Eu via os dias passando lentamente, o mormaço da primavera chegando, e o fim do ano e da minha vida de colegial chegando, sem conseguir me conformar com esta ideia, de que nós nos separaríamos sem um sentimento de união, felizes como sempre fomos, brigando juntos pelo que acreditávamos, mesmo que cada um acreditasse em algo completamente diferente dos demais.
A Mari tinha parado com o dojo há muito tempo por causa do clube de vôlei, depois ela parou com o clube de vôlei por causa do namorado, e a banda estava parando também. Se mesmo com as atribuições do grêmio estudantil ela não parou, agora, ela parava por um motivo que estava domesticando-a de uma forma que nenhum de nós gostava de ver.
Ela estava se tornando como todos os outros. Eu percebi que com o tempo, e com a vida adulta se aproximando, nós estávamos nos tornando tão cinzentos e sem graç
Quando eu disse isso, era aquela parte do meu pensamento que era irrefreável, mas esse pensamento fez com que eu segurasse a mão dela, e onde meus dedos tocaram o pulso esquerdo dela, eu vi um brilho similar ao do meu escudo, e eu larguei instintivamente a mão dela, eu senti um choque, algum tipo de energia estática parecia ter passado pela minha tatuagem, e eu levei a mão a ela automaticamente.O pulso dela ficou virado, e logo a velha escondeu as mãos dela sob o cobertor e a levou embora, porém eu vi que ali havia uma marca como a marca central da minha tatuagem, e eu vi um olhar estranho vindo dela. Aquela menina me encontraria, caminhando pelas suas próprias pernas. Ela estaria curada de algo que não tinha preço entre as coisas comuns deste mundo, quem pagou por isso foi o Marcus. Ela queria poder caminhar, não mais sofrer vendo as pessoas desperdiçarem as suas vidas, ele queria desperdi&c
E cá estávamos, surtando com a festa de fim de ano, bebedeiras, fuga da hora de organizar a festa pra ir jogar sinuca, ser puxado pela orelha pela Mari e pela Júlia. E esses foram nossos últimos momentos como nós éramos antigamente, antes de as coisas começarem a mudar.Eu esperava pelas provas de vestibular como os outros, mas os outros por mais um motivo em especial, confirmar que carreira imbecil eu seguiria, se a razoável contabilidade, ou se eu esconderia meu rosto e meu nome para sempre em algum arquivo ou biblioteca como especialista em coisas cheias de traças.Havia teorias também sobre eu fazer alguma coisa relacionada a teologia graças às viagens psicodélicas da minha mãe como vidente e maga. O que não seria de todo incorreto, considerando o que eu vinha tentando aprender sobre mim mesmo, uma gama de simbologias que estavam em um pequeno espaço da m
Nesse momento, eu reconhecia, ao ver os portões, ao ver meus amigos esperando pelo evento de inauguração do primeiro semestre do ano, e de nossa vida universitária, que ali eu poderia ser quem eu quisesse. Ao admitir que este círculo social não iria sobrepujar quem eu sou por perceber a minha fraqueza, eu decidi assumir integralmente quem eu sou.Aqui eu percebi que se eu não fizesse algo assim, eu não mais teria coragem de fazer. Que se eu continuasse me escondendo, eu seria tão cinzento e sem personalidade quanto aquela parcela de 90% da população que passava por mim, sugando a minha energia vital, me deprimindo, me deixando como um peixe fora d’água. A partir deste momento da minha vida, eu seria o que deixa os outros sem chão, eu seria o que faz as pessoas repensarem. Não existe nenhum motivo para que eu repreenda a minha personalidade tent
Os alunos podem ter achado isso estranho, não devem ter acreditado muito provavelmente em nada do que eu disse, mas eu me sentia leve com a possibilidade de simplesmente ser o que eu sou e ignorar a opinião padronizada do restante do mundo. As pessoas não deveriam cercear o direito de sermos quem somos só porque somos diferentes.Eu me recuso a tentar ser igual a todos, como sempre tentei ser, eu entendi o que a Mari queria dizer quando decidiu que não mais ficaríamos à mercê de algum engraçadinho na escola, o que aquele velho daquela alucinação no verão, naquele barco, fez porque eu menti sobre o meu nome, o que significa ser eu. Aparentemente, o choque que a Mari teve com a minha decisão de ser um pouco mais corajoso, de mudar meus conceitos, de acreditar em mim, um pequeno choque. Era visível, quando ela parou pra pensar por um segundo, depois, e olhava para o saguão de
Esse é o momento em que eu descubro o quão complicado eu sou. Ainda não sei por que essas coisas acontecem comigo, mas talvez eu possa descobrir, seja lá o que for isso tudo. Mas ficar pensando em coisas aleatórias e perder o foco de atenção talvez seja puro estresse. Tenho coisas mais importantes pra pensar que isso.Já estávamos a algum tempo nos sentindo incomodados com algo próximo, embora não pudéssemos comentar isso com a Mari. Talvez porque ela diria que somos intrometidos e idiotas. Talvez porque ela se sentisse ofendida por nós querermos protegê-la como sempre, como se ela fosse uma menina frágil, ela nunca gostou disso, e ultimamente estava mais restritiva que antes, mais calada, e isso não me deixava nada satisfeito.Eu, o Rick, e o Luís. Jamal já tinha ido para casa com a Júlia mais
Eu via o sangue escorrendo do canto da boca dele, a testa que sangrou quando ele foi jogado de cabeça no chão, mas mesmo assim, eu me aproximei calmamente. Provavelmente eles viam isso como outra forma de estado de choque, que eu realmente senti, uma surpresa estupefata, um momento de não saber o que fazer, mas uma parte de mim se manteve racional, uma parte de mim tinha a coragem da Mari, tinha a audácia do Luís, a astúcia do Rick, e o espírito otimista do Jamal.Eu peguei o pulso dele, não havia mais chance de ele estar vivo, mas por um instante eu tirei a minha mão, eu senti meus dedos queimarem e senti algo estranho com a minha tatuagem, de tudo que ela poderia ser, nesse momento ela era estranha, e ao mesmo tempo familiar pra mim. Era como se me lembrasse de algo que eu não sabia ainda. Eu tomei o pulso do presumido morto, e com a outra mão imediatamente peguei o ce
Eu poderia me acostumar com a ideia de que existe uma troca equivalente pelo desejo de proteger meus amigos, pelo fato de que mesmo vivo, aquele cara pagou seu preço, pelos ferimentos, e pela razão iminente da sua vida, afinal, existem coisas equivalentes de acordo com o valor que nós damos a elas.Para uma pessoa comum, não poder se aproximar de outra parece um preço pequeno a se pagar, mas, mudando a ótica para o fato de que essa pessoa valia mais que todas as ambições dele, é um preço grande demais, tão grande quanto a própria vida. Não é quanto se ganha em dinheiro que é o preço, é o que isso significa pra cada um.Isso me lembra de que da outra vez, a troca foi equivalente em termos de desejos, não de resultados especificamente.Afinal, um perdeu tudo, e outro ganhou tudo, p
Só que por mais estranho que isso poderia parecer pra mim em outros tempos, agora era normal que garotas olhassem pra mim em proporção às que olhavam pro Rick, que depois de um tempo realmente se tornou oficialmente “o cara legal” do nosso grupo, quanto a deixar uma impressão mágica com garotas. Não que isso faça muito bem pro meu ego, mas é um fato, não posso negar isso, embora não entenda ainda o tipo estranho de padrão que as garotas entendem por “legal” num cara.Aquela menina de cabelos dourados, de olhos verde escuro, reluzente, parou por um segundo, olhou na minha direção, abriu um sorriso, e veio caminhando na minha direção. Quando ela ergueu os braços pra passar entre a multidão, chegar até mim e me abraçar eu vi o que confirmava o que eu já sabia.