KimUm ano e meio antes...— Kim? Kim venha aqui, filha. Temos algo para te falar. — Escuto mamãe gritar do andar de baixo e sem ânimo encaro o teto do meu quarto.— Já estou indo, mamãe! — respondo com um tom sobressaltado para ela me ouvir e ansiosa, pulo para fora da minha cama.Desde que a Ollie saiu de casa há alguns dias tudo aqui ficou quieto demais, não importa o quão eu seja animada, nada é mais como antes.— Kim, venha logo, filha! — Ela insiste com uma animação que eu desconheço e empolgada, saio com pressa do quarto. — Vai ser o melhor a fazer, querido. — A escuto dizer para o meu pai à medida que desço os batentes da escadaria e isso me faz desacelerar. — Não podemos correr o risco de perdê-la para esse mundo cruel como aconteceu com a sua irmã.Suspiro.Está acontecendo de novo. Penso sentindo o meu coração se comprimir dentro do meu peito.— Ah, você está aí, querida! — A Senhora Martin fala com um tom doce na voz que também não reconheço. Quer dizer, ela não é uma mãe
ArtêmisTrês anos antes...... Para Athos! Para o carro, porra!Grito completamente apavorado enquanto ele acelera como um louco no asfalto molhado.... PARA! VOCÊ VAI NOS MATAR, CARALHO!Berro dessa vez, mas é tarde demais e o controle da toda a situação escapa das minhas mãos sem que eu possa detê-lo....— Oi, querido! — Escuto o som baixo da voz de Corina bem do meu lado e com uma respiração profunda abro os meus olhos, percebendo que estou em um leito de hospital.— O que aconteceu? — pergunto aturdido, olhando para os fios colados no meu corpo e depois para as máquinas que não param de fazer barulho. — Onde estou? — inquiro apavorado, arrancando os fios e logo as máquinas começam a protestar.— Calma, Artêmis, fique calmo por favor! Você sofreu um acidente e precisa ficar parado. — Ela pede segurando as minhas mãos que não param de se mexer. Entretanto, lembranças de algumas cenas de terror preenchem a minha mente. Vidros quebrados, pessoas se aproximando de todos os lados. A m
Kim— Kim, filha, olha o que acabou de chegar aqui pra você! — Mamãe entra esfuziante no meu quarto. Ela segura uma caixa branca grande e um tanto pesada. Curiosa me ponho de pé, porém, não chego perto. Apenas espero ela a abrir e não demora para um lindo e exuberante vestido de noiva aparecer no meu campo de visão. No mesmo instante perco a capacidade de respirar, pois a visão do vestido torna tudo mais real. — Meu Deus, como ele é muito lindo, filha! Realmente o Senhor Galbir tem muito bom gosto. O que achou dele, querida? — Não a respondo. Eu simplesmente não tenho palavras para dizer, só continuo olhando para o objeto, enquanto puxo uma respiração que não vem. — Eu vou deixá-lo aqui mesmo no seu quarto, querida. Assim poderá admirá-lo até o momento do casamento. — Ela fala e o arruma em um cabide, abrindo um sorriso tão grande que quase não cabe no seu rosto e por fim, sai do quarto fechando a porta.Admirá-lo até o momento. Eu sinto raiva só de olhá-lo. Penso e saio imediatament
ArtêmisDias atuais... Eu costumava passar boa parte da minha vida trancado nesse quanto e olhando pela janela e me perdendo nas dores do meu passado. Lembrar do meu fracasso, da forma como perdi o que eu mais amava sempre me manteve com os meus pés no chão. Mas a pior parte foi ter que aceitar que ela não seria mais minha. Que a minha atual condição a afastou para sempre de mim e que eu nunca teria outra pessoa na minha vida além dela. Jamais amarei outra pessoa como a amei. Mas principalmente, eu nunca ousadia conquistar outro alguém. Ela não merece um fardo tão pesado quanto o meu. Contudo, vê isso escrito em um papel timbrado com letras douradas dizendo para mim com todas as palavras que a perdi para sempre é o que está me matando agora. Corina se afastou de mim há três anos, porém, essa é a primeira vez que a vejo beijando outro homem que não seja eu nas redes sociais e droga, ela está tão feliz! Trinco o maxilar e com raiva jogo o celular para bem longe de mim. Aperto um botão
Kim... Por Deus, homem levante-se dessa cadeira ou vai se queimar todo!Você não podia fazer um papel mais ridículo do que esse, Kim. Penso enquanto me curvo suavemente e dou um rodopio igualmente suave, erguendo os meus braços para encerrar a minha dança. O meu propósito era me esquecer do papel de idiota que paguei na noite passada, mas não funcionou. O que é de se admirar já que a dança sempre funcionou para mim.... Ah... me desculpe eu... ... Sua estúpida! ... Por favor, deixe-me ajudá-lo! ... Não ouse me tocar!Eu preciso fazer algo para consertar esse meu erro, droga! É claro que ele ficou irritado comigo. Uma louca completamente estranha invade a sua casa de repente, se senta na sua mesa e ainda o constrange daquela maneira na frente de todos? Bufo audivelmente e adentro a casa um tanto cautelosa. A última coisa que eu quero agora é encontrar o Senhor Malvadão na minha frente.Rio desse apelido. Até que combina bem com ele.— Bom dia, Kim!— Ah, bom dia, Victória! Onde est
KimFouettés.Fouettés.Fouettés.Repito nos meus pensamentos, girando e girando sem parar e quando enfim paro, me curvo esticando a ponta de um dos pés, mantendo os meus braços em posição como se eles fossem lindas asas.Plié.Tendu. Plié.Enquanto faço os passos mais complicados do balé clássico, é fácil imaginar uma linda e imensa plateia me assistindo. O som da orquestra sinfônica ditando a intensidade ou a ternura da história contada por uma dança leve como uma pluma, mas que também pode carregar uma tragédia no seu conto. Juro que consigo ver a sensibilidade nos seus olhos, as lágrimas emocionadas e me sinto viva com isso. E para finalizar...Fouettés.Fouettés.Fouettés.— Ah! — Solto um grito de susto quando sinto o meu pé esbarrar fortemente em algo duro, me fazendo desequilibrar repentinamente e em uma fração de segundos estou sentada no colo de Artêmis Mazza. Inevitavelmente o olho nos olhos completamente ofegante, mas ele está me olhando com tanta raiva que eu caio na rea
Artêmis— Me beija, Artêmis. Me beija!Ela pede tão sofregamente e tão perto do meu rosto que me sinto instintivamente atraído pela pele sensível. Inevitavelmente os meus olhos encaram os seus lábios carnudos pintados de um tom de rosa claro e me pego fechando os meus olhos quando o desejo me inflama por dentro. O meu coração luta bravamente dentro do meu peito, rasgando cada músculo seu com violência em uma busca brutal pela sua liberdade assim que a minha boca roça suavemente na sua. Deus, como quero reivindicá-la para mim, mesmo sabendo que não tenho esse direito. As minhas veias antes gélidas começam entrar em ebulição, a queimar, arder de uma forma quase insuportável, e logo me sinto sufocar com essa aproximação tão absurda quanto avassaladora. Contudo, antes que algo realmente aconteça aqui, Kim parece perder as suas forças e a sua cabeça pende repentina sobre o meu ombro.— Kim? — A chamo baixinho, porém, levemente ofegante, mas ela não se mexe. — Kim, você dormiu? — ralho com
KimAlguns minutos antes...— Ai! Ai! Ai, como dói! — resmungo sentindo a minha cabeça latejar e imediatamente levo uma mão a minha cabeça me sentando no colchão. Só então me forço a abrir os olhos e para a minha surpresa encontro um copo de suco e uma aspirina em cima da mesinha de cabeceira. Não penso duas vezes e engulo o comprimido, esvaziando o copo logo em seguida. Minutos depois, estou de banho tomado e ansiosa para tomar um delicioso café da manhã. Contudo, sinto o meu estômago embrulhar só de sentir o cheiro da comida.Hu, pelo jeito não vou conseguir ingerir nada, nem mesmo a cara de mal humor de Artêmis Mazza me desce bem hoje. Será que ele não se cansa de estar com raiva o tempo todo? Ralho mentalmente quando ele solta um resmungo de desaprovação me fazendo revirar os olhos internamente.Quer saber, nem vale a pena debater com ele!— Eu vou praticar a dança lá no jardim, mais tarde pego um copo de suco na cozinha, pode ser? — falo para a minha irmã, saindo antes que um cer