- Você não pode ir a este encontro. – disse, com os braços firmes me segurando de costas para ele, sem me dar opção de soltar-me.- Do que... Você está falando? – Me fiz de desentendida.- De encontrar a sua família biológica. – Seguiu, sem me soltar, sussurrando no meu ouvido.Pisei no pé dele e desvencilhei-me, o encarando:- O que está fazendo aqui? Vai me dizer que o destino nos pôs no mesmo ponto de táxi? – Fiquei atordoada – Vou foder com o seu destino se continuar a me achar uma idiota.Hades me puxou para perto dele, abaixando a cabeça:- Não quero que vejam meu rosto – puxou uns óculos de sol do bolso, pondo-o na face.- Me diga o que está fazendo aqui ou vou gritar. Veio me levar para eles?- Estou protegendo-a, porra!- Quê?- Sou pago por seu pai para ser seu guarda-costas, Maria Lua.- Como assim? – Dei um passo para trás, tentando entender o que estava acontecendo.- Heitor Casanova me pagou para vigiar seus passos...- Desde quando?- Muito tempo.- Muito tempo quanto?
Quarenta minutos depois e eu já não tinha a mínima noção de onde estava.- Este lugar... Faz parte de Noriah Norte? – Perguntei ao motorista.- Sim, senhora. Mas confesso que nunca estive para estes lados.- O senhor... Irá me esperar para levar-me de volta? – Questionei, preocupada.- Só recebi pela corrida de ida.- Se eu pedir... Ou melhor, pagar, o senhor pode me esperar?- Claro que sim. Mas... Vai custar caro. Aqui parece ser um lugar perigoso.- Pago o valor que achar necessário. – Falei.- Combinado. Mas precisa pagar adiantado. Neste caso, agora.Sim, claro que ele faria aquilo. A questão é que eu não tinha nada de dinheiro em espécie, sequer para dar ao chantagista, visto que fiquei envolvida com meu pai, as idas e vindas entre Noriah Norte e Sul e todo tumulto acontecido na minha vida nos últimos dias, principalmente horas. O irmão de Salma teria que aceitar uma transferência, ou ficaria sem a porra do dinheiro.Peguei meu relógio de pulso, em ouro puro, com as duas pontas
- Onde está a mala com o dinheiro? – Olhou para minhas mãos.- Eu... Não tinha como sacar toda a quantia que você me pediu.- Por isso mesmo avisei com antecedência... Por saber que não seria fácil. Ainda acha que estou brincando com você? – Se aproximou e pegou meu braço com força, encarando-me.O bebê que estava no colo dele começou a chorar. Olhei para as duas meninas, que estavam lado a lado, observando-nos, com os olhinhos arregalados.- Eu farei uma transferência. – Tentei aparentar tranquilidade e coragem.- Sabe que isso me fode.- Eu... Não quero prejudicá-lo. – Minha voz quase não saiu.Ele largou meu braço e senti ardência da força que fez contra minha pele. Toquei-me, por cima do blazer, no local que latejava.Daltro Hernandez pegou o bebê sem roupa e entregou no colo de uma das pequenas garotas:- Cuide dele, pirralha. – A voz foi firme e ela pareceu amedrontada quando saiu com o bebê em direção ao carro velho, onde brincavam anteriormente.A outra menina acompanhou-a, o
Sim, era naquilo que eu precisava me apegar: minha família. Só de pensar em Bárbara me senti melhor e mais forte. Eu tinha que aguentar tudo aquilo e ser resistente. Porque sabia que eles estariam lá por mim, quando o pesadelo de meu pai acabasse e ele saísse do hospital.Minha mente trouxe-me Babi, com seus belos olhos claros e os cabelos loiros dourados... Ela tinha um sorriso contagiante e ao longo da minha vida nos deitamos na cama durante algumas madrugadas, conversando sobre assuntos diversos. Ela ria dos próprios conselhos. E apoiava todas as minhas loucuras. Nunca saiu do meu lado, em hipótese alguma. E deu-me um amor que eu duvidava que qualquer outra mãe pudesse dar.Heitor Casanova... Ah, minha mente sempre me traía com relação a ele, porque meu pai não morava em lugar algum a não ser no meu coração. Me ensinou a ser forte e lutar pelo que queria, desde sempre. Conforme fui crescendo, percebi que ele me escolheu para ser sua sucessora na North B., como se soubesse, desde se
Olhei para baixo e vi várias folhas secas grudadas nos meus saltos. Comecei a arrancá-las enquanto ele começou a dirigir. Mal sabendo como me segurar e sendo observada por todos os presentes na lotação coletiva, encaminhei-me para um dos assentos, percebendo todos ocupados, tendo que ficar de pé, já que os espaços eram tão minúsculos que não cabiam dois corpos num mesmo banco.A cada vez que o ônibus parava num ponto diferente, um solavanco fazia com que eu quase caísse. Observei pela janela, através da escuridão e não consegui identificar onde estava. Não havia sequer um ponto de referência que lembrasse a capital de Noriah Norte ou algum lugar que eu conhecesse. Sentei-me ao lado de uma mulher com cara de poucos amigos, que trazia uma bolsa sobre o colo.- Com licença... A senhora se importa se eu ocupar o espaço ao seu lado? – Perguntei, temerosa.Ela franziu a boca e disse:- Os lugares não têm dono, madame.- Obrigada. – Agradeci, entendendo como um sim.Quando percebi que em cad
Não tinha certeza se Robin havia conseguido rastrear o lugar onde eu estava. Sem saber o que fazer, achei melhor sentar-me na sarjeta e esperar por ajuda divina, caso ele não aparecesse.E ali fiquei, observando o ir e vir das pessoas entrando e saindo e o movimento ficando cada vez mais escasso depois que o supermercado fechou as portas. Comecei a ficar amedrontada e a única coisa que tive medo de perder foi o meu anel de noivado. Retirei-o do dedo e pus dentro do blazer.Não tinha noção de quanto tempo passou enquanto fiquei ali, esperando, incerta se seria salva por alguém. E incrivelmente o meu salvador talvez fosse meu ex-noivo, o idiota que roubou a fórmula de Theo e estava tentando destruir a Simplicity.Abri as pernas levemente e levantei os joelhos, descansando a cabeça neles. Dormir na rua era algo que jamais imaginei que faria um dia. E tudo por culpa dos Hernandez. Eu não poderia aceitar aquilo. E não tinha condições de resolver tudo sozinha, por mais forte que fosse. Eles
Fiz o que Robin sugeriu e tomei um banho na banheira de hidromassagem. Mergulhei na água morna e perfumada, me excedendo na quantidade de espuma, pois me sentia extremamente suja. Descansei a cabeça na almofada em couro e fechei os olhos, tentando assimilar tudo que tinha acontecido naquele dia.Eu poderia terminar o banho, me vestir e ir embora. E no dia seguinte, nada mudaria. Ainda estaria nas mãos dos Hernandez, tendo que sucumbir às chantagens deles. Agora que sabia que Hades era meu segurança, não tinha como contar-lhe tudo, por mais que ele soubesse da verdade, pois sabia que mais cedo ou mais tarde ele avisaria meu pai, que era quem lhe pagava. E eu mesma queria contar ao meu pai o que estava acontecendo, porém no atual momento em que ele se encontrava era impossível.Se eu tinha como contar a Theo? Sim, claro que tinha. Mas e se realmente Daltro mandasse matá-lo? Ele deu um susto na primeira vez. Com Dimitry quase terminou em tragédia. Eu já carregava a culpa de meu primo est
- Heitor Casanova não poderá enterrar todos os irmãos de Salma num vinhedo.Arqueei a sobrancelha, confusa:- Como assim?- Foi... Modo de falar. Eu quero dizer que Heitor está doente e talvez demore mais tempo do que você imagina para ficar bem. Esta história da sua família biológica se arrasta durante toda vida e o próprio Heitor não conseguiu resolver até hoje. Você precisará dar um basta. Se aceitou deixar que expusessem parte do diário da sua mãe, tendo coragem de enfrentar as consequências, por que aceitaria a chantagem deles?- Eu não aguentei as consequências do diário... Fugi, como uma covarde. E não tenho como fugir agora, ou Theo pagará por isso.- Theo não é uma criança. Ele sabe se defender. Já conseguiu se salvar deles uma vez.- Dimi não...- Dimitry e Theo são diferentes e você sabe disto.- Você esperava o que? Que Dimi brigasse de igual para igual? Nem sequer sabemos como tudo aconteceu. Ele quase morreu, Robin.- Eu sei. E estão culpando a mim.- Tentarei conversar