Passei pela minha ex sala e vi Hades trabalhando. Coincidência ou não, no exato momento que o observava, ele virou na minha direção, fazendo meu coração acelerar. E não tenho certeza se era pelo certo mistério que emanava daquelas írises tão azuis quanto o lugar mais profundo do oceano.Aquele homem me intrigava profundamente, desde o primeiro momento em que o vi, sendo que ao mirar sua imagem, lembrei de já tê-la vista anteriormente, me observando, à espreita. E eu poderia até ser meio maluca, mas era boa de memória e guardava muito bem a fisionomia das pessoas.Estava extremamente nervosa com aquela ligação recebida anteriormente. Embora sempre tenha sido corajosa, especialmente quando se tratava da família de Salma, que praticamente já havia calejado a mim e os Casanova, a ameaça e a menção sobre o acidente de Theo me deixaram muito preocupada.Robin estava fora de cogitação. Ele era inocente quanto à tentativa de ferir Theo. Talvez a questão dele realmente fosse profissional. Mas
- O que a levou a escolhê-lo?- Ele é esperto e criativo e sabe sobressair-se em grupo. Teve ótimas notas na faculdade e embora não tenha colocado no currículo, tem um negócio próprio relativo a adestramento de cães. Está passando por uma fase ruim na empresa da qual é proprietário e pensando em fechar as portas. Este foi o motivo que o levou a procurar outro emprego. É um homem sério e fala com propriedade de seus conhecimentos com relação ao cargo em aberto na época. Dentre os poucos candidatos, era o único com mais de 24 anos e menos de 50. - Ok. Obrigada pelas suas informações. E boa sorte no seu novo emprego.Se eu me senti tranquila após a explicação dela? Não. Se tinha algo que eu poderia fazer? Não. Tudo que me restava era ficar de olhos bem abertos em Hades para ter certeza de que ele realmente era um bom profissional, já que não saía da minha cabeça que o tinha visto antes, em outros lugares. E agora do nada ele aparecia em Noriah Sul, com um currículo profissional mediano,
Meu telefone tocou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Era Theo.- Oi... Eu já estou a caminho. – Avisei.- Eu não estou ligando por isso, raio de sol. Só gostaria de lhe avisar uma coisa.- E não pode esperar eu voltar? É algo sério? Papai e mamãe? Aconteceu alguma coisa com eles?- Não – ele riu – Acalme-se, meu amor. Está tudo bem com papai e mamãe... Eu acho. Não falei com eles desde a nossa chamada no viva-voz. Só decidi ligar porque tomei uma decisão importante e quero que seja a primeira a saber.- Nossa, estou ansiosa e curiosa!- Decidi aceitar o dinheiro que me ofereceu emprestado.- Você? Decidiu aceitar? – Fiquei incrédula.- Sim. Eu iria lhe dizer quando cheguei, mas Dimitry acabou aparecendo e mal tivemos tempo de conversar. Tive uma reunião importante hoje. Gostei das ideias de Hades e decidi que talvez seja hora da Simplicity produzir seus próprios produtos. Como creio que o dinheiro que tem não seja pouco, aceitarei. E o restante tomarei como empréstimo no banc
- Você é um bobo – deu um soquinho no braço dele – Mas um bobo que eu adoro.Andamos mais duas quadras, olhamos algumas vitrines e acabamos nossos sorvetes.- Preciso voltar para a Simplicity. – Avisei.- Eu sei. Será que vamos nos ver de novo antes de amanhã pela manhã?- Creio que não. Theo quer conversar sobre negócios. Contratou um novo administrador para empresa e está finalmente com vontade de se mexer contra Giordano.- Aposto que do jeito dele... – Riu.- Sim, do jeito dele: ético, correto, sem violência – ri também – Não adianta, ele é assim.E eu amava Theo Casanova exatamente do jeito que ele era: chato, exigente, ético e algumas vezes imprevisível, como estava sendo no momento que decidiu aceitar o meu empréstimo e enfim dar o pontapé inicial numa nova Simplicity.- Vou caminhando para o Hotel.- É perto daqui?- Sim.- E Ben? O que ele está fazendo?- Ben anda um pouco estranho. Parece sempre estar resolvendo algo e não numa viagem para se divertir.- Eu tinha entendido q
Enruguei a testa, completamente confusa, incerta se fiquei mais surpresa por ele não ter me pedido em casamento ou ter me convidado para ser sua sócia na Simplicity.Parecendo perceber minha confusão, Theo disse a Hades:- Está liberado, Hades. Logo a empresa estará fechando. Pode ir para sua casa. O restante eu mesmo resolvo com Maria Lua.Hades concordou com um aceno de cabeça e quando estava fechando a porta, olhei na sua direção e ele piscou, sorrindo.Balancei a cabeça, aturdida.- Eu... A ofendi com a proposta? – Theo tocou minha mão.A porra da mão quente dele sobre a minha fez as borboletas se soltarem e meu estômago parecer inflar de tão cheio que ficou. Porque era aquilo que Theo causava quando me tocava: frio na barriga e borboletas em festa.- Não... Pelo contrário. Eu gostei. Só... Não esperava.Theo puxou com o corpo sua cadeira mais para frente, se aproximando de mim:- Eu conheço você. E não ficou satisfeita.- Fiquei sim... – dei um sorriso sem graça – E aceito.- Ok
Dei alguns passos, me distanciando deles:- Eu... Preciso atender... Sozinha.Theo e Ben ficaram me olhando, preocupados.- Alô... – Falei, amedrontada.- Quer saber onde você deve deixar o dinheiro ou sequer a quantia? – perguntou a voz já conhecida, a mesma da manhã.- Não... – Falei, incerta.- Para cada pessoa que contar, alguém que ama irá se machucar.- Mas eu não contei para ninguém! – Garanti, me distanciando ainda mais de Theo e Ben.- Neste caso, para cada grana que negar, alguém que ama irá se machucar – ouvi a risada do outro lado da linha – Rimou, não acha?- O que... Você fez? Quem é você, porra?- Eu não estou brincando, Maria Lua. Neste caso, o loirinho foi uma prova de que seu tio aqui não é um idiota. - O que fez com Dimitry?- Eu sou seu tio. Quero dinheiro. E não desejo mais que seja num lugar secreto. Quero que “você” mesma traga. E que conheça sua família. - Vocês... Não são minha família. – Falei, entredentes, tentando não chorar.- Eu não sou uma pessoa ruim.
Gregório apareceu na porta do prédio, com o rosto moreno completamente pálido:- Acho que o encontrei.- Onde? – Theo perguntou enquanto praticamente corremos todos juntos em direção a ele.- Está... Neste hospital. E parece que o estado de saúde dele não é bom. – Gregório nos entregou um papel com o endereço. – Tenho um amigo que é enfermeiro lá.Suspirei, sentindo uma reviravolta no estômago e tudo girar. Foi pior do que quando eu soube que Theo havia sofrido uma tentativa de assassinato, visto que ele estava na minha frente quando fiquei sabendo e o pior já havia passado. Mas agora, sobre Dimitry, eu não tinha a mínima ideia de como ele estaria.Por sorte Theo havia comprado a porra do carro ou ainda estaríamos a mercê de táxis. Pelo menos aquilo estava a nosso favor.O hospital não era longe. Chegamos em pouco tempo. Assim que demos entrada na recepção, Theo já perguntou por Dimitry, sendo solicitado que aguardássemos, que em breve o médico viria falar conosco e explicar o estado
- Vocês... Virão para cá? – Perguntei, num fio de voz, certa de que eles imaginaram que eu queria falar sobre o acontecido com Dimitry, neste caso estando enganados.- Infelizmente não conseguiremos chegar antes do final de semana.- Não? – Limpei a lágrima teimosa que caía.- Não. – Ela confirmou.Como assim não podiam vir antes do final de semana? Eles sempre me colocaram em primeiro lugar. E eu precisava urgentemente dos dois. E a resposta era “não”? Que porra estava acontecendo?- Mãe... – Eu estava completamente incerta do que dizer.- Meu amor, se estou garantindo que estaremos aí no final de semana, é porque estaremos. No momento... É impossível.- Mas... Há impossível para nós? Meu pai sempre disse que nada é impossível.- Sei que precisamos conversar... Nós quatro. Mas... Infelizmente não pode ser agora. - Mãe... Você... Está chorando?- Não...Sim, ela estava chorando. E aquilo me confundiu ainda mais.- Prometo que estaremos todos juntos no final de semana, raio de sol. Am