- E porque só contou isso pro Jamal? Perguntou a Mari ofendida.
- Bom, porque pra ele isso é mais relevante que pra vocês, aparentemente, é mais fácil fazer piadas com ele se tivermos um acordo de tolerância política.
- Tolerância política? Perguntou a Mari ironizando as imagens gritantes de motivação na segunda guerra mundial que o Luís escondia agora colocando a camisa limpa que tinha trazido para depois do show.
- Ei, funcionou durante muito tempo e vocês nem perceberam... Falou ele de volta para ela.
- Realmente, eu demorei pra calcular isso com base nos comentários deles. Disse o Rick impressionado.
- Certo, alguém me explica como isso de “tolerância política” está funcionando depois de me informarem desse tipo de coisa... Eu disse incrédulo.
- Simples, - começou o Jamal – se estamos em
Menos de duas semanas depois eu me deparo com uma ideia insana da Mari. As coisas pareciam mais tranquilas, a partir do momento que eu admiti que realmente tinha alguma coisa com o que a minha mãe fez de magicamente estranho naquela tatuagem, e que, por sorte, aparentemente impedia que eu morresse.Eu tentei controlar isso, e aparentemente, sem sucesso, era algo completamente aleatório, o que pra mim queria dizer que aquela coisa era basicamente algo que decidiria a hora em que eu iria morrer. Mas uma vez que eu tinha percebido isso, comecei a prestar mais atenção em quando aquela luz azul aparecia, ou quando as coisas eram repelidas por mim, e pelo visto, se eu estivesse com medo, as coisas iriam me acertar, e eu iria morrer. Era como se aquilo fosse um medidor de coragem. Considerando que eu realmente era muito mais imprudente quando não tinha medo de morrer, parece que aquilo funcionava na hora certa.Mas a Mari, no intervalo de ma
O Luís simplesmente me arrastou pra longe dali antes que alguém da diretoria chegasse e nos repreendesse, porque afinal essa era nossa maior habilidade, ser repreendido por algo.- Espere aqui. Ele disse. Provavelmente ele diria pra secretária que eu quebrei o braço caindo da escada ou algo imbecil assim.- Pensando pelo lado positivo, eleições de grêmio estudantil não são como as de organizações de faculdades... Fala a Mari chegando com a Júlia que trazia tecido limpo pro meu braço em estado deplorável não me matar por falta de sangue, e me levavam pro carro da Júlia. A mãe dela é médica, até me esqueci desse detalhe. Era uma sorte considerando que nos metíamos em encrencas demais pra que nossos corpos ficassem inteiros por muito tempo.- E acha que algum tipo de eleição de entidades estudantis de faculd
- Não vou tentar criar um fundamento lógico a ti da minha tese política, ou da dos outros, por mais que eu as conheça, até porque seria tendencioso da minha parte... Mas agora, agora é tarde demais pra gente simplesmente abandonar o sonho da Júlia, por mais deturpado que eu ache ele, ou por mais idiota que o Rick o ache quando souber, ou por mais que a Mari se revoltasse, o que eu acho que não vai acontecer, porque a Mari ainda quer acreditar na democracia, ou por mais que o Jamal já esteja fazendo rituais míticos de Moçambique pra afastar os males dessa campanha, e eu realmente deteste os rituais barulhentos dele.Eu ri da última parte. Realmente, do jeito que o Luís falou, mesmo que o sistema político ou isso ou aquilo o irritassem por suas convicções políticas, o que mais parecia estar dando nos nervos dele, e o que mais ele s
E voltamos pra escola com uma grande surpresa. Eu diria que o fim da nossa gestão no Grêmio Estudantil e as eleições para o próximo, de que queriam que participássemos ferrenhamente, foram mais conturbadas que eu imaginei.Foi o primeiro momento na vida em que eu vi que as pessoas podiam não ser tão burras. Mesmo várias pessoas que sempre me detestaram de modo expresso queriam que ficássemos no Grêmio, e aparentemente não tinham vergonha de dizer que queriam o meu nome na presidência. Foi um dos poucos momentos em que parei pra pensar, se realmente, tudo que eu fiz até aquele momento não tinha sido completamente errado.Esconder-me porque os outros não gostavam do fato de eu ser diferente nunca tinha dado certo, então, talvez, se eu provasse pras pessoas que eu era igual, ou até melhor que algumas daquelas pessoas, se eu tivesse desejado ser reconh
Eu via os dias passando lentamente, o mormaço da primavera chegando, e o fim do ano e da minha vida de colegial chegando, sem conseguir me conformar com esta ideia, de que nós nos separaríamos sem um sentimento de união, felizes como sempre fomos, brigando juntos pelo que acreditávamos, mesmo que cada um acreditasse em algo completamente diferente dos demais.A Mari tinha parado com o dojo há muito tempo por causa do clube de vôlei, depois ela parou com o clube de vôlei por causa do namorado, e a banda estava parando também. Se mesmo com as atribuições do grêmio estudantil ela não parou, agora, ela parava por um motivo que estava domesticando-a de uma forma que nenhum de nós gostava de ver.Ela estava se tornando como todos os outros. Eu percebi que com o tempo, e com a vida adulta se aproximando, nós estávamos nos tornando tão cinzentos e sem graç
Quando eu disse isso, era aquela parte do meu pensamento que era irrefreável, mas esse pensamento fez com que eu segurasse a mão dela, e onde meus dedos tocaram o pulso esquerdo dela, eu vi um brilho similar ao do meu escudo, e eu larguei instintivamente a mão dela, eu senti um choque, algum tipo de energia estática parecia ter passado pela minha tatuagem, e eu levei a mão a ela automaticamente.O pulso dela ficou virado, e logo a velha escondeu as mãos dela sob o cobertor e a levou embora, porém eu vi que ali havia uma marca como a marca central da minha tatuagem, e eu vi um olhar estranho vindo dela. Aquela menina me encontraria, caminhando pelas suas próprias pernas. Ela estaria curada de algo que não tinha preço entre as coisas comuns deste mundo, quem pagou por isso foi o Marcus. Ela queria poder caminhar, não mais sofrer vendo as pessoas desperdiçarem as suas vidas, ele queria desperdi&c
E cá estávamos, surtando com a festa de fim de ano, bebedeiras, fuga da hora de organizar a festa pra ir jogar sinuca, ser puxado pela orelha pela Mari e pela Júlia. E esses foram nossos últimos momentos como nós éramos antigamente, antes de as coisas começarem a mudar.Eu esperava pelas provas de vestibular como os outros, mas os outros por mais um motivo em especial, confirmar que carreira imbecil eu seguiria, se a razoável contabilidade, ou se eu esconderia meu rosto e meu nome para sempre em algum arquivo ou biblioteca como especialista em coisas cheias de traças.Havia teorias também sobre eu fazer alguma coisa relacionada a teologia graças às viagens psicodélicas da minha mãe como vidente e maga. O que não seria de todo incorreto, considerando o que eu vinha tentando aprender sobre mim mesmo, uma gama de simbologias que estavam em um pequeno espaço da m
Nesse momento, eu reconhecia, ao ver os portões, ao ver meus amigos esperando pelo evento de inauguração do primeiro semestre do ano, e de nossa vida universitária, que ali eu poderia ser quem eu quisesse. Ao admitir que este círculo social não iria sobrepujar quem eu sou por perceber a minha fraqueza, eu decidi assumir integralmente quem eu sou.Aqui eu percebi que se eu não fizesse algo assim, eu não mais teria coragem de fazer. Que se eu continuasse me escondendo, eu seria tão cinzento e sem personalidade quanto aquela parcela de 90% da população que passava por mim, sugando a minha energia vital, me deprimindo, me deixando como um peixe fora d’água. A partir deste momento da minha vida, eu seria o que deixa os outros sem chão, eu seria o que faz as pessoas repensarem. Não existe nenhum motivo para que eu repreenda a minha personalidade tent