Milena Fernandes O morro está silencioso e é estranho para mim ver tudo assim parado, tem um único bar aberto no caminho que faço sem ninguém dentro. Deve ser pela invasão que teve mais cedo, da última vez que entraram aqui lembro que levaram alguém de cargo alto preso e não teve esse silêncio todo, penso que pode ter tido alguma morte importante para os traficantes para estarem assim. Ainda na metade do caminho vejo um lampejo de fogo alto e de repente gritos começam a serem ouvidos avisando que é realmente um incêndio, alguma casa acabou pegando fogo no meio da noite. Continuo caminhando e passam algumas motos por mim com homens armados em cima delas, sinto arrepios no meu corpo tendo um pressentimento ruim. Paro um pouco tentando entender o que está acontecendo quando duas garotas vem na minha direção. — Falaram que ele jogou o corpo dela lá em baixo, tá irreconhecível — uma loira diz para a amiga atraindo minha atenção. — Vamos lá ver antes que levem pra enterrar lá em cima
Milena Fernandes Uma semana depois... É a vida não te dava escolhas fáceis. Fui descobrir agora, nesse exato momento em que enviava o corpo de Mirela para Maceió onde meus pais receberiam o cadáver de uma das filhas. Não sabia como estava conseguindo enfrentar tudo isso, talvez tivesse sido o apoio que estou recebendo de Melissa. Ela me deixou ficar em sua casa, comprou roupas e sapatos para meu uso, até mesmo itens de higiene pessoal tinha comprado. Eu era grata por o que estava fazendo, mas hoje mudaria isso de algum jeito. Falar com meus pais não foi fácil, doeu mais do que imaginei olhar nos olhos de minha mãe por uma simples chamada de vídeo e cantar que minha irmã havia sido morta. Eles não conseguiram aceitar minha decisão de ficar aqui e eu não quis falar que fui roubada, achariam que a polícia resolveria o caso e sabemos que não. Consegui enrolar por uma semana, até poder mandar o corpo dela com meu próprio dinheiro. Dona Patrícia me pagou até a mais quando contei o q
LC (Leandro Caio) A vida continuava, mas não tava fácil não ficar sem o Oz no comando. Tudo é novo, tem coisas que não sei e é instantâneo pegar o celular para ligar pra ele, a ligação cai da caixa postal fazendo a ficha cair mais uma vez. Isso é várias vezes durante o dia. Sabe aquele papo que homem não chora? É um estereótipo ultrapassado pra caralhø, tem essa não pô. Tava geral de luto nesses dias que passaram. Ontem a noite depois da reunião que tivemos aqui no morro com o Vicente, chefe do comando, foi feito uma homenagem ao eterno Oz com salva de tiros e muita oração para que descanse em paz. Hoje era o oitavo dia após sua morte e já não aguentava mais ser o chefe, ainda tive que lidar com Tavin vindo aqui para falar do corpo da Mirela que a irmã queria mandar para casa do caralhø. Maior burocracia e ainda tirei do meu bolso pra pagar as despesas que o jato teve, a documentação falsa e a pørra toda porque a irmã dela tava sem grana. Fiz também porque não queria ficar com e
Milena Fernandes 6 meses depois...O meu luto já tinha passado, mas a saudade e a sede por vingança ainda estavam presentes em cada novo dia. A vida estava se tornando um fardo para carregar sozinha, não tinha vontade de viver como antes e nem sabia como tinha sobrevivia por todos esses meses sem desistir. Precisava de um emprego, mas nenhum lugar me dava oportunidade e o preconceito por morar na favela senti na pele, o desprezo era descomunal com os moradores daqui. Melissa me alertou sobre o preconceito lá fora, eu quis acreditar que não, por ter trabalho com dona Patrícia que é um ser humano bom, mas estava enganada, ela tinha sido minha sorte porque os lugares onde fiz entrevista eram desumanos. Eu tentei arrumar um emprego até mesmo aqui no morro, em salão de beleza, mercadinhos, padarias e até mesmo nos bares, todos negavam me empregar sem motivos, e precisando contratar alguém, que pelo visto não seria eu. Comecei a pensar que era coisa da Melissa para que eu aceitasse ir tr
Leandro Caio (LC) Tranquilão na boca fazendo meus corre tive que descer o morro pra resolver treta da pørra da Ingrid mais uma vez. Esses meses todos não conseguia ter uma noite transando só com ela porque o meu paü nem fica duro, maioria das vezes eu humilhava da pior forma pra ver se colocava ela no seu devido lugar e mandava chamar qualquer piranhä, aí sim fodia legal fazendo ela assistir tudo. Ingrid vinha sozinha tentando ter alguma intimidade comigo, mas pô, o relacionamento já tinha acabado faz uma cota só dependia dela pra aceitar isso e a filha da püta se fazia de otária, papo reto. Não tinha dó da desgraçada por isso esculachava de várias maneiras, tentando fazer com que largasse do meu pé. Dei um ultimato que não dormiria mais naquela casa, mas era tão louca que fingiu não ouvir e no outro dia apareceu na boca como se não tivesse acontecido nada, virei num bicho aquele dia e foi a primeira vez que desci a porrada nela até desmaiar. Tiveram que levar levar direto no postin
Ingrid Vasconcelos É isso que acontece se você sai da casa dos seus pais para viver a vida de mulher de bandido. Eu tinha a vida que muitas meninas queriam ter, casa confortável, pais amorosos e tranquilos, roupas limpas,comida feita, e nunca faltava nada, o único pedido dos meus pais era os estudos, de resto eu vivia livre para fazer o que quisesse. Talvez tenha sido esse o problema, dar liberdade demais para uma garota que ia na onda das amigas. Sim, eu fazia isso e agora estou sozinha com um filha da püta que é ruim comigo. Eu não sou uma boa pessoa também, reconheço isso e poxa, eu gostava de ser ruim, mas quem via de fora, a Ingrid era uma pessoa tranquila e submissa. Eu só sou sádica e masoquista. A morte de Milena tinha grande parte da minha culpa, eu matei ela de várias formas e a mais cruel foi quando minha mente sádica quis ver ela dando para os seguranças apagada, sim, eu dei um remédio para ela dormir e depois chamei eles, que assim como eu, eram uns doentes de merdä.
Leandro Caio (LC) A cara de espanto que Ingrid faz me deixa satisfeito. Ela não imaginava que além da mina que ainda não saiu do banheiro, iria ter vários caras pra aguentar o restante do dia e até a noite. Ia fazer ela se arrepender de querer arrumar barraco na rua por macho que não é só dela. Relaxado na cama vendo os stories do pessoal aqui do morro repostando vídeos da briga das duas e das minhas ordens, mandei mensagem para as páginas de fofoca só pedindo para borrar minha imagem e o resto que se føda. Tava ligado que a polícia sabia que eu agora estava no comando, esse tempo todo fiquei na atividade para qualquer movimento aqui dentro que indicasse mais uma invasão porque eu tinha certeza que o motivo das invasões eram algo relacionado comigo, o que exatamente era, já não sabia. Meu sorriso tava enorme no rosto vendo o choque estampado em sua face e ela até me olha querendo dizer algo, mas balanço a cabeça fazendo engolir em seco se calando. Os três homens que trabalham na
Milena Fernandes Foram dias amadurecendo essa ideia até eu pedir para Melissa conseguir trazer Jenny aqui no morro, precisava conversar com alguém que não fosse ela e todas as vezes que veio pra cá, Mel ficou responsável por acertar tudo com os caras da boca. Ontem a noite não consegui me concentrar em nada sem lembrar do olhar daquele monstro em mim, sentia que a qualquer momento poderia entrar aqui para me matar e por isso, me tranquei dentro de casa. Fechei bem as portas e janelas antes de ir para cama, mas ainda assim me sentia insegura para pegar no sono, levantei diversas vezes para ter certeza que estava tudo trancado e quando não aguentava mais de sono, dormi. Acordei as cinco da manhã com um pesadelo terrível, era como se eu estivesse lá no momento da morte de Mirela e visse tudo como um telespectadora, vi ele arrastando ela, batendo e exigindo qualquer dinheiro que tivesse. Nos olhos de Mirela tinha alguma esperança que fosse sair viva, até ele conseguir o dinheiro que ela