As malas (II)

— Talvez.

— Estava falando com meus sapatos. Mamãe disse que o apartamento de Theo é pequeno e que eu devia levar só uma mala de sapatos e não duas.

— E o que seus sapatos responderam?

— Que iriam sentir muito a minha falta... E se suicidariam. Então eu decidi levar uma mala menos de roupas e duas de sapatos.

Ele suspirou:

— Você vai acabar com a tranquilidade de Theo. Já imagino até ele voltando para casa, com você debaixo do braço.

— Quer que eu o traga de volta, pai? Eu posso fazer isso, se quiser.

— Estou brincando, Maria Lua. Sabe que deve seguir as regras da casa dele, não é mesmo? Você vai ser hóspede.

— Eu prometo que vou fazer tudo que ele mandar, pai. E vou me comportar.

— Uma vez sua mãe me disse que não sabia se comportar. E acho que nisto você puxou a ela.

Eu sorri:

— Sabe que agradeci mentalmente a Deus por vocês dois terem me aceitado como filha?

Ele se aproximou e me abraçou com força:

— Você foi a primeira criança que peguei no colo... Na vida.

— Eu sinto muito, pai..
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