— Qual o seu problema, Maria Lua?Olhei para a mão dele e retirei-a, furiosa:— Qual é o “seu” problema, Theo?— Ontem mesmo você estava na mesa de pai, com Dimitry, nosso primo, no dia do seu noivado. Hoje está dando em cima de um garoto, como se nada tivesse acontecido.— Acho que não devo mais transar com ninguém da minha família — provoquei.Theo ficou me encarando um tempo, sem dizer nada. Tentei firmar meus olhos nos verdes dos seus, mas não consegui sustentá-los. Olhei para o chão.— Eu só achei que a gente pudesse se divertir um pouco... Faz anos que não vou à Babilônia. — Theo foi mais gentil, até mesmo doce, de tal forma que me irritou. — Mas se quiser ficar por aqui, falo com papai... E lhe dou cobertura.— Não se importaria se eu ficasse?— Não.— Então eu vou com você.— Maria Lua, você entendeu o que eu disse?— Sim.— Usou drogas? Bebeu?— Ainda não... — Sorri, pegando a mão dele. — Vamos, Theo.Heitor já estava no carro nos esperando. Soltamos nossas mãos assim que saí
Theo me trouxe o “misturado da Lua”, a bebida que eu havia criado e que além de mim, ninguém mais gostava. Tomei um copo, dois, três, quatro e no quinto mal sustentava o peso do meu corpo.— Vamos dançar, Theozinho.— Você bebeu demais, Maria Lua! — Ouvi a voz dele, me segurando, enquanto eu tentava fazê-lo movimentar-se ao som da música eletrônica.— Você não sabe dançar... — gritei. — E duvido que saiba foder — sussurrei no ouvido dele.— Eu não preciso ouvir isto. — Ele tentou sair, mas fiquei segurando-o pela camisa.— Fica, Theo... Fica comigo! — O olhei seriamente.Sim, a minha cabeça estava dando voltas e parecia que se eu andasse, cairia. Mas estava consciente de tudo que acontecia e cada palavra dita.Ele respirou fundo e retirou minhas mãos da sua camisa:— Por que teima em me pegar deste jeito?— Quer que eu pegue de outro? — provoquei, rindo.— Por Deus, mulher! Não me tire do sério.— Eu o achava sexy quando ficava bravo... Será que ainda é assim?— Vá dançar. Duvido que
— Nada... — Tentei retirar a mão dele, furiosa.Theo tentou me abraçar, mas eu o afastava com veemência.— Posso lhe dar um doce — brincou.— Eu não sou mais criança. Não me comprará com doces...Lutamos por um tempo, eu tentando afastá-lo e ele insistindo em me tocar. Quando finalmente desisti, Theo secou minhas lágrimas e disse:— Se usasse as minhas maquiagens, não ficaria borrada quando chorasse.— Eu só uso Giordano — falei, amargamente.— Por isso está com o rímel escorrendo pelas bochechas... — Passou os dedos com força, tentando limpar.— Nunca usei as porras que me mandou — confessei.— Jogou fora?Assenti, satisfeita com a reação dele.— Jogou fora tudo que lhe mandei e ainda se envolveu com o homem que roubou o meu projeto? Com uma irmã como você, ninguém precisa de inimigos.— Me leva embora — pedi firmemente. — Ou me dê a chave.— Jamais eu lhe daria a chave do Maserati do papai... Sinceramente, acho que nem se estivesse sobrea.— Porque não confia em mim e blá, blá, blá.
Acordei com o relógio despertando e a sensação de que minha cabeça estava pesando uns cinquenta quilos. Pedi para a empregada dois analgésicos, que ela deixou preparado para quando saí do banho.Pus um terninho branco, de linho e olhei-me no espelho, incerta se conseguia passar a imagem de mulher séria e responsável. Abri a gaveta das maquiagens e observei as caixas lacradas enviadas por Theo. Toquei-as ternamente. Se ele soubesse o real motivo de eu nunca ter aberto e usado... Suspirei, certa de que ele jamais entenderia, porque Theo era tão inteligente para algumas coisas, mas quando se tratava de mim, a inteligência dele simplesmente não existia mais.Meu irmão não me tratava da forma como dispensava atenção aos outros. Eu era sempre julgada, da pior forma possível. E por mais que ele me abraçasse e parecesse gostar de mim, as ações demonstravam indiferença e até certa implicância. E sim, eu era a porra da irmã que fazia tudo errado, desde sempre.A questão é: meus pais jamais me j
— Então lembrei que você disse isso também, que Dimitry não tocaria em mim. Acontece que eu já tenho 24 anos e decido quem toca ou não no meu corpo. E agora que não tem mais Robin, nosso primo é livre para fazer o que quiser comigo. — E algum dia ele não foi? Por acaso Robin o impediu de tocá-la? Pelo que sei, ele estava fazendo sexo com você no dia do seu noivado. — Vá-se-foder, Theo! Eu odeio você.Desliguei o telefone, toquei o bolo na parede, espatifando-o.Fui para meu carro, dirigindo em alta velocidade até a North B.Assim que entrei na empresa, percebi os olhares na minha direção. Droga, esqueci do escândalo do final de semana. Deveria ter ido com meu pai. A presença dele certamente impediria os comentários maldosos.Não que eu fosse o tipo de pessoa que me importava com comentários a meu respeito. Mas aquele não envolvia só a mim, mas também Heitor e Bárbara. E aquilo eu não aceitava, de jeito algum.Fui para minha sala, tentando focar no trabalho. Uma hora depois, meu pai
— Onde você se meteu? Eu liguei no mínimo umas cinquenta vezes para você, Malu.— Por que não tentou me procurar de verdade? Sabe onde eu moro — debochei.— Estou no meu apartamento. Tem escrito em todas as esquinas “Procurado vivo ou morto. Pago qualquer recompensa. Assinado: Heitor e Sebastian”.Eu comecei a gargalhar e ele não se conteve, fazendo o mesmo.— Tio Sebastian quer matá-lo? Achei que era só meu pai.— Agora estou proibido de voltar para casa. Tenho passado fome, frio e dor por sua causa.— Você é um imbecil, Dimi.— Meu pai começará a me matar e o seu terminará. Sinto que meu fim está próximo.— Agora vamos falar sério, Dimi. Foi você que armou para aquilo tudo sair na mídia?— Eu? Claro que não... Por que eu faria isso?— Foi o que me perguntei também.— Mas podemos tentar descobrir quem fez isto... Juntos. — Tocou minha perna, descansando a mão nela.Retirei a mão dele:— Dimi, não!— Você não deve mais estar com Robin.— Claro que não. E ele queria me matar. Inclusive
— Por que Robin? Por que não eu?— Dimi, você é filho do tio Sebastian e da tia Milena.— O que seus pais disseram sobre isto?— Minha mãe quis saber se eu o amava. Creio que se afirmasse, ela aceitaria. Meu pai? Ah, você é o filho de Sebastian... Então isso o irritou muito.Ele riu:— Os dois fazem questão de fingir que não se gostam.— Mas sabemos que isso não é verdade, não é mesmo?— Eu fico feliz que tudo isto tenha acontecido. Caso contrário, estaria noiva do Robin Hood e neste momento com ele, trancada numa cobertura... Dando para ele o que eu tenho de mais precioso.Levantei o corpo, sentando-me na cama.— Dimi, eu gosto de transar com você. Mas isso não vai mais acontecer. É o fim.— Vai transar com quem?— Com quem eu quiser. E se não quiser, com ninguém.— Malu... Estou apaixonado por você.Não sei o que senti quando ele confessou aquilo. Nunca me envolvi com um homem a ponto de alguém chegar a declarar algum tipo de sentimento por mim. Nem mesmo Robin havia confessado amor
— Pai, na verdade eu só vim fazer uma pergunta.Babi ligou a luz com o controle, clareando a sala, ambos me olhando preocupados.— Faça, meu bem.— É possível colocar câmeras nos banheiros dos funcionários da North B.?— Não, não é possível. Todos os lugares onde é autorizado possuem câmeras. Onde não há é porque não podem ser colocadas.— Você não tem como intervir nisto? Tipo... Fazer mudar a lei?— Não.— Seu pai não pode mudar a lei. Ele é só o CEO na North B — minha mãe lembrou.— E da Babilônia! — Heitor olhou-a. — Mas algum problema que eu possa ajudá-la?— Não... Eu só queria saber.— Não quereria saber do nada. — Babi foi reflexiva.— Eu... Só fiquei curiosa mesmo. Li uma reportagem sobre... Assédio sexual em banheiro de empresas. E fiquei me perguntando... Se futuramente o uso de câmeras não nos protegeriam disto.— Os banheiros são separados em femininos e masculinos. E há câmeras em todos os corredores. Saberemos se um dos banheiros foi invadido por alguém que não deveria