Meu Companheiro é Ele.

— Meu companheiro!

A minha loba sentiu o nosso companheiro; só não posso acreditar no que meus olhos me mostram. Não acredito que meu companheiro é o lobo que quer tanta distância de mim por odiar pessoas fracas.

— Vamos, Helena, aproxima-te do nosso companheiro. Por favor, deixa-me sentir o cheiro dele mais de perto.

— Rania, se acalme. Vamos esperar. Se ele nos quiser, virá até nós. Não podemos nos apressar e correr atrás dele, para que logo em seguida ele nos rejeite. Então, mantenha a calma. Se ele realmente nos aceitar como sua companheira, conforme a vontade da Deusa, ele virá até nós. Mas creio que ele não virá; ele sempre diz que não gosta de ômega para quem quiser ouvir.

Para Helena, ele vai nos aceitar, sim. Somos a terceira geração da Deusa, somos a raça de lobos mais poderosa do mundo inteiro. Como ele poderia nem sequer pensar em nos rejeitar?

— Sim, Rania, nós somos, sim, filhas da terceira geração da Deusa, só que ninguém sabe disso aqui. Só quem sabe são nossos pais, o Alfa Moisés e sua esposa, Luna. Ninguém mais. Entendeu agora que ele pode, sim, nos rejeitar?

— Espero que você tenha se enganado e que ele não nos rejeite, porque o seu lobo está nos querendo; eu posso sentir que ele está clamando por mim.

— Assim, veremos se ele vai ceder ao seu lobo ou se vai se deixar levar por sentimentos banais.

Somos interrompidas quando sinto o braço de Tony no meu ombro. Ele está um pouco incomodado, pois, desde a hora em que chegamos, vemos Vanessa se jogar para cima de Theo. E, por mais que ele diga que prefere que ela fique longe, seu lobo ainda anseia um pouco pelo que é dela, pois a ligação, quando é rejeitada, não corta todos os laços de uma vez; ainda há uma ponta solta e, com o passar do tempo, vai sumindo até não existir mais nada.

— Helena, tem algo te incomodando? — pergunta Tony, chegando perto do meu ouvido.

— Como eu te falei, só que eu não sou muito de festa. Você sabe que, entre estar numa multidão, prefiro o silêncio do meu lar.

Falo próximo ao ouvido dele, vendo que ele também não está se sentindo à vontade aqui. Quando vou perguntar se ele quer dar uma volta para distrair a mente e esquecer certas pessoas que nada têm a acrescentar em nossas vidas, escuto um pigarro próximo a nós e alguém tocando o meu braço de um jeito feroz, me tirando dos braços de Tony.

— Olá! Helena, né?

Ele perguntou, e eu reviro os olhos. Até parece que ele não sabe o meu nome; sempre estudamos juntos. E, para tirar uma com a cara dele:

— Sim. — digo, olhando nos olhos dele. — E você é o Theo, não é? — Ele rosna e olha para mim com os olhos em chamas.

— Minha família e amigos me chamam assim mesmo, de Theo. Mas, para você, que não é nada, é apenas Alfa Theodoro. — Ui, ui, ui, ele está nervoso. Eu finjo não me importar com a forma como ele fala comigo, mas, lá no fundo, suas palavras doem em mim.

— Helena, por que você está o deixando com raiva? Temos que conquistar o nosso companheiro e não deixá-lo com raiva de nós. Por favor, tente ser mais amorosa — diz Rania na minha mente.

— Fique quieta aí, Rania. Não é porque ele é nosso companheiro que ele vai me tratar mal e eu vou baixar a cabeça para ele. Ele que tire o seu lobinho da chuva, porque, senão, ele vai se molhar todo.

— Helena, venha comigo! Preciso trocar uma palavra contigo — diz ele, todo autoritário, como se mandasse em mim. Coitado, não sabe nada sobre mim e já quer chegar dando ordens.

— Posso saber para onde, “Alfa Theodoro”? — diz Tony, dando ênfase no nome dele de propósito, e vejo os olhos de Theo mudarem de cor por um instante quando Tony segura a minha mão novamente.

— Isso não é da sua conta. Estou falando com Helena. Desde quando o que eu faço é da sua alçada

Ele vem em direção a Tony com os olhos vermelhos em brasa e, para não acontecer um embate entre os dois, eu entro no meio deles. A nossa... Para que tanta testosterona em um único lugar? Não sei como esses lobos conseguem ficar no mesmo lugar sem se matarem. Viro-me para Tony, olho nos seus olhos, toco o seu rosto e dou-lhe um sorriso.

— Calma! Deve ser algo relacionado aos meus pais. Já volto. Fique aqui, espere e não saia por aí sozinho.

Dou-lhe um sorriso e depois um abraço e escuto Theo rosnando quase inaudivelmente aos meus ouvidos. Ele sai andando à frente, me dando apenas a opção de segui-lo, como se fosse o dono do mundo e eu apenas uma escrava à disposição dele. Ao chegarmos a um lugar onde não há ninguém, ele para de repente e acabo batendo a testa nas costas dele, reclamando da dor do impacto. Ele se vira e posso ver os seus olhos mudando de cor mais uma vez; parece que ele está travando uma guerra com o seu lobo. Logo, os olhos dele voltam à cor normal.

— A sua loba despertou hoje, não foi? — pergunta, como se isso o matasse por dentro.

— Sim. — respondo, mesmo a contragosto, pois a forma como ele está olhando para mim, eu até já sei o que ele pretende fazer.

— Então você sentiu a conexão? Se sim, por que você não veio até mim? Por que se manteve distante a festa toda? Você está esperando que eu vá até você?

Ele faz várias perguntas e, quando vou responder pelo menos uma delas, ele continua.

— Você sabe que isso jamais vai funcionar. Jamais irei me apegar a uma ômega que não tem força nem mesmo para se defender. — Mesmo querendo negar, isso realmente doeu. Lá no fundo, sinto a minha loba quieta e o nosso coração está sendo rasgado, porque ela é parte de mim, e eu sou parte dela. Nossa dor sempre será compartilhada, seja ela sentimental ou não.

— Diz logo o que você tem a dizer, “Alfa Theodoro”. Diga logo para não demorar mais do que o necessário. Não temos por que perder tempo com papo sem necessidade, então fala logo de uma vez, assim podemos voltar para a festa e ficar com as pessoas que realmente nos importam. — digo e vejo-o ficar abismado, como se não estivesse esperando pelas minhas palavras. Ele achou o quê? Que eu iria suplicar para ele me aceitar como sua companheira? Pois ele está muito enganado.

— Não, Helena, não o incentive. Você tem que conquistá-lo e não empurrá-lo para longe de nós.

Sinto Rania triste e sinto pena dela, pois, desde a hora em que ela despertou, anseia pelo seu companheiro, aquele que iria passar pela nossa transformação ao nosso lado e nós passaríamos pela transição dele ao seu lado, aquele que iria correr livre conosco pela floresta. Mas, pelo visto, isso não será possível. Olho para ele esperando alguma reação, e nada ele faz; apenas continua me olhando, sem acreditar que uma “ômegazinha inútil” fosse capaz de pedir pela rejeição do tal futuro Alfa.

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