- Está nos sequestrando? – Perguntei, aturdida.- Por que não? – Riu, com escárnio.- Hades, você não faria isso. – Theo arriscou.Hades retirou uma arma detrás da cintura e olhou-a, despreocupadamente:- Sabia que Maria Lua me beijou?Theo me encarou, tentando falar de forma tranquila:- Se foi naquela vez... Ela me contou.- Eu poderia ter dormido com ela, como qualquer outro.- Mas não dormiu. – Theo afirmou.- Sempre foi uma vagabunda, como a mãe. – Hades me olhou.- Salma tentou ajudá-los... Da forma como pôde. Anya não deixou o dinheiro chegar a todos. Mas você foi um privilegiado, pelo que percebi. E tudo por conta da sua irmã.- Isso é loucura! – Theo pôs as mãos na cabeça – Precisamos encerrar isto de uma vez por todas, por favor. Eu sei que... Vocês não pensam em atirar em nenhum de nós, não é mesmo? – Puxou-me em sua direção, pondo-me para trás, tentando me proteger com o próprio corpo.Talvez eu devesse ter medo de Hades e Daltro. Mas eu não tinha. Não que duvidasse do que
- Não... Não posso! Meu pai não sabe nada sobre isto. Ele está doente... Por favor. – Implorei.- Maria, eu não estou brincando. – Afirmou, apertando ainda mais a arma contra minha cabeça.Incerta sobre a forma como agir, encontrei o contato de meu pai no celular de Theo e liguei.- Theo? Como ela está?- Pai? - Maria Lua? – a voz dele demonstrava preocupação.- Ponha no viva voz. – Daltro ordenou.- Estou pondo no viva voz, pai. – Avisei, antes que ele pudesse ser enganado.Hades apertou com tanta força o revólver contra minha cabeça que me desequilibrei. Pegou-me com violência pelo braço e me levou até a parede, próxima da janela, onde me recostou, com a testa escorada no tijolo gelado.- Acha que é esperta, sua vagabunda? – Sussurrou no meu ouvido.Gemi, amedrontada, com dor, incerta se sentia meus membros inferiores e superiores.- Maria Lua, acalme-se! – Pediu meu pai.Hades foi falando no meu ouvido, a fim de que eu fosse repassando para meu pai o que ele quisesse, tão baixo qu
- Ele está falando com... Não... Não seria a Maíra que eu conheço! – Balançou a cabeça.- Sim, é ela mesma, Theo. Maíra entrou na Simplicity para vigiá-lo e sabe tudo sobre nós.- Mas desde quando eles planejam esta porra?- Desde sempre, seu idiota! – Daltro foi quem respondeu.- Fiquem à vontade, crianças! – Daltro disse, sentando-se no sofá, tranquilamente.Fui em direção a Theo e o abracei. Queria conversar com ele sobre o fato de nosso pai saber tudo que estava acontecendo... Se não tudo, grande parte pelo menos. Mas não tinha como falarmos qualquer coisa sem que eles escutassem.- Hades, você tem noção de que está nos sequestrando? – Falei, soltando Theo e indo em direção a ele.- Isto não é um sequestro.- Se não nos deixa ir embora e pede dinheiro em troca de nossa liberdade, isso é um sequestro. – Theo respondeu.- Seu plano foi idiota, leviano e burro. – Daltro me encarou.- Que plano? Abrir mão da minha herança e vir morar com vocês, já que Anya alegava que o que queria era
Assim que despertei, senti uma forte dor de cabeça. Fechei os olhos, mordendo o lábio. Os abri novamente e demorei a assimilar o local onde eu estava.A cama pequena e desconfortável dera lugar a uma king size macia, com lençóis bem lavados, passados e com aroma de limpeza. A almofada fora substituída por tantos travesseiros que eu mal conseguia contar... Todos muito bem enfileirados, dois deles acomodando minha cabeça. Creio que a cama fosse pouca coisa menor que o tamanho do quarto onde dormi nos três meses que passaram.O ar era inodoro. Milagrosamente não havia cheiro de cigarro, sujeira, comida ou perfume barato. Haviam persianas que escondiam os vidros e impediam a claridade de adentrar no dormitório.Banheiro? Deus, realmente tinha um banheiro no meu quarto?Mas faltava uma coisa... A mais importante: meu cão da montanha dos Pirenéus.Tentei levantar, mas a tontura me impediu.A porta se abriu e mamãe apareceu. Sorriu e olhou para trás:- Ela acordou!Então lá estavam eles: os
- Eu... Sinto como se ele também fosse meu, entende? – Me disse, com a voz doce, os olhos avermelhados – Porque você o ganhou e logo ambos partiram para Noriah Sul. O conheci ainda filhote... E sei o quanto ele lhe protegeu e fez companhia nos últimos meses.Nos abraçamos imediatamente, com força, ânsia, como se não nos tocássemos há anos. Senti seu coração batendo forte, no mesmo ritmo do meu. Mesmo depois de tudo que passamos, o cheiro do perfume dele ainda permanecia em sua pele, embora mais fraco.“Ah, Theo, nem precisamos mais falar! Parece que nossas mentes se conectam tão bem quanto nosso corpo. Não sei exatamente o que é amor, pois é a primeira vez que sinto isso por um homem. Mas creio que seja algo quase inexplicável, como se embora longe um do outro, nossas almas sempre estivessem juntas.”Comecei a beijá-lo pelo rosto, com a intenção de dar-lhe todas as beijocas do mundo, iniciando pelo nariz, olhos, sobrancelhas, testa, bochechas, lábios, queixo, não deixando de tocar seq
Liguei o chuveiro e senti a água morna e abundante jorrar sobre o meu corpo. Fechei os olhos e pus as mãos na parede branca, lisa e perfeitamente limpa. Eu poderia ficar naquele banho para sempre que não me cansaria.Abri o shampoo que usava diariamente antes de partir, passando ao longo dos meus fios castanhos. O aroma espalhou-se pelo box, chegando a irritar minha narina. Sorri e fiz espuma além do normal, brincando com o produto em meus cabelos.Apertei o frasco de sabonete líquido, observando atentamente a cor dourada com glitter. Esfreguei nas mãos, sem pressa e depois passei ao longo do corpo, sentindo a pele ressecada, que precisava imediatamente de um bom dermatologista e produtos de qualidade para nutri-la e hidratá-la novamente.Pensei nas meninas e imaginei o quanto elas deviam estar se divertindo nos banhos no banheiro de Anon e Ben. Cheguei a vê-las na banheira de hidromassagem que eles tinham no quarto, fazendo folia e falando sem parar.De tudo que vivi nos últimos temp
Nos abraçamos sob a água morna. Me senti grata, completamente grata por tudo que eu tinha: uma família, amor... E Theo Casanova.Naquela noite nós quatro jantamos na varanda, como há muito não fazíamos. Apesar de tudo, meu pai estava bem. E demonstrava força e esperança de logo encontrar um doador. Embora trabalhasse de casa, ainda ia à empresa resolver algumas coisas pessoalmente, vez ou outra.Theo, por sua vez, mesmo tendo alugado um apartamento e montado um QG próximo de onde eu estava, ainda conseguia ajudar meu pai na North B.Descobri que foi pouco o tempo que meu pai não ficou sabendo da verdade. E não foi através de Ben. Babi havia desconfiado desde o início que algo estava errado e começou a montar o quebra-cabeça. Para ela não havia sido muito difícil, já que me conhecia bem demais. Aliás, todos me conheciam muito bem, especialmente meus pais. Mas sempre acreditaram que era melhor eu fazer as coisas como queria, mesmo que não concordassem, pois assim veria por mim mesma o r
Theo remexeu-se na cadeira, parecendo incomodado com minha decisão.- Não quero criar uma criança com amor, carinho e toda dedicação e depois de anos você deixar este lugar e o querer de volta.- Eu... Prometo que não o pegarei de volta. Se for preciso assinar qualquer papel, o faço. Mas por Deus, fique com meu pequeno! – Implorou, as lágrimas escorrendo pelo rosto.Segui firme:- Não posso!- Você tirou as meninas de Anya. Se preocupou com elas. Sei que cuidou de Zeus. E é impossível não amar aquele menino...- Sim, é impossível não amá-lo. E por isso troquei sua fralda, quando suas necessidades escorriam pelas pernas ou ela caía de tão pesada e eu o encontrava correndo nu pela casa. Também por amá-lo lhe dei leite morno, quando ele chorou de fome, sendo ignorado pela avó ou seja lá a porra que ela era dele. E por amá-lo eu o pegava no colo para que não cruzasse o quintal descalço, arriscando ser picado por algum animal peçonhento, cortar-se num vidro ou cravar um prego no pé tão peq