Adrielle Hale— Desculpe, senhora Williams, mas a doutora Clarkson não poderá mais atendê-la. Houve um pequeno problema na agenda. — O tom da secretária carrega nervosismo e hesitação. Merda. Já perdi as contas de quantas psicólogas tentei esta semana. Vinte, no mínimo. E todas elas se recusam a ajudar. Estou começando a pensar que é um tipo de esquema de piramide, onde carregam uma lista passada para cada clínica sobre a minha filha. — O que está dizendo? — Questiono, irritada por mais uma vez ter as expectativas frustradas. — Você me disse que ela saberia lidar com o problema da minha filha. Tínhamos um acordo. Por favor, já é a quarta clínica hoje. Meu tom é cansado e carregado de súplica. Meu corpo está pesado, carregado por medo de que não encontre uma solução. Nem mesmo os contatos que tenho conseguem atender a minha filha, tenho ido em várias delas durante a semana e nenhuma se dispôs a me ajudar. Leonard me diz para desistir e deixar as coisas como estão. Ele me acompanha
Adrielle HaleSuspiro quando me dou por vencida. Abaixo a cabeça e fecho os olhos, sabendo que talvez não seja uma boa ideia, mas irei jantar com velhos amigos. — Está bem. — Digo, em um tom baixo.Levanto a cabeça e a olho. Lyla abre um sorriso vencedor outra vez, como se ela estivesse ganhando batalhas da Roma antiga. — Vou falar com Abby. Talvez queira ficar na casa de Sofia já que Pedro não vai estar lá. — Meu tom é calmo, mas tenho medo de que Abby tenha a mesma reação da semana passada. — Acho que Victor vai querer beber tudo o que não bebeu nos últimos sete anos. Lyla ri, divertida pelo meu último comentário.— Se ele planeja fazer isso, apenas os dois ficarão bêbados. Tenho que trabalhar amanhã. — Ela diz em tom de bom humor, enquanto pega seu café em minha mesa. — Vou deixar você sozinha, tenho que trabalhar também. Aceno em concordância enquanto Lyla se levanta e caminha em direção à porta da minha sala. Volto minha atenção aos prontuários de alguns pacientes que precisa
Pedro HernandezDei a Adrielle uma semana, como pediu. Não me aproximei e sequer nos vimos nos últimos dias. Abby também não tem ido a minha casa e imagino que seja por medo de me encontrar. Minha própria filha com medo de mim, isso é inacreditável. Meu corpo fica rígido por pensar que ela esteja projetando seus medos em mim. Não consigo pensar em como alguém possa tê-la traumatizado tanto assim a ponto de ficar tão assustada apenas por ficar sozinha comigo. O nome de Leonard ainda está na minha cabeça, rondando como se fosse um abutre. Não quero estar com a razão, não quero nem pensar que ele possa ser a causa. Tento organizar os pensamentos enquanto desço as escadas. Acredito que isso seja bom, ou irei ficar irritado antes de ir para a casa de Victor. Segundo meu amigo, teremos um jantar entre amigos. Se bem me lembro, isso era desculpa para beber. Mesmo com as responsabilidades, ele ainda é um fanfarrão. Que surpresa. Minha mãe aparece no hall de entrada quando estou prestes a s
Pedro HernandezAdentro a Urus e aperto o botão de ignição. Engato a marcha e dirijo para fora dos portões. As ruas de Los Angeles estão um pouco movimentadas. Há carros de aplicativo para todos os lados, assim como outros carros. Dessa vez, pedi a Victor a localização de sua casa. Não quero ter que me perder outra vez. Ele disse que ainda mora no mesmo lugar, mas minha memória está fraca para rotas nos últimos dias. O rádio do carro está tocando uma música que começa a me irritar quando presto atenção na letra. É quase como se descrevesse o que está havendo agora. — Talvez isso seja uma ilusãoProvavelmente sonhando sem sentidoMas se amássemos de novo, eu juro que te amaria direitoEu voltaria no tempo e mudaria, mas não possoEntão, se a corrente estiver na sua porta, eu entendoMas este sou eu engolindo meu orgulhoParado na sua frente dizendo que sinto muito por aquela noiteE eu volto para dezembro o tempo todoAcontece que a liberdade não é nada além de sentir sua faltaDesej
Pedro HernandezMe sento na calçada após dar o depoimento a polícia. Victor insistiu que deveríamos avisá-los e nem mesmo esperou que eu tomasse uma decisão sobre isso. Descobri que o carro que estava entrando era o carro de Jackson, o irmão de Adrielle. Estou feliz por estarem bem, mas sei que o único alvo sou eu. Victor está conversando com um homem de cabelos cacheados e negros. Não imagino quem seja, mas ele estava acompanhando Jackson em seu carro. Posso ver que os dois carregam uma aliança dourada no dedo anelar e me pergunto sobre isso. Não me lembro de Adrielle mencionar sobre a sexualidade do irmão ou coisa parecida. Talvez ele não fosse tão aberto quanto parece hoje. Jackson não parece mais o mesmo adolescente de sete anos atrás. Está bem-vestido, com roupas casuais. Volto meu olhar a meu carro, que está sendo guinchado. Lyla disse que deveríamos avisar a minha mãe sobre isso, mas eu neguei. Liguei para Bruno, pois sabia que ele poderia me ajudar e não causaria danos a saú
Pedro HernandezSuspiro e volto a olhar para as persianas. Bruno está ao lado de fora, o guincho está indo embora, assim como as viaturas. Uma delas permanece estacionada do outro lado da rua e imagino que fique de vigia. Um carro vermelho adentra o jardim e estaciona bem próximo aos outros carros. Um homem sai de dentro e caminha até Bruno, para entregar algo e depois vai embora. — Eu os ouvi dizer algo a você. O que era? — Victor indaga.Paraliso. Meu corpo congela e minha respiração trava. Como posso dizer a eles que acabei de receber uma ameaça? Me viro com cautela, os olhares estão de novo focados em mim. Adrielle agora está sentada no sofá. Lyla está de pé com os braços cruzados e Victor está me encarando. Jackson não tem uma boa expressão, já o marido dele parece apenas focado na conversa. Respiro fundo e dou alguns passos a frente, para me aproximar deles. Coloco as mãos nos bolsos da calça e posso notar como Adrielle parece focada em cada movimento meu. Eu conheço essa expr
Pedro HernandezO tom de Jackson é carregado de desdém, como se eu fosse alguém tão desprezível que ele mal suporta mencionar o nome. Que ironia. A pessoa que verdadeiramente é desprezível, parece ter toda a gentileza dos outros, enquanto eu carrego a raiva e rancor que sobraram. — Por que você está agindo assim? — Adrielle questiona ao irmão, como se estivesse incomodada pela grosseria. — Por que você está agindo como se ele fosse um coitado? Como ainda consegue acreditar nas mentiras dele depois de todos esses anos? — Seu tom é sério e carregado de raiva. Os olhos de Jackson se focam em sua irmã, com rancor e raiva crescente. — Semana passada você disse que não conseguia lidar com o retorno dele e agora parece que o perdoou. Adrielle não o responde, apenas balança a cabeça em negação. Posso ouvir ela murmurar algo tão baixo que é quase inaudível, mas ainda consigo entender. — Você é inacreditável. Perfeito, o clima tenso voltou! A nevoa paira sobre nós novamente, mas dessa vez
Pedro HernandezO aeroporto de Los Angeles está mais movimentado do que eu costumava me lembrar, há pessoas vagando de um lado para o outro com malas de todas as cores possíveis. Tenho dificuldade para atravessar o enorme salão para seguir ao lado de fora. O sol aqui parece ser mais forte, o que me causa a impressão de ser ainda mais quente. Talvez seja devido ao oceano na costa. Há táxis e outros carros de aplicativo parados no estacionamento. — É bom estar de volta, Bruno. — Comento.O meu fiel amigo e mordomo está ao meu lado, tentando conter suas emoções. Bruno é um homem sensível. Compreendo. Estou em casa após longos sete anos em Madri. Adoraria ver a cara de Max agora, depois de me controlar naquela cidade horrível por tantos anos, mas a sua sorte é que morreu antes disso.— Bem-vindo ao lar, jovem Pedro. — Diz, com um tom emocionado. Sorrio. É a primeira vez em anos que me sinto bem. Talvez seja a sensação de liberdade. — Venha, a senhora Sofia está esperando por você. — B