Até onde eu poderia supor, o intervalo ia muito tranquilo, não esperava algo muito diferente, afinal, era o primeiro dia.
Bom, até surgir a visão do inferno, no meu conceito. Não que a Júlia não seja uma menina linda, uma morena transferida de outra escola. O Jamal achou ela a coisa mais linda do mundo, e realmente, seria perfeito se tudo fosse assim, tão simples, mas a Júlia se apaixonou por outra pessoa.
Nesse tempo tranquilo de primeiros dias acabamos ficando amigos da Júlia, afinal, não custa nada criar uma proximidade entre ela e o Jamal, foi o que pensamos, a princípio. E assim, como eventualmente, no antes do início da aula, vimos a Júlia chegando, e sentando-se ao lado de Jamal, lugar que eu cedi, ficando ao lado do Luís, o que não era muito espaçoso com o tamanho dos ombros dele, e eu que já não era tão pequeno como quando eu era uma criança.
O que realmente criou tensão no nosso grupo é o fato eventual de ela chegar, e se a Mari já estiver ali, abraça-la por trás, provavelmente ela faz isso pra poder agarrar os fartos peitos da Mari, não que a ideia seja ruim, o problema é que a Mari geralmente acaba socando ela. Então, a tensão no nosso grupo é porque aparentemente fica assim: o Jamal gosta da Júlia, que por sua vez gosta da Mari, que por sua vez não diz gostar de ninguém no momento.
A primeira vez que isso aconteceu a Mari realmente parecia o demônio, acho que até o Luís ficou com medo.
- O que tu pensa que tá fazendo, sua pervertida? Foi o que ela perguntou antes de socar a Júlia. Bom, como é sabido, a Mari realmente é muito forte pra uma menina, então isso não deu boa coisa. Mas provavelmente isso vai se acalmar, eu espero, e a Júlia não vai quebrar mais nada.
- Pensei que não se importasse com isso, nós somos meninas... Comentou tristemente a Júlia.
- Mas é claro que eu me importo!
- Pensei que tu fosse meio... Ahm... Começou o Luís, e se calou quando ela olhou furiosa pra ele.
- Eu não sou meio nada! Eu sou completamente normal, desculpe, ainda prefiro garotos... Ela terminou em sua fúria mais acentuada que o usual e sentou-se em seu lugar emburrada.
Não que ver a Mari de mau humor seja raro, mas nesse dia ela ficou pior que de costume. Depois disso parece que virou um hábito, então ela nem se incomodava em ficar de mau humor, só socava a Júlia pra longe dela.
E então sobrevivemos sem muitas provocações até o segundo mês de aula, embora já houvesse os briguentos da turma procurando por estranhices, parece que primeiro eles queriam dar uma de “grandes” sobre os alunos do ginásio.
Quando eles cansaram disso decidiram aparecer. Infelizmente, eu diria. Mas depois de ouvir o sermão da Mari sobre como eu não deveria ser covarde e me encolher quando chamam o meu nome na chamada, por mais que eu não goste do nome, eu não deveria me encolher ante as provocações. Não era mais pra ser como sempre foi. Ela tinha lá sua razão, todos estavam cansados disso.
Eu ouvi passos atrás de mim e vi o rosto do Luís ficando mais sério, ao mesmo tempo em que a Mari socou a Júlia pra longe dos peitos dela encima do Jamal.
- Ei, olha só, há quanto tempo não vemos a bicha da Luluzinha... Fala uma voz que eu já conhecia, vinha do primário já, desde que meu cabelo estivesse comprido, eu ouviria essas coisas. Só que isso era simplesmente ignorável, o que não era ignorável era ele ter me empurrado e me feito manchar a minha camiseta com o café que eu tinha nas mãos.
Eu simplesmente larguei o copo de café. O Rick olhou curioso. Estava atrás de mim o Rodrigo e os seus amigos. E eles riam, e isso me irritava mais ainda. Eu sei que eu sempre fui pacífico, até demais, só que eu simplesmente ignorei essa regra e soquei ele.
Certo, isso não é muito razoável, só que depois de pelo menos cinco anos sendo paciente e esperando o cara desencarnar de mim, acho que era suficiente pra mim fazer isso.
Eu não tinha contado na hora quantos dos amigos deles estavam com ele, mas eu vi depois de desviar do primeiro soco de volta que eu possivelmente seria quebrado ao meio. Afinal, eles estavam em cinco pessoas, eu me defenderia, Jamal se intrometeria na briga, e Luís, mas o Rick era um mistério, e a Mari, eu nunca conto ela porque ela é uma menina.
Bom digamos que eu não esperava que antes do fim do trimestre algo do tipo acontecesse, mas fato é que depois do Rodrigo continuar querendo me bater, e não estar conseguindo, porque desta vez eu estava reagindo, isso deixou ele e os outros mais furiosos, só que antes do segundo se juntar à tarefa de me bater, o Jamal derrubou ele, e acabou ganhando uma briga pessoal, depois disso o Luís simplesmente não iria ficar olhando os outros se meterem nisso, só que independentemente do quão grande ele fosse, era injusto que ele ficasse brigando com três pessoas ao mesmo tempo, que chance de desvio ele teria?
A Mari se meteu, eu nunca gostei da ideia de ela ter noções de defesa pessoal, mas pelo visto, ela era melhor que eu, então, acho que eu tinha que me preocupar mais comigo e rezar pra isso ser suficiente pra ela não me ridicularizar depois.
Havia dois caras brigando com o Luís, só que daqui a pouco eu olho e só tem um, o outro está no chão, e o Rick está voltando pro videogame dele. Nós conseguimos criar uma briga e acabar com ela. Não que isso fosse pra gente se divertir, mas estranhamente, eu me sentia bem em poder dizer que não deixaria mais que me tratassem como se eu fosse inferior. E acho que pela cara de todos, eles pensavam similarmente a mim.
- Satisfeita, Mari?
- Bem mais tranquila... O que a gente dizia antes mesmo?
- Bom, não sei se vocês perceberam, mas seria inteligente se saíssemos desse lugar antes que culpem a gente por isso. Comenta Rick atento ao videogame.
- A gente sempre é culpado mesm... Ia começar Luís, mas Jamal o interrompeu.
- Sempre, porque nós é que ficamos pra trás... Então, acho que o Rick acertou de novo. Fala ele chamando-os a seguilo.
A Júlia parecia assustada com isso, provavelmente pelo jeito que éramos ela esperava que fossemos mais pacíficos, bom, nós éramos, mas tem coisas que irritam às vezes. Tem coisas a que temos que ter um pouco mais de caráter e responsabilidade, e que temos que assumir os riscos por nós mesmos. Afinal, se todos nos escondêssemos atrás das saias de nossas mães, que tipo de pessoas seríamos no futuro?
- Ei, Luís, não tinham dois deles brigando contigo, o que tu fez com um deles ali... Eu perguntei.
- Ah, não foi ele, fui eu. – começa Rick – Existem pontos do corpo que podem ser a chave pra inconsciência imediata, eu só apliquei esse conhecimento de forma prática.
- Desde quando tu sabe isso? A Mari perguntou.
- Desde a quarta série? Vocês acham que eu raramente me machucava quando estava sozinho na escola por quê?
Kung-fu, Mari... Kung-fu... Fala ele como se fosse lógico.
- E eu pensando que tu era o cérebro intelectual do grupo... Comenta Luís.
- Eu ainda sou mais inteligente que vocês, tenho tempo livre suficiente para treinar o corpo e continuar adquirindo conhecimento.
- Tá, e quando tu dorme? Pergunta a Mari um tanto desacreditada disso num resmungo. Rick ignorou a pergunta.
Eu virei antes do corredor das salas.
- Ei, onde vai, Dullius? Perguntou Luís.
- Tenho que dar um jeito nessa camiseta molhada de café. Vou ao banheiro. Eu disse e fui.
No fim das contas não teve muito jeito que dar, então eu tirei a camiseta e enrolei de modo ao café não manchar mais nada na minha mochila depois, coloquei o moletom e fechei o zíper dele.
Bom, bem observado, o Luís realmente se divertia com brigas, eu percebi depois de um tempo, mas ele não as comprava de graça, só que se comprasse, seria caro pra sair depois.
Digamos também que a princípio, eu ter surtado uma vez não foi suficiente para que Rodrigo e nossos colegas achassem que as coisas tinham mudado, mas claro, eles ficaram mais prudentes um pouco, fazendo gracejos em público, pensando que assim nenhum de nós compraria encrenca.Depois de ouvir a Mari resmungando, qualquer um de nós compraria encrenca, afinal, já fomos culpados por tantas que não fazia mais diferença. E possivelmente, se eles vissem que realmente nós não nos importávamos com essas ditas encrencas, se fosse pra fazer eles calarem a boca, talvez eles parassem mesmo. Afinal, isso só se estendeu por tanto tempo por um motivo. Éramos covardes. Ou pelo menos, pacifistas que achávamos que todo mundo seria assim se fossemos.Só que, uma coisa é fato, nesse mundo, nem todas as pessoas sabem seguir o exe
- Então, graças ao Rick, não deu em nada, só uns pontinhos... Disse eu mostrando a mão com oito pontos quando estava contando para os outros sobre isso.- Mas porque tu não registrou uma queixa na polícia? Perguntou o Luís.- Não acho que isso vá ajudar em alguma coisa... O que a polícia quer com brigas de alunos do colegial? Eles têm coisas mais importantes pra fazer que ensinar crianças a se comportarem... Disse eu meio desapontado. Era verdade, ninguém poderia fazer nada.Isso que aconteceu não era necessariamente um problema, pertencia ao passado, o problema era que aquele garoto iria se irritar mais ainda com essa ocorrência. E por algum motivo estranho, ele me detestava mais que aos outros, e francamente, não me interessavam os seus motivos, eu só queria um pouco de paz, e fo
Mas, o que foi mais interessante, excluindo a mãe do Luís tentando escolher nossas roupas ou querendo ficar amiga da Mari, que por pouco não agiria com a velha do Luís como age agora com a Júlia, bom, foi realmente incrível que nós tenhamos conseguido em uma semana naquela garagem ensaiar um repertório pro show de talentos, e que o pai do Luís, apesar da cara amarrada de militar, parecia estar querendo fazer mais bagunça que a gente.Daquela vez, eu me lembro de que a coisa foi muito estranha. A Mari ficou com a bateria, o Jamal com a mixagem eletrônica, afinal ele gostava dessas coisas, então não tivemos problemas com regulagem de som ruim, como em todos os festivais da escola, o Rick tocava violoncelo, o que foi um problema, porque nós não sabíamos como regular o som daquilo de forma eletrônica direito... Francamente, eu pensei que eu era o mais antiquado ali
Vamos dizer assim... A minha mãe provavelmente não gostou da minha cara quando eu nasci. Ou talvez, talvez ela tenha ... ela realmente tem um gosto estranho mesmo. Bom, vamos deixar essa coisa de nome por enquanto...Eu sou um estudante até o momento, terminarei meu ensino médio e começarei uma universidade que não sei por que escolhi. Talvez pensar que não posso ficar um dia inteiro preso dentro de um escritório reduza aumente meus problemas, só que, eu aprendi a lidar com problemas, é isso que eu tenho que fazer. Apesar de que contabilidade é a coisa mais chata do mundo provavelmente eu serei outro tipo de doutor, e isso vai ser um tanto aventureiro pra um cara como eu... A minha mãe queria que eu fosse "doutor" e fizesse medicina. Eu não poderia me sentir mais desconfortável na vida que com uma profissão em que eu teria que lidar incessantemente com público.
Porque eu demorei tanto tempo para perceber que eu sou uma pessoa abençoada por ter amigos como esses? Esse pensamento demorou tanto para aparecer por quê? Estávamos há alguns meses já no ensino médio, logo o primeiro ano se partiria, e todos iriamos passar algum tempo separados. Embora dessa vez, não fôssemos passar tanto tempo assim longe, não ao ponto de não nos reconhecermos, porque tínhamos duas semanas de praia juntos depois do ano novo, na casa de praia dos pais do Jamal.Bom, eu pelo menos me sinto feliz que lá podemos fazer quanto barulho quisermos tocando com a banda de garagem, e graças aos céus que a Mari sabe cozinhar, porque se dependêssemos da culinária suspeita da mãe do Jamal eu iria emagrecer um quilo por dia lá.Não que eu não saiba cozinhar, mas eu tenho uma preguiça colossal pra fazer esse tipo de coisa. Mu
Por fim nós tínhamos churrasco, cervejas e diversão. Por algum motivo estranho os pais do Jamal simplesmente não ligavam pro quanto nós beberíamos, não sei se eles entendiam a parte de “cerveja tem álcool”, mas isso não era comigo. Claro que antes nossos pais se preocupavam, mas como diferente de outros grupos nós sempre nos limitamos a não exagerar, porque afinal, encrencas nós já tínhamos o suficiente, então simplesmente não havia nenhum marcador de controle sobre nós.No terceiro dia de praia fomos ao centro da cidade. Eu realmente estava relutante em ir ao centro da cidade. Afinal era a mesma cidade das praias vizinhas, e em uma delas estava a minha querida mãe e seus apetrechos esquisitos em uma casa que parecia um cone. Eu até hoje me pergunto o que diabos aquela velha tem na cabeça.O Rick parecia sempre estar se
Então, de certa forma, parece a todos, que aquela pessoa, de cabelos longos e presos desajeitadamente com um palito, biquíni preto e bermuda jeans, numa sorveteria, sem nem mesmo estar vermelha do sol, mas como eu, estar branca, talvez pelo fato de que nós nos escondíamos do sol na mesma proporção, parece que somos no máximo irmãos...- Então, pensou que poderia se esconder de mim este ano... Ela começou chegando para a nossa mesa com seu sorvete, ficando ao meu lado e deixando pouco espaço para que eu respirasse ou pudesse me mexer.- Ei, estranha, quem é tu? Como sempre a Mari tinha que ser muito educada, eu pensava num suspiro.- Ah, querida, você deve ser a Marianna, vi seu nome nos trabalhos da escola do meu bebê, eu sou a mãe do...- Mãe! – eu interrompi, ela ignorava o fato que eu não gostava do meu nome – Tu tá se
Senti uma onda mais forte e me segurei nas laterais do colchão de ar. Olhei para o céu e não vi sinais de tempestade, não havia motivo pra me preocupar por enquanto. Olhei para os lados cuidando para não me mexer muito e perder o equilíbrio. Havia alguma coisa a mais ou menos um quilômetro de mim. Era uma sombra gigantesca. Não parecia um peixe, baleia, ou coisa do tipo, porque eles voltam para baixo da água geralmente. Era muito maior que um animal provavelmente. Pela forma, era uma embarcação. Só que, parecia uma embarcação um tanto antiquada, eu diria. Era um veleiro, mas era pesado demais para ser um veleiro, tinha uma pose de ser uma embarcação muito grande mesmo.Poderia ser só imaginação minha, eu me acalmei, olhei para os lados, e quando olhei para lá, realmente, aquela coisa estava ali. Não arrisquei a minha posiç&at