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Desaparecimento

𝑺𝒆𝒊𝒔 𝒂𝒏𝒐𝒔 𝒂𝒕𝒓𝒂𝒔

     – E então Eva, o que você quer fazer hoje? – Jared me perguntava enquanto prendia uma mecha de meus cabelos entre seus dedos olhando-me com ternura.

     – Estava pensando em fazermos um piquenique com a Marina. – Retribuo seu carinho pegando em sua mão. Marina era a filha mais nova de Jared, tinha quatorze anos e era uma menina doce de aparência angelical, estava sempre à ver o lado bom das coisas e contagiava todos com sua positividade. O primogênito de Jared era Alexander de dezoito anos que coincidentemente havia nascido no mesmo dia e hospital que eu porém isso era a única coisa que eu sabia sobre ele já que sua relação de pai e filho não era muito boa.

     – Acho ótimo meu amor. Quero aproveitar com você o maior tempo possível. – Ele permanecia ali me fitando com aquele olhar que fazia-me sentir segura e acolhida.

     – E nos vamos, temos a vida inteira.  – Nesse momento ele apenas acentiu desviando seu olhar do meu. – Você está estranho hoje, aconteceu alguma coisa. – Puxei seu rosto para mim buscando o encontro de nossos olhares notando uma certa tristeza em sua feição.

      – Não foi nada meu anjo, vamos, vamos buscar a Marina e as coisas para o piquenique. – Ele pegava em minha mão me direcionando até o carro.

      Nessa tarde fizemos o piquenique em um parque e depois voltamos para casa. Marina havia dormido e Jared e eu estávamos na sala assistindo alguns filmes até que ele se levantou indo até a cozinha pegando uma garrafa de vinho, tranzendo-a seguida de duas taças.

  

     – Toma. – Ele coloca a bebida na taça entregando-a para mim que pego meio sem jeito. Eu bebia socialmente, raríssimas vezes então não era expert em saber como segurar taças.

    – Para mim? Algo para comemorar? – Eu dou um pequeno gole fazendo uma careta em seguida, aquilo para mim era como se fosse a bebida mais forte do mundo.

     – Não, só quero aproveitar meu tempo ao seu lado. – Ele acaricia minha bochecha enquanto eu continuo a entornar pequenos goles. Ao terminar, Jared se deita no sofá e eu meu aconchego em cima dele recostando minha cabeça em seu peito. 

     – Eu acho que vou dormir. – Digo entre bocejos sentindo o sono me corroer de uma forma que nunca acontecera antes. Minhas pálpebras se fechavam sozinhas e meu corpo parecia pesar como uma rocha.

    – Pode dormir amor, durma tranquila. – Sinto ele afagar meus cabelos e acabo por pegar no sono alí mesmo.

         

     Na manhã seguinte abro meus olhos lentamente tentando desviar um pouco da claridade que vinha da janela do quarto tentando adentrar bruscamente em minhas vistas. Me pego deitada sozinha na cama e tento com um pouco de esforço me lembrar da noite passada.

      – Jared? – Chamo cogitando se ele poderia estar no banheiro da suíte. Sem resposta eu me levanto indo até o mesmo tomar um banho. A água quente caindo sobre meus ombros me trazia uma sensação de relaxamento que me fazia suspirar e querer passar horas ali. Ao sair do box visto um roupão e me olho no espelho, limpo um pouco do embaçado que a alta temperatura da água causara e noto algumas olheiras. Saio do banheiro colocando um chinelo e indo em direção à saída do quarto. 

      – Marina, vamos tomar café. – Eu paro em frente a porta de seu quarto dando algumas batidas vendo a mesma se abrir lentamente. – Marina? – Vejo seu quarto todo arrumado mas vazio. – Estranho. – Saio de lá encostando a porta descendo as escadas em direção à cozinha. Não muito diferente dos outros cômodos lá também não tinha ninguém. Pego uma xícara de café indo até a sala procurando meu celular até achar-lhe debaixo de uma almofada. Procuro o nome de Jared na lista de contatos e o ligo esperando se número chamar.

     – * O número que você ligou não existe. 

    – Como assim? – Eu indago à mim mesma tentando novamente ouvindo sempre a mesma mensagem. – O que está acontecendo? – Ligo para o celular de Marina e a mesma mensagem é repetida também no número dela. – Isso não está me cheirando bem. – Eu subo rapidamente até o quarto abrindo nosso guarda roupas vendo a parte do Jared completamente vazia, quando olho mais afundo vejo apenas um bilhete em uma das gavetas.

(Me perdoe por isso baby mas não espere por mim. Eu não irei voltar mais.)

      Nesse momento, um sentimento de pânico toma conta de mim fazendo meu coração acelerar, eu não fazia ideia do que estava acontecendo e era muita informação para minha cabeça. Me sentei sem jeito na cama buscando fôlego tentando controlar o desespero que já vinha tomando conta então pego meu celular e tento ligar para Minna e sendo atendida dessa vez.

      – Minna, sou eu. Você sabe aonde o Jared está?! – Eu falava apressadamente quase enrolando as palavras.

    – Oi Eva. Não sei, aconteceu alguma coisa. – Seu tom agora mostrava-se preocupado e apreensivo.

    – Eu não sei, ele simplesmente sumiu. – Eu começo a deixar algumas lágrimas caírem já sem conseguir controlar o pânico. – As roupas dele sumiram, o celular deles dá como inexistente e ele deixou um bilhete dizendo que não voltaria mais. – Há essa altura eu já estava aos prantos sem mais nenhum controle.

– Querida, se acalme, deve ter alguma explicação para isso. Por que você não procura o Alexander? Talvez ele saiba de alguma coisa. – Ela me dizia com um tom esperançoso que fazia-me tentar respirar fundo tentando manter a calma. – Vou te m****r o endereço dele pelo W******p. Não fique assim, vai dar tudo certo.

    – Tudo bem obrigada Minna. – Eu desligo tentando controlar as lágrimas e seca-las inutilmente. Não conseguia pensar direito e sentia minha cabeça latejar por conta do choro, sentia uma dor enorme do peito e torcia com todas as minhas forças para que aquilo estivesse sendo apenas uma brincadeira. Me visto e sigo o conselho de Minna, implorando sozinha para que na casa de Alexander eu obtivesse respostas.

...

– Eu já falei para a Minna m****r ela vir te procurar. Por favor Alexander, essa é a única coisa que eu te peço na vida, cuida dela. – Eu colocava minha mão em seu ombro suplicando para que ele cuidasse de Eva enquanto eu estivesse fora.

     – Pode deixar, você pode ser um babaca egoísta Jared mas eu não sou. Eu vou cuidar dela. – Ele me dizia enquanto tirava bruscamente minha mão de seu ombro e eu realmente não podia culpa-lo por isso, entretanto eu não tinha mais à quem recorrer, tinha que ser ele.

      – Pense o que quiser de mim, só cuide bem da garota filho. – Eu pedia-lhe novamente vendo-o me olhar com deboche.

     – Você não tem moral para me chamar de filho. Agora vá embora antes que eu volte atrás com minha palavra. – Eu simplesmente acenti virando as costas e entrando no carro. Agora já era tarde demais para voltar a trás. O que está feito, está feito, esse era o melhor para ela. Coloco meus óculos de sol ligando o som do rádio quase no último volume arrancando com o carro, aquilo estava doendo muito em mim e pensar em como a Eva devia estar, me fazia querer ir atrás dela e contar toda a verdade.

 ...

     – Eva, você por aqui? – Ele me recebia com um tom irônico após eu tocar a campainha insistentemente por minutos.

    – Desculpa aparecer assim. Você tem alguma notícia do seu pai? Ele simplesmente sumiu me deixando apenas esse bilhete. – Eu estendo a mão entregando-lhe o bilhete vendo-o começar a rir.

   – Ele realmente finge muito bem gostar de você. Quer saber a verdade? – Ele me fitava com um olhar cínico que me fazia engolir seco, eu não tinha certeza de eu queria saber o que ele tinha a dizer ou se eu podia confiar nele mas era a única opção que eu tinha.

    – Do que você está falando? – Aperto minhas mais na barra da minha blusa, com medo do que ouviria à seguir.

      – Ele esteve aqui agora a pouco me avisando que ia embora. – Ele praticamente cuspia essas palavras em mim enquanto mantinha um sorriso no rosto

     – E por que ele foi embora sem me avisar? Por que ele foi embora e me deixou? – Novamente eu podia sentir o desespero tomar conta e as lágrimas encherem meus olhos.

     – Porque você foi só mais uma na vida dele Eva. Ele te largou como já fez com várias e ainda vai fazer com muitas. – Cada palavra dele era como uma facada no meu coração. Isso não era possível, não tinha como ser possível. Eu me recusava a acreditar que tudo que nos dois vivemos não foi real, que todas as juras de amor foram falsas.

   – Não, não pode ser verdade. – Digo chorando enquanto ele me puxa para dentro do seu apartamento me levando até o sofá. – Ele me ama, eu sei que ele me ama. Deve ter havido algum engano. – Eu falava entre soluços sentindo como se meu chão tivesse desaparecido.

   – Senta e se acalma tá, vou pegar algo para você beber. – Ele enche um copo com uma bebida de tom amadeirado trazendo-a para mim.

   – Eu não bebo. – Digo fungando passando a mão por meu rosto sentindo o emaranhado de lágrimas virem junto.

   – Por que não? Por quê aquele babaca não deixava? Aceite os fatos, ele te abandonou. Ele nos abandonou. 

       Eu olho para ele e pego o copo da sua mão e dou um gole que parece rasgar a minha garganta. Uma sensação de ardor começa a tomar conta e instintivamente eu dou início a uma série de tosse descontrolada tentado desengasgar. 

     – Nossa, o que é isso? – Eu pergunto-lhe ainda tossindo, sentindo amenizar com o tempo.

     – Whisky, e dos bons. Vai te ajudar com essa dor que você está sentindo. – Ele se senta ao meu lado pousando seu braço em meus ombros e eu o encaro por uns instantes percebendo que ele também havia sido abandonado pelo pai. Alguns goles e desabafos depois eu começo a ficar tonta e ver tudo embaçado, entretando como Alexander havia dito, a dor tinha amenizado.

   – Quer saber Alexander? Foda-se seu pai! A gente não precisa desse merda. – Eu falava apontando para ele desengonçada entre risos.

     – Isso aí Eva, você tem toda a razão. – Ele riu junto indo até a estante pegando um saquinho de uma gaveta, abriu-lhe e despejou um pó branco em uma carteira batendo nele com um cartão.

     – O que é isso? – Pergunto mudando de posição e ficando de joelhos no sofá inclinando levemente a cabeça para poder enxergar melhor. O que era bem difícil devido ao meu grau de embriaguez.

     – Ah, isso aqui não é para você princesa. Isso aqui é forte demais, é cocaína. – Eu o encaro por uns instantes me levantando do sofá andando em passos tortos e desengonçados até ele.

     – Me ensina a usar. - Vejo-o me olhar com deboche o que para mim naquele momento não fazia diferença nenhuma.

   – Tem certeza? – Eu apenas concordava com a cabeça. Queria qualquer coisa que preenchesse esse vazio e se a cocaína fosse fazer isso, eu à queria também. – Não tem segredo, pega essa nota e usa para inalar. – Ele me entrega uma nota de cem reais enrolada e eu êxito por um momento. Começa a passar pela minha cabeça tudo o que havia acontecido nesse dia e então sem pensar mais eu faço com ele disse. Ao inalar aquilo sinto um ardor pelo meu nariz que percorre até minha garganta me fazendo pigarrear um pouco. Alguns minutos depois e Alexander e eu já estamos ouvindo música alta dançando como se o mundo fosse acabar à qualquer momento e sinceramente, eu preferia que acabasse.

  

*NOTAS DA AUTORA*

O intuito dessa história é apenas entreter. Não estou incentivando nenhum tipo de uso de substâncias tóxicas. 

A cocaína destrói vidas e famílias, não faça como a Eva. Permaneça longe das drogas.

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