Pedro HernandezA porta se bate com força no batente e ainda permaneço ali, perturbado, tentando juntar as peças e compreender o que houve. Mas não há nada que faça sentido, nenhuma peça que se conecte. Prendo a respiração quando me dou conta de que ela ficou assim depois que ficou sozinha comigo. Abby.Sozinha.Com. Um. Homem. Que. Não. Conhece.Meu corpo congela, o estômago afunda como uma pedra em água profunda. O que pode ter deixado. Abby assim? Minha mente busca respostas, mas só encontra um nome. Leonard. Um gosto amargo sobe pela minha garganta. Não quero acreditar. Mas se ele foi capaz do que dizem… Não sei se ele seria ruim o suficiente para deixá-la assim ou se seria capaz de tocar em uma criança da mesma forma que machucou as namoradas na adolescência. Sequer sei se é capaz de tocar em Adrielle com atos violentos, mas não quero pensar nisso agora ou terei que encontrar uma maneira para controlar a minha raiva. Mas os fatos que sei sobre Leonard me levam a questionar
Pedro HernandezVejo que ela não veio sozinha. E não está dirigindo. O marido está no banco do motorista. Ele estaciona o carro próximo a Bruno e eu e os dois descem. Adrielle tem passos rápidos e firmes, sei que está assustada, sua expressão a entrega. Os passos de Adrielle são rápidos, quase desesperados. Ela mal me encara antes de soltar:— O que você fez?!Sua voz não é apenas acusação. É medo. Seus olhos buscam algo no meu rosto, talvez um traço de culpa, talvez uma explicação que eu não tenho.— Nada. Eu não fiz nada. Estou tão confuso quanto você, Abby começou a chorar do nada. — Encolho os ombros, tentando me defender, mas meus argumentos não são dos melhores para me justificar. — Se tiver feito algo com ela, não vou permitir que se aproxime. — Aponta o indicador em minha cara. Posso ver claramente a aliança brilhando em seu dedo anelar. Eu a observo, em silêncio. Não vou retrucar ou iremos brigar e a prioridade aqui é a nossa filha. Ela não espera que eu responda, apenas se
Adrielle HaleTento acalmar Abby durante a volta para casa. Ela se recusa a ficar na casa de Sofia e não sei bem o motivo. Ela tem chorado tanto que a única coisa que sai da sua boca são soluços insistentes. Eu a levo para seu quarto e a coloco na cama. Não sei por quanto tempo permanecemos ali, mas sua mão continuou a segurar meu braço firmemente, tanto que seus dedos estão brancos pela pressão que tem feito. Há uma marca vermelha em meu braço quando faço um esforço para afastar seus dedos. Os olhinhos estão fechados mas as bochechas permanecem marcas pelas lagrimas. Seu choro era como se algo estivesse sufocando ela e a impedisse de falar o que aconteceu. Pedro também não soube explicar. Depois de hoje, não sei se quero que ele se aproxime dela outra vez. Eu o conhecia há sete anos, algumas coisas não mudaram, mas isso não significa que tudo está como antes. Estou preocupada com Abby, e talvez seja melhor levá-la a um psicologo.Talvez eu deva ir também. Seu choro dolorido está ec
Adrielle Hale O sol clareia na janela, através das cortinas brancas e a luz invade o quarto. Espero que ela desperte mas seus olhos ainda permanecem fechados. Acaricio seus cabelos e ainda busco uma explicação para o que houve ontem. Os olhos de Pedro pareciam perdidos, como se ele também tentasse compreender o ocorrido. Havia confusão em seu tom mas parecia estar sufocado também. Penso que isso também o assustou, assim como aconteceu comigo. Ele não ousou se aproximar de nós quando toquei minha filha para acalmar. Pedro apenas permaneceu em um canto isolado, com os olhos azuis focados em nós duas. Parece que estou entrando em névoa, não consigo pensar em nada que possa ter feito para deixar Abby assim. Pareciam estar se dando bem quando os deixei. E de repente, recebo uma ligação de Sofia avisando sobre isso. É confuso. Estou me afundando em confusão, como uma areia movediça sob meus pés que me puxa para o chão a cada segundo. Abby se remexe na cama, o corpo pequeno preso sob o co
Adrielle Hale— Abby… — Chamo, com a voz tremula. Ela parece inerte, distante de tudo ao nosso redor. Temo que tenho a assustado e em uma fração de segundos esteja em negação com a verdade sobre Pedro. O ar ao nosso redor está denso, pesado, como se carregasse terríveis segredos obscuros entre nós. Meus dedos tremem e preciso entreabrir os lábios para respirar com força. Sinto meus pulmões terem dificuldades com isso e estou com medo de sua reação. Os olhos claros de Abby parecem carregar uma névoa negra, como se esse assunto não a agradasse. Os dedos estão trêmulos quando os toco e ela instintivamente os afasta, como se meu toque não fosse desejado. Compreendo e não ultrapasso seus limites, embora queira muito confortá-la. — Querida, está tudo bem. — Tento conversar outra vez, com minha voz esvaindo de um sussurro. — Eu não quero ficar perto daquele homem, mamãe. Eu não quero. — Seu tom sai embargado de choro, e carrega medo.Seus olhos piscam algumas vezes, tentando afastar de s
Adrielle HaleAbby está sentada no sofá, rodeada dos avós e de Archie. Jackson trouxe o videogame para que as crianças possam se divertir. Isso distraiu Abby, mas não é suficiente. Estou parada em um canto, analisando seus movimentos e a sombra de um sorriso que carrega em seu rosto. Abby apertava os controles do videogame com mais força do que o necessário. Seu sorriso era uma sombra do que costumava ser. Algo estava errado, mas ela não queria falar sobre isso. Adrian para ao meu lado e observa nossos filhos juntos, se divertindo com os avós em um jogo de corrida. — Está preocupada com ela? — Sua voz é calma e tranquilizadora. Adrian sempre foi calmo assim, desde que o conheci. Diferente de Jackson que sempre é um furacão. Acredito que sejam uma boa combinação. No entanto, ele é um jornalista, é importante que seja calmo e saiba conversar com as pessoas. Seu trabalho depende de como se relaciona com os outros. — Tenho que descobrir o que aconteceu ontem. — Cruzo meus braços sobre
Pedro HernandezNão pude dormir a noite, não depois de ver Abby daquele jeito. Sua reação e o choro dolorido está na minha mente, ecoando por cada parte de uma maneira insistente. Tenho estado em um looping, voltando a aquele momento, buscando entender o que desencadeou sua reação. Vou deixar para ir à empresa depois que compreender isso. Ainda estou tentando me adaptar em Los Angeles outra vez, vou focar em resolver as coisas com a minha filha primeiro. Após o almoço, decido ir para a área de lazer no quintal. O espaço ainda parece o mesmo, mas a pequena árvore que plantamos naquela época, agora se desenvolveu e está enorme. Os galhos estão bem cortados e carregados de folhas. Não vejo nenhuma no chão e ouso dizer que o jardineiro já limpou. Toco os estofados das poltronas enquanto me aproximo. São novas e de cores claras. Decido me sentar em uma delas e observo tudo ao meu redor. O quintal é grande. Na verdade, tudo aqui é exageradamente grande. Max tinha uma mania de grandeza. As
Pedro HernandezSinto uma suave brisa me atingir, embora seja quente em Los Angeles, também tem uma corrente de ar fresco. Ainda permaneço na mesma poltrona que me sentei, não tenho intenções de sair. Na verdade não tenho para onde ir. Não quero ir até a empresa ainda, sei que irei encarar Leonard e Amanda assim que estiver lá. Preciso de uma semana para me preparar para isso, mas quando eu colocar os pés naquela empresa, as coisas serão diferentes. Vou encontrar alguém em quem possa confiar para me ajudar a investigar algumas coisas em sigilo. Acho que todos têm o seu preço.Minhas palavras soam frias, calculistas. Como as dele. Um calafrio percorre minha espinha ao perceber a semelhança.Ouço passos atrás de mim. Passos que ainda reconheço apesar dos anos passados. Sinto uma tensão tomar conta de nós dois quando a mulher de cabelos ruivos flamejantes se senta bem a minha frente. Os olhos estão apreensivos, mas revelam seu interesse no assunto que precisamos falar. Também carregam me