Capítulo 1

Luciana corria pelo longo corredor do aeroporto. Puxando sua mão e rindo, um homem moreno, com sorriso travesso e olhar apaixonado. Não queriam perder o voo, então se apressavam muito. Mas de repente ele parava para que ela recuperasse o fôlego. E beijava seus lábios, o que só servia para que ficasse mais ofegante ainda.

— Luciana, você vai chegar atrasada.

— Eu sei, mãe, estou correndo...

— Correndo? Deitada?

Ai, que banho de realidade. Estivera sonhando mais uma vez. Sempre com o mesmo homem lindo e charmoso.

— Mãe, por que você tinha que me acordar?

— Filha, você não tem prova hoje? Se precisar de carona, eu vou sair dentro de quinze minutos.

O pulo da cama e a correria para o banheiro confirmaram para dona Cida que a filha ia precisar da carona.

Enquanto Luciana escovava os dentes, refletia sobre como seus sonhos sempre tinham um fundo de verdade. No caso de hoje, a correria. Tinha uma prova importante e não ia arriscar atrasos do ônibus. Fazia faculdade de turismo e adorava. Mas era difícil. Estava no penúltimo ano e começara também o estágio obrigatório.

— Mãe, podemos levar a Marina? Vou mandar um zap para combinar de buscá-la.

— Só se ela esperar pronta, no portão. Hoje eu vou mostrar uma casa no condomínio “Margaridinhas” e também não posso me atrasar.

A mãe entrara como corretora, na imobiliária Bem Business, há mais de dez anos e fazia um bom trabalho. Luciana combinou os detalhes da carona com sua melhor amiga e saiu apressada, tentando equilibrar os livros que não cabiam na mochila.

...

As jovens trocavam ideias sobre a prova, enquanto dona Cida ouvia uma música clássica relaxante, pois teria pela frente, longas horas de contato com clientes, que muitas vezes não chegavam bem-humorados.

— Estou até zonza de tanto decorar nomes de países, suas capitais e destinos turísticos — Marina reclama com a amiga. — Nós vamos trabalhar com turismo nacional. Não deviam ser exigidos tantos detalhes internacionais.

— Eles argumentam que podemos mudar de opinião um dia e é bom estarmos capacitadas a atender clientes interessados nos principais destinos do mundo todo.

— Isso é verdade. No futuro posso até me casar com um cônsul.

— E aí você vai ser o que, consulesa?

— Luciana, com um marido rico desses, eu vou ser no mínimo, consumidora.

As duas dão muita risada e descem do carro, bem mais animadas para enfrentar as provas.

...

Renato se dirigiu à bicicleta na frente da sala. Ia conduzir mais uma aula de spinning. O professor Bruno faltara mais uma vez. Já estava parecendo que ele não era dessas pessoas com quem se possa contar.

As alunas estavam cochichando e dando risadinhas enquanto se ajeitavam em suas bikes. Elas chamavam as aulas do Renato de “aulas colírio”. De fato, o dono da academia tinha 1,80m de altura. Seu corpo era todo definido e ele passava a impressão de força e energia, em cada movimento que fazia. Era campeão de jiu-jitsu e já representara o Brasil diversas vezes. Hoje estava vestido de shorts e camiseta pretos, o que realçava seus cabelos e olhos também dessa cor.

Os rapazes que faziam aula de spinning eram muito solícitos em ajeitar os equipamentos das moças, ajustando a altura do banco e outros detalhes das bikes. Havia um clima saudável de paquera na academia Sweat Drop, mas nesta aula, os suspiros eram todos para o Renato.

A música na última altura, a aula inicia com toda a animação de um verdadeiro fã clube do rapaz. Ele nota, como sempre, e fica sorridente, para alegria geral.

...

Luciana separava os folhetos de viagem que chegaram aquela semana, das pousadas e hotéis do Pantanal Mato-Grossense. Estava fazendo estágio em uma agência de viagens especializada nesse destino, a Panta Trip. Era uma agência pequena, mas muito organizada. Trabalhavam o proprietário, sr. Artur, seu filho Helinho e mais três funcionários. Agora o quadro se completava com Luciana, que se esforçava muito, pois queria ser contratada, depois do período de estágio.

O patrão se aproximou com mais folhetos.

— Estes são os últimos. Mesmo com as facilidades da internet, algumas pessoas preferem ter esses folhetos em mãos. Gostam de rabiscar algumas anotações e se guiar pelos mapas no verso.

— Eu também gosto muito dos folhetos. Eles trazem informações detalhadas. Às vezes os sites são mais gerais. E aqui, as fotos são lindas.

— Luciana, nós estamos muito contentes com seu trabalho. Você é dedicada e se anima até com as pequenas tarefas.

— Obrigada seu Artur. Estou feliz aqui.

— Por isso quero oferecer uma oportunidade a você. A cada dois ou três meses, como você sabe, nós fazemos uma excursão para o Pantanal. O Helinho e a Vilma, que são guias de turismo formados, sempre acompanham o grupo. Mas eu gostaria que você fosse junto na próxima vez.

— Mas eu não tenho formação de guia.

— Você iria mais como suporte — explica Helinho que se sentava na mesa ao lado dela. — Para ajudar a fazer chamadas, distribuir lanches, coisas simples. A parte de informações oficiais, eu e a Vilma damos conta.

— Eu mesmo quando vou, procuro fazer amizades, isso fideliza os clientes. Ajudo no que posso, mas sem interferir no trabalho dos jovens guias — explica seu Artur. — Você é muito comunicativa e será perfeita para isso. Eu não vou poder ir desta vez, pois estarei cuidando das reformas de nosso prédio aqui. Você pode utilizar a passagem reservada aos funcionários da agência. Vai sobrar uma.

— Ai, seu Artur, Helinho. Obrigada. Nem acredito... — ela se alegra muito com a oportunidade.

— É bom você começar a fazer umas caminhadas, ir condicionando seu corpo, para poder aproveitar melhor a viagem. Andamos muito, exploramos trilhas e grutas. O ecoturismo pode ser puxado, se você não tem o costume — Helinho aconselha a colega.

— Quanto à faculdade, você não precisa se preocupar, pois não vai perder aulas. Serão 20 dias de viagem, exatamente no mês de suas férias. E você vai receber um bônus como pagamento, pois esta atividade foge de suas obrigações de estagiária — explica seu Artur.

— Não precisa, seu Artur. Poder fazer uma viagem dessas, nossa!

— Nós temos a verba e valorizamos seu talento. É só o começo para você, de uma carreira muito promissora. Torcemos pelo seu sucesso e estamos aqui para ajudá-la.

Luciana se sente tão feliz. Avisa a mãe na mesma hora. E Marina, que grita entusiasmada.

...

À noite, em casa, as três estão muito tagarelas, imaginando tudo, planejando e comemorando com uma deliciosa pizza que dona Cida encomendou para a ocasião.

— Nós vamos explorar a rota Pantanal-Bonito. O Helinho me explicou que é um dos corredores ecológicos mais belos do planeta. Os visitantes ficam fascinados ao explorar tanta beleza. E quando podem, voltam muitas vezes.

— É por causa da diversidade geológica dona Cida — Marina completa as informações. No Pantanal há um incrível número de cachoeiras, grutas e cavernas. Sem contar com a flora subaquática que é lindíssima. Tem passeios com mergulhos e flutuações para observar cardumes de peixes nestas águas paradisíacas.

— Minha filha, eu gostaria de ir com você. Quando eu era pequena, nadava muito bem, mas nunca tive oportunidade de mergulhar. Acho que seria maravilhoso.

— Um dia nós vamos, dona Cida — Marina é super empolgada. Torce muito pelo sucesso da amiga. — O seu Artur está preparando a Luciana para ser seu braço direito quando se formar.

— Ai amiga, espero não decepcionar.

— Você, filha, decepcionar? Jamais...

— Mãe, a hospedagem vai ser em um hotel fazenda que oferece passeios de barco e cavalgadas, já incluídos no preço. Os hóspedes têm muitas opções de atividades ao ar livre. As comidas típicas e deliciosas também já fazem parte do pacote. Lembra, Marina, quando estudamos viagens no formato de TUDO-INCLUSO? Neste caso será assim.

— Lembro sim. O professor explicou que as pessoas conseguem ter um controle financeiro melhor, sem preocupações com despesas extras imprevisíveis. Só gasta mais, quem quiser algo extra.

— Luciana, minha filha, vamos dar uma melhorada no seu guarda-roupa, já pensando nesta viagem e nas próximas. Eu também vou dar uma olhada numa loja de malas, perto da imobiliária, para o caso de terem alguma promoção.

— Mãe, não quero que gaste tanto.

— Você é minha única filha. Eu me realizo muito com sua felicidade.

Se abraçam emocionadas e incluem Marina, que é como uma segunda filha para dona Cida.

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