Minha cunhada ajeitou minha roupa com cuidado antes de eu entrar na sala para a entrevista. Com os documentos em mãos, respirei fundo e segui sozinho para o setor de ortopedia.A ortopedia estava quase deserta. A entrevista seria conduzida diretamente por um médico do setor, um senhor de mais de 60 anos que, quando entrei, estava distraído mexendo no celular.— Olá, vim para a entrevista. — Cumprimentei educadamente.Ele usava óculos apoiados no nariz e me lançou um rápido olhar por cima da armação.— Sente-se. — Disse ele, seco, sem tirar os olhos do celular.Sentei-me na cadeira ao lado da mesa dele e, com cuidado, peguei meus documentos e o diploma para entregar. Mas, antes que pudesse estender os papéis, ele levantou a mão, me interrompendo:— Não precisa me entregar nada agora. Primeiro me diga: alguém te indicou pra esta vaga?Recolhi os documentos e respondi:— Não, eu vi o anúncio de vocês na internet e resolvi me candidatar.O velho arqueou as sobrancelhas, como se não estives
O velho médico me olhou com evidente desagrado assim que me viu entrar novamente:— Não te mandei ir pra casa esperar o telefonema? O que tá fazendo aqui de novo?Eu já estava irritado com aquela situação, então fui direto:— E como você vai me ligar, se nem pegou meu número?Ele ficou sem resposta por um momento, claramente desconcertado, mas logo sua expressão se transformou em raiva:— Acho que você não é adequado pra nossa equipe. Pode ir embora.Aquilo me deixou ainda mais irritado:— Eu sou formado pela melhor faculdade de medicina de Cidade J, muito melhor que aquele cara de agora há pouco, que veio de uma universidade de terceira categoria! Ele conseguiu ficar, por que eu não posso?O velho médico, já vermelho de raiva, me encarou com dureza:— Porque não pode e ponto final! Não tem mais conversa. Agora sai daqui!— Não vou sair. Estou aqui para uma nova entrevista.— Você já perdeu a chance! Fora!— Eu tenho chance, sim! Eu conheço o Dr. Adam.Assim que mencionei o nome do Dr.
Levantei-me de imediato, enquanto Rodrigo permaneceu sentado. Isso, a princípio, não era nada demais. Afinal, ele havia me ajudado e era mais velho que eu. Não tinha obrigação de se levantar. Mas o problema foi o tom que ele usou, quase como se estivesse me dando uma lição de moral:— Chico, quando for fazer um brinde, precisa encher o copo até a borda. Deixar o copo pela metade, como você fez, é muita falta de educação.Naquele momento, passei a gostar ainda menos dele.Minha cunhada, com um sorriso no rosto, tentou amenizar a situação:— Ah, Rodrigo, o Chico acabou de entrar no mercado de trabalho, ainda está aprendendo. Espero que você tenha paciência com ele.Enquanto falava, ela completou o meu copo de vinho.Engoli o orgulho e, com uma expressão contrariada, virei-me para Rodrigo:— Sr. Rodrigo, foi falta de atenção minha. Peço desculpas.— Não tem que pedir desculpa. Só estou te dando um toque. Sente-se. — Respondeu ele, com a mesma frieza.Sem dizer mais nada, virei o copo de u
— O que tem de falso nisso? Eu só quero ter um filho... — Minha cunhada disse, abraçando meu braço. De repente, lágrimas começaram a escorrer silenciosamente pelo rosto dela. — Quando eu e seu irmão nos casamos, eu cheguei a engravidar... Mas, naquela época, ele disse que o trabalho não era estável, que não conseguiríamos sustentar uma criança. Ele me convenceu a interromper a gravidez. Acho que foi por causa desse erro que cometemos juntos que Deus decidiu não nos dar mais filhos.Ela chorava tão profundamente que era impossível não sentir o peso da dor dela.Sem pensar muito, envolvi minha cunhada em um abraço e comecei a acariciar suas costas, tentando acalmá-la:— Não pensa assim, cunhada. Meu irmão ainda não fez os exames no hospital. Espera ele fazer, aí vocês conversam sobre isso, com mais calma.Ela sorriu amargamente enquanto secava as lágrimas:— Chico, a chance é mínima... Seu irmão sempre teve problemas com isso, sabe? Quando era mais jovem, os médicos disseram que ele tinh
Eu já tinha acordado mais cedo e estava sentado numa cadeira, mexendo no celular. Quando vi minha cunhada se levantar, sorri:— Cunhada, você bebeu mesmo além da conta ontem. Seu celular tocou várias vezes, e você nem percebeu.— Quem me ligou? — Perguntou ela, ainda meio sonolenta.— Foi a Rebecca. Eu atendi por você. Parece que uma amiga dela, chamada Isis, foi na casa dela antes de sairmos. Agora há pouco, a Rebecca te ligou pra avisar que você não precisa preparar o jantar hoje. Ela quer que a gente saia pra comer com elas.Minha cunhada me olhou de lado, desconfiada:— Quer dizer que você já viu a Isis lá na casa da Rebecca?— Vi, sim. Por quê?— E aquela mulher não tentou nada com você? — Perguntou ela, com uma expressão séria.Fiquei nervoso na mesma hora. Era claro que ela não podia saber de verdade o que aconteceu. Então, menti:— Ah, ela tinha acabado de chegar quando você me ligou. Nem deu tempo de conversar direito. Cunhada, por que você tá perguntando isso? Essa mulher é p
As três levantaram seus copos para brindar em minha homenagem. Eu realmente estava radiante de felicidade.Nunca tive irmãos ou irmãs. Sou filho único. Mas, desde pequeno, sempre sonhei em ter uma irmã. Na minha cabeça, uma irmã mais velha seria alguém que me protegeria, alguém gentil e carinhosa. E agora, como num passe de mágica, eu tinha três.— Obrigado, minhas irmãs.Falei com um sorriso estampado no rosto.Rebecca me olhou, com um brilho diferente nos olhos, e disse:— Chico, me fala o que você quer de presente. Eu te dou.Antes que eu pudesse responder, Isis riu alto, pronta para provocar:— Ué, olha só! O sol nasceu no oeste hoje? A Beca oferecendo presente pra outro homem?Rebecca ficou vermelha na hora, gaguejando de vergonha:— Dá pra falar mais baixo, sua doida? Todo mundo aqui tá ouvindo!Isis, claro, não perdeu a oportunidade de implicar. Deu uma beliscada na cintura de Rebecca e perguntou, com um tom malicioso:— Agora seja sincera, hein. Tá de olho no Chico, não tá?— P
— Além do mais, esses dois aí no seu peito não perdem em nada pros meus. Aposto que o Joaquim não ia te largar fácil. — Disse Isis, soltando uma risadinha maliciosa.Minha cunhada ficou sem palavras por um momento diante daquela provocação, mas logo mudou de assunto:— De qualquer forma, eu não gosto de você. E mais, nem pense em dar em cima do meu irmão!Isis, com aquele sorriso travesso de sempre, virou os olhos para mim e disse:— Eu? Dar em cima desse gatinho aqui? E o que você queria, que eu desse em cima de vocês duas?Rebecca, tentando apaziguar a situação, puxou o braço de Isis com delicadeza:— Tá bom, Isis, para de provocar a Mille.Mas minha cunhada, que não deixava barato, rebateu sem pestanejar:— Se você continuar assim, na próxima vez que eu vir o Hugo, vou sentar no colo dele e tomar uma cerveja com ele.Isis, dando de ombros, respondeu despreocupada:— Fica à vontade. Não vou me importar. Desde que o Hugo esteja de acordo, por mim tá tudo bem.Minha cunhada, com um sor
— Chico, já estamos fora há muito tempo. Será que a Isis e a sua cunhada não vão desconfiar da gente? — Disse Rebecca de repente, enquanto eu a beijava.Que me importava isso naquela hora? Respondi apressado:— Depois a gente pensa nisso. Eu dou um jeito. Rebecca, eu finalmente vou ter você pra mim.Já estava tirando minha calça, pronto para dar o próximo passo, quando o celular da Rebecca começou a vibrar. Era uma chamada de vídeo da Isis. Peguei o aparelho e rejeitei a ligação.Mas, logo em seguida, outra chamada de vídeo entrou. Rebecca, impaciente, pediu para eu esperar um pouco e, principalmente, ficar quieto.— Se eu não atender, ela vai continuar ligando. Melhor eu atender logo. — Disse Rebecca.— Sua amiga é uma chata, sempre atrapalhando as nossas coisas. — Resmunguei, incomodado.Rebecca sorriu e me deu um beijo no rosto, tentando me acalmar:— Relaxa, ela só vai ficar aqui por uns dias. Aguenta firme, tá?Acenei com a cabeça, embora por dentro estivesse completamente irritad