Ao chegar em casa, após um dia estranho, sentindo-me observada a cada passo, agora estou deitada no aconchego do meu quarto e fico um pouco melhor. Mas tenho certeza de que, hoje à noite, minha vida mudará por completo. Enquanto penso nisso, sinto-me meio sonolenta e aproveito para tirar um cochilo, mas logo acordo com uma voz chamando meu nome. Penso que seja minha mãe, mas ao ir até a porta, não vejo ninguém.
— Helena, você está me ouvindo? — escuto mais uma vez aquela voz. — Quem está aí? — pergunto, sem entender nada. — Sou eu, Helena, sua loba. — Minha loba? Mas como? Você não deveria aparecer apenas após meia-noite? — Não, Helena. Como você nasceu pela manhã, tecnicamente, esse é o horário em que seu lobo desperta. Então, está preparada para hoje? Vamos encontrar o nosso companheiro; você vai passar pela sua transformação. — Para a transformação, sim, pois companheiro é outra história; não quero me iludir com a possibilidade de encontrá-lo. Vou esperar os planos da Deusa Luna para nós. — Mas você sabe que precisamos dele. Ele é aquele que nos completa e que vai nos proteger. — Prefiro não criar expectativas. Fale-me mais sobre você; estava tão ansiosa para tê-lo comigo. — Bom, sou sua loba, chamo-me Rania e a minha forma você verá à noite na nossa transformação. Continuo conversando com a minha loba até dar a hora de me arrumar para a tal festa, da qual estou com zero vontade de ir. Passei o dia sem ver os meus pais; eles passaram o dia na frente da guarda da festa para não dar nada errado, já que hoje é o último dia em que estarão a serviço da guarda do Alfa. Quando já eram oito horas da noite, Antony e Ana vêm me dar uma carona para a festa. Ana está muito animada. Chegamos rápido à casa da alcateia onde a festa vai acontecer. Ao entrar, vejo os meus pais, e a minha mãe logo vem me abraçar e me desejar parabéns. — Filha, eu estou tão orgulhosa da mulher que você está se tornando. Nunca deixe ninguém ferir os seus sentimentos, pois você é mais forte e sabe disso. — Obrigada, mãe. Espero me tornar metade da mulher que você é. — Nós nos abraçamos e escutamos um fungado. Ao olhar para trás, vemos Ana com os olhos lacrimejando e também a abraçamos. — Chega! Hoje é dia de festa e não de choradeira — disse meu amigo, tirando-nos do nosso mundo de meninas. — Insensível! — disse Ana. — Vamos logo entrar antes que a nossa maquiagem precise de alguns retoques. Mamãe se despediu de nós, e entramos para procurar um lugar para ficarmos, já que não tínhamos muito o que comemorar na festa do “Futuro Alfa”. Bebemos até eu sentir aquele incômodo outra vez. Ao procurar de onde vinha, eu o vi olhando para mim. Meu corpo estava todo arrepiado; minha loba estava inquieta, pedindo para eu chegar mais perto dele, mas eu a contive e virei para os meus amigos, fingindo não ver e muito menos sentir nada. Sempre é assim quando estamos perto um do outro: ele me incomoda com seu olhar, seu cheiro; tudo nele me incomoda. Sinto ciúmes, raiva e tento demonstrar o menos possível. Se ele, pelo menos, sonhar que a ômega que ele tanto despreza sente algo por ele, tem até dó de mim. Espero que essa noite não se torne pior do que já está sendo. Rania fica ainda mais inquieta; ela está bastante agitada esta noite. Não entendo o motivo; parece que ela está sentindo que algo está para acontecer. Só não sabemos se é algo bom ou ruim. Pelo bem da minha mente, espero que aconteça algo bom, algo ótimo. Não consigo decifrar o clima do ambiente. Uns estão dançando, outros estão comendo os aperitivos que estão sendo servidos. Ana está ao nosso lado fazendo as duas coisas: comendo enquanto se remexe. E, mais uma vez, ela não percebe que está sendo observada. É sério, às vezes penso que ela finge não perceber. Como pode, toda vez que eles, Henry e Ana, estão no mesmo ambiente, ele só falta babar por ela? Sempre com os seus olhinhos de cachorro sem dono; no caso dele, lobo sem dona (hahaha). Espero que não demore para eles ficarem juntos, porque, pelo que tudo indica, eles serão companheiros um dia. Ana merece ter alguém como ele para amá-la e protegê-la. Procuro ver os meus pais, mas só consigo observá-los correndo de um lado para o outro. Papai troca um olhar comigo, sorri e j**a um beijo de longe. Finjo pegar e colocar no meu peito, do lado do coração. Amo os meus pais, e eles sempre foram assim, cuidadosos com as pessoas do bando. O Beta do nosso Alfa foi enviado para liderar uma nova alcateia da qual fazemos parte. O Alfa até pediu para o meu pai se tornar o braço direito dele quando o Beta se foi, mas ele recusou porque, se ele tivesse aceitado, teríamos que morar aqui na casa da alcateia. Porém, papai e mamãe sabiam que, assim, teriam mais risco de o meu segredo ser descoberto, então ele preferiu continuar como Gama. Apesar de o Gama também ter que morar na casa da alcateia, o Alfa liberou os meus pais para nos dar mais privacidade. Não é fácil viver com esse segredo; vejo os meus pais já sacrificando muitas coisas por mim. Já surgiu a oportunidade de eles chefiarem uma nova alcateia que ficou sem o seu Alfa, após uma luta contra a nossa alcateia. Só que, mais uma vez, eles tiveram que dizer não, e isso só faz eu amá-los mais e mais, pelo cuidado que eles têm por mim. Por isso, tento ao máximo valorizar cada dia mais a presença deles no meu dia a dia. Sou tirada dos meus devaneios quando sinto uma presença perto de mim. Tento olhar para o lado para ver de quem se trata, mas há muitas pessoas ao meu redor. Essa presença me deixa em alerta. Não parece ser ninguém conhecido. Tento olhar mais uma vez pela multidão, procurando descobrir de quem se trata, mas só vejo pessoas conhecidas. Quando meu olhar circula entre a multidão, ele para em Theo. Ele está me olhando com um brilho estranho, como se fosse arrancar um pedaço da minha alma. Ficamos assim por um tempo, acho que querendo ver quem vai desistir primeiro, mas logo perco o jogo quando Tony chega perto de mim, segurando a minha mão. — Você está bem, Lena? — ele pergunta, olhando e sorrindo. — Estou, sim. Só estou um pouco frustrada por não estar na minha cama assistindo às minhas séries. Não consigo ver nada de especial aqui; este negócio de festa não é para mim.Sinto o brilho do sol entrar pela fresta da cortina do meu quarto. Abro os meus olhos e vejo que já amanheceu. Hoje é o dia do meu aniversário de 18 anos e o dia em que me torno o Alfa da alcateia. Aí poderei governar ao lado da minha companheira prometida. Meus pais sempre me falaram que a minha companheira seria uma Luna que governaria de igual para igual comigo. Então, espero que ela seja bem forte, igual a eles sempre me fizeram acreditar que ela seria. Hoje também é o aniversário da filha do Gama do meu pai, Helena. Aquela ômega sempre atrai a minha atenção, apenas por respirar o mesmo ar que eu. Ela é uma ômega fraca que, por ter os pais lutadores, acha que tem o direito de andar com o nariz empinado, se achando a garota superpoderosa. Embora ela seja uma garota muito bonita, o que ela tem de linda, tem de fraca. — Acho que posso dizer que você tem uma quedinha por essa ômega. — diz uma voz no quarto. — Quem está aí? Fala logo ou arranco a sua cabeça. — Calma, queridinho. Par
— Meu companheiro! A minha loba sentiu o nosso companheiro; só não posso acreditar no que meus olhos me mostram. Não acredito que meu companheiro é o lobo que quer tanta distância de mim por odiar pessoas fracas. — Vamos, Helena, aproxima-te do nosso companheiro. Por favor, deixa-me sentir o cheiro dele mais de perto. — Rania, se acalme. Vamos esperar. Se ele nos quiser, virá até nós. Não podemos nos apressar e correr atrás dele, para que logo em seguida ele nos rejeite. Então, mantenha a calma. Se ele realmente nos aceitar como sua companheira, conforme a vontade da Deusa, ele virá até nós. Mas creio que ele não virá; ele sempre diz que não gosta de ômega para quem quiser ouvir. Para Helena, ele vai nos aceitar, sim. Somos a terceira geração da Deusa, somos a raça de lobos mais poderosa do mundo inteiro. Como ele poderia nem sequer pensar em nos rejeitar? — Sim, Rania, nós somos, sim, filhas da terceira geração da Deusa, só que ninguém sabe disso aqui. Só quem sabe são noss
É sério o que estou ouvindo? Ela está pedindo para eu rejeitá-la logo, porque o tempo dela é sagrado demais para ficar ao meu lado. Quem ela pensa que é? Eu sou praticamente o alfa da alcateia Lua Crescente e ela é apenas uma ômega sem valor, então ela deveria se sentir honrada em ficar, nem que seja por uma hora, ao meu lado. Mas, se o que ela quer é ser rejeitada rápido, pois é isso que farei, porque eu não quero passar mais nem um segundo ao lado dela, desse cheiro fascinante que ela tem. Foco, Theo, foco. Preciso terminar logo isso de uma vez antes que eu faça alguma besteira que não poderá ser corrigida. Olho nos olhos dela e algo dentro de mim está sendo consumido só de pensar na dor que farei com que ela passe ao ser rejeitada. Foco, Theo, foco. Preciso fazer isso logo e será melhor para todos. — Não, Theodoro! Você não vai fazer isso com a nossa companheira. Jamais aceitarei outra se não for ela. Você entendeu? Não machuque nossa menina, ela é tão frágil. Não vê a dor que
Pego distância dele, com Rania gritando e se contorcendo dentro de mim. Deixo as lágrimas rolarem; estou chorando pela minha loba, que esperava tanto pelo seu companheiro, esperando que ele a amasse com todo o seu ser, que nos aceitasse da forma que somos. Só que ele fez tudo ao contrário do que esperávamos, do que imaginávamos, só porque ele acha que somos uma loba fraca, como ele falou. — Calma, Rania, vamos conseguir passar por isso de cabeça erguida. Eu preciso de você para enfrentarmos isso juntas. Lembre-se do que nossa mãe falou: juntas somos mais fortes. Tento acalmar minha loba, mas ela só chora, apenas chora. Queria poder abraçá-la, transmitir um pouco de carinho e consolá-la. Sei que a ligação dela com o lobo de Theo é mais forte do que a minha ligação com o próprio. — Dói tanto, Helena, como dói. Ele não poderia ter feito isso conosco. Ele é tão cruel; suas palavras foram devastadoras. Ele foi contra seu próprio lobo, contra a vontade da Deusa Luna — Rania fala, chorami
Consegui tirar um cochilo, mas logo fui acordada por Rania choramingando. A rejeição continua machucando muito; minha alma está destruída. Ninguém merece ser rejeitado pela pessoa com quem foi feita para passar a vida ao seu lado. Sei que vou me sentir assim por uns dias, mas sou forte. Espero que, quando voltarmos às aulas, essa dor tenha acabado ou, pelo menos, diminuído. Levanto da cama, faço minha higiene pessoal e me sento em frente à minha penteadeira. Olho-me no espelho e vejo que minhas olheiras estão denunciando que passei a noite em claro. Não sou muito de usar maquiagem e, na verdade, eu nem sei usar; quem sempre a aplica em mim é Ana, mas às vezes eu tento. Passo um corretivo embaixo dos olhos para esconder as olheiras, vou até o meu guarda-roupa, que mais parece um closet, e pego um shortinho confortável e uma regata, já que estou em casa; nada melhor do que ficar confortável. — Bom dia! Minha filha, você sumiu ontem à noite na festa. Achei que você estaria curtindo um
O dia de hoje está tão estranho; eu estou me sentindo tão estranho. Parece que a dor da conexão cortada com Helena está aumentando, mas não é só a conexão: estou ansiando por vê-la. Parece que só assim ficarei satisfeito. Mesmo eu a rejeitando, continuo querendo sentir o cheiro dela. Como posso ainda querer que ela esteja perto de mim se eu cortei nossa ligação? Eu achava que não iria doer tanto assim, justamente por ela ser uma ômega, mas estava enganado, muito enganado mesmo. Por que tem que doer tanto? Meu anseio por ela só está aumentando em vez de diminuir ou acabar de vez. Ontem, após Ryle tomar conta do meu corpo, ele me levou até a casa dela e, por pouco, a raiva não tomou conta de mim. Quando a vi nos braços do "amiguinho" dela, sei que ela percebeu minha presença porque, depois de olhar para onde eu estava em minha forma de lobo, ela ficou encarando por um tempo e logo se despediu do amigo dela e entrou em casa. Mas não antes de cravar a faca em meu peito, dando um beijo na b
Quando nossos olhos se encontram, vejo que ele me olha de um jeito diferente, como se estivesse tentando ler o que estou sentindo só com os olhos. Mas não deixo transparecer nada do que estou sentindo; ele jamais saberá que estou com a alma em caquinhos. Rania se agita dentro de mim e diz que sente o cheiro forte dele e fica fungando de novo. Não entendo o motivo de ainda sentir o cheiro dele. Achei que, quando se é rejeitada, a ligação acabava e parávamos de sentir cheiro, até emoções uma pela outra. Mas, pelo que Tony disse, a ligação demora a ser quebrada de vez. Eu só queria não ter que ver **ele** sempre que saio de casa; queria passar uns dias sem ter que olhar na cara dele. Assim, não será fácil esquecer o que esse babaca fez com a gente. Será que ele me rejeitou por causa dessa lambisgoia da Vanessa? Pois que ele faça bom proveito dessa sem graça. Vanessa parece uma sanguessuga agarrada nele. Nossa! Essa garota parece não ter amor-próprio. Quando ela vê que estou olhando para
Afasto Tony da minha frente e fico cara a cara com Vanessa, que continua com seu nariz empinado, querendo sempre ser a mais forte. Mal ela sabe que não preciso nem me transformar para arrancar a cabeça dela. Com um estalar de dedos, eu posso acabar com a raça dela. Tenho alguns poderes que estão acordando com o passar do tempo. Minha mãe disse que mais poderes irão surgir, como o despertar da minha loba. Eu me curo mais rápido do que os outros lobos e tenho um pouco mais de força que alguns também. Por isso, seria bem fácil arrancar a cabeça de Vanessa sem precisar da ajuda de Rania. Só não faço isso porque não posso mostrar meus poderes e me revelar para as pessoas que me procuram. Também sei que, lá no fundo, Tony ainda sente algo por ela, então só me contento em derrotá-la com minhas palavras. Não perco tempo e já a coloco no seu lugar, de onde ela jamais deveria ter saído. — Sabe, Vanessa, você é uma pessoa tão vazia que não sabe nada da vida. Só pensa na grandeza. Você acha que