3.

Kim

... Por Deus, homem levante-se dessa cadeira ou vai se queimar todo!

Você não podia fazer um papel mais ridículo do que esse, Kim. Penso enquanto me curvo suavemente e dou um rodopio igualmente suave, erguendo os meus braços para encerrar a minha dança. O meu propósito era me esquecer do papel de idiota que paguei na noite passada, mas não funcionou. O que é de se admirar já que a dança sempre funcionou para mim.

... Ah... me desculpe eu...

... Sua estúpida!

... Por favor, deixe-me ajudá-lo!

... Não ouse me tocar!

Eu preciso fazer algo para consertar esse meu erro, droga! É claro que ele ficou irritado comigo. Uma louca completamente estranha invade a sua casa de repente, se senta na sua mesa e ainda o constrange daquela maneira na frente de todos? Bufo audivelmente e adentro a casa um tanto cautelosa. A última coisa que eu quero agora é encontrar o Senhor Malvadão na minha frente.

Rio desse apelido. Até que combina bem com ele.

— Bom dia, Kim!

— Ah, bom dia, Victória! Onde está todo mundo?

— Saíram para trabalhar. — Faço um jeitinho torto com o canto da boca. É disso que eu preciso. Um bom trabalho que possa me sustentar e encontrar um lugar só meu. — Não vai tomar café da manhã?

— Eu preciso de um banho primeiro — aviso e subo para a escadaria com pressa direto para o quarto de hóspedes no final do corredor. Tomo um banho demorado e após trocar de roupa decido descer para tomar café. Contudo, paro de frente a porta do segundo quarto no início do corredor e como se fosse atraída por sua madeira escura, seguro na maçaneta e a giro bem devagar. Um cômodo com uma decoração masculina entra no meu campo de visão e movida pela minha curiosidade entro lentamente, analisando os seus móveis e sua decoração. Uma cama espaçosa demais com seus criados mudos e abajures. Mas é uma imagem no porta-retratos que me chama a atenção. É uma foto de Artêmis em pé e abraçado a uma linda, e sorridente mulher.

Suspiro quando fito os seus olhos expressivos demais. Ele parece feliz do seu lado e me pergunto quem é ela? Decido pô-lo de volta no seu lugar e abro as cortinas para a luz entrar no quarto. Sorrio quando vejo o quão meticuloso ele é. A sua mesa está devidamente arrumada com algumas canetas arrumadas em fileiras simétricas. Alguns papéis também estão organizados e separados por etiquetas coloridas.

— Isso me diz muito sobre você, malvadão — resmungo me afastando da sua mesa e olho ao meu redor, parando nas seis portas brancas que ocupam uma enorme parede e imediatamente me dirijo para lá abrindo duas ao mesmo tempo.

É um closet. Constato com admiração e mais uma vez sou guiada pela minha curiosidade. Primeiro as gavetas que armazenam uma infinidade de gravatas, relógios e meias. Depois, os cabides com seus ternos caros e camisas de botões, e no meio tem algumas araras com suas calças sociais e poucos jeans. — Devo admitir que você tem bom gosto, malvadão — sibilo especulando as prateleiras cheias de sapatos lustrosos e os poucos pares de tênis. Penso em dar meia volta para sair daqui quando vejo a sua perfumaria e me pego sorrindo outra vez. Seguro o vidro que tem uma cor escura e borrifo um pouco no ar, apreciando o seu cheiro em seguida. — O que você está fazendo, Kim? — retruco e decido sair daqui de uma vez. Contudo, assim que ponho os meus pés para fora, escuto a sua voz bradar no corredor. O meu coração dá uma freada brusca e imediatamente me tranco dentro do closet. — Merda! — xingo baixinho abrindo apenas uma brecha na porta.

— Está bem, Athos. Eu já cheguei em casa e já vou pegar o documento. — Ele fala irritado ao telefone e vai até a sua mesa. Mexe em alguns papéis e tira alguns que tem a etiqueta vermelha. Contudo, ele olha na direção da cama e analisa o porta-retratos por alguns segundos. Artêmis une as sobrancelhas, ele parece intrigado e olha para os lados.

Oh Deus, que ele não perceba que estou aqui!

Nervosa, fecho os olhos e rogo a Deus que ele não venha para cá. Por fim, ele ajeita o objeto e sai do quarto, fechando a porta em seguida. Imediatamente eu relaxo me encostado na porta do closet.

— É isso que dá ser mexeriqueira! — resmungo e procuro sair dali o mais rápido possível.

— Onde está a bailarina? — O escuto perguntar quando alcanço o topo da escadaria e me pego mordendo meu lábio inferior.

— Ela foi tomar um banho já tem um tempo, por quê? — Victória indaga e eu aguardo a sua resposta.

— Nada. Eu tenho que ir, o Athos está precisando analisar esse processo.

— Vai lá, querido. — Resolvo descer as escadas de vez e quando chego na metade dela, ele vira a cabeça para o lado, e me lançando o mesmo olhar irritadiço da noite passada.

— Bom dia! — digo e aguardo o seu retorno, mas ele simplesmente me dá as costas e sai.

Babaca idiota!

***

À noite...

Não tem coisa pior do que ficar sentada em uma sala com quatro pessoas basicamente olhando uma para a outra sem falar nada. A parte pior é esse malvadão me jogando olhares frios de vez em quando e o fato de eu ter invadido a sua privacidade mais cedo me faz perguntar se ele desconfia de algo.

— Eu tive uma ideia. — Anne diz de repente prendendo a nossa atenção. — Alguém aqui sabe o jogo da mímica?

— Isso é criancice! — Ele retruca baixinho.

— Eu adoro! — Praticamente cantarolo.

— Podemos usar títulos de filmes e de músicas...

— Eu estou fora! — Ele ralha girando a cadeira para sair.

— Está com medinho de perder? — O provoco e o olhar medonho que ele me lança chega a causar arrepios.

— E se eu ganhar? — Dou de ombros gostando da sua atitude e sorrio para as meninas piscando um olho sutilmente.

— Eu duvido que você ganhe.

— Ok, vamos lá então!

— Oba! — Levamos cerca de vinte minutos para preparar o jogo, porém, na hora de sortear a dupla, Artêmis e eu acabamos ficando no mesmo time. Se isso vai ser bom eu não tenho a menor ideia, mas está aqui a pessoa que paga pra ver e quase uma hora de jogo a coisa toda começa a esquentar.

 — O Grande Passo! — Ele grita correndo contra o tempo.

Sob a Luz da Fama? — sugiro agitada. — Dirty Dancing!

— Não.

— O tempo acabou! — Anne determina.

— O título era Honey 2, no ritmo dos sonhos!

— Era a minha vez de falar, sabia?! — Artêmis ataca irritado.

— Então por que não falou? — rebato dando de ombros.

— Porque você falou na minha frente e eu sabia dessa resposta! Se você não fosse tão metida, teríamos acertado essa rodada!

— Quer saber, você é um grande idiota Artêmis Mazza! — rosno tão irritada quanto ele devido a seu ataque gratuito.

— E você é uma garota estúpida e metida a besta, Kimberly Martin! — Penso em rebater a altura quando Athos aparece de repente na sala.

— Alguém aqui está com fome? Porque eu estou faminto!

— Perdi a fome! — Artêmis resmunga saindo em seguida e eu rolo os olhos para essa sua infantilidade.

— Por que ele precisa ser tão imbecil assim? — ralho apontando na direção que acabara de sair. — Era só uma brincadeira, droga! — retruco irritada e vou para o jardim.

— Você está bem? — Anne pergunta minutos depois se sentando do meu lado na grama. Suspiro me sentindo cansada.

— Ele não me quer aqui, Anne.

— Que bobagem.

— É sério, ele me odeia!

— Kim, o Artêmis já passou por muita coisa na vida e ele tem problemas para confiar nas pessoas. É só isso.

— E por isso eu virei o seu capacho? Tudo que eu faço ou digo irrita esse homem e eu já não sei mais o que fazer.

— Então não faça nada. Sei lá, finge que ele não está ali e pronto.

— Talvez você esteja certa. — Me deito na grama e olho para o céu escuro e sem estrelas. — Eu vou conversar com a Ollie. Eu preciso de um emprego, preciso ocupar o meu tempo e quem sabe conquistar a minha própria independência.

— Mas enquanto isso não acontece, que tal um jantar quentinho e delicioso? — Sorrio.

— Eu aceito, estou faminta.

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