir. - Ela respondeu terminando de tirar a roupa dele e o acariciando. Ele fez o mesmo com ela.Tudo foi muito intenso, com um desejo mútuo, uma vontade
Athos teletransporta os três de volta para o planeta Key mas, desta vez, na entrada do Palácio dos Elfos. Móretar nunca havia conhecido o lugar pessoalmente, apenas por descrições de outras pessoas e achou quase tão grandioso quanto as construções das fadas. Não havia ninguém, as entradas estavam desprotegidas. Entraram e seguiram pelos corredores vazios.Quando chegaram na sala do trono, viram os três companheiros de Athos parados na entrada e, no chão, Móretar pode reconhecer que se tratava da filha do Deus criador, ele já havia visto muitas imagens dela, retratos. As fadas, diferente dos Elfos, não mais louvavam o Deus Criador, tal religião havia sido deixada de lado a muito tempo, mas ainda assim, encontrar com aquela figura era algo muito impactante para ele. As circunstâncias eram ainda mais chocantes. Ela estava
Móretar despertou amarrado em uma árvore. Estava próximo da Cidade das Fadas. Havia muito tempo que não retornava para o local onde nasceu. À primeira vista não havia ninguém por perto, mas rapidamente sentiu presenças, sinais de pessoas.Fadas mascarados apareceram diante dele.- Móretar! Não posso acreditar que é você mesmo. Finalmente te reencontrei. - Dizia, enquanto tirava sua máscara. Pela voz, Móretar já tinha reconhecido, mas ainda não conseguia acreditar até que mostrasse seu rosto.- Clarm, é você mesmo? - Perguntou, Móretar, muito emocionado, ainda sem conseguir acreditar que era a irmã diante dele.- Procurei tanto por você? O que estava fazendo, se unindo a falsa Rainha? Você se transformou no líder Salvitar, vencendo uma Guerra contra tropas Coraces, impedindo que