Theo seguiu ligando. Eu não atendi e sequer li as mensagens.Quando me sentei na poltrona do jato particular, acompanhada somente de meu cachorro, senti as lágrimas escorrerem pelas minhas faces. Por que porra doía tanto saber que ele estava com ela? Por que pus na cabeça que Málica não me oferecia perigo, quando na verdade ela era o próprio perigo em pessoa? A subestimei. E não deveria ter feito aquilo. E o pior de tudo é que nem tinha mais forças para brigar... Porque eu estava esgotada física e mentalmente.Toquei a poltrona ao meu lado e Gatão pulou, deitando com a cabeça sobre minhas coxas:- Acho que não agradeci Dimi o suficiente por ter me dado você... – alisei seu pelo macio. Você é ser mais leal que uma pessoa poderia ter na vida. – Limpei as lágrimas.Fechei os olhos e apesar do cansaço, não devo ter levado mais de cinco minutos para capotar adormecida no meu assento.Despertei com a comissária de bordo tocando meu ombro, de forma gentil:- Senhora, já pousamos!Abri os olh
- Por enquanto sim... – mordi o lábio, contendo o suspiro.- Está chorando?- Claro que não, seu idiota! – Menti.- Estou chegando em Noriah Norte. E assim que a encontrar, irei algemá-la numa cama por no mínimo 24 horas. Até admitir que eu não sou um idiota. Te farei gozar tantas vezes que implorará para que eu pare. E direi tantas vezes que a amo que chegará a enjoar. Ninguém é capaz de ocupar o lugar que você ocupa na minha vida.Comecei a rir, sentindo minha pele arrepiar-se com a simples menção dele em me tocar:- Por mais que tenha me magoado... E seja um idiota... Ainda é meu idiota preferido... – Admiti. – Talvez você precise de um tempo para resolver esta sua questão com Málica. Achei que eu fosse madura para aceitar tudo isso. Mas descobri que não sou, Theo. Vai além da minha capacidade. Porque vê-lo com ela dói... Muito. E estou cansada de tantas pancadas da vida. - Não voltarei para Noriah Sul, Maria Lua. Venderei a Simplicity. Quero casar com você. A possibilidade de fic
- Você não pode ir a este encontro. – disse, com os braços firmes me segurando de costas para ele, sem me dar opção de soltar-me.- Do que... Você está falando? – Me fiz de desentendida.- De encontrar a sua família biológica. – Seguiu, sem me soltar, sussurrando no meu ouvido.Pisei no pé dele e desvencilhei-me, o encarando:- O que está fazendo aqui? Vai me dizer que o destino nos pôs no mesmo ponto de táxi? – Fiquei atordoada – Vou foder com o seu destino se continuar a me achar uma idiota.Hades me puxou para perto dele, abaixando a cabeça:- Não quero que vejam meu rosto – puxou uns óculos de sol do bolso, pondo-o na face.- Me diga o que está fazendo aqui ou vou gritar. Veio me levar para eles?- Estou protegendo-a, porra!- Quê?- Sou pago por seu pai para ser seu guarda-costas, Maria Lua.- Como assim? – Dei um passo para trás, tentando entender o que estava acontecendo.- Heitor Casanova me pagou para vigiar seus passos...- Desde quando?- Muito tempo.- Muito tempo quanto?
Quarenta minutos depois e eu já não tinha a mínima noção de onde estava.- Este lugar... Faz parte de Noriah Norte? – Perguntei ao motorista.- Sim, senhora. Mas confesso que nunca estive para estes lados.- O senhor... Irá me esperar para levar-me de volta? – Questionei, preocupada.- Só recebi pela corrida de ida.- Se eu pedir... Ou melhor, pagar, o senhor pode me esperar?- Claro que sim. Mas... Vai custar caro. Aqui parece ser um lugar perigoso.- Pago o valor que achar necessário. – Falei.- Combinado. Mas precisa pagar adiantado. Neste caso, agora.Sim, claro que ele faria aquilo. A questão é que eu não tinha nada de dinheiro em espécie, sequer para dar ao chantagista, visto que fiquei envolvida com meu pai, as idas e vindas entre Noriah Norte e Sul e todo tumulto acontecido na minha vida nos últimos dias, principalmente horas. O irmão de Salma teria que aceitar uma transferência, ou ficaria sem a porra do dinheiro.Peguei meu relógio de pulso, em ouro puro, com as duas pontas
- Onde está a mala com o dinheiro? – Olhou para minhas mãos.- Eu... Não tinha como sacar toda a quantia que você me pediu.- Por isso mesmo avisei com antecedência... Por saber que não seria fácil. Ainda acha que estou brincando com você? – Se aproximou e pegou meu braço com força, encarando-me.O bebê que estava no colo dele começou a chorar. Olhei para as duas meninas, que estavam lado a lado, observando-nos, com os olhinhos arregalados.- Eu farei uma transferência. – Tentei aparentar tranquilidade e coragem.- Sabe que isso me fode.- Eu... Não quero prejudicá-lo. – Minha voz quase não saiu.Ele largou meu braço e senti ardência da força que fez contra minha pele. Toquei-me, por cima do blazer, no local que latejava.Daltro Hernandez pegou o bebê sem roupa e entregou no colo de uma das pequenas garotas:- Cuide dele, pirralha. – A voz foi firme e ela pareceu amedrontada quando saiu com o bebê em direção ao carro velho, onde brincavam anteriormente.A outra menina acompanhou-a, o
Sim, era naquilo que eu precisava me apegar: minha família. Só de pensar em Bárbara me senti melhor e mais forte. Eu tinha que aguentar tudo aquilo e ser resistente. Porque sabia que eles estariam lá por mim, quando o pesadelo de meu pai acabasse e ele saísse do hospital.Minha mente trouxe-me Babi, com seus belos olhos claros e os cabelos loiros dourados... Ela tinha um sorriso contagiante e ao longo da minha vida nos deitamos na cama durante algumas madrugadas, conversando sobre assuntos diversos. Ela ria dos próprios conselhos. E apoiava todas as minhas loucuras. Nunca saiu do meu lado, em hipótese alguma. E deu-me um amor que eu duvidava que qualquer outra mãe pudesse dar.Heitor Casanova... Ah, minha mente sempre me traía com relação a ele, porque meu pai não morava em lugar algum a não ser no meu coração. Me ensinou a ser forte e lutar pelo que queria, desde sempre. Conforme fui crescendo, percebi que ele me escolheu para ser sua sucessora na North B., como se soubesse, desde se
Olhei para baixo e vi várias folhas secas grudadas nos meus saltos. Comecei a arrancá-las enquanto ele começou a dirigir. Mal sabendo como me segurar e sendo observada por todos os presentes na lotação coletiva, encaminhei-me para um dos assentos, percebendo todos ocupados, tendo que ficar de pé, já que os espaços eram tão minúsculos que não cabiam dois corpos num mesmo banco.A cada vez que o ônibus parava num ponto diferente, um solavanco fazia com que eu quase caísse. Observei pela janela, através da escuridão e não consegui identificar onde estava. Não havia sequer um ponto de referência que lembrasse a capital de Noriah Norte ou algum lugar que eu conhecesse. Sentei-me ao lado de uma mulher com cara de poucos amigos, que trazia uma bolsa sobre o colo.- Com licença... A senhora se importa se eu ocupar o espaço ao seu lado? – Perguntei, temerosa.Ela franziu a boca e disse:- Os lugares não têm dono, madame.- Obrigada. – Agradeci, entendendo como um sim.Quando percebi que em cad
Não tinha certeza se Robin havia conseguido rastrear o lugar onde eu estava. Sem saber o que fazer, achei melhor sentar-me na sarjeta e esperar por ajuda divina, caso ele não aparecesse.E ali fiquei, observando o ir e vir das pessoas entrando e saindo e o movimento ficando cada vez mais escasso depois que o supermercado fechou as portas. Comecei a ficar amedrontada e a única coisa que tive medo de perder foi o meu anel de noivado. Retirei-o do dedo e pus dentro do blazer.Não tinha noção de quanto tempo passou enquanto fiquei ali, esperando, incerta se seria salva por alguém. E incrivelmente o meu salvador talvez fosse meu ex-noivo, o idiota que roubou a fórmula de Theo e estava tentando destruir a Simplicity.Abri as pernas levemente e levantei os joelhos, descansando a cabeça neles. Dormir na rua era algo que jamais imaginei que faria um dia. E tudo por culpa dos Hernandez. Eu não poderia aceitar aquilo. E não tinha condições de resolver tudo sozinha, por mais forte que fosse. Eles