Quando ele me deixou sozinha na sala mais cedo, eu fiquei muito mal. Ser ignorada e rejeitada fez um estrago na minha autoestima, tanto que deitei minha cabeça no encosto do sofá, fechei meus olhos e deixei as lágrimas esperem lentamente por entre as linhas dos olhos fechados. Naquele momento eu só queria que ele se desculpasse, que dissesse que ficou mal por ter me feito esperar, mas no final o que eu ouvi da boca dele foi um monte de coisas que não entendi, mas nenhuma desculpa. E essa festa da irmã dele, como será que foi? A minha vontade de chorar começa a surgir novamente quando eu penso no fato daquela mulher estar lá junto dele, enquanto eu fiquei aqui sozinha e enfrentando tantos problemas — Pare de pensar nessas coisas, Jules, ou você vai estragar o momento — digo mentalmente enquanto bagunço levemente a cabeça. — Algum problema? — Pergunta, encarando meu rosto no reflexo do espelho. — Não, nenhum — respondi, com um sorriso. Eu não quero e nem posso estragar esse momento
— Jules, o que foi? — Camila se aproxima perguntando — algum problema? Você ficou pálida de repente. — Não… nada… nada importante. Eu só preciso parar um pouco, acho que deu uma cãibra na minha panturrilha — respondi dando a melhor desculpa que me veio na hora. — Tem certeza? Se você quiser, eu posso falar com o cliente que você teve um imprevisto. Eu mostro o apartamento e falo todos os detalhes do negócio, depois você só marca uma reunião para assinar o contrato. — Não é necessário, Camila. Eu realmente só preciso de um tempo. Pode ir na frente e vai mostrando o apartamento. Eu vou lá no banheiro rapidinho e subo logo em seguida. — Tudo bem então, mas qualquer coisa me liga. — Sai me deixando sozinha. Eu dei alguns passos para trás me escondendo no canto da parede. De longe eu vejo ele se levantar para cumprimentar a Camila. Ele mudou, mas conservou bem sua aparência, seu rosto apesar dos dez anos que passaram tem boa parte do rosto jovem e sem expressão de antes. Seus traços m
— Jules, finalmente você chegou — a Camila vem até mim — senhor Martinez, essa é nossa CEO, a senhora Jules Montez — ela nos apresenta animadamente. Eu estendo a mão e aperto a mão do homem que está bem na minha frente. O Edu me olha com um misto de surpresa e descrença, acho que ele também nunca pensou que me encontraria novamente. — Jules Montez? — questiona sarcástico. — Sim, Jules Montez. É um prazer revê-lo, Edu. — Digo o mais normal que consegui. — Vocês já se conhecem? — Camila perguntou surpresa. — Sim, nós já nos conhecemos. Há muitos anos, não é mesmo, Jules Montez? — O Edu respondeu, e novamente falando meu sobrenome com sarcasmo. — Nossa que grande coincidência, né?! Jules, eu já mostrei todo o apartamento para o senhor Martinez… — a Camila faz um breve resumo do que já foi decidido na minha ausência, eu estou tão transtornada que nem presto muita atenção. — Então, Jules, o que acha? — Acho… legal, sim é legal — respondi aleatoriamente. Nos momentos seguintes eu fui
— Eu não tenho nada para te perdoar, Jules. O que você fez não foi comigo, eu não sofri nada com suas ações. Você deveria buscar o perdão da Sara, da família dela, não de mim — sua voz e suas palavras saem frias, deixando-me mais desconfortável do que já estou. Suspiro profundamente abaixando minha cabeça. Eu deveria saber que não seria diferente agora, aliás, eu sabia, do contrário não estaria com medo da resposta dele, e ela foi exatamente como eu imaginei que seria, ele ainda guarda mágoa de mim. Sorrio triste ao lembrar de como éramos parceiros e de como ele me defendia antes de tudo acontecer. Será que algum dia eu vou sentir isso de novo? Será que alguém mais além da minha mãe vai ficar do meu lado e me defender com unhas e dentes de novo? Olhando para as marcas que deixei para trás, eu acho que isso é meio que impossível, pelo menos se a pessoa me conhecer pelo que realmente sou: a Jules Montreal, a filha de Janete Montreal e Marcos Montreal, a garota que destruiu a vida de um
— Sara Adams, foi você quem deu essa coisa brega para o meu, ouviu bem MEU namorado? — Pergunto balançando a pulseira horrorosa na frente do rosto da garota. Ela me olha assustada e isso me deixa ainda mais irritada, como pode ser tão sonsa? — Eu não dei, eu vendi a pulseira pra ele. Eu estou participando de um projeto então a gente faz essas miçangas e depois vende, o Edu só comprou para me ajudar — ela responde e tenta passar por mim, mas eu bloqueio seu caminho. — Ah, é sério? — Digo calmamente e em seguida seguro seus cabelos puxando-a e prendendo na parede — eu vou fazer você engolir essa porcaria sua vadia pobre do caralho! — Jules, que porra você está fazendo? — O Edu chega puxando-me para longe…— Essa é a mesma pulseira — o Edu diz tirando-me das minhas memórias. — Você arrebentou e mesmo a Sara consertando de volta não serviu mais no meu pulso. — Eu sinto muito. — Isso não faz nenhuma diferença agora — diz frio. Eu digito o endereço no GPS do carro e ele dá a partida.
SAMUEL ADAMS — Ei acorda, cara — Daniel diz estalando os dedos na frente do meu rosto. — Não dormiu de noite não, caralho! — Ri debochado. — Não dormi muito não — respondi sinceramente. Eu realmente não dormi praticamente nada. A noite passada foi a porra de um pesadelo. Literalmente um pesadelo. Quando eu acordei e olhei a mulher deitada ao meu lado, o seu pescoço com aqueles hematomas horríveis, eu não gostei do que eu senti. Eu não deveria ter feito essa merda e muito menos ter me rendido como fiz depois, não posso perder o foco ou isso vai sair do controle. — É, tô vendo que realmente sua noite deve ter sido bem agitada mesmo, você está viajando ainda — continua rindo. — Não enche! — Bufo. — Então, como foi sua viagem. A tia, a Sara, como elas estão? — Bem. — Só isso, bem? Fala sério, Samuel, eu quero saber o que deu lá. Pode desembuchar, e aí, você falou com a tia sobre as coisas aqui. — Falei. — Eeee?... Ela continua insistindo para você desistir? — Você sabe como
Felizmente eu não tive o desprazer de encontrar a Jules quando cheguei em casa e por isso não demorei muito para me arrumar e seguir para o meu compromisso. Olho no relógio e já passam das três horas da madrugada. Pego o telefone e não tem nenhuma mensagem da Jules, o que é bastante estranho, já que ela sempre me liga quando estou atrasado, mas isso também não é importante. O jantar com a Verônica foi bastante divertido, principalmente porque chegaram alguns amigos dela e estendemos a noite para uma boate muito muito boa. — Onde aquela mulher foi? — Pergunto-me quando não encontro a Jules em lugar nenhum. Já olhei na sala, na cozinha, no escritório… olhei tudo e nada dela. Olho nas câmeras da garagem e o carro dela também não está lá. Onde será que ela se meteu? Deve ter ido para a casa da mãe dela, mas isso também não me importa. Tomo um banho e vou dormir. Ou pelo menos tentar, já que ultimamente minhas noites são só perturbação. — Bom dia! — Digo, assim que entro no escritório
A resposta da Verônica veio logo em seguida. "Preciso ir agora?"Leio a mensagem e respondo:"Não, só estou avisando para se preparar. Enviei um e-mail com os arquivos sobre todos os negócios da Construtora Montez, você deve ler para conhecer a empresa. Vou providenciar também uma conexão importante para você fechar assim que assumir o cargo"Ela finaliza com um:"Ok"Não demorou muito e recebi a mensagem da recepção avisando que a Jules já está subindo. É, ela está mesmo com pressa, pelo jeito é exatamente como imaginei, a empresa é o ponto fraco dela. Para uma pessoa que sempre foi arrogante, fútil e que sempre esfregou o status e a conta bancária na cara dos outros, a fonte de renda tinha mesmo que ser o calcanhar de Aquiles dela. Vamos ver como ela vai ficar quando se tornar uma simples subordinada na própria empresa. — Entre. — Digo quando ouço as batidas na porta. — Com licença, senhor Miller, a senhora Montez está aqui para vê-lo — a Rafaella diz dando passagem para a Jules