Kim
... Por Deus, homem levante-se dessa cadeira ou vai se queimar todo!
Você não podia fazer um papel mais ridículo do que esse, Kim. Penso enquanto me curvo suavemente e dou um rodopio igualmente suave, erguendo os meus braços para encerrar a minha dança. O meu propósito era me esquecer do papel de idiota que paguei na noite passada, mas não funcionou. O que é de se admirar já que a dança sempre funcionou para mim.
... Ah... me desculpe eu...
... Sua estúpida!
... Por favor, deixe-me ajudá-lo!
... Não ouse me tocar!
Eu preciso fazer algo para consertar esse meu erro, droga! É claro que ele ficou irritado comigo. Uma louca completamente estranha invade a sua casa de repente, se senta na sua mesa e ainda o constrange daquela maneira na frente de todos? Bufo audivelmente e adentro a casa um tanto cautelosa. A última coisa que eu quero agora é encontrar o Senhor Malvadão na minha frente.
Rio desse apelido. Até que combina bem com ele.
— Bom dia, Kim!
— Ah, bom dia, Victória! Onde está todo mundo?
— Saíram para trabalhar. — Faço um jeitinho torto com o canto da boca. É disso que eu preciso. Um bom trabalho que possa me sustentar e encontrar um lugar só meu. — Não vai tomar café da manhã?
— Eu preciso de um banho primeiro — aviso e subo para a escadaria com pressa direto para o quarto de hóspedes no final do corredor. Tomo um banho demorado e após trocar de roupa decido descer para tomar café. Contudo, paro de frente a porta do segundo quarto no início do corredor e como se fosse atraída por sua madeira escura, seguro na maçaneta e a giro bem devagar. Um cômodo com uma decoração masculina entra no meu campo de visão e movida pela minha curiosidade entro lentamente, analisando os seus móveis e sua decoração. Uma cama espaçosa demais com seus criados mudos e abajures. Mas é uma imagem no porta-retratos que me chama a atenção. É uma foto de Artêmis em pé e abraçado a uma linda, e sorridente mulher.
Suspiro quando fito os seus olhos expressivos demais. Ele parece feliz do seu lado e me pergunto quem é ela? Decido pô-lo de volta no seu lugar e abro as cortinas para a luz entrar no quarto. Sorrio quando vejo o quão meticuloso ele é. A sua mesa está devidamente arrumada com algumas canetas arrumadas em fileiras simétricas. Alguns papéis também estão organizados e separados por etiquetas coloridas.
— Isso me diz muito sobre você, malvadão — resmungo me afastando da sua mesa e olho ao meu redor, parando nas seis portas brancas que ocupam uma enorme parede e imediatamente me dirijo para lá abrindo duas ao mesmo tempo.
É um closet. Constato com admiração e mais uma vez sou guiada pela minha curiosidade. Primeiro as gavetas que armazenam uma infinidade de gravatas, relógios e meias. Depois, os cabides com seus ternos caros e camisas de botões, e no meio tem algumas araras com suas calças sociais e poucos jeans. — Devo admitir que você tem bom gosto, malvadão — sibilo especulando as prateleiras cheias de sapatos lustrosos e os poucos pares de tênis. Penso em dar meia volta para sair daqui quando vejo a sua perfumaria e me pego sorrindo outra vez. Seguro o vidro que tem uma cor escura e borrifo um pouco no ar, apreciando o seu cheiro em seguida. — O que você está fazendo, Kim? — retruco e decido sair daqui de uma vez. Contudo, assim que ponho os meus pés para fora, escuto a sua voz bradar no corredor. O meu coração dá uma freada brusca e imediatamente me tranco dentro do closet. — Merda! — xingo baixinho abrindo apenas uma brecha na porta.
— Está bem, Athos. Eu já cheguei em casa e já vou pegar o documento. — Ele fala irritado ao telefone e vai até a sua mesa. Mexe em alguns papéis e tira alguns que tem a etiqueta vermelha. Contudo, ele olha na direção da cama e analisa o porta-retratos por alguns segundos. Artêmis une as sobrancelhas, ele parece intrigado e olha para os lados.
Oh Deus, que ele não perceba que estou aqui!
Nervosa, fecho os olhos e rogo a Deus que ele não venha para cá. Por fim, ele ajeita o objeto e sai do quarto, fechando a porta em seguida. Imediatamente eu relaxo me encostado na porta do closet.
— É isso que dá ser mexeriqueira! — resmungo e procuro sair dali o mais rápido possível.
— Onde está a bailarina? — O escuto perguntar quando alcanço o topo da escadaria e me pego mordendo meu lábio inferior.
— Ela foi tomar um banho já tem um tempo, por quê? — Victória indaga e eu aguardo a sua resposta.
— Nada. Eu tenho que ir, o Athos está precisando analisar esse processo.
— Vai lá, querido. — Resolvo descer as escadas de vez e quando chego na metade dela, ele vira a cabeça para o lado, e me lançando o mesmo olhar irritadiço da noite passada.
— Bom dia! — digo e aguardo o seu retorno, mas ele simplesmente me dá as costas e sai.
Babaca idiota!
***
À noite...
Não tem coisa pior do que ficar sentada em uma sala com quatro pessoas basicamente olhando uma para a outra sem falar nada. A parte pior é esse malvadão me jogando olhares frios de vez em quando e o fato de eu ter invadido a sua privacidade mais cedo me faz perguntar se ele desconfia de algo.
— Eu tive uma ideia. — Anne diz de repente prendendo a nossa atenção. — Alguém aqui sabe o jogo da mímica?
— Isso é criancice! — Ele retruca baixinho.
— Eu adoro! — Praticamente cantarolo.
— Podemos usar títulos de filmes e de músicas...
— Eu estou fora! — Ele ralha girando a cadeira para sair.
— Está com medinho de perder? — O provoco e o olhar medonho que ele me lança chega a causar arrepios.
— E se eu ganhar? — Dou de ombros gostando da sua atitude e sorrio para as meninas piscando um olho sutilmente.
— Eu duvido que você ganhe.
— Ok, vamos lá então!
— Oba! — Levamos cerca de vinte minutos para preparar o jogo, porém, na hora de sortear a dupla, Artêmis e eu acabamos ficando no mesmo time. Se isso vai ser bom eu não tenho a menor ideia, mas está aqui a pessoa que paga pra ver e quase uma hora de jogo a coisa toda começa a esquentar.
— O Grande Passo! — Ele grita correndo contra o tempo.
— Sob a Luz da Fama? — sugiro agitada. — Dirty Dancing!
— Não.
— O tempo acabou! — Anne determina.
— O título era Honey 2, no ritmo dos sonhos!
— Era a minha vez de falar, sabia?! — Artêmis ataca irritado.
— Então por que não falou? — rebato dando de ombros.
— Porque você falou na minha frente e eu sabia dessa resposta! Se você não fosse tão metida, teríamos acertado essa rodada!
— Quer saber, você é um grande idiota Artêmis Mazza! — rosno tão irritada quanto ele devido a seu ataque gratuito.
— E você é uma garota estúpida e metida a besta, Kimberly Martin! — Penso em rebater a altura quando Athos aparece de repente na sala.
— Alguém aqui está com fome? Porque eu estou faminto!
— Perdi a fome! — Artêmis resmunga saindo em seguida e eu rolo os olhos para essa sua infantilidade.
— Por que ele precisa ser tão imbecil assim? — ralho apontando na direção que acabara de sair. — Era só uma brincadeira, droga! — retruco irritada e vou para o jardim.
— Você está bem? — Anne pergunta minutos depois se sentando do meu lado na grama. Suspiro me sentindo cansada.
— Ele não me quer aqui, Anne.
— Que bobagem.
— É sério, ele me odeia!
— Kim, o Artêmis já passou por muita coisa na vida e ele tem problemas para confiar nas pessoas. É só isso.
— E por isso eu virei o seu capacho? Tudo que eu faço ou digo irrita esse homem e eu já não sei mais o que fazer.
— Então não faça nada. Sei lá, finge que ele não está ali e pronto.
— Talvez você esteja certa. — Me deito na grama e olho para o céu escuro e sem estrelas. — Eu vou conversar com a Ollie. Eu preciso de um emprego, preciso ocupar o meu tempo e quem sabe conquistar a minha própria independência.
— Mas enquanto isso não acontece, que tal um jantar quentinho e delicioso? — Sorrio.
— Eu aceito, estou faminta.
KimFouettés.Fouettés.Fouettés.Repito nos meus pensamentos, girando e girando sem parar e quando enfim paro, me curvo esticando a ponta de um dos pés, mantendo os meus braços em posição como se eles fossem lindas asas.Plié.Tendu. Plié.Enquanto faço os passos mais complicados do balé clássico, é fácil imaginar uma linda e imensa plateia me assistindo. O som da orquestra sinfônica ditando a intensidade ou a ternura da história contada por uma dança leve como uma pluma, mas que também pode carregar uma tragédia no seu conto. Juro que consigo ver a sensibilidade nos seus olhos, as lágrimas emocionadas e me sinto viva com isso. E para finalizar...Fouettés.Fouettés.Fouettés.— Ah! — Solto um grito de susto quando sinto o meu pé esbarrar fortemente em algo duro, me fazendo desequilibrar repentinamente e em uma fração de segundos estou sentada no colo de Artêmis Mazza. Inevitavelmente o olho nos olhos completamente ofegante, mas ele está me olhando com tanta raiva que eu caio na rea
Artêmis— Me beija, Artêmis. Me beija!Ela pede tão sofregamente e tão perto do meu rosto que me sinto instintivamente atraído pela pele sensível. Inevitavelmente os meus olhos encaram os seus lábios carnudos pintados de um tom de rosa claro e me pego fechando os meus olhos quando o desejo me inflama por dentro. O meu coração luta bravamente dentro do meu peito, rasgando cada músculo seu com violência em uma busca brutal pela sua liberdade assim que a minha boca roça suavemente na sua. Deus, como quero reivindicá-la para mim, mesmo sabendo que não tenho esse direito. As minhas veias antes gélidas começam entrar em ebulição, a queimar, arder de uma forma quase insuportável, e logo me sinto sufocar com essa aproximação tão absurda quanto avassaladora. Contudo, antes que algo realmente aconteça aqui, Kim parece perder as suas forças e a sua cabeça pende repentina sobre o meu ombro.— Kim? — A chamo baixinho, porém, levemente ofegante, mas ela não se mexe. — Kim, você dormiu? — ralho com
KimAlguns minutos antes...— Ai! Ai! Ai, como dói! — resmungo sentindo a minha cabeça latejar e imediatamente levo uma mão a minha cabeça me sentando no colchão. Só então me forço a abrir os olhos e para a minha surpresa encontro um copo de suco e uma aspirina em cima da mesinha de cabeceira. Não penso duas vezes e engulo o comprimido, esvaziando o copo logo em seguida. Minutos depois, estou de banho tomado e ansiosa para tomar um delicioso café da manhã. Contudo, sinto o meu estômago embrulhar só de sentir o cheiro da comida.Hu, pelo jeito não vou conseguir ingerir nada, nem mesmo a cara de mal humor de Artêmis Mazza me desce bem hoje. Será que ele não se cansa de estar com raiva o tempo todo? Ralho mentalmente quando ele solta um resmungo de desaprovação me fazendo revirar os olhos internamente.Quer saber, nem vale a pena debater com ele!— Eu vou praticar a dança lá no jardim, mais tarde pego um copo de suco na cozinha, pode ser? — falo para a minha irmã, saindo antes que um cer
ArtêmisMomentos antes da boate...— Senhora Mazza, aqui estão os papéis que me pediu. — Uma funcionária diz adentrando o meu escritório.— Deixe-os na minha mesa! — ordeno sem olhá-la e logo escuto a porta se fechar.— Será amanhã de noite, Artêmis. — Athos diz invadindo a minha sala e eu me forço a erguer a minha cabeça para olhá-lo. — Você está bem? — Ele interpele preocupado.— Estou e como vai ser? — Tento mantê-lo no assunto anterior e mesmo analisando o meu rosto por alguns segundos, ele se senta em uma cadeira de frente para mim e sorri.— Vou precisar viajar bem cedo, mas posso resolver algumas coisas por telefone e você terá que sair mais cedo daqui claro. A Victória já estará preparando tudo e quando chegarmos, quero que ela seja surpreendida por todos.— Ótimo, será tudo exatamente como você deseja, irmão. — Ele franze a testa.— Tem certeza de que está tudo bem com você? — Reviro os olhos com impaciência.— Eu já disse que sim, Athos. Agora saia, eu preciso trabalhar ness
ArtêmisEstá na hora de voltar para casa. Penso. Contudo, os meus olhos param em cima da garota dançando perto da mesa, enquanto ela segura o seu copo de vodca. O seu sorriso, a maneira como ela fecha os olhos, como o seu braço envolve o seu corpo... Chego a cogitar que queria que fosse eu a abraçá-la agora. No entanto, sacudo a minha cabeça.Ela está fazendo outra vez.Penso zangado.Está tentando penetrar as minhas barreiras, mas advinha eu não vou permitir e se for preciso machucá-la para afastá-la de mim, eu farei.— Boa noite! — Desperto quando um idiota diz se aproximando e claro que a Anne ficou eriçada com a sua aproximação dele. Contudo, o cara não veio sozinho e o outro babaca está praticamente devorando a bailarina com os seus olhos na cara dura. Solto um pigarro incomodado com essa situação e decido ir falar com ela.— Já chega, Kim! — falo com um tom seco, tomando o copo da sua mão.— Ei, o que pensa que está fazendo? — A garota retruca malcriada.— Eu vou pedir um suco p
Kim... Porque eu não achei que valia a pena beijar uma garota como você.Uma garota como eu.Eu nunca me senti tão inferior na minha vida como nessa noite. Achei que o provocar seria a melhor solução, que poria um pouco de entusiasmo na sua vida, mas não. Artêmis Mazza está determinado a viver na solidão e acho que dessa vez aprendi a minha lição.— Você conseguiu, Mazza — digo sentindo um gosto amargo no meu paladar. — Eu vou me afastar definitivamente de você — sussurro secando as lágrimas de desgosto que segurei por todo esse tempo e no mesmo instante começo a me livrar das minhas roupas para ir tomar um banho. Debaixo do chuveiro procuro manter a minha mente desligada o máximo possível. Eu não quero pensar nessa noite, nas coisas que vi e ouvi da sua boca. Eu só quero que o mundo pare de girar só um pouco para eu poder me reestabelecer. Contudo, nada parece dar certo e eu decido sair do quarto para ir para o jardim. Entretanto, assim que abro a porta o vejo sair do seu quarto.Se
Kim— Que estranho, eu estou me sentindo meio tonta — comento quando já estamos terminando o nosso lance, levando o dorso das minhas mãos para os meus olhos.— Deve ser efeito do remédio. — Artêmis diz repentino me fazendo franzir o cenho.— Que remédio? Do que está falando?— Não fique com raiva de mim, Kimberly. É que faz dias que você não dorme e eu tive que fazer isso.— Que droga, Artêmis, você não tinha esse direito! — reclamo quase sem forças, saindo do banco e logo sinto o meu corpo fraquejar.— Você só precisa dormir um pouco e acordará renova. Precisa descansar, Kimberly, entenda isso.— Eu confiei em você! — retruco irritada.— Kim, olhe pra mim. — Ele pede um tanto autoritário e eu faço um pouco de dificuldade. — Confie em mim, eu só quero o melhor pra você. Agora venha comigo. — Sem ter outra alternativa o sigo para fora da cozinha e ele me leva direto para um elevador privativo. O observo entrar nele com a sua cadeira e entro logo em seguida. — Vamos para o seu quarto, o
Kim— E qual o problema de ser virgem?— Está falando sério, Kimberly?! — Artêmis rosna duramente.— Artêmis eu não estou entendendo!— Saia de cima de mim!— O que?— Sai agora! — Aturdida faço o que pede e ele começa a se vestir.— O que eu fiz de errado? — Começo a entrar em desespero.— Você não fez nada de errado, mas eu não vou fazer isso com você! — Engulo em seco e imediatamente me sinto envergonhada.— Por que não? — Ele respira fundo. Parece querer recobrar o seu autocontrole e a sua paciência também.— Entenda uma coisa, Kimberly, esse deveria ser um momento especial pra você. Deveria acontecer com o homem que ama e não comigo.— Mas eu quero fazer isso com você.— Não, você não quer!— Você não pode decidir isso por mim! — rebato irritada.Ai que ódio dele! Por que ele faz essas coisas? Por que sempre estraga tudo assim?— Volte para o seu quarto agora, Kim. — Céus, o descaso na sua voz é como uma forte punhalada no meu peito e eu seguro as lágrimas para não chorar na sua