— Você chegou, Jules — a mulher que eu não suporto, diz com sua voz irritante. — Que bom ver você novamente — sorri debochada. Sabe aquele momento que sentimos como se tivesse uma granada na nossa cabeça e acabou de soltar a chavinha? Sou eu agora. Estou irritada com os problemas na empresa; não dormi à noite esperando um marido que não chegou; acabei de descobrir que o atraso dele foi porque estava curtindo uma festa com a família e, com a amiguinha também… resumindo: estou com raiva por causa de tudo que aconteceu e o deboche bem explícito no rosto dessa mulher e o sorriso frio do meu marido só me faz querer explodir de vez. Dessa vez não vou fingir que tá tudo bem. Coloco meu melhor sorriso no rosto, caminho até o casal e olho na direção do Samuel. — Então, não vai responder, marido querido — minha voz sai carregada de ironia — como foi sua viagem? Foi divertida? — Arqueio a sobrancelha esperando sua resposta, mas ele apenas me olha e, estreitando os olhos como se tivesse com r
SAMUEL ADAMS — Anda, responde! — Grita, nervosa — O que significa tudo isso, Samuel? Por que essa palhaçada? — segura meu braço com tanta força que sinto suas unhas entrando na minha carne. Ela está mesmo nervosa, sua respiração acelerada e seu rosto vermelho são provas disso. É, esses dois meses foram difíceis para ela. — Palhaçada? — Arqueio a sobrancelha — Jules, você ainda nem viu o que é uma palhaçada. O circo acabou de ser armado e você já quer questionar o espetáculo? — Aproximo meu rosto do seu — você ainda não viu nada. — Ela me encara confusa, e até um certo receio eu vejo no seu rosto. — O que você quer dizer com isso? Samuel, eu não vou ficar aqui brincando de jogo de adivinhação. Fala logo o que você está fazendo. Por que de repente você ficou assim, agindo desse jeito estranho? — Eu não estou agindo estranho, Jules, eu só estou fazendo o que devo fazer. — Digo e a minha vontade é de rir quando ela franze a testa tentando entender as minhas palavras. — O que você de
A mulher sentada ao meu lado na cama tenta tirar minha mão do seu pescoço, enquanto se esforça para pronunciar algumas palavras; sem sucesso. A minha raiva dela é tanta que aperto seu pescoço com força. É ela quem machucou a Sarah, é ela a pessoa ruim que destruiu as nossas vidas, não só a da Sarah, é ela quem fez todas aquelas barbaridades, é ela quem me atormenta nos meus pesadelos com esse inferno, é sempre ela. — Você não merece viver! Você é um monstro! — Esbravejo com ódio. — Samuel… eu não consigo… res… respirar — ouço as palavras sussurradas e sinto tapas no meu braço e peito… Espera aí! Olho o quarto, a mulher na minha frente com o rosto vermelho, implorando para soltá-la, eu estou deitado na minha cama, exatamente como fiz depois de voltar de viagem. Isso não é um sonho! Abro minha mão soltando a mulher que desmonta deitando o corpo ao meu lado. Ela toca o seu pescoço enquanto tenta respirar. Que merda eu fiz! Passo as mãos no rosto, esfregando com força, enquanto minha
JULES MONTEZ — Ai! — Reclamo quando ele segura meu pescoço machucado. Eu gosto desse jeito dele me segurar, dá um tesão danado quando ele me segura assim, mas dessa vez me incomodou. — Foi mal. Desculpa — fala na minha boca. Ele passa a mão para trás da minha cabeça segurando meus cabelos da nuca com força moderada. Sua outra mão aperta minha cintura tão firme que tenho certeza que vai ficar marcado, e eu adoro isso, adoro esse jeito dele me pegar. Ele me faz erguer os braços e tira minha camisola jogando ela do lado, depois me olha por longos segundos enquanto eu continuo meus movimentos de sobe e desce no seu colo. Eu estava sentindo tanta falta disso, estava com tanta saudade desse contato, desse corpo gostoso, forte… desse homem. O Samuel conhece cada parte sensível do meu corpo e consegue me levar ao limite em cada toque, parece que ele foi feito especialmente pra mim. Ele beija minha boca com intensidade e depois desce deixando beijos no meu pescoço, ombros, seios… sua boca
Quando ele me deixou sozinha na sala mais cedo, eu fiquei muito mal. Ser ignorada e rejeitada fez um estrago na minha autoestima, tanto que deitei minha cabeça no encosto do sofá, fechei meus olhos e deixei as lágrimas esperem lentamente por entre as linhas dos olhos fechados. Naquele momento eu só queria que ele se desculpasse, que dissesse que ficou mal por ter me feito esperar, mas no final o que eu ouvi da boca dele foi um monte de coisas que não entendi, mas nenhuma desculpa. E essa festa da irmã dele, como será que foi? A minha vontade de chorar começa a surgir novamente quando eu penso no fato daquela mulher estar lá junto dele, enquanto eu fiquei aqui sozinha e enfrentando tantos problemas — Pare de pensar nessas coisas, Jules, ou você vai estragar o momento — digo mentalmente enquanto bagunço levemente a cabeça. — Algum problema? — Pergunta, encarando meu rosto no reflexo do espelho. — Não, nenhum — respondi, com um sorriso. Eu não quero e nem posso estragar esse momento
— Jules, o que foi? — Camila se aproxima perguntando — algum problema? Você ficou pálida de repente. — Não… nada… nada importante. Eu só preciso parar um pouco, acho que deu uma cãibra na minha panturrilha — respondi dando a melhor desculpa que me veio na hora. — Tem certeza? Se você quiser, eu posso falar com o cliente que você teve um imprevisto. Eu mostro o apartamento e falo todos os detalhes do negócio, depois você só marca uma reunião para assinar o contrato. — Não é necessário, Camila. Eu realmente só preciso de um tempo. Pode ir na frente e vai mostrando o apartamento. Eu vou lá no banheiro rapidinho e subo logo em seguida. — Tudo bem então, mas qualquer coisa me liga. — Sai me deixando sozinha. Eu dei alguns passos para trás me escondendo no canto da parede. De longe eu vejo ele se levantar para cumprimentar a Camila. Ele mudou, mas conservou bem sua aparência, seu rosto apesar dos dez anos que passaram tem boa parte do rosto jovem e sem expressão de antes. Seus traços m
— Jules, finalmente você chegou — a Camila vem até mim — senhor Martinez, essa é nossa CEO, a senhora Jules Montez — ela nos apresenta animadamente. Eu estendo a mão e aperto a mão do homem que está bem na minha frente. O Edu me olha com um misto de surpresa e descrença, acho que ele também nunca pensou que me encontraria novamente. — Jules Montez? — questiona sarcástico. — Sim, Jules Montez. É um prazer revê-lo, Edu. — Digo o mais normal que consegui. — Vocês já se conhecem? — Camila perguntou surpresa. — Sim, nós já nos conhecemos. Há muitos anos, não é mesmo, Jules Montez? — O Edu respondeu, e novamente falando meu sobrenome com sarcasmo. — Nossa que grande coincidência, né?! Jules, eu já mostrei todo o apartamento para o senhor Martinez… — a Camila faz um breve resumo do que já foi decidido na minha ausência, eu estou tão transtornada que nem presto muita atenção. — Então, Jules, o que acha? — Acho… legal, sim é legal — respondi aleatoriamente. Nos momentos seguintes eu fui
— Eu não tenho nada para te perdoar, Jules. O que você fez não foi comigo, eu não sofri nada com suas ações. Você deveria buscar o perdão da Sara, da família dela, não de mim — sua voz e suas palavras saem frias, deixando-me mais desconfortável do que já estou. Suspiro profundamente abaixando minha cabeça. Eu deveria saber que não seria diferente agora, aliás, eu sabia, do contrário não estaria com medo da resposta dele, e ela foi exatamente como eu imaginei que seria, ele ainda guarda mágoa de mim. Sorrio triste ao lembrar de como éramos parceiros e de como ele me defendia antes de tudo acontecer. Será que algum dia eu vou sentir isso de novo? Será que alguém mais além da minha mãe vai ficar do meu lado e me defender com unhas e dentes de novo? Olhando para as marcas que deixei para trás, eu acho que isso é meio que impossível, pelo menos se a pessoa me conhecer pelo que realmente sou: a Jules Montreal, a filha de Janete Montreal e Marcos Montreal, a garota que destruiu a vida de um