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Vimos Mari chegando. Aparentemente os alunos novos colocaram os olhos nela avidamente demais, Luís fez uma careta para isso. Ela era realmente muito bonita, com o tempo as sardas do seu rosto ficaram mais delicadas, e ela continuava usando aquelas chiquinhas no cabelo que ficava cacheado ao redor do seu rosto, mas ele estava mais comprido e pelo peso não fazia mais com que ela parecesse uma bola de cabelos vermelhos, caindo para trás dos seus ombros. Ela foi uma das que deve ter pensado que o uniforme da escola era prático. Estava de tênis, com a blusa branca de botões e o colete preto do uniforme desleixadamente aberto, afinal, pra quê diabos o uniforme tinha que ter um colete, mas enfim... E a saia rodada do uniforme, que antes mesmo de eu comentar, Luís perguntou quando ela chegou e tomou seu lugar atrás dele.

- Ei... Mari... Tu encurtou a saia do uniforme? Ele realmente não tinha vergonha de perguntar uma coisa dessas desse jeito, foi o que eu pensei, e pela cara de ódio dela realmente, eu acho que se ele não fosse grande, estaria morto.

- Não, eu não tenho culpa se a fábrica de uniformes é tão incompetente.

- Nesse caso, não era só ignorar essa parte do uniforme? Perguntou Jamal como se isso fosse lógico.

- O que está querendo dizer com isso? Pergunta ela um tanto indignada com a implicância.

- Vocês só teriam o direito de reclamar das vestimentas da Mari se ela fosse feia ou gorda, o que não é o caso. Fala um estranho, ou pelo menos foi o que eu pensei, sentando-se ao lado de Mari, como se esse fosse o seu lugar. Não que ele não tivesse razão, além dos colegas novos, acredito que se nós não soubéssemos como é a personalidade meio explosiva dela, estaríamos a seus pés também.

Mari parou para olhar por um momento para o garoto, de cabelo curto e arrepiado, como se o conhecesse de algum lugar, mas por fim largando como uma bomba a sua fala. Ela sempre foi desse jeito, meio mal educada...

- Quem diabos é tu, estranho? E porque acha que pode sentar no lugar do Rick?

Eu sinceramente acho que ela não precisava ter falado daquele jeito, mas enfim, é a Mari, ela sempre foi meio que “diferente”. Fico pensando se esse não é o tipo de garoto que as meninas dizem ser “bonito”, sei lá o que mulheres pensam, elas são complicadas, excluindo-se a Mari, ela poderia ser um menino, mas isso seria um desperdício porque ela é muito bonita do jeito que está.

O cara que chegou me lembrava alguém, mas certamente não era tão magro quanto o Ricardo, e o Ricardo usava um corte de cabelo horrível, esse não era, e ele provavelmente nunca colocaria piercings nas orelhas, ele tinha pavor de agulhas, além de que, não seria o Ricardo sem os óculos cheios de fita adesiva e um videogame na mão. Jeans definitivamente não era coisa do Ricardo, e a camisa preta da escola era horrível, digo, quem usaria uma camisa social preta? Não combina com porcaria nenhuma, exceto se quiser parecer um esquisito, só que, aquele cara não parecia esquisito. E o Ricardo era definitivamente o mais esquisito de nós, se bem que eu não tenho muita moral pra comentar isso.

- Idiota, eu sou o Rick. Como sempre, ele tinha uma resposta mal educada de volta para a Mari. Eu francamente não sei como eles ainda não se mataram, mas enfim, isso é algo que eu não quero ver, uma bruta como ela brigando com um cara que pode fazer uma bomba nuclear com um kit escolar de química ou criar um robô com laser saindo pelos olhos, se bem que eu acho que ele teria ideias melhores que as minhas, afinal ele é o viciado em jogos e ficção aqui.

- Em que parte? Pergunta ela incrédula. Na verdade acho que todos ficamos um pouco incrédulos no fato de que algum dia o Rick poderia parecer legal, afinal, ele era um tanto peculiar.

- Ei, isso não é um pouco de exagero só porque o Rick engordou um pouco gente? Pergunta Jamal se intrometendo na indignação de Mari.

- Mari, pare de me olhar desse jeito esquisito, se duvida, eu trouxe os óculos velhos – fala ele revirando a mochila e puxando aquela coisa cheia de fita adesiva - aqui, ó!

Realmente, aqueles eram incontestavelmente os óculos do Rick, porém, me pergunto como ele está enxergando sem eles se da última vez que eu vi ele sem óculos ele conseguia dar de cara com cada parede. Ele realmente era cego sem óculos.

- Mas, como tá enxergando sem óculos? Luís perguntou me salvando de perguntar e lembrar a Rick a cena ridícula de eu guiando-o como cego pela escola quando os óculos dele quebraram ano passado.

- Ah, eu não falei? Esqueci-me de dizer, a minha mãe decidiu que eu deveria viajar pra fazer a m*****a cirurgia de correção ocular no médico dela... Não que eu goste muito da ideia... Fala ele estranhando não ter mais os óculos para ajustar no rosto e pegando o seu Nintendo antes da aula começar.

Esse era o Rick que conhecíamos, ignorando tudo ao seu redor para poder jogar alguma coisa. Não que o fato de ele não prestar atenção na aula fizesse diferença, estávamos acostumados com a ideia de que ele provavelmente era superdotado mentalmente.

Realmente, entre as garotas novas que se dividiam entre olhar para mim, para o famoso desde o fundamental por ser o bonitinho da escola, e para o Rick, todas elas simplesmente me ignoraram depois da chamada, e dessa vez eu retraí o impulso automático de me encolher e me esconder ante a pronúncia do meu nome, se bem que eu não tenho coragem pra isso, o Luís chutou a minha cadeira pra que eu ficasse quieto, e pela cara da Mari eu poderia esperar pra ouvir alguma coisa depois ante a minha mostra de covardia.

Estavam na cobertura do prédio da escola, longe da maior parte das encrencas com seus lanches. Não que isso fosse normal, geralmente esse costume permanecia somente até o ginásio, mas porque eles deixariam de ter a única folga da manhã do jeito de sempre só porque entraram no colegial?

Então, era o de sempre, Jamal com algum tipo de doce de morango novo que a mãe dele tenha inventado, se bem que eu não sei se teria coragem de comer algo com uma aparência tão estranha, Mari, bom, pelo visto a Mari estava de dieta de novo e não trouxe nada além de barrinhas de cereal, se bem que isso virou um costume dela depois da sétima série, eu com seja lá o que a minha mãe tenha colocado na minha mochila, o que era bem coisa de menino mimado, mas eu nem ligo, contanto que não tenha nenhum ingrediente estranho e alienígena, Luís, desde a sexta série com algum tipo de fruta, e graças a Deus que não cabe uma melancia na mochila dele, porque eu acho que se coubesse ele traria, no mosaico de frutas dele eu já tinha visto de tudo, mas enfim, era aquela coisa esquisita de “geração saúde” e “isso faz bem pra acompanhar os treinos de boxe da academia” e essas coisas... E Rick, provavelmente estaria com chips ou algum tipo de coisa meio que “fast food”...

Ei, o que está acontecendo nesse mundo? Foi o que ribombou na minha mente quando ele tinha um sanduíche natural na mão. Realmente, as coisas estavam ficando estranhas, mas não mais estranhas poderiam ser, afinal, depois de um tempo longe, e parando pra pensar, nós nos conhecíamos há um bom tempo, e eu ainda tinha a imagem de todos quando éramos crianças. Mas, olhando de novo, eu continuava eu, eu me via todo dia no espelho, como não enjoei da minha cara eu não sei ainda. A Mari, bom, eu lembro dela quando era criança, e eu nunca imaginei que ela seria tão bonita atualmente se me perguntassem antes. O Jamal de certa forma sempre foi igual, só que mais alto, e agora, com o bônus de ter além das contas coloridas no cabelo e o sorriso cegante, uma camisa colorida de algum diabo de país estranho. O Luís mudou de o garoto gordinho que andava com o nerd para o cara que tem uma aparência assustadora e ninguém quer puxar briga, ah claro, e finalmente se livrou do corte de cabelo a la ninho de ratos resolvendo o problema não dando chance pra sua mãe leva-lo no cabeleireiro, com uma máquina de cortar cabelo no número zero.

O Rick, bom, eu sei lá o que aconteceu, mas nós perdemos a parte da aparência estranha do Rick, porque agora as meninas olham pra ele como se ele fosse legal, e parece que o fato de ele estar sempre distraído com algum

pensamento, ouvindo música ou jogando videogame enquanto anda com esse jeito de “não tô nem aí pra ti” faz a garotas acharem ele mais legal. Antes isso era motivo pra piada, mas tudo bem, eu não vou ter um surto de complexo de competição de egos com um amigo meu.

Não que eu possa competir com o ego dele, agora provavelmente ele é legal, e inteligente. Eu sou o cara das notas medianas, aparência normal demais, e com um nome estranho. É pouco pra competir com o ego de qualquer criatura da face da terra.

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