Adrielle HaleAbby está sentada no sofá, rodeada dos avós e de Archie. Jackson trouxe o videogame para que as crianças possam se divertir. Isso distraiu Abby, mas não é suficiente. Estou parada em um canto, analisando seus movimentos e a sombra de um sorriso que carrega em seu rosto. Abby apertava os controles do videogame com mais força do que o necessário. Seu sorriso era uma sombra do que costumava ser. Algo estava errado, mas ela não queria falar sobre isso. Adrian para ao meu lado e observa nossos filhos juntos, se divertindo com os avós em um jogo de corrida. — Está preocupada com ela? — Sua voz é calma e tranquilizadora. Adrian sempre foi calmo assim, desde que o conheci. Diferente de Jackson que sempre é um furacão. Acredito que sejam uma boa combinação. No entanto, ele é um jornalista, é importante que seja calmo e saiba conversar com as pessoas. Seu trabalho depende de como se relaciona com os outros. — Tenho que descobrir o que aconteceu ontem. — Cruzo meus braços sobre
Pedro HernandezNão pude dormir a noite, não depois de ver Abby daquele jeito. Sua reação e o choro dolorido está na minha mente, ecoando por cada parte de uma maneira insistente. Tenho estado em um looping, voltando a aquele momento, buscando entender o que desencadeou sua reação. Vou deixar para ir à empresa depois que compreender isso. Ainda estou tentando me adaptar em Los Angeles outra vez, vou focar em resolver as coisas com a minha filha primeiro. Após o almoço, decido ir para a área de lazer no quintal. O espaço ainda parece o mesmo, mas a pequena árvore que plantamos naquela época, agora se desenvolveu e está enorme. Os galhos estão bem cortados e carregados de folhas. Não vejo nenhuma no chão e ouso dizer que o jardineiro já limpou. Toco os estofados das poltronas enquanto me aproximo. São novas e de cores claras. Decido me sentar em uma delas e observo tudo ao meu redor. O quintal é grande. Na verdade, tudo aqui é exageradamente grande. Max tinha uma mania de grandeza. As
Pedro HernandezSinto uma suave brisa me atingir, embora seja quente em Los Angeles, também tem uma corrente de ar fresco. Ainda permaneço na mesma poltrona que me sentei, não tenho intenções de sair. Na verdade não tenho para onde ir. Não quero ir até a empresa ainda, sei que irei encarar Leonard e Amanda assim que estiver lá. Preciso de uma semana para me preparar para isso, mas quando eu colocar os pés naquela empresa, as coisas serão diferentes. Vou encontrar alguém em quem possa confiar para me ajudar a investigar algumas coisas em sigilo. Acho que todos têm o seu preço.Minhas palavras soam frias, calculistas. Como as dele. Um calafrio percorre minha espinha ao perceber a semelhança.Ouço passos atrás de mim. Passos que ainda reconheço apesar dos anos passados. Sinto uma tensão tomar conta de nós dois quando a mulher de cabelos ruivos flamejantes se senta bem a minha frente. Os olhos estão apreensivos, mas revelam seu interesse no assunto que precisamos falar. Também carregam me
Adrielle HaleEu costumava gostar quando conversava sobre assuntos difíceis com Pedro, parecia me acalmar e me ajudar a lidar melhor, mas, hoje, isso não acontece mais. As coisas estão diferentes, nós estamos diferentes. Aprendi a lidar com as coisas sem precisar dele, ainda mais as coisas relacionadas a Abby. Depois do que houve ontem, ainda não sei como lidar, mas sei que preciso encontrar alguém que possa ajudar a minha filha. A medicina me ajudou a entender melhor as pessoas, mas não posso lidar com a mente delas, só o corpo. Se ele sangra, posso estancar. Se há um corte, basta suturar. Mas a mente das pessoas é mais complexa que isso. — Vocês encontraram uma solução? — A voz de Sofia soa assim que entro na casa novamente e me assusta. Seu tom é leve e parece estar calma. Desde que a conheci, ela é assim. Sempre considerei que a calmaria de Pedro vinha dela. Ele também não gostava de ser comparado com Max. Acredito que, desde aquela época, ele odiava o próprio pai.Suspiro pesad
Adrielle HaleDesço e caminho em direção à porta. O carro de Adrian e Jack ainda permanece estacionado lá fora e sei que ainda estão aqui. Posso ouvir as crianças gritando um com o outro em algum comodo da casa. Dou alguns passos até estar na sala de estar, onde vejo os dois sentados no sofá com um jogo Pick up Sticks feito em madeira na mesa de centro. As duas crianças estão concentradas enquanto os adultos parecem ler as notícias do jornal em um tablet. Apenas Jackson e Adrian estão ali. Não sei dizer onde minha mãe e meu pai estão. Deixo a bolsa de ombro em uma mesa no canto e me aproximo com passos leves. Abby parece concentrada em pegar os pequenos bastões sobre a mesa. Ouço Jackson resmungar, enquanto inclina a cabeça levemente para trás. Seus olhos ainda estão focados no jornal.— Já estão falando sobre ele. — Rosna, com um tom de desgosto.Adrian se vira para o marido, com o cenho franzido. Estica levemente seu corpo na direção do meu irmão e tenta ler algo no tablet. — Prec
Adrielle Hale— Desculpe, senhora Williams, mas a doutora Clarkson não poderá mais atendê-la. Houve um pequeno problema na agenda. — O tom da secretária carrega nervosismo e hesitação. Merda. Já perdi as contas de quantas psicólogas tentei esta semana. Vinte, no mínimo. E todas elas se recusam a ajudar. Estou começando a pensar que é um tipo de esquema de piramide, onde carregam uma lista passada para cada clínica sobre a minha filha. — O que está dizendo? — Questiono, irritada por mais uma vez ter as expectativas frustradas. — Você me disse que ela saberia lidar com o problema da minha filha. Tínhamos um acordo. Por favor, já é a quarta clínica hoje. Meu tom é cansado e carregado de súplica. Meu corpo está pesado, carregado por medo de que não encontre uma solução. Nem mesmo os contatos que tenho conseguem atender a minha filha, tenho ido em várias delas durante a semana e nenhuma se dispôs a me ajudar. Leonard me diz para desistir e deixar as coisas como estão. Ele me acompanha
Adrielle HaleSuspiro quando me dou por vencida. Abaixo a cabeça e fecho os olhos, sabendo que talvez não seja uma boa ideia, mas irei jantar com velhos amigos. — Está bem. — Digo, em um tom baixo.Levanto a cabeça e a olho. Lyla abre um sorriso vencedor outra vez, como se ela estivesse ganhando batalhas da Roma antiga. — Vou falar com Abby. Talvez queira ficar na casa de Sofia já que Pedro não vai estar lá. — Meu tom é calmo, mas tenho medo de que Abby tenha a mesma reação da semana passada. — Acho que Victor vai querer beber tudo o que não bebeu nos últimos sete anos. Lyla ri, divertida pelo meu último comentário.— Se ele planeja fazer isso, apenas os dois ficarão bêbados. Tenho que trabalhar amanhã. — Ela diz em tom de bom humor, enquanto pega seu café em minha mesa. — Vou deixar você sozinha, tenho que trabalhar também. Aceno em concordância enquanto Lyla se levanta e caminha em direção à porta da minha sala. Volto minha atenção aos prontuários de alguns pacientes que precisa
Pedro HernandezDei a Adrielle uma semana, como pediu. Não me aproximei e sequer nos vimos nos últimos dias. Abby também não tem ido a minha casa e imagino que seja por medo de me encontrar. Minha própria filha com medo de mim, isso é inacreditável. Meu corpo fica rígido por pensar que ela esteja projetando seus medos em mim. Não consigo pensar em como alguém possa tê-la traumatizado tanto assim a ponto de ficar tão assustada apenas por ficar sozinha comigo. O nome de Leonard ainda está na minha cabeça, rondando como se fosse um abutre. Não quero estar com a razão, não quero nem pensar que ele possa ser a causa. Tento organizar os pensamentos enquanto desço as escadas. Acredito que isso seja bom, ou irei ficar irritado antes de ir para a casa de Victor. Segundo meu amigo, teremos um jantar entre amigos. Se bem me lembro, isso era desculpa para beber. Mesmo com as responsabilidades, ele ainda é um fanfarrão. Que surpresa. Minha mãe aparece no hall de entrada quando estou prestes a s