Artêmis
Três anos antes...
... Para Athos! Para o carro, porra!
Grito completamente apavorado enquanto ele acelera como um louco no asfalto molhado.
... PARA! VOCÊ VAI NOS MATAR, CARALHO!
Berro dessa vez, mas é tarde demais e o controle da toda a situação escapa das minhas mãos sem que eu possa detê-lo.
...
— Oi, querido! — Escuto o som baixo da voz de Corina bem do meu lado e com uma respiração profunda abro os meus olhos, percebendo que estou em um leito de hospital.
— O que aconteceu? — pergunto aturdido, olhando para os fios colados no meu corpo e depois para as máquinas que não param de fazer barulho. — Onde estou? — inquiro apavorado, arrancando os fios e logo as máquinas começam a protestar.
— Calma, Artêmis, fique calmo por favor! Você sofreu um acidente e precisa ficar parado. — Ela pede segurando as minhas mãos que não param de se mexer. Entretanto, lembranças de algumas cenas de terror preenchem a minha mente. Vidros quebrados, pessoas se aproximando de todos os lados. A minha mãe desacordada no banco de trás e Athos com a cabeça apoiada no volante. Depois, tudo escurece.
— A minha mãe. Onde está a minha mãe? — Procuro saber, porém, os seus olhos vacilam. — Corina... o que aconteceu?
— E-eu... e-eu sinto, querido! — Fecho os meus olhos bem apertados tentando ingerir o que ela quer me dizer.
— Não! — Levo uma mão para o meu rosto. — Não! Não! Não! — Me desespero. Contudo, ofego em seguida. — E o Athos? Me diga que ele está bem? Corina, por favor me diga que o Athos está bem! — sibilo baixinho, porém, desesperado.
— Sim, ele está bem e por incrível que pareça, Athos foi o único que saiu ileso desse acidente. — Sinto um alívio abraçar o meu coração arrasado de dor.
— E onde ele está? — Corina balbucia. — Onde, Corina? — exijo.
— E-eu não sei, Artêmis. Eu juro que não faço ideia de onde ele esteja agora. Eu não vejo o seu irmão desde o... velório da sua mãe. — Franzo a testa.
— Desde o velório? Por Deus, do que você está falando? A quanto tempo estou aqui nessa cama?
— Cerca de uma semana e meia. — Arfo violentamente.
— Então... ela se foi e eu... eu não... pude me despedir dela? — sussurro amargurado e dessa vez não seguro as lágrimas. Contudo, não sei se elas são de raiva ou de desespero. Corina imediatamente me abraça e eu me agarro a esse gesto por alguns minutos. — Pelo menos eu tenho você do meu lado — sibilo baixinho, sentindo a minha voz embargada.
— Sobre isso... — Corina se afasta um pouco para me olhar nos olhos.
— O que? O que foi?
— É que... me desculpe, Artêmis! Eu realmente eu não posso. — Franzo o cenho em confusão.
— O que? O que você não pode, Corina? — A observo levar uma mão aos cabelos e agitar os fios longos.
— Eu pão posso lidar com essa situação, Artêmis. — Confuso, franzo a testa.
— Lidar com o que, Corina? Eu não estou entendo. — Ela aponta para mim e eu imediatamente me olho. — Pode esclarecer melhor? — peço.
Corina respira fundo e secar uma lágrima sutil que escorre no canto do seu rosto.
— Fala, Corina, que droga!
— O médico disse que parte do seu corpo está paralisado, Artêmis. — Prendo a respiração. — Ele acredita que talvez um dia você possa recuperar os seus movimentos, mas... não é certo. — Rio sem vontade, prendendo o meu lábio inferior com os dentes em seguida, meneando a cabeça negativamente. — Você sabe que eu tenho alguns para o meu futuro profissional e eu não pretendo adia-los por nada, nem mesmo por você.
— Não pode ser, meu Deus! — retruco com amargor. — NÃO PODE SER! — grito desesperado.
— Artêmis, querido eu preciso que me entenda. Eu... realmente tenho que seguir em frente.
— Não faz isso comigo, Corina — suplico com um sussurro. — Eu te amo muito. Tínhamos grandes planos e nós...
— Me desculpe. Artêmis! — Ela pede retirando a aliança de compromisso do seu dedo e larga o objeto em cima de uma mesinha ao lado da cama. — Eu tenho um voou me esperando em meia hora. Eu só... vim porque me disseram que você acordou e queria te dizer pessoalmente. — Engulo o choro.
— Corina, eu não vou conseguir fazer isso sem você. — Ela pressiona os lábios.
— Adeus, Artêmis!
— Corina, não vai! Fica por favor! — peço, mesmo quando ela me dá as costas para sair do quarto. — CORINA? — grito como um condenado pelo seu nome. — CORINA, NÃO VAI?! — grito ainda mais alto e em um ato de espero tento sair da cama para ir atrás dela. Contudo, os meus membros não me obedecem e eu caio da cama batendo a cabeça com violência no chão, apagando em seguida.
***
Um mês depois...
— ATHOS!! — grito enfurecido, quebrando tudo dentro do meu quarto.
— Senhor Artêmis, por favor, o Senhor precisa tomar os seus remédios! — A enfermeira insiste mais uma vez tentando se aproximar de mim.
— SAI DAQUI!!! EU QUERO QUE CHAME O MEU IRMÃO AQUI E AGORA! — berro, jogando o abajur na sua direção. Ela solta um grito agudo, se esquivando do meu ataque e sai rapidamente, batendo a porta com força. Uma dor seguida de um choque se alastra pela minha coluna e segue me rasgando por dentro. No ato, pressiono o meu antebraço com força, fechando os olhos bem apertados contra a minha pele. — AAAAAH, QUE INFERNO! — berro enlouquecido, jogando tudo que está ao meu alcance.
— O que você pensa que está fazendo, Artêmis? — Ouço o seu tom rude, porém, baixo atrás de mim horas depois do meu surto.
— Onde você estava? — inquiro no mesmo tom, ainda de frente para janela, fitando a quietude do jardim. Athos respira fundo.
— Artêmis, você tomou os seus remédios?
— Onde estava, Athos? — exijo um tanto rude, girando a cadeira de rodas para encará-lo firmemente.
— Eu precisava esfriar um pouco a cabeça. — Ele solta uma respiração alta pela e eu rio debochadamente.
— É claro, dentro de uma boceta bem quentinha e viscosa — rosno ironicamente. — Enquanto isso eu fico aqui preso dentro dessa droga de quarto e nessa DROGA DE CADEIRA! — grito o final da frase e o observo respirar fundo.
— Você pensa que é fácil para mim, não é? — Meu sorriso debochado cresce e eu não seguro a acusação.
— Você a matou, Athos e me destruiu. Me confinou a essa droga de cadeira, mas a vive a vida como se nada tivesse acontecido.
— VOCÊ NÃO ENTENDE? ESSE SERÁ O MEU INFERNO PARA SEMPRE, ARTÊMIS! — Ele berra enfurecido e eu trinco o maxilar.
A verdade é que ambos somos prisioneiros do mesmo inferno e nenhum dos dois nunca conseguirá se libertar dele um dia.
— Saia do meu quarto! — peço baixinho lhe dando as costas outra vez.
— Você precisa tomar os remédios, irmão. — Ele insiste. Respiro fundo fechando os meus olhos com força. — Por favor, Artêmis! — Apenas concordo com um aceno de cabeça e recebo os comprimidos da sua mão, os jogando dentro da minha boca.
— Satisfeito? — rosno contrariado, porém, não demora para o meu corpo começar a adormecer e eu penso que terei algumas horas de paz.
— Obrigado, irmão!
— Sai daqui Athos! — peço baixo, porém, seco o suficiente para ele saber que não o quero por perto agora. Contudo, assim que a porta se fecha me deixo levar pelo choro. M*****a Estela! Ela roubou tudo de mim. A minha família e a minha vida, e agora estou condenado a viver em cima de uma droga de cadeira para sempre. Penso fazendo força para ir para a minha cama e após me acomodar, fito os destroços espalhados por todo o cômodo.
Sinto a sua falta, Corina! Sibilo mentalmente, secando as lágrimas em seguida.
— Essa será a última vez que derramarei as minhas lágrimas por você, meu amor — prometo fitando o céu escuro através da minha janela. — Você será apenas uma lembrança boa na minha vida e eu juro que te entendo. Um homem inválido jamais poderia fazer parte da sua vida. Seja feliz, Corina! — E com esse desejo sou levado para o mundo dos sonhos onde eu sou poderoso e posso fazer o que bem entender.
Kim— Kim, filha, olha o que acabou de chegar aqui pra você! — Mamãe entra esfuziante no meu quarto. Ela segura uma caixa branca grande e um tanto pesada. Curiosa me ponho de pé, porém, não chego perto. Apenas espero ela a abrir e não demora para um lindo e exuberante vestido de noiva aparecer no meu campo de visão. No mesmo instante perco a capacidade de respirar, pois a visão do vestido torna tudo mais real. — Meu Deus, como ele é muito lindo, filha! Realmente o Senhor Galbir tem muito bom gosto. O que achou dele, querida? — Não a respondo. Eu simplesmente não tenho palavras para dizer, só continuo olhando para o objeto, enquanto puxo uma respiração que não vem. — Eu vou deixá-lo aqui mesmo no seu quarto, querida. Assim poderá admirá-lo até o momento do casamento. — Ela fala e o arruma em um cabide, abrindo um sorriso tão grande que quase não cabe no seu rosto e por fim, sai do quarto fechando a porta.Admirá-lo até o momento. Eu sinto raiva só de olhá-lo. Penso e saio imediatament
ArtêmisDias atuais... Eu costumava passar boa parte da minha vida trancado nesse quanto e olhando pela janela e me perdendo nas dores do meu passado. Lembrar do meu fracasso, da forma como perdi o que eu mais amava sempre me manteve com os meus pés no chão. Mas a pior parte foi ter que aceitar que ela não seria mais minha. Que a minha atual condição a afastou para sempre de mim e que eu nunca teria outra pessoa na minha vida além dela. Jamais amarei outra pessoa como a amei. Mas principalmente, eu nunca ousadia conquistar outro alguém. Ela não merece um fardo tão pesado quanto o meu. Contudo, vê isso escrito em um papel timbrado com letras douradas dizendo para mim com todas as palavras que a perdi para sempre é o que está me matando agora. Corina se afastou de mim há três anos, porém, essa é a primeira vez que a vejo beijando outro homem que não seja eu nas redes sociais e droga, ela está tão feliz! Trinco o maxilar e com raiva jogo o celular para bem longe de mim. Aperto um botão
Kim... Por Deus, homem levante-se dessa cadeira ou vai se queimar todo!Você não podia fazer um papel mais ridículo do que esse, Kim. Penso enquanto me curvo suavemente e dou um rodopio igualmente suave, erguendo os meus braços para encerrar a minha dança. O meu propósito era me esquecer do papel de idiota que paguei na noite passada, mas não funcionou. O que é de se admirar já que a dança sempre funcionou para mim.... Ah... me desculpe eu... ... Sua estúpida! ... Por favor, deixe-me ajudá-lo! ... Não ouse me tocar!Eu preciso fazer algo para consertar esse meu erro, droga! É claro que ele ficou irritado comigo. Uma louca completamente estranha invade a sua casa de repente, se senta na sua mesa e ainda o constrange daquela maneira na frente de todos? Bufo audivelmente e adentro a casa um tanto cautelosa. A última coisa que eu quero agora é encontrar o Senhor Malvadão na minha frente.Rio desse apelido. Até que combina bem com ele.— Bom dia, Kim!— Ah, bom dia, Victória! Onde est
KimFouettés.Fouettés.Fouettés.Repito nos meus pensamentos, girando e girando sem parar e quando enfim paro, me curvo esticando a ponta de um dos pés, mantendo os meus braços em posição como se eles fossem lindas asas.Plié.Tendu. Plié.Enquanto faço os passos mais complicados do balé clássico, é fácil imaginar uma linda e imensa plateia me assistindo. O som da orquestra sinfônica ditando a intensidade ou a ternura da história contada por uma dança leve como uma pluma, mas que também pode carregar uma tragédia no seu conto. Juro que consigo ver a sensibilidade nos seus olhos, as lágrimas emocionadas e me sinto viva com isso. E para finalizar...Fouettés.Fouettés.Fouettés.— Ah! — Solto um grito de susto quando sinto o meu pé esbarrar fortemente em algo duro, me fazendo desequilibrar repentinamente e em uma fração de segundos estou sentada no colo de Artêmis Mazza. Inevitavelmente o olho nos olhos completamente ofegante, mas ele está me olhando com tanta raiva que eu caio na rea
Artêmis— Me beija, Artêmis. Me beija!Ela pede tão sofregamente e tão perto do meu rosto que me sinto instintivamente atraído pela pele sensível. Inevitavelmente os meus olhos encaram os seus lábios carnudos pintados de um tom de rosa claro e me pego fechando os meus olhos quando o desejo me inflama por dentro. O meu coração luta bravamente dentro do meu peito, rasgando cada músculo seu com violência em uma busca brutal pela sua liberdade assim que a minha boca roça suavemente na sua. Deus, como quero reivindicá-la para mim, mesmo sabendo que não tenho esse direito. As minhas veias antes gélidas começam entrar em ebulição, a queimar, arder de uma forma quase insuportável, e logo me sinto sufocar com essa aproximação tão absurda quanto avassaladora. Contudo, antes que algo realmente aconteça aqui, Kim parece perder as suas forças e a sua cabeça pende repentina sobre o meu ombro.— Kim? — A chamo baixinho, porém, levemente ofegante, mas ela não se mexe. — Kim, você dormiu? — ralho com
KimAlguns minutos antes...— Ai! Ai! Ai, como dói! — resmungo sentindo a minha cabeça latejar e imediatamente levo uma mão a minha cabeça me sentando no colchão. Só então me forço a abrir os olhos e para a minha surpresa encontro um copo de suco e uma aspirina em cima da mesinha de cabeceira. Não penso duas vezes e engulo o comprimido, esvaziando o copo logo em seguida. Minutos depois, estou de banho tomado e ansiosa para tomar um delicioso café da manhã. Contudo, sinto o meu estômago embrulhar só de sentir o cheiro da comida.Hu, pelo jeito não vou conseguir ingerir nada, nem mesmo a cara de mal humor de Artêmis Mazza me desce bem hoje. Será que ele não se cansa de estar com raiva o tempo todo? Ralho mentalmente quando ele solta um resmungo de desaprovação me fazendo revirar os olhos internamente.Quer saber, nem vale a pena debater com ele!— Eu vou praticar a dança lá no jardim, mais tarde pego um copo de suco na cozinha, pode ser? — falo para a minha irmã, saindo antes que um cer
ArtêmisMomentos antes da boate...— Senhora Mazza, aqui estão os papéis que me pediu. — Uma funcionária diz adentrando o meu escritório.— Deixe-os na minha mesa! — ordeno sem olhá-la e logo escuto a porta se fechar.— Será amanhã de noite, Artêmis. — Athos diz invadindo a minha sala e eu me forço a erguer a minha cabeça para olhá-lo. — Você está bem? — Ele interpele preocupado.— Estou e como vai ser? — Tento mantê-lo no assunto anterior e mesmo analisando o meu rosto por alguns segundos, ele se senta em uma cadeira de frente para mim e sorri.— Vou precisar viajar bem cedo, mas posso resolver algumas coisas por telefone e você terá que sair mais cedo daqui claro. A Victória já estará preparando tudo e quando chegarmos, quero que ela seja surpreendida por todos.— Ótimo, será tudo exatamente como você deseja, irmão. — Ele franze a testa.— Tem certeza de que está tudo bem com você? — Reviro os olhos com impaciência.— Eu já disse que sim, Athos. Agora saia, eu preciso trabalhar ness
ArtêmisEstá na hora de voltar para casa. Penso. Contudo, os meus olhos param em cima da garota dançando perto da mesa, enquanto ela segura o seu copo de vodca. O seu sorriso, a maneira como ela fecha os olhos, como o seu braço envolve o seu corpo... Chego a cogitar que queria que fosse eu a abraçá-la agora. No entanto, sacudo a minha cabeça.Ela está fazendo outra vez.Penso zangado.Está tentando penetrar as minhas barreiras, mas advinha eu não vou permitir e se for preciso machucá-la para afastá-la de mim, eu farei.— Boa noite! — Desperto quando um idiota diz se aproximando e claro que a Anne ficou eriçada com a sua aproximação dele. Contudo, o cara não veio sozinho e o outro babaca está praticamente devorando a bailarina com os seus olhos na cara dura. Solto um pigarro incomodado com essa situação e decido ir falar com ela.— Já chega, Kim! — falo com um tom seco, tomando o copo da sua mão.— Ei, o que pensa que está fazendo? — A garota retruca malcriada.— Eu vou pedir um suco p