JULES MONTEZ Olhei as horas no telefone e passava das vinte e duas horas. O Samuel saiu assim que recebeu aquela ligação e até agora não voltou e nem ao menos ligou para saber como estou, se já jantei, me troquei… nada, não recebi nem mesmo uma mensagem sua. Se eu achei esse comportamento estranho? Sim, achei muito. É bem diferente do seu comportamento habitual, normalmente ele me ligava umas cinco vezes durante o dia. Hoje foi a primeira vez que o vi agindo assim, até uma certa frieza e sarcasmo eu notei nas suas palavras e no seu comportamento. Balancei minha cabeça de um lado para o outro tentando espantar esses pensamentos da minha mente, com certeza ele está resolvendo um problema importante e só por isso agiu daquela maneira e saiu assim depois do nosso casamento. Casamento. Foi perfeito, eu não poderia estar mais realizada e feliz com tudo que aconteceu lá. Os meus amigos, alguns funcionários, a minha mãe, que é minha única família… estava tudo tão lindo que pareceu um sonho
— Você ainda não foi dormir? — Samuel perguntou assim que passou pela porta e deu de cara comigo sentada no sofá. Finalmente ele estava de volta, cliquei na tela do telefone que estava ao lado e olhei as horas, uma, são exatamente uma hora da manhã e ele estava chegando justamente nesse horário. — Não. Estou sem sono — menti. Na verdade eu já cochilei aqui neste sofá esperando por ele. — Sério? — Me encarou, arqueando a sobrancelha. Posso estar vendo coisas demais, mas achei seu tom com um ar de zombaria. — Vejo que gostou das minhas roupas — jogou o telefone e as chaves na mesa de centro, e se aproximou de onde estou. — Peguei emprestado, espero que não se importe. Eu ainda não trouxe minhas malas, não tenho nenhuma roupa aqui, — De maneira nenhuma. Aliás, preciso ressaltar que você fica muito bem nelas — disse, segurando em minha cintura. — Você acha? — Perguntei, abraçando seu pescoço. Um perfume levemente adocicado invadiu meu nariz, não é o perfume dele. — Acho, óbvio que a
SAMUEL ADAMS Como eu já esperava, a Verônica topou participar do meu plano. Ela é uma grande amiga da Sarah, não perderia a chance de contribuir para minha irmã receber a justiça que merece. — Então é para isso que você voltou ao Brasil? — Perguntou, acariciando meu peito. — Sim, foi exatamente por isso que voltei. Você convive há anos comigo e sabe muito bem que eu não deixaria alguém que machucou tanto a minha irmã sair ilesa. — É, eu sei que você não deixa, mas você não acha arriscado manter essa mulher debaixo do mesmo teto que você? E você se casou mesmo com ela? — Ergueu a cabeça e me olhou com uma mistura de surpresa e decepção. — Sim, eu me casei legalmente com ela. Verônica, eu passei dez anos da minha vida com um único propósito: conseguir justiça para a Sara. Não me importo em ligar minha vida legalmente a daquela mulher, dormir com ela e fingir que gosto disso, se isso vai me fazer alcançar o meu objetivo. — E qual seria esse objetivo? — Destruí-la. Eu quero faze
Quando cheguei em casa já passava das uma hora da madrugada, e para minha surpresa, ou não, a Jules estava sentada lá na sala esperando. Se eu fiquei com pena? Não, nem mesmo um pouco. O meu encontro com a Verônica me fez voltar o filme das minhas memórias e todo o sofrimento da minha irmã está mais vivo do que nunca. Ver ela visivelmente chateada, ela nem mesmo tentou esconder, se tentou não teve sucesso porque o desgosto é muito explícito no seu rosto. Ela está com uma camisa minha, ela não ficou ruim, mas eu já me servi muito bem com uma loira muito gostosa horas atrás. Depois de trocar algumas palavras eu subo para o quarto, que em breve ela descobrirá que é apenas meu e não nosso, não vou dividir a cama com ela, a casa já é suficiente. Depois do banho eu me deitei e fingi que estava dormindo, foi divertido ouvir o suspiro desanimado dela, com certeza ela está excitada, mas vai ter que dormir com sua boceta queimando de vontade, ou se resolve sozinha, eu não me importo. — Ent
JULES MONTEZ — Não, problema nenhum. Por que? — Ele responde e eu não sei porque mas eu sinto-o frio. — É porque você está meio distante desde que nos casamos.Ele me aperta em um abraço e sorri, mas isso só serviu para aumentar ainda mais a minha sensação. — Você está vendo coisa onde não tem, é melhor ir se deitar e esfriar essa cabecinha — diz acariciando minha cabeça. E mais uma vez a frieza está lá presente nos seus gestos. Eu não estou vendo coisas demais, o Samuel mudou, ele está agindo com frieza, distância, ele está distante o bastante para parecer que nem mesmo está interessado em ficar comigo. Tudo bem que parece carinhoso, mas eu sou mulher e consigo perceber nos detalhes que teve uma mudança ali, eu ainda não sei o que foi, estou meio perdida com essas atitudes. Será que foi por causa daquela mulher? — Tudo bem então, eu vou dormir. Boa noite. — Digo depois de ver que ele voltou sua atenção para o notebook e os papéis. — Boa noite. Durma bem — respondeu sem nem mesm
Falando no Samuel, eu estou tentando assimilar ainda tudo que vem acontecendo com a gente, ou melhor com as mudanças dele. Nesses dois meses ele me tocou raríssimas vezes e quando aconteceu parece que foi por pura obrigação, porque tinha que comparecer, sei lá. Ele foi viajar de novo, dessa vez foi para Nova Iorque, já faz uma semana que está lá e apenas responde as mensagens que eu envio, não tem nenhuma ação começando por ele. Até nas vezes que ficamos juntos a procura partiu de mim, e sabe como eu me sinto? Ridícula. A sensação que eu tenho é que ele perdeu o interesse em mim e tem pena de me dar um pé na bunda. A Verônica continua lá, aquela mulher não me desce e está sempre grudada no Samuel, parece que sempre com a intenção de me provocar, e o pior é que consegue, é nítido o carinho que o Samuel tem por ela e eu sinto que com ela, ele não tem aquela frieza que tem comigo, é, eu não estava vendo coisas demais, ele realmente mudou e muito. Pelo menos comigo. A reunião aconteceu
— Você chegou, Jules — a mulher que eu não suporto, diz com sua voz irritante. — Que bom ver você novamente — sorri debochada. Sabe aquele momento que sentimos como se tivesse uma granada na nossa cabeça e acabou de soltar a chavinha? Sou eu agora. Estou irritada com os problemas na empresa; não dormi à noite esperando um marido que não chegou; acabei de descobrir que o atraso dele foi porque estava curtindo uma festa com a família e, com a amiguinha também… resumindo: estou com raiva por causa de tudo que aconteceu e o deboche bem explícito no rosto dessa mulher e o sorriso frio do meu marido só me faz querer explodir de vez. Dessa vez não vou fingir que tá tudo bem. Coloco meu melhor sorriso no rosto, caminho até o casal e olho na direção do Samuel. — Então, não vai responder, marido querido — minha voz sai carregada de ironia — como foi sua viagem? Foi divertida? — Arqueio a sobrancelha esperando sua resposta, mas ele apenas me olha e, estreitando os olhos como se tivesse com r
SAMUEL ADAMS — Anda, responde! — Grita, nervosa — O que significa tudo isso, Samuel? Por que essa palhaçada? — segura meu braço com tanta força que sinto suas unhas entrando na minha carne. Ela está mesmo nervosa, sua respiração acelerada e seu rosto vermelho são provas disso. É, esses dois meses foram difíceis para ela. — Palhaçada? — Arqueio a sobrancelha — Jules, você ainda nem viu o que é uma palhaçada. O circo acabou de ser armado e você já quer questionar o espetáculo? — Aproximo meu rosto do seu — você ainda não viu nada. — Ela me encara confusa, e até um certo receio eu vejo no seu rosto. — O que você quer dizer com isso? Samuel, eu não vou ficar aqui brincando de jogo de adivinhação. Fala logo o que você está fazendo. Por que de repente você ficou assim, agindo desse jeito estranho? — Eu não estou agindo estranho, Jules, eu só estou fazendo o que devo fazer. — Digo e a minha vontade é de rir quando ela franze a testa tentando entender as minhas palavras. — O que você de