O Luís simplesmente me arrastou pra longe dali antes que alguém da diretoria chegasse e nos repreendesse, porque afinal essa era nossa maior habilidade, ser repreendido por algo.
- Espere aqui. Ele disse. Provavelmente ele diria pra secretária que eu quebrei o braço caindo da escada ou algo imbecil assim.
- Pensando pelo lado positivo, eleições de grêmio estudantil não são como as de organizações de faculdades... Fala a Mari chegando com a Júlia que trazia tecido limpo pro meu braço em estado deplorável não me matar por falta de sangue, e me levavam pro carro da Júlia. A mãe dela é médica, até me esqueci desse detalhe. Era uma sorte considerando que nos metíamos em encrencas demais pra que nossos corpos ficassem inteiros por muito tempo.
- E acha que algum tipo de eleição de entidades estudantis de faculd
- Não vou tentar criar um fundamento lógico a ti da minha tese política, ou da dos outros, por mais que eu as conheça, até porque seria tendencioso da minha parte... Mas agora, agora é tarde demais pra gente simplesmente abandonar o sonho da Júlia, por mais deturpado que eu ache ele, ou por mais idiota que o Rick o ache quando souber, ou por mais que a Mari se revoltasse, o que eu acho que não vai acontecer, porque a Mari ainda quer acreditar na democracia, ou por mais que o Jamal já esteja fazendo rituais míticos de Moçambique pra afastar os males dessa campanha, e eu realmente deteste os rituais barulhentos dele.Eu ri da última parte. Realmente, do jeito que o Luís falou, mesmo que o sistema político ou isso ou aquilo o irritassem por suas convicções políticas, o que mais parecia estar dando nos nervos dele, e o que mais ele s
E voltamos pra escola com uma grande surpresa. Eu diria que o fim da nossa gestão no Grêmio Estudantil e as eleições para o próximo, de que queriam que participássemos ferrenhamente, foram mais conturbadas que eu imaginei.Foi o primeiro momento na vida em que eu vi que as pessoas podiam não ser tão burras. Mesmo várias pessoas que sempre me detestaram de modo expresso queriam que ficássemos no Grêmio, e aparentemente não tinham vergonha de dizer que queriam o meu nome na presidência. Foi um dos poucos momentos em que parei pra pensar, se realmente, tudo que eu fiz até aquele momento não tinha sido completamente errado.Esconder-me porque os outros não gostavam do fato de eu ser diferente nunca tinha dado certo, então, talvez, se eu provasse pras pessoas que eu era igual, ou até melhor que algumas daquelas pessoas, se eu tivesse desejado ser reconh
Eu via os dias passando lentamente, o mormaço da primavera chegando, e o fim do ano e da minha vida de colegial chegando, sem conseguir me conformar com esta ideia, de que nós nos separaríamos sem um sentimento de união, felizes como sempre fomos, brigando juntos pelo que acreditávamos, mesmo que cada um acreditasse em algo completamente diferente dos demais.A Mari tinha parado com o dojo há muito tempo por causa do clube de vôlei, depois ela parou com o clube de vôlei por causa do namorado, e a banda estava parando também. Se mesmo com as atribuições do grêmio estudantil ela não parou, agora, ela parava por um motivo que estava domesticando-a de uma forma que nenhum de nós gostava de ver.Ela estava se tornando como todos os outros. Eu percebi que com o tempo, e com a vida adulta se aproximando, nós estávamos nos tornando tão cinzentos e sem graç
Quando eu disse isso, era aquela parte do meu pensamento que era irrefreável, mas esse pensamento fez com que eu segurasse a mão dela, e onde meus dedos tocaram o pulso esquerdo dela, eu vi um brilho similar ao do meu escudo, e eu larguei instintivamente a mão dela, eu senti um choque, algum tipo de energia estática parecia ter passado pela minha tatuagem, e eu levei a mão a ela automaticamente.O pulso dela ficou virado, e logo a velha escondeu as mãos dela sob o cobertor e a levou embora, porém eu vi que ali havia uma marca como a marca central da minha tatuagem, e eu vi um olhar estranho vindo dela. Aquela menina me encontraria, caminhando pelas suas próprias pernas. Ela estaria curada de algo que não tinha preço entre as coisas comuns deste mundo, quem pagou por isso foi o Marcus. Ela queria poder caminhar, não mais sofrer vendo as pessoas desperdiçarem as suas vidas, ele queria desperdi&c
E cá estávamos, surtando com a festa de fim de ano, bebedeiras, fuga da hora de organizar a festa pra ir jogar sinuca, ser puxado pela orelha pela Mari e pela Júlia. E esses foram nossos últimos momentos como nós éramos antigamente, antes de as coisas começarem a mudar.Eu esperava pelas provas de vestibular como os outros, mas os outros por mais um motivo em especial, confirmar que carreira imbecil eu seguiria, se a razoável contabilidade, ou se eu esconderia meu rosto e meu nome para sempre em algum arquivo ou biblioteca como especialista em coisas cheias de traças.Havia teorias também sobre eu fazer alguma coisa relacionada a teologia graças às viagens psicodélicas da minha mãe como vidente e maga. O que não seria de todo incorreto, considerando o que eu vinha tentando aprender sobre mim mesmo, uma gama de simbologias que estavam em um pequeno espaço da m
Nesse momento, eu reconhecia, ao ver os portões, ao ver meus amigos esperando pelo evento de inauguração do primeiro semestre do ano, e de nossa vida universitária, que ali eu poderia ser quem eu quisesse. Ao admitir que este círculo social não iria sobrepujar quem eu sou por perceber a minha fraqueza, eu decidi assumir integralmente quem eu sou.Aqui eu percebi que se eu não fizesse algo assim, eu não mais teria coragem de fazer. Que se eu continuasse me escondendo, eu seria tão cinzento e sem personalidade quanto aquela parcela de 90% da população que passava por mim, sugando a minha energia vital, me deprimindo, me deixando como um peixe fora d’água. A partir deste momento da minha vida, eu seria o que deixa os outros sem chão, eu seria o que faz as pessoas repensarem. Não existe nenhum motivo para que eu repreenda a minha personalidade tent
Os alunos podem ter achado isso estranho, não devem ter acreditado muito provavelmente em nada do que eu disse, mas eu me sentia leve com a possibilidade de simplesmente ser o que eu sou e ignorar a opinião padronizada do restante do mundo. As pessoas não deveriam cercear o direito de sermos quem somos só porque somos diferentes.Eu me recuso a tentar ser igual a todos, como sempre tentei ser, eu entendi o que a Mari queria dizer quando decidiu que não mais ficaríamos à mercê de algum engraçadinho na escola, o que aquele velho daquela alucinação no verão, naquele barco, fez porque eu menti sobre o meu nome, o que significa ser eu. Aparentemente, o choque que a Mari teve com a minha decisão de ser um pouco mais corajoso, de mudar meus conceitos, de acreditar em mim, um pequeno choque. Era visível, quando ela parou pra pensar por um segundo, depois, e olhava para o saguão de
Esse é o momento em que eu descubro o quão complicado eu sou. Ainda não sei por que essas coisas acontecem comigo, mas talvez eu possa descobrir, seja lá o que for isso tudo. Mas ficar pensando em coisas aleatórias e perder o foco de atenção talvez seja puro estresse. Tenho coisas mais importantes pra pensar que isso.Já estávamos a algum tempo nos sentindo incomodados com algo próximo, embora não pudéssemos comentar isso com a Mari. Talvez porque ela diria que somos intrometidos e idiotas. Talvez porque ela se sentisse ofendida por nós querermos protegê-la como sempre, como se ela fosse uma menina frágil, ela nunca gostou disso, e ultimamente estava mais restritiva que antes, mais calada, e isso não me deixava nada satisfeito.Eu, o Rick, e o Luís. Jamal já tinha ido para casa com a Júlia mais