A moto Coby Welsh seguiu, em alta velocidade, para fora de Baracoa, deixando para trás o subúrbio e encontrando o horizonte sem fim, das terras devastadas pela seca. Christopher acelerava, em direção ao nada, permitindo que o vento modelasse seu cabelo crespo, enquanto tentava organizar os pensamentos.
O assistente de xerife respeitava Munir, mas não poderia dizer que gostava do homem. Não sem mentir. Tentando usar o conhecimento que tinha sobre a forma de pensar do xerife, Christopher tentava justificar, de maneira racional, como permitir que ocorressem atrocidades, como a tortura daquela mulher, poderia ser algo que estivesse do lado da lei e da ordem. A areia castigava o lenço e as especulações se tornavam divagações.
Pensava: “Como seguir a lei, por si só, pode ser uma coisa boa, quando os legisladores não trabalham, necessariamente, em prol de um bem comum
- Vocês jogam mais uma rodada?Perguntou Ezra, com sua voz grave e, após os três acompanhantes concordarem com um aceno de cabeça, apertou um dos botões na lateral da mesa.Pequenas réguas metálicas organizaram as fichas de apostas, formando quatro pilhas, uma em frente a cada jogador, enquanto as cartas eram organizadas em um quadrado, no centro da mesa, embaralhadas e distribuídas, automaticamente, duas para cada jogador e três ao centro da mesa, voltadas para baixo.Mesmo com as cartas de baralho em uma das mãos, o copo de uísque na outra e os olhos vagueando pela multidão, Ahillea era capaz de prestar atenção à história contada por Lorenzo.O homem calvo olhou as duas cartas em sua mão e jogou para o centro da mesa, viradas para baixo, abandonando a partida. Gesticulava com a bengala, desviando habilmente das pessoas que passavam perto d
A moto flutuante, modelo Akhal Teke, ergueu uma nuvem de poeira, quando a xerife Carol girou o veículo em noventa graus, parando, bruscamente, nas proximidades do Bairro do Óleo, um antigo entreposto comercial fora da capital, Baracoa, que, esquecido com a mudança das rotas mercantis, se tornara o abrigo de foragidos, rebeldes e imigrantes ilegais, vindos de outros planetas.A mulher olhou para a rua deserta à sua frente, imaginando como, minutos atrás, antes de sua nuvem de poeira ser vista pelos habitantes, aquele local devia estar repleto de vida. Tentando convencer a si mesma de que estava do lado certo da justiça, disse:- Bom... Quem não deve, não teme.Ela sabia que essa era uma verdade relativa, afinal, Baracoa não era uma cidade justa e as leis pareciam ser flexíveis, dobrando sempre para o lado mais capaz de gerar lucros, ou mais próximo dos interesses da Repúb
Cansado, o operário removeu o capacete de escafandrista, assim que foi puxado de volta à superfície por um colega de trabalho, exibindo um rosto redondo e benevolente, com a pele lisa de quem se barbeia todos os dias pela manhã. Seu nariz não passava de um pequeno detalhe no centro do rosto e a boca uma linha discreta, sem lábios, entretanto os olhos eram grandes e azuis. Devido ao esforço, seu cabelo loiro estava colado na testa e as bochechas vermelhas.Romeu, o colega perguntou:- E aí? Qual a situação?Afonso coçou os cabelos louros, pensando no trabalho que teria ao preencher o relatório daquela missão submarina.- O equipamento tá desgastado, nada fora do normal, vai aguentar, sem problemas, até a próxima manutenção. O maior problema é que o nível do mar está baixando mais rápido que o esperado. Se
A jovem loura, de cabelos longos, cujos cachos serpeavam por suas costas até a linha da cintura, estava nua e observava atentamente seu reflexo no espelho. As coxas grossas e musculosas, os pelos pubianos que, da mesma cor de seu cabelo, cintilavam, o abdômen rígido com musculatura definida, os seios pequenos e duros, com mamilos discretos, quase da mesma cor de sua pele alva, salpicada por centenas de sinais. Os ombros largos e fortes, assim como os braços. Os olhos pequenos e verdes, o nariz pequeno, mas de traços fortes, assim como sua boca, que se mantinha em um constante sorriso sarcástico. Hilde olhava para seu belo rosto, depois para o corpo, modelado por seu treinamento constante, mas não sentia orgulho, havia até um certo quê de indiferença pelo que via. Desde que retornara para Yurok, retornando para casa de sua mãe, tinha de gastar horas se maquiando, escondendo suas feições, preparan
A porta da casa estava escancarada, mas o assistente de xerife hesitava, parado, do outro lado da rua. Não queria encarar uma cena de crime, pois, apesar de ser parte da sua função, era sensível e cada tragédia teimava em ficar registrada em sua memória, para lhe assombrar durante a noite, por isso, se preparava olhando para “o famoso céu de Yurok”, como sempre dizia.Aos trinta e cinco anos, Christopher ainda tinha um rosto jovem e o fato de carregar sempre um sorriso leve no rosto, ajudava a causar essa impressão. Não usava barba, mas carregava um fino bigode sobre os lábios grossos. Seu nariz era largo e as narinas bem abertas. Os olhos, redondos e escuros sempre deixavam o interlocutor à vontade, pois, passavam a segurança de que tudo o que era dito tinha sua importância. Contrariando a moda da Capital, o assistente não usava chapéu, exibindo com orgulho seu
O relógio da torre soou, pela sexta vez, indicando que Maureen estava atrasada. A dançarina seria capaz de jurar por cada um dos deuses da Tríade que saíra de casa no mesmo horário de sempre e ela não estaria mentindo. O que jamais contaria a ninguém é que entrara em uma chapelaria na Rua do Rio e, após quase quarenta minutos, deixara a loja com o mesmo chapéu e sem nenhum embrulho nas mãos.Maureen cortara caminho pelas vielas do Bairro da Feira, tentando encurtar o caminho, mas ainda tinha algumas centenas de metros a percorrer antes de chegar a seu objetivo. Para concluir sua jornada até o Saloon Juanito Três Dedos com menos atraso, a dançarina ergueu sua volumosa saia até a altura dos joelhos, ergueu do chão uma das pernas, fazendo um ‘quatro’ e tirou um dos sapatos. Colocou o pé descalço, cujas delicadas unhas estavam pintadas de verde
Escurecia e as lâmpadas da delegacia continuavam apagadas. No mural de avisos, alternavam-se os cartazes de procurados, exibindo as últimas atualizações do sistema global. Não havia ninguém na cela de detenção provisória, pois, a atual gestão estava mais interessada na parte dos cartazes em que a palavra “morto” aparecia. Mas, apesar da tranquilidade reinante, não havia silêncio.Quem entrasse na delegacia veria, logo na primeira mesa, as solas da famosa bota com salto carrapeta. De cano alto e em couro de cobra, com padrões em preto e tons claros de cinza, o artigo era único em Baracoa, quase tão famoso quanto o homem que o calçava. A segunda coisa que o visitante perceberia, era o ronco do proprietário da bota. O som alto e inconstante, característico de quem sofre de apneia.O dorminhoco vestia calça jeans azul escura, com pe
O homem tinha o cabelo curto, liso e preto, penteado para o lado e mantido no lugar por algum produto capilar extremamente superfaturado. Seu rosto tinha um formato ovalado e livre de marcas de expressão. Os olhos rasgados, incomuns em Yurok, deixavam-no com uma expressão desconfiada. A boca não passava de um traço reto e inexpressivo. Vestia um terno feito sob medida, confeccionado por um alfaiate que cruzara meia galáxia apenas para trabalhar em suas vestimentas. O caimento ajustava-se perfeitamente ao corpo de Sakakibara, que, apesar da sua vida cheia de compromissos sem sentido, como presidente fantoche de Yurok, ainda encontrava tempo para manter uma “silhueta presidenciável”, como costumava dizer. Estava sentado no salão de descanso do Palácio Presidencial Jardim Estelar, lendo um livro, cuja história, fictícia, contava as façanhas de um ladrão de bancos que aterrorizava os poderoso