O noivado (II)

— Caralho, o que acontece na sua família para que estes homens sejam tão lindos? Eu pegaria todos, exceto Ben.

Eu ri:

— Eu diria genética, amiga. Afinal, olhe Heitor e Sebastian. Quanto a Ben, ele não quereria ser pego por você.

Dei um passo em direção à escada e Ester me perguntou:

— Você ama Robin?

— Amar é uma palavra forte — afirmei.

— Sabe que ele ama você, não é mesmo?

— Amor existe entre os meus pais. E entre Ben e meus pais. E entre meus pais e eu... E entre nós e Theo. Não acredito em outro tipo de amor.

— Caralho, o que você está fazendo então?

— Tentando ser uma mulher responsável e séria.

— E acha que casar com Robin é o que vai lhe dar este título?

— Eu gosto dele.

— Mas...

— Quem decide isso sou eu — finalizei.

— Posso perguntar uma coisa?

Ester estava séria e raramente tínhamos conversas reveladoras.

— Pode — falei, incerta.

— Você ainda ama aquele garoto da adolescência?

Arqueei a sobrancelha, confusa, sentindo o sangue ferver dentro de mim, ao mesmo tempo que respondi, com outra pergunta, me fazendo de desentendida.

— Que garoto?

— Aquele que a fazia chorar quando estava bêbada...

— Não lembro disto. — Fingi-me de ignorante.

— Nunca falou o nome dele...

— Nunca bebi minha sanidade.

— Ainda gosta dele?

— Ele nunca existiu. Acho que quem bebeu foi você — garanti, virando as costas e indo em direção ao pequeno lance de escadas.

Assim que desci os poucos degraus, Robin veio até mim e todos bateram palmas para nós. A sala de estar estava completamente lotada e eu mal conhecia as pessoas que estavam ali. Eu não era o tipo sociável, mas Robin tinha tantos amigos que quando casássemos teríamos que usar duas igrejas para acomodarmos todos.

— Você está... Linda! — Ele me contemplou dos pés à cabeça.

Robin usava um terno preto de marca famosa, corte perfeito, impecável. A camisa branca ficava aparente, com os dois primeiros botões abertos. Incrivelmente não usava gravata naquela noite, talvez por ser algo tão habitual, quase como usar cuecas.

Meu quase noivo era moreno, alto, olhos castanhos claros, sobrancelha grossa e bem desenhada. Magro, levemente musculoso e com pernas compridas e cheias de pelos encaracolados. O peito também tinha penugem, o que de certa forma me incomodava. Nunca consegui convencê-lo a raspar. Os cabelos bem cortados tinham um leve topete na parte da frente, que ele fazia questão de pentear para cima, dando um ar ainda mais masculino.

Robin Giordano exalava masculinidade por cada poro e não era ruim de cama. O X da questão é que eu não gostava de homens tão homens, galanteadores até na hora da foda.

Enquanto eu analisava meu futuro noivo, Robin retirou do bolso uma caixinha e abriu-a, mostrando o anel com um diamante gigantesco que em breve me pertenceria.

— É... Lindo! — Não me contive ao admirar a simplicidade da pedra pura e ao mesmo tempo enorme.

Robin deu-me um beijo no rosto e retirou o anel, pondo no meu dedo anelar. Todos bateram palmas. Estávamos noivos? Era isso mesmo? Ou faríamos mais alguma coisa?

Os flashes iluminaram a sala de uma hora para outra, todos tentando uma foto do enlace de uma das herdeiras Casanova e o dono da maior empresa de cosméticos de Noriah Norte.

Olhei para Heitor e não vi um sorriso nos lábios dele, o que me preocupou de certa forma.

— Estou feliz, minha estrelinha — Robin sussurrou no meu ouvido.

Desde que nos conhecemos, ele me chamava de “estrelinha”. Tudo porque fechou um negócio quase perdido no dia em que ficamos juntos pela primeira vez, então julgava que eu era sua estrela da sorte. Eu detestava o apelido que o desclassificado me dera.

— Estou feliz também... — Sorri.

Minha sogra pegou meu braço delicadamente, retirando-me de perto de Robin, enquanto falava no meu ouvido:

— Que roupa é esta, Malu? Bárbara aprovou isto?

Encarei a mulher de mais de 1,80 metros e disse:

— Esta é a roupa que escolhi para o dia de hoje. E minha mãe não costuma aprovar ou não o que uso. Caso tenha esquecido, tenho 24 anos.

— As fotos de vocês estarão em todos os veículos de comunicação amanhã. E parece que minha nora está indo dançar numa gaiola da Babilônia.

— Eis uma ideia maravilhosa que eu ainda não havia pensado, sogra. Robin adoraria me ver tirar a roupa numa das gaiolas.

Avistei Theo entre a multidão, com uma taça na mão, bebendo sozinho. Ele virou na minha direção e sorriu. Não ouvi mais nada do que a mulher falava ao meu lado, embora sua voz ainda ecoasse nos meus ouvidos. Praticamente corri até Theo, empurrando todos à minha volta.

Quando cheguei perto, fiquei imóvel. Fazia uns dois anos que não nos víamos. E caralho... Ele tinha crescido muito.

Theo veio até mim e abraçou-me com força, usando só um braço, a mão ainda tentando conservar a bebida intacta.

— Devo me sentir lisonjeada com a sua presença, maninho? — brinquei.

— Sim. Sabe que eu não deixo meus negócios por nada no mundo.

— Mas sou sua irmã preferida, não é mesmo?

— Sim, é. — Ele sorriu, mostrando os belos dentes brancos e alinhados.

Theo usava terno preto com gravata da mesma cor. Os botões da camisa branca estavam fechados até o pescoço e me faltou o fôlego ao imaginar o quanto ele devia estar desconfortável com aquilo. Ou não!

Meu irmão tinha a pele clara, como a de minha mãe. Os olhos eram uma mistura dos do meu pai e dela. Era alto e magro, mas não tanto quanto Robin. Sim, ele cresceu e virou um homem. E lembrei do que minha mãe falava, que eu ainda tinha cara de menina. Acho que o mesmo servia para meu irmão.

Os cabelos pretos estavam muito bem penteados, mesmo com um corte extremamente curto. E a face lisa, a barba retirada por completo.

Senti braços me envolverem por trás e a mão de Robin foi estendida para Theo:

— Devo me sentir lisonjeado pela sua presença, cunhado?

 Theo apertou a mão do meu noivo e sorriu:

— Vendo pelo lado que somos quase inimigos nos negócios, creio que sim, “cunhado”.

— É proibido falar de negócios hoje. — Fui enfática.

— Claro que não falaremos de negócios. É o dia que minha irmãzinha assumiu um compromisso. — Theo me olhou.

— E... Sua namorada?

Antes que ele respondesse, Dimitry apareceu, abraçando Theo:

— Um milagre? Só pode! Theo Casanova em Noriah Norte? Você tem poder, Malu. Trouxe nosso bebê de volta — brincou.

Eu ri da forma com Dimitry impressionou-se com a presença de Theo.

— Não gosto da presença da imprensa — disse meu pai, aproximando-se.

— Não me importo — confessei. — Até acho que estão sendo legais e nos dando espaço.

— Minha única condição é que não passem da sala de estar.

— E estão obedecendo? — Theo perguntou.

— Deixei Anon cuidando disso.

— Então ninguém vai passar da sala de estar — Theo garantiu.

— Eu soube que está desenvolvendo um produto único, Theo. Ainda pensando em me derrubar? — Robin provocou.

— Porra, Robin, você não vê Theo há anos. É nossa festa de noivado e vai falar de negócios? — critiquei, cruzando os braços, enfadada.

— Vou ser seu concorrente direto, Giordano. — Theo chamou-o pelo sobrenome, com a voz firme, imponente.

— Aposto em Theo — meu pai mencionou, sorrindo.

Respirei fundo e dei meia-volta, indo em direção ao bar, onde estavam fazendo as bebidas. Por mais impossível que parecesse, não havia chope com sabor, o carro-chefe da empresa North B. Pedi um espumante e ouvi o sussurro no meu ouvido, causando-me o arrepio habitual:

— Este noivado significa o nosso fim?

— Sim. Acabou, Dimi. — O encarei.

— E se eu disser que não aceito isso?

— Vai ter que aceitar que este corpinho nunca mais será seu — provoquei, bebendo de forma sexy a bebida borbulhante da minha taça.

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