Sinto o brilho do sol entrar pela fresta da cortina do meu quarto. Abro os meus olhos e vejo que já amanheceu. Hoje é o dia do meu aniversário de 18 anos e o dia em que me torno o Alfa da alcateia. Aí poderei governar ao lado da minha companheira prometida. Meus pais sempre me falaram que a minha companheira seria uma Luna que governaria de igual para igual comigo. Então, espero que ela seja bem forte, igual a eles sempre me fizeram acreditar que ela seria. Hoje também é o aniversário da filha do Gama do meu pai, Helena. Aquela ômega sempre atrai a minha atenção, apenas por respirar o mesmo ar que eu. Ela é uma ômega fraca que, por ter os pais lutadores, acha que tem o direito de andar com o nariz empinado, se achando a garota superpoderosa. Embora ela seja uma garota muito bonita, o que ela tem de linda, tem de fraca.
— Acho que posso dizer que você tem uma quedinha por essa ômega. — diz uma voz no quarto. — Quem está aí? Fala logo ou arranco a sua cabeça. — Calma, queridinho. Para arrancar a minha cabeça, você tem que arrancar a sua também. — Não entendi. — Para um Alfa, você é meio lento, hein? Então deixa eu me apresentar: eu sou Ryle, o seu lobo. Então, vai arrancar mesmo a minha cabeça? Acho que não, hein? — Ele gargalha. — Para um lobo recém-despertado, você é bem engraçadinho, hein? — Então, fale-me mais sobre essa ômega. Parece que vamos ter muito o que conversar. — Não sei o que você está falando. Eu não tenho nada a dizer sobre ela. Não, de pessoas fracas, eu quero distância. — Já vi que com você eu vou ter só dor de cabeça. — Ah! Dê-me um tempo. Vou logo me arrumar para ir para aquela bendita escola. Desliguei a minha conexão com o meu lobo e fui me banhar, já imaginando as minhas tão merecidas férias. Após o banho, fui para a cozinha e já encontrei Henry e Artur sentados à mesa tomando o café da manhã. Dos três, eu sou o único que não encontrou a parceira. A metade de Artur acabou sendo minha irmã; eles, desde muito novos, têm uma conexão forte e nunca se desgrudaram. Henry, por sua vez, já encontrou a sua parceira, que é a melhor amiga de Helena, a ômega, só que ele não contou a ela. Ele está esperando ela completar os 18 anos; enquanto essa data não chega, ele fica babando por onde ela passa. Chegamos à escola e, mal piso o pé na entrada, lá está Vanessa, que vem logo de chamego comigo. Já deixei bem claro a ela que, quando encontrar a minha Luna, ela que procure outro rumo. Ela disse que isso é injusto, pois rejeitou o seu companheiro por mim. Eu, que sou doido, nunca pedi isso a ela, mas fiquei me achando o “gostosão” e feliz, já que o lobo que ela largou é amiguinho de Helena. Não vou com a cara daquele fulaninho, sempre grudado nela; parece até um carrapato. — Isso se chama ciúme. — Escuto mais uma vez o meu lobo e finjo não ouvir. Começo a sentir um cheiro bem fraco no ar, um cheiro fascinante. Procuro de onde vem esse cheiro, que logo vai aumentando, até eu ver de quem ele vem: da única pessoa de quem mais quero me distanciar. O meu lobo está inquieto e querendo chegar perto dela para sentir esse cheiro mais intensamente. Quando me espanto, já estou lá, cara a cara com ela, e só peço à Deusa Luna que isso seja uma brincadeira comigo, porque não tem graça nenhuma. Sou tirado do meu pensamento quando escuto a voz de Vanessa. — Helena, querida, você não cansa de viver nas sombras da realeza? Vejo a ômega olhando para nós cinco até chegar a minha vez. Foi um olhar fascinante. Só posso estar ficando louco, porque sinto um frio na barriga, mas trato logo de empurrar isso para longe e corto esse clima. — O que você está olhando, ômega? Perdeu o medo da morte? Vejo-a baixando a cabeça, mas sem perder o sorriso, de quem não está nem aí para o que nós pensamos. Deixo-a passar por mim, querendo distância dela e desse cheiro viciante. Já estou na sala quando ela aparece com aquele fulaninho e a companheira de Henry. Quando vejo que aquele idiota está segurando seu ombro, meu sangue ferve. Olho para ela durante a aula inteira sem disfarçar e, se eu pudesse queimá-la com o olhar, ela já teria pegado fogo. Ao fim da aula, quando entro no meu carro, a vejo com o seu amiguinho no carro dele e dou um soco no volante, sem entender a minha atitude. — Calma, cara, você vai acabar atropelando alguém. — diz Henry ao entrar no carro ao meu lado. — Eu odeio lobos fracos que não sabem os seus lugares. — Tá bom, vou fingir que acredito. — diz ele, debochando de mim, e eu apenas lhe lanço um olhar mortal. Ele sorri e vira para o lado. Ligo o carro e vou para a minha casa. Passei o dia incomodado com aquele cheiro que vinha da ômega. Espero que tudo não passe de um engano, que ela não seja a minha companheira. Acho que sua loba ainda não despertou, senão eu sentiria a presença dela. Agora é esperar a noite para poder encontrar a minha companheira, que eu daria tudo para não ser ela, e sim uma loba forte que está destinada a mim. O dia passou bem rápido e, assim que coloco os meus pés no local onde a festa está acontecendo, mais uma vez aquele cheiro me pega de jeito. Procuro por ela e a encontro de olho em mim. O meu lobo está arranhando tudo dentro de mim, querendo sair e ir até ela e marcá-la como a nossa. — Minha! — diz Ryle. Tento ao máximo controlá-lo e, quando ela me olha, percebo uma inquietação nela que logo desaparece. Não, não, não! Isso só pode ser uma brincadeira de muito mau gosto. Ela não pode ser minha companheira. Jamais vou aceitar isso. Eu sei que, como futuro Alfa, não posso fazer discriminação com a classe da alcateia, mas não posso aceitar alguém como ela. A minha companheira tem que ser alguém forte, alguém que esteja disposta a dar a vida pela alcateia. Mas por que tinha que ser logo ela, uma ômega fraca que só se acha por ser filha do Gama? Não posso deixar-me abalar. Eu tenho que fazer o que é certo por mim e pela minha alcateia. Aproximo-me dela e vejo que ela está de mão dada com o seu “amiguinho”. Tento controlar a minha fúria e a de Ryle para não fazer algo do qual eu possa me arrepender depois. Quando chego perto, eu pigarreio para chamar a atenção dele e vou logo falando alto o suficiente para que eles se afastem. — Olá! Helena, né? — pergunto, fingindo não saber o nome dela, e a vejo revirar os olhos. Essa ômegazinha ainda vai me dar muita dor de cabeça.— Meu companheiro! A minha loba sentiu o nosso companheiro; só não posso acreditar no que meus olhos me mostram. Não acredito que meu companheiro é o lobo que quer tanta distância de mim por odiar pessoas fracas. — Vamos, Helena, aproxima-te do nosso companheiro. Por favor, deixa-me sentir o cheiro dele mais de perto. — Rania, se acalme. Vamos esperar. Se ele nos quiser, virá até nós. Não podemos nos apressar e correr atrás dele, para que logo em seguida ele nos rejeite. Então, mantenha a calma. Se ele realmente nos aceitar como sua companheira, conforme a vontade da Deusa, ele virá até nós. Mas creio que ele não virá; ele sempre diz que não gosta de ômega para quem quiser ouvir. Para Helena, ele vai nos aceitar, sim. Somos a terceira geração da Deusa, somos a raça de lobos mais poderosa do mundo inteiro. Como ele poderia nem sequer pensar em nos rejeitar? — Sim, Rania, nós somos, sim, filhas da terceira geração da Deusa, só que ninguém sabe disso aqui. Só quem sabe são noss
É sério o que estou ouvindo? Ela está pedindo para eu rejeitá-la logo, porque o tempo dela é sagrado demais para ficar ao meu lado. Quem ela pensa que é? Eu sou praticamente o alfa da alcateia Lua Crescente e ela é apenas uma ômega sem valor, então ela deveria se sentir honrada em ficar, nem que seja por uma hora, ao meu lado. Mas, se o que ela quer é ser rejeitada rápido, pois é isso que farei, porque eu não quero passar mais nem um segundo ao lado dela, desse cheiro fascinante que ela tem. Foco, Theo, foco. Preciso terminar logo isso de uma vez antes que eu faça alguma besteira que não poderá ser corrigida. Olho nos olhos dela e algo dentro de mim está sendo consumido só de pensar na dor que farei com que ela passe ao ser rejeitada. Foco, Theo, foco. Preciso fazer isso logo e será melhor para todos. — Não, Theodoro! Você não vai fazer isso com a nossa companheira. Jamais aceitarei outra se não for ela. Você entendeu? Não machuque nossa menina, ela é tão frágil. Não vê a dor que
Pego distância dele, com Rania gritando e se contorcendo dentro de mim. Deixo as lágrimas rolarem; estou chorando pela minha loba, que esperava tanto pelo seu companheiro, esperando que ele a amasse com todo o seu ser, que nos aceitasse da forma que somos. Só que ele fez tudo ao contrário do que esperávamos, do que imaginávamos, só porque ele acha que somos uma loba fraca, como ele falou. — Calma, Rania, vamos conseguir passar por isso de cabeça erguida. Eu preciso de você para enfrentarmos isso juntas. Lembre-se do que nossa mãe falou: juntas somos mais fortes. Tento acalmar minha loba, mas ela só chora, apenas chora. Queria poder abraçá-la, transmitir um pouco de carinho e consolá-la. Sei que a ligação dela com o lobo de Theo é mais forte do que a minha ligação com o próprio. — Dói tanto, Helena, como dói. Ele não poderia ter feito isso conosco. Ele é tão cruel; suas palavras foram devastadoras. Ele foi contra seu próprio lobo, contra a vontade da Deusa Luna — Rania fala, chorami
Consegui tirar um cochilo, mas logo fui acordada por Rania choramingando. A rejeição continua machucando muito; minha alma está destruída. Ninguém merece ser rejeitado pela pessoa com quem foi feita para passar a vida ao seu lado. Sei que vou me sentir assim por uns dias, mas sou forte. Espero que, quando voltarmos às aulas, essa dor tenha acabado ou, pelo menos, diminuído. Levanto da cama, faço minha higiene pessoal e me sento em frente à minha penteadeira. Olho-me no espelho e vejo que minhas olheiras estão denunciando que passei a noite em claro. Não sou muito de usar maquiagem e, na verdade, eu nem sei usar; quem sempre a aplica em mim é Ana, mas às vezes eu tento. Passo um corretivo embaixo dos olhos para esconder as olheiras, vou até o meu guarda-roupa, que mais parece um closet, e pego um shortinho confortável e uma regata, já que estou em casa; nada melhor do que ficar confortável. — Bom dia! Minha filha, você sumiu ontem à noite na festa. Achei que você estaria curtindo um
O dia de hoje está tão estranho; eu estou me sentindo tão estranho. Parece que a dor da conexão cortada com Helena está aumentando, mas não é só a conexão: estou ansiando por vê-la. Parece que só assim ficarei satisfeito. Mesmo eu a rejeitando, continuo querendo sentir o cheiro dela. Como posso ainda querer que ela esteja perto de mim se eu cortei nossa ligação? Eu achava que não iria doer tanto assim, justamente por ela ser uma ômega, mas estava enganado, muito enganado mesmo. Por que tem que doer tanto? Meu anseio por ela só está aumentando em vez de diminuir ou acabar de vez. Ontem, após Ryle tomar conta do meu corpo, ele me levou até a casa dela e, por pouco, a raiva não tomou conta de mim. Quando a vi nos braços do "amiguinho" dela, sei que ela percebeu minha presença porque, depois de olhar para onde eu estava em minha forma de lobo, ela ficou encarando por um tempo e logo se despediu do amigo dela e entrou em casa. Mas não antes de cravar a faca em meu peito, dando um beijo na b
Quando nossos olhos se encontram, vejo que ele me olha de um jeito diferente, como se estivesse tentando ler o que estou sentindo só com os olhos. Mas não deixo transparecer nada do que estou sentindo; ele jamais saberá que estou com a alma em caquinhos. Rania se agita dentro de mim e diz que sente o cheiro forte dele e fica fungando de novo. Não entendo o motivo de ainda sentir o cheiro dele. Achei que, quando se é rejeitada, a ligação acabava e parávamos de sentir cheiro, até emoções uma pela outra. Mas, pelo que Tony disse, a ligação demora a ser quebrada de vez. Eu só queria não ter que ver **ele** sempre que saio de casa; queria passar uns dias sem ter que olhar na cara dele. Assim, não será fácil esquecer o que esse babaca fez com a gente. Será que ele me rejeitou por causa dessa lambisgoia da Vanessa? Pois que ele faça bom proveito dessa sem graça. Vanessa parece uma sanguessuga agarrada nele. Nossa! Essa garota parece não ter amor-próprio. Quando ela vê que estou olhando para
Afasto Tony da minha frente e fico cara a cara com Vanessa, que continua com seu nariz empinado, querendo sempre ser a mais forte. Mal ela sabe que não preciso nem me transformar para arrancar a cabeça dela. Com um estalar de dedos, eu posso acabar com a raça dela. Tenho alguns poderes que estão acordando com o passar do tempo. Minha mãe disse que mais poderes irão surgir, como o despertar da minha loba. Eu me curo mais rápido do que os outros lobos e tenho um pouco mais de força que alguns também. Por isso, seria bem fácil arrancar a cabeça de Vanessa sem precisar da ajuda de Rania. Só não faço isso porque não posso mostrar meus poderes e me revelar para as pessoas que me procuram. Também sei que, lá no fundo, Tony ainda sente algo por ela, então só me contento em derrotá-la com minhas palavras. Não perco tempo e já a coloco no seu lugar, de onde ela jamais deveria ter saído. — Sabe, Vanessa, você é uma pessoa tão vazia que não sabe nada da vida. Só pensa na grandeza. Você acha que
Agradecer? Ela disse que nos agradece por rejeitá-los. Quem essa ômega fraca acha que é para nos agradecer? Ela deveria era se rastejar e pedir, pedir não, ela deveria suplicar para que eu a aceitasse de volta, para aceitá-la como minha companheira, minha Luna. — Quem vai ter que rastejar é você, seu tolo. Você viu como ela enfrentou aquela gama? Nossa companheira de fraca não tem nada, pelo contrário, sua atitude mostrou que ela vai ser uma loba forte e não rebaixar a ninguém, dependendo da classe — diz meu lobo. — Cala a boca, Ryle, e pare de dizer que ela é nossa companheira. Eu já a excluí das nossas vidas e não irei aceitá-la mais. Veja se entende: rejeitei nosso vínculo, não tem mais nada a fazer, ok? — Tá! Chefão, vou sentar e esperar ansioso o momento em que você terá que se rastejar atrás dela, e eu vou assistir tudo de camarote, a forma como ela vai te colocar no seu devido lugar. — Cala a boca, saco de pulga, se não vou acabar fazendo uma besteira. Estou sem paciência co