Eu via o sangue escorrendo do canto da boca dele, a testa que sangrou quando ele foi jogado de cabeça no chão, mas mesmo assim, eu me aproximei calmamente. Provavelmente eles viam isso como outra forma de estado de choque, que eu realmente senti, uma surpresa estupefata, um momento de não saber o que fazer, mas uma parte de mim se manteve racional, uma parte de mim tinha a coragem da Mari, tinha a audácia do Luís, a astúcia do Rick, e o espírito otimista do Jamal.
Eu peguei o pulso dele, não havia mais chance de ele estar vivo, mas por um instante eu tirei a minha mão, eu senti meus dedos queimarem e senti algo estranho com a minha tatuagem, de tudo que ela poderia ser, nesse momento ela era estranha, e ao mesmo tempo familiar pra mim. Era como se me lembrasse de algo que eu não sabia ainda. Eu tomei o pulso do presumido morto, e com a outra mão imediatamente peguei o ce
Eu poderia me acostumar com a ideia de que existe uma troca equivalente pelo desejo de proteger meus amigos, pelo fato de que mesmo vivo, aquele cara pagou seu preço, pelos ferimentos, e pela razão iminente da sua vida, afinal, existem coisas equivalentes de acordo com o valor que nós damos a elas.Para uma pessoa comum, não poder se aproximar de outra parece um preço pequeno a se pagar, mas, mudando a ótica para o fato de que essa pessoa valia mais que todas as ambições dele, é um preço grande demais, tão grande quanto a própria vida. Não é quanto se ganha em dinheiro que é o preço, é o que isso significa pra cada um.Isso me lembra de que da outra vez, a troca foi equivalente em termos de desejos, não de resultados especificamente.Afinal, um perdeu tudo, e outro ganhou tudo, p
Só que por mais estranho que isso poderia parecer pra mim em outros tempos, agora era normal que garotas olhassem pra mim em proporção às que olhavam pro Rick, que depois de um tempo realmente se tornou oficialmente “o cara legal” do nosso grupo, quanto a deixar uma impressão mágica com garotas. Não que isso faça muito bem pro meu ego, mas é um fato, não posso negar isso, embora não entenda ainda o tipo estranho de padrão que as garotas entendem por “legal” num cara.Aquela menina de cabelos dourados, de olhos verde escuro, reluzente, parou por um segundo, olhou na minha direção, abriu um sorriso, e veio caminhando na minha direção. Quando ela ergueu os braços pra passar entre a multidão, chegar até mim e me abraçar eu vi o que confirmava o que eu já sabia.
Passaram-se quatro semestres relativamente tranquilos. Pelo menos, é o que dá pra se dizer de um tempo em que a nossa banda fez poucos shows, nossas notas estavam boas, Dalian entrou no projeto de especialização, e eu nunca vi o Rick e uma garota passando tanto tempo juntos, mesmo que fosse em um laboratório, então vou simplesmente descartar esse assunto da minha mente, porque não quero pensar coisas, afinal, por mais linda que a Dalian seja, é só uma amiga, e está mais interessada no meu “rival” de ocasiões sociais.Sempre que eu a vejo, eu penso que foi a melhor coisa do mundo que ela tenha me ajudado a descobrir algo que eu poderia fazer pra ajuda-la, porque ela merece isso. Ela realmente é incrível. Depois de conversar um pouco com ela, eu entendi o porque de algumas coisas.Ela não consegue entender porque algumas pessoas não conseguem ter motiva&cc
Se bem que esse é um problema menor, afinal, o máximo que pode acontecer é que um aluno mal preparado vai sair da universidade com um diploma, o que não é muito surpreendente, considerando que até um cara que mal sabia ler conseguiu entrar no meu curso. O que penso as vezes, é que caras assim podem ser perigosos. Um médico sem saber o que fazer, pode matar alguém. Um advogado, como no meu caso, mal preparado, pode destruir uma vida, ou uma cadeia interminável delas em sequência, porque as decisões esdrúxulas que podem surgir não interferem somente com o vitimado, mas as pessoas ao seu redor, todos os demais envolvidos, e se desencadeia em um desastre na sociedade. Um após o outro, estou cansado de ver e ouvir.Mas comecei a me preocupar por outros motivos. Dalian... O que ela estava fazendo que estava chamando tanta atenção dos ca
E nesse pensamento eu quase desisti. Mas a Mari estava ali. Dalian estava ali. A Júlia tentando dar uma de psicóloga antes de se formar deu o máximo de si pra me convencer que isso era a parte ruim, mas que sempre haveriam os bons. Que eu estava certo em ver o que eu decidi fazer como algo que abre a visão para o que é o mundo, que eu não deveria desistir, afinal, eu era um estudante de Ciências Jurídicas E Sociais. Era mais que muita gente seria. Eu entendia os sentimentos humanos, eu entendia os motivos, os caminhos, a vida. Mais que muita gente “normal” poderia entender.Dessa vez, eu tinha pensado, eu devia uma pra Júlia.- Rick, acalme-se... Lembre-se que o Lúcifer é um jogador compulsivo...- Dalian... Tudo bem... Eu era. Agora eu sou só um cara sortudo que vai levar o Rick pra mesa semana que vem, sem f
- O que está procurando? Eu escutei distraído com as etiquetas das pastas, a voz da Dalian, mas ela não estava ali.- Uma pasta... Eu respondi, esquecendo que eu estava dentro da mente dela, de tão acostumado que eu já estava com arquivos nessa vida de acadêmico.- Uma pasta, dentro da minha cabeça? Já que eu estou acordada porque não pergunta pra mim qual é? Ela disse.- Ah... Desculpe... Eu não devia...- Tudo bem, eu achei que fosse aparecer hoje. O que está te preocupando? Ela perguntou como se fosse natural poder falar com as pessoas dentro da cabeça dela, e eu me senti meio deslocado, afinal, eu nunca consegui fazer isso com outra pessoa antes.- Antes... Quando vocês falaram de material radioativo... Eu não tinha pensado nisso, mas... Como vocês estão se protegendo da radiação?- O material radioativo n&ati
Eu sabia que isso poderia ser um problema, mas aparentemente, não tive como fugir disso com a boca grande da Dalian. Não teve como inventar uma desculpa pra Mari e pra Júlia de onde nós iriamos nessa sexta-feira. Então, aparentemente, essa era a primeira vez em que nós todos estávamos visitando o bordel da Tia Fran.Não que ela reclamasse, vendia bebidas, mas isso não compensava o fato de que com as nossas meninas as “suas garotinhas” ficariam “entediadas”, como ela dizia com um sotaque muito característico. No fim das contas, depois de fugir de um ou dois convites indecentes e piadinhas típicas graças ao meu nome, embora até hoje eu me pergunte como aquelas mulheres conseguem ser tão criativas em cantadas de mau gosto, consegui chegar até o sagrado jogo no fundo do salão.Continuava como sempre, uma sala velha, com lâmpadas que
Eu não sabia bem onde estava, mas era escuro. Pelo menos, eu senti que minhas pernas e braços estavam no lugar, e que eu não estava embaixo d’água, porque conseguia respirar. O cheiro de mofo era familiar, mas eu tive certeza que eram paredes de pedra, e não um barco.Eu escutava vozes, mas não sabia direito o que era aquilo. Sabia somente que eu estava de mãos amarradas, literalmente falando, em um lugar um tanto antiquado, com uma porta de madeira, que tinha uma janelinha que iluminava parcamente o interior do lugar onde eu estava, e pelo menos fiquei feliz por saber que havia sol por perto, e que ali não havia ratos fazendo barulhinhos estranhos.Aparentemente, eu conseguia me acostumar rápido com situações ruins. Apesar de que, eu me via meio que sem opções, afinal, tudo que eu poderia fazer era curar pessoas, e criar escudos de proteção. Isso era o m&aacu