— Não vá provocar o seu irmão. Faz tempo que ele não fica para dormir. Quero que isso se repita outras vezes.
— Vai se repetir. Em breve vou estar na minha casa... Com Robin Hood. — Pisquei. — Quer dizer, Robin Giordano — corrigi-me.
Eles me incomodavam tanto com Robin Hood que sem querer acabei repetindo o que tanto odiava, que eram as piadinhas sobre meu namorado.
Porque era assim: Ben e Babi perdiam os amigos mas não a piada.
Bati de leve na porta de Theo e não ouvi som do outro lado. Claro que eu não ia acordá-lo. Mas fazia tanto tempo que não o via e não queria que ele fosse embora sem me contar pessoalmente como estava sua vida.
Estava desistindo, virando as costas, quando a porta se abriu. Ele vestia uma calça de moletom e estava sem camisa e descalço.
— Quando você criou peito? — questionei-o, aturdida.
Theo olhou para o próprio peito e riu:
— Tenho me dedicado a ficar musculoso.
Gargalhei:
— Não é o seu tipo... Não vai ficar bem de músculos. Mas seu peitoral... Uau! — Me abanei, debochadamente.
O vi enrubescer e fiquei encarando-o. Adorava a timidez dele. Empurrei a porta e entrei no quarto, deitando na cama dele, sem cerimônia.
— Como você é educada, raio de sol — debochou.
— Não me chame assim, imbecil.
— Desde quando não gosta mais de ser chamada assim?
— Desde sempre, lá de quando a mamãe achou você no lixo. — Comecei a rir.
— Sim, já sei da história que ela fez caridade, me tirando da lata de lixo... — Ele riu e pegou um travesseiro, jogando sobre mim.
— Você sempre acreditava na minha história... E chorava. — Sentei na cama, rindo dele.
— Porque você era manipuladora... E digna de um prêmio de melhor atriz, mesmo quando era criança.
Ele colocou uma camiseta e fiz beicinho:
— Por que está se cobrindo, bonitão? Sou só a sua irmã...
— Não é minha irmã — falou seriamente.
— Quanta ironia... Passei anos atormentando-o que foi encontrando na lata de lixo... Quando na verdade, eu fui encontrada lá.
Theo sentou ao meu lado e puxou meu queixo, fazendo-me encará-lo:
— Você não foi encontrada na lata de lixo e sabe muito bem disto. Nós crescemos, Maria Lua. E você não é mais uma adolescente para agir como tal.
— Me... Desculpe...
— Nunca lhe falou amor nesta família. E sempre foi criada como uma legítima Casanova. Nossos pais poderiam ter mentido a vida inteira que tinha nascido da barriga de Babi que você jamais duvidaria, já que é a cara dela.
— Devo ser parecida com meu pai... Já que minha mãe era meio ruiva. — Retirei a mão dele, que ainda estava no meu queixo.
— Não... Você é parecida com nossa mãe e eu com nosso pai. Ponto final.
— Heitor é mais bonito que você.
— Como você consegue me irritar tanto?
Deitei novamente na cama e perguntei, enquanto colocava os braços debaixo da cabeça:
— O que você está fazendo além de estudar e trabalhar? Aliás, você tem vida social? Você transa? — Virei o rosto na direção dele, debochadamente.
— Estou fazendo uma especialização. E trabalhando num novo produto, que promete ser o melhor do mercado. Vou detonar a Giordano Cosméticos e destruir a empresa do seu futuro marido. Faço hora extra todos os dias, afinal, sou o dono do meu próprio negócio. E quando chego em casa, para desestressar, eu faço sexo com a minha namorada.
— Faz sexo? Que termo que não excita.
— O que você faz?
— Eu gosto de homem que fode.
— Qual seu problema, Maria Lua?
— Gostar de foder. Este é o meu problema, Theo.
Ele jogou uma manta sobre mim.
— Não estou com frio — reclamei.
— Não quero olhar sua calcinha.
— Que mal tem? É só uma calcinha... Pior se olhasse a minha... — Theo tapou minha boca imediatamente, o corpo quase sobre o meu, fazendo com que meu coração quase parasse quando meus olhos entraram nos azuis celestes mais profundos do mundo inteiro.
Você a ama? Perguntei, sem que minha voz saísse por minha boca estar tapada com a mão dele.
— O que você disse? — ele indagou, retirando a mão.
— Eu disse “pior seria se você olhasse a minha boceta” — gargalhei, provocando-o.
— Boca suja... É isso que você é.
— Senti saudade de você... — Sentei na cama, olhando-o.
Theo não disse nada, o que fez com que uma dor atravessasse meu coração. Respirei fundo e disse:
— Eu... Estou feliz que tenha vindo ao meu noivado.
— Papai foi insistente.
— Veio por ele?
— Sim.
— Não viria se eu pedisse?
— Você não fez questão.
— Achei que não viesse de jeito nenhum... Faz tanto tempo que não vem!
— Não tinha intenção de assistir você firmando compromisso com Robin Giordano. Mas agora já foi...
— Por que não queria assistir? — Ainda o encarava, incapaz de desviar o olhar, como se estivesse hipnotizada.
— Porque ele é o meu maior oponente nos negócios e sabe muito bem disto. Com tantos homens em Noriah Norte, ou mesmo no mundo, por que foi escolher ele?
— O escolhi porque os cosméticos da Giordano são bons.
— Você não vale nada, raio de sol.
— Você... Pretende firmar compromisso com sua namorada no futuro? Ela é legal? Como se chama? Por que não a trouxe para conhecer papai e mamãe? Acha que ela vai gostar de mim?
— Você nunca consegue fazer uma pergunta de cada vez?
— Foram anos que você ficou fora. E quando veio, pareceu escolher os dias que eu estava viajando.
— Pretendo firmar compromisso com ela no futuro. Eu gosto de Málica.
— O nome dela é Málica?
— Sim.
— Nome feio e esquisito.
— Mais que Maria Lua? — Os lábios dele se curvaram num sorriso debochado, que raramente ele conseguia fazer.
Dei um tapa forte no peito dele, que reclamou:
— Você está forte, raio de sol.
— Não viu nada... Que testar meu soco?
— Nem pensar. Já senti o peso do seu braço algumas vezes.
— Sempre me provocou.
— Eu provoquei você? Só pode estar brincando!
— Acha que ela vai gostar de mim? Por que não a apresentou aos nossos pais? — exigi a resposta.
— Ela vai gostar de você... Porque somos da mesma família... Então ela meio que é obrigada. — Ele riu.
— Você disse que tem uma irmã mais velha? Ou... Mencionou que não somos irmãos de verdade?
— E não somos, Maria Lua? — Ele me olhou.
— Você disse que não.
— Eu disse?
Levantei-o do travesseiro pela camiseta, fazendo-o me encarar.
— Vai rasgar a minha roupa — observou, preocupado.
— Por que você foi embora, porra? — implorei por uma resposta.
Ouvimos uma leve batida na porta e Babi entrou, incerta sobre o que fazer ao me ver com Theo pelo colarinho.— Larga o seu irmão agora, Malu — ela disse seriamente.Soltei Theo, que caiu, com a cabeça no travesseiro.— Ele me provocou, mãe!— Ela disse que você me achou na lata de lixo, mãe... Eu ouvi isso a vida inteira. Não é justo voltar depois de anos e essa louca insistir nisso.— É tão bom ver vocês dois brigando... — Babi jogou-se na cama, nos abraçando.Dentre as coisas boas da vida, o abraço da minha mãe era uma delas. E o cheiro de Theo era a segunda... Ou talvez a inversão da ordem fosse o que realmente eu achasse. Quando fomos nos soltar, os dedos dele enlearam nos meus cabelos e nossa mãe teve que intervir, enquanto eu reclamava de dor.— Você ainda enrola os cabelos quando está nervosa? — Theo me perguntou, quando enfim conseguiu se soltar dos fios.— Não! — menti.— Sim — Babi confirmou.— Então estava bem nervosa hoje. — Theo riu.— Bem, vim avisá-los para dormirem ced
— Sebastian não me deixa nem tomar café da manhã descansado. Nasceu para empatar a minha vida — reclamou.— Ai! — gritei.— O que houve? — Theo ficou preocupado.— Minha cabeça está doendo... Muito!Ele tocou minha cabeça:— Deve ser porque não secou os cabelos.— Claro que não, Theo. — Enruguei a testa. — Você não tem cérebro de gelatina para dizer isto.— Cérebro de gelatina? — Ele ficou confuso.— Estou tendo crise de pânico... — Levantei da cadeira. — Vou ao médico.Babi levantou:— Meu Deus... Eu vou com você.Heitor olhava para o telefone, com os olhos arregalados, sem dizer uma palavra. Enquanto Babi vinha na minha direção, ele gritou:— Não encoste nela, Bárbara!Todos me olharam:— Minha garganta está fechando... Eu vou morrer!Tentei desmaiar, mas Heitor pegou-me, fazendo-me olhar nos seus olhos:— Não morra pela alergia, Malu... Eu mesmo vou matar você. Com minhas próprias mãos.— O que aconteceu? — Babi perguntou, preocupada.— Olhe você mesma! — Heitor entregou o celular
Parei na garagem e olhei para a minha BMW M4 Pink e o Maserati prata do meu pai. Já cheguei a achar que ele pudesse gostar mais do carro do que da própria vida... Até me dar em conta da forma como ele olhava para minha mãe.Meu telefone vibrou e atendi, enquanto tocava com o dedo a lataria prata, fria e brilhante.— Me diga que está viva, Malu.— Meu corpo sim, mas destruíram minha alma, Ben! — Limpei as lágrimas.— Thorzinho ficou puto?— Sim...— Você está chorando?— Sim... E neste momento estou com o dedo no Maserati dele, pensando se eu escrever “Me perdoe” na lataria ele voltaria a ficar de bem comigo.— Ele destrói seu corpo daí... E não restará mais Malu nesta encarnação.— Talvez fosse melhor assim... — Retirei a mão do Maserati e fui para o meu carro, sentando em frente ao volante.— Que porra é esta de pegar o gostoso do Dimitry?— A porra é que ele é muito gostoso, Ben...— Tirando o fato de que eu também não resistiria se tivesse um primo tão perfeito assim, você é uma de
Não liguei o som do carro, para não correr o risco de ter que ouvir “You are my Sunshine” de novo. Quando parei em frente ao prédio de Robin, respirei fundo e olhei para cima, tentando avistar o apartamento dele, o mais alto, o mais imponente... E caro.Deixei o carro estacionado na rua e desci, me passando algo pela cabeça. E se tivesse sido Jordana que armou tudo, gravando-me com Dimi na sala do meu pai? Sim, porque ela era capaz de qualquer coisa para me destruir. Mas seria capaz de prejudicar o próprio irmão também? Se bem que Dimitry não havia sido prejudicado, já que um homem comendo uma mulher perante a sociedade era algo másculo e passível de aplausos... Já uma mulher, recém noiva, dando na mesa de trabalho do pai era algo repugnante. E acho que nem tinha como tentar explicar que eu gostava de transar com Dimitry e que fiz aquilo pela última vez.Cumprimentei o zelador, que já me conhecia, e fui até o elevador, apertando o andar de Robin. Retirei meus óculos e percebi que meus
Antes de descer do carro, peguei um casaco no banco de trás e pus no corpo, para não verem que eu estava sangrando.Assim que entrei, encontrei Heitor no telefone, andando de um lado para o outro na sala principal. Babi estava no outro telefone, sentada no sofá. Quando me viram, os dois vieram na minha direção. Percebi a preocupação em seus rostos e me senti péssima.— Pai, mãe... Me desculpem. Eu sei que posso falar mil coisas, tentar dar inúmeras explicações... Mas talvez nada seja convincente, entendem? Eu errei. E estou arrependida.Os dois me abraçaram e deixei as lágrimas escorrerem, grata por tê-los ali.— Eu fui muito duro com você — Heitor disse.— Não foi... Eu fui uma inconsequente.— A parte boa disto tudo é que você não vai casar com Robin Hood — animou Babi, enrolando meus cabelos com os dedos, já sabendo que era aquilo que eu fazia quando estava nervosa.— Eu nem gostava dele mesmo — Heitor concordou. — Mas isso não significa que eu queira você com Dimitry.Eu ri:— Não
— Não... Foi nada. Retire o outro logo enquanto eu estou preparada.Theo riu:— Vou tentar ser mais gentil desta vez.— Não precisa... Não sou mais virgem.Senti a pinça impiedosa novamente, arrancando o outro pedaço de vidro. Certamente aquilo era uma forma de Theo me punir. Eu podia apostar que ele estava feliz vendo minha dor e sofrimento. Mas fui forte, como sempre. Jamais deixei-o perceber que eu tinha sentimentos e podia ser fraca e precisar muito de ajuda.Ele me mostrou os dois pedaços de vidro, ainda com sangue. Sentei sobre a cama e Theo pegou a colcha, me cobrindo.— Não gosta dos meus peitos, Theo? — provoquei.— Não, não gosto.— Quer que eu ponha silicone? — Retirei a colcha, fazendo questão de mostrar.Theo levantou:— Eu quero que você tome um chá de responsabilidade. E cresça, de uma vez por todas.Abaixei a cabeça, pegando a colcha e me cobrindo, envergonhada. Respirei fundo e engoli meu orgulho:— Me desculpe pelo que fiz, Theo. Já pedi desculpas aos nossos pais...
Nem esperei que eles descessem do automóvel. Saí correndo e entrei na lanchonete, procurando o banheiro.Depois de esvaziar a bexiga, encontrei meu pai e Theo sentados na lanchonete simples, de beira de estrada. O cheiro de fritura se espalhava pelo ambiente e tinha somente uma funcionária atendendo, certamente pegava o dinheiro e com a mesma mão fazia a comida.— O que vocês estão fazendo aí sentados?— Quero comer algo bem gorduroso — Theo me respondeu, sorrindo de forma debochada.— Não... Não estou ouvindo isso. Só porque ganhou uns músculos acha que pode chutar o balde e abandonar a dieta e os exercícios, garotinho? — provoquei.— Não faço dieta. E não vou abandonar os exercícios, se é o que está sugerindo.— Então não gosta do que é servido na mansão Casanova? — Heitor perguntou.— Relaxa, pai. E prove algo diferente, uma vez na vida — Theo sugeriu.— Este lugar é esquisito. — Heitor olhou ao redor.— E não parece ser nada higiênico. — Observei.— Sente aí conosco e fique quieta
— Qual o seu problema, Maria Lua?Olhei para a mão dele e retirei-a, furiosa:— Qual é o “seu” problema, Theo?— Ontem mesmo você estava na mesa de pai, com Dimitry, nosso primo, no dia do seu noivado. Hoje está dando em cima de um garoto, como se nada tivesse acontecido.— Acho que não devo mais transar com ninguém da minha família — provoquei.Theo ficou me encarando um tempo, sem dizer nada. Tentei firmar meus olhos nos verdes dos seus, mas não consegui sustentá-los. Olhei para o chão.— Eu só achei que a gente pudesse se divertir um pouco... Faz anos que não vou à Babilônia. — Theo foi mais gentil, até mesmo doce, de tal forma que me irritou. — Mas se quiser ficar por aqui, falo com papai... E lhe dou cobertura.— Não se importaria se eu ficasse?— Não.— Então eu vou com você.— Maria Lua, você entendeu o que eu disse?— Sim.— Usou drogas? Bebeu?— Ainda não... — Sorri, pegando a mão dele. — Vamos, Theo.Heitor já estava no carro nos esperando. Soltamos nossas mãos assim que saí